Divided escrita por Pat Black


Capítulo 31
Difficult choices




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Linn correu por todas as celas em busca de Chase e Axel e encontrou o ex-presidiário jogado sobre a cama de um catre, na última cela, tendo Chase a molhar um pano e colocar em sua testa.

Ficou abalada. Chase estava muito bem naquela manhã, mas agora parecia cadavérico, o rosto tão pálido que manchas escuras se sobressaíam sob seus olhos, a boca seca e rachada, suado, a camisa empapada, mesmo assim, pensando no homem mais velho que se tornara amigo deles de uma forma natural e orgânica.

“O que está fazendo aqui?” Ele perguntou e começou a tossir, se afastando e colocando um pano sobre o rosto.

“Estou aqui para cuidar de vocês.” Ela falou se aproximando, notando o colchão jogando no canto oposto onde ele deveria ter estado deitado antes. “Vem, deita aqui, deveria estar descansando.”

“Não.” Ele afastou a mão dela e recuou. “Não fique muito perto.”

“Olha...” Linn se ajoelhou e tentou puxá-lo em direção ao colchão. “Se fosse de pegar essa coisa, teria sido ontem quando quase enfiei a língua em sua garganta.”

Chase ficou muito sério e lhe encarou, não disposto a falar sobre o assunto, por que ficara tentado a aceitar tudo o que beijo oferecia e tomar o que Linn quisesse lhe dar, e isso seria errado de muitas formas.

Fechou os olhos e suspirou triste, com Linn insistindo em lhe puxar, resolvendo que deveria deitar realmente, sua cabeça parecia que explodiria se continuasse sentando mais tempo.

Linn o ajudou a se acomodar no colchão, se movendo no espaço pequeno entre este e a cama, o que exigia que sentasse no mesmo, para ajudá-lo melhor.

Chase suspirou aliviado quando colocou a cabeça no travesseiro, e ainda mais, quando Linn colocou um pano molhado em sua testa.

“Trouxe algo para vocês.” Disse muito baixo, retirando alguma coisa do bolso.

Chase viu que era uma embalagem com dois comprimidos. Ela lhe deu um junto com um pouco do chá de Hershel e depois deu o outro a Axel.

“O que é?” Ele perguntou se achando uma criatura muito má por receber um remédio quando outros estavam em pior estado que ele.

“Aspirina.” Linn informou se aproximando de Axel, retirando o pano, molhando novamente e pousando em sua testa. “Encontrei em minha mochila. Devia estar ali desde que as consegui, há muito tempo.”

Linn  sabia exatamente quando e onde: No Hospital em Cynthiana, onde encontraram Rick pela primeira vez. Quando se apaixonara por um estranho magro e abatido, inocente sobre o mundo em que viviam. Um homem que nunca seria seu.

“Com nossa sorte, já passou da validade.” Chase murmurou tentando flexionar uma perna para que ela tivesse mais espaço, mas deixando ela no mesmo lugar pelo tanto de dor que sentia em todas as articulações.

“Eu verifiquei, está tudo bem.” Ela disse não levando em conta que ele estava brincando, tocando sua perna sob a calça jeans e notando o quanto estava quente.

Sua voz saía abafada pelo lenço e ela respirava com dificuldade por que tampava seu nariz, mas mantê-lo era um auxílio, ainda que quisesse arrancar a coisa, sentindo que não pegaria aquela doença, já estaria doente se fosse o caso.

Axel gemeu e tossiu e Linn se aproximou dele, tirou o lenço o molhou, passou em seu pescoço e rosto, depois molhou novamente e depositou em sua testa, alisando sua bochecha com carinho.

“Como está Sam?” Axel perguntou abrindo os olhos e encarando Linn.

“Ela está bem. Ela nunca fica doente.” Linn respondeu. “Onde está Robbie?” Perguntou pela namorada dele.

“Morreu.” Axel respondeu e virou o rosto, os olhos fixos na parede, calado, o que foi o mais triste, por que ele sempre estava tagarelando.

“Sinto muito.” Linn disse tocando seu braço.

“Eu também.” Ele respondeu. “Era uma boa mulher.” Olhou para Linn. “Coisas ruins acontecem moça, aproveite a vida antes que elas te alcancem.” E virou novamente para a parede, para que Linn não lhe visse chorar.

Para lhe dar privacidade, Linn se voltou para Chase. Ele mantinha os olhos fechados e respirava com dificuldade. Pensou nas palavras de Axel e se sentiu triste, por que queria, mas não via Chase da forma que ele queria e precisava. Era seu melhor amigo, mataria por ele, morreria por ele, mas não podia ofertar-lhe uma mentira.

Na noite anterior, na torre, tentara algo com ele, não por que o desejasse naquele momento, mas sim por que vira Sam e Rick abraçados no refeitório, a paixão deles lhe alcançando mesmo aquela distância. Por que eles se afastaram de mãos dadas para uma área desocupada da prisão e soube que fariam amor, que estariam juntos daquela maneira que Linn ansiara em possuí-lo desde que o conhecera.

Mesmo desejando o bem de Sam e Rick, apesar de querer que a amiga fosse feliz, aquilo lhe machucava. O vê-los juntos, se tocando, quando achavam que ninguém estava a observar, se olhando com paixão quando estavam distantes ou perto um do outro. Tudo, tudo lhe doía.

Queria que não fosse assim. Queria arrancar aquilo de seu peito. Por que aquela paixão pelo xerife não fazia brotar o melhor de si. Não que pudesse machucar Sam ou Rick de alguma maneira, mas aquele amor não lhe fazia bem, lhe entristecia, deixava Linn desanimada e deprimida, muito mais que a lembrança da violência que o Governador lhe infligira.

Quando Chase aparecera na torre, para que vigiassem juntos, Linn tentou olhá-lo de outra maneira. Não que fosse difícil. Chase era realmente um homem bonito, charmoso, e muito gostoso, se ela não o conhecesse há tanto tempo e não tivesse se acostumado a vê-lo como um irmão.

Tinha dito algo, alguma besteira e Chase rira, depois se aproximara e ficara ao seu lado, deixando que um dedo deslizasse sobre as tatuagens em seu braço, percebendo que ele tinha se arrepiado e estremecido com seu toque.

“Linn?” Ele tinha sussurrado sem entender.

Foi quando o beijara.

Chase havia retribuído a princípio, abraçando Linn e tomando a sua boca com doçura, na contramão de como ela tentava tornar a carícia mais profunda. Ele tinha gosto de café forte e preto, sem uma pitada de açúcar. Seus braços eram fortes e calorosos, e sentiu-se abrigada entre eles, como sempre.

“Preciso de você.” Ela dissera e Chase se afastou.

Por que ela lhe soou muito triste, por que ela não parecia estar dizer aquilo para ele, por que Chase a conhecia como ninguém mais no mundo e sabia que ela não o queria e a paixão que demonstrava era algo fabricado.

Ele tinha olhado para além da murada da torre e visto que, daquele ângulo, podia observar o refeitório e o lugar em que ele e Sam estiveram antes de sair e Rick tomar seu lugar.

Se ela tivesse lhe dado um tiro não doeria tanto, ao saber que estava frustrada e queria lhe usar para esquecer o que não podia ter. Talvez até mesmo pensando no outro enquanto lhe beijava.

Afastou-se de Linn naquele instante e a olhou como se observasse uma estranha, depois lhe deu as costas e seguiu para o canto oposto, começando sua vigília.

Linn ainda tentou se aproximar, mas ele havia lhe olhado com um aviso de que não deveria e seguiram assim durante toda a noite, com ela o seguindo pela manhã até o quarto e tentando se explicar, mas sem sucesso.

Nunca se sentiu tão mal por algo em sua vida, como naquele momento, ao perceber o quanto tinha machucado seu melhor amigo.

“Chase?” Chamou e o tocou no peito, sentindo seu coração acelerado, também que a febre tinha cedido um pouco por causa da aspirina. “Me desculpe por ontem.” Pediu, sem querer imaginar que ele pudesse partir, e mais ainda, de que o fizesse a odiando.

“Está tudo bem.” Ele falou e tossiu virando para a parede. “Nunca consegui ficar muito tempo zangado com você.” E riu.

Linn tentou rir também, mas o som ficou preso no nó em sua garganta.

“Só não faça algo assim novamente.” Ele pediu.

“Beijar você?” Ela se aproximou, tirou o pano de sua testa, molhou e passou em seu peito com calma, sentindo os músculos.

“Me beijar pensando em outra pessoa.” Ele explicou com os olhos nela.

“Nunca mais.” Ela prometeu e colocou o pano em sua testa novamente.

“Sabe que te amo?” Ele disse muito baixo.

“Também te amo.” Ela respondeu tocando seu rosto.

“Não. Não assim.” Ele disse. “Te amo como um homem ama uma mulher.”

Linn fechou os olhos e abanou a cabeça confirmando.

“Senti isso a primeira vez que te vi.” Ele continuou os olhos azuis fugindo dela e se fixando em algum ponto no teto, a lembrança bailando em seu rosto. “É a mulher mais perfeita que conheci.”

“Não sou não.” Ela disse.

“Para mim é.” Ele respondeu baixo e voltou a tossir, no que foi acompanhado por Axel.

O momento se perdeu. De certa forma Linn se sentiu feliz por isso. Apressada se levantou e agarrou um pouco de água e deu para os dois, o que os acalmou.

Chase se manteve muito calado dali em diante, recebendo os cuidados de Linn junto com Axel, piorando em um ritmo mais lento que os demais dentro do Bloco, apesar de que Axel estivesse tossindo com mais frequência, até que começou a cuspir sangue e Linn não soube como agir quando ele apagou e começou a respirar com dificuldade.

Chamou Hershel e este apareceu alguns minutos depois, auscultou seu peito e abanou a cabeça.

“Os pulmões dele estão começando a entrar em colapso.” Disse e se afastou, sentando e passando a mão no rosto. “Não tenho como ajudá-lo.” Explicou.

“Se Daryl voltar com os remédios...” Linn tentou.

“Talvez.” Hershel soltou. “Tome isso e coloque no rosto dele, vai ajudar enquanto ele respirar.” O velho lhe entregou algum tipo de bomba de ar. “Aperte a cada dois segundos e deixe encher naturalmente, voltando a apertar, é o que posso fazer.”

Linn fez como ele lhe ensinou e Hershel se foi. Estava a cuidar de todos, mas Linn sabia que agora se concentrava em Glenn que parecia muito pior.

“Como... ele está?” Chase conseguiu perguntar, a voz falhando, tossindo horrivelmente.

“Estou fazendo o possível, mas ele não parece que vai acordar.” Linn informou.

“Ele estava... reclamando de dor no peito... antes de você chegar.” Chase disse.

“Prefiro que não fale, ok?” Ela pediu por que era um esforço que lhe arrancava muito de suas forças.

Linn sempre achou que Chase fosse tão forte quanto Sam, ele nunca ficou doente, nenhuma vez sequer desde que se conheciam. Vê-lo assim, tão quebrado, destruía muito de suas certezas.

Olhou para fora da cela e seu coração deu um pulo desesperado ao imaginar que Sam subia as escadas, mas era apenas Harley. A garota tinha uma fixação por Sam que beirava o ridículo. Notou que ela estava doente também, mas parecia estar muito melhor que muitos ali e por isso a chamou, não poderia mais cuidar de Chase e Axel sozinha.

“Preciso que me ajude com Axel.” Linn disse cedendo o lugar para que ela sentasse, no que a garota prontamente obedeceu.

“Sam?” Chase murmurou virando e tossindo.

“É a Harley.” Linn disse se aproximando, segurando Chase pelos ombros quando o acesso de tosse se tornou pior, virou ele de lado, sentindo as lágrimas tomarem seus olhos quando a parede ficou salpicada de sangue.

Ele começou a respirar muito mal uma hora depois, o corpo ficando duro e agitado, tentado buscar o ar e só o conseguindo por que tinha muito de determinação.

Do lado de fora da cela Linn ouviu a comoção, os gritos, os grunhidos, percebendo que alguém se transformara e estava a causar problemas. Mas Chase estava muito mal e ela não podia deixá-lo.

“Harley, feche o portão.” Ordenou, alheia a todos os outros que não os amigos jazendo naquela cela.

A garota lhe obedeceu, depois voltou a sentar, meio tonta, continuando a ajudar Axel respirar com a bomba.

“Linn.” Chase soprou se torcendo, agarrando sua mão, o rosto começando a ficar azul, a boca tomada de sangue, logo apagou e parecia não respirar quase nada.

Ele estava a morrer, ela sabia. Não conseguiria mais respirar dali a pouco e morreria, pensou desesperada.

Arrancando o lenço se inclinou sobre ele, colou suas bocas e passou a jogar o ar em seu interior, como aprendera nas aulas de primeiros socorros. Aquilo pareceu ajudar a princípio, mas logo percebeu que não seria de muita ajuda.

Sob a palma podia sentir seu coração batendo, fraco. E a ideia de que pudesse perdê-lo a fez se afastar, se debruçar sobre Harley e agarrar o aparelho que ela usava para ajudar Axel a respirar. Sabendo que faria aquilo desde que Hershel lhe entregara o pequeno utensílio, caso tivesse que escolher entre os dois.

“Assim ele vai morrer.” Harley segurou e não largou o aparelho, sem saber como agir, por que conhecia os dois, mas tinha um carinho muito maior pelo bem humorado Axel.

“Eu sei.” Linn sentiu o lábio tremer e as lágrimas desceram pesadas de seus olhos. “Mas tenho que salvar o Chase.”

Arrancando a coisa das mãos da garota, voltou-se para Chase, encaixou o aparelho em seu rosto e passou a bombear o ar em seu peito.

Olhou uma última vez para Axel, percebendo que seu peito subiu e desceu algumas vezes, o que lhe deu esperança, mas logo depois ele parou, ficou muito quieto, se sacudindo desesperado, ainda inconsciente, até que cessou de se mexer e ela soube que estava morto.

Ela o matara, pensou cheia de remorsos, imaginando como contaria aquilo para Chase ou Sam depois.

Olhou para Axel novamente e quis dizer a Harley que cuidasse dele, para que não retornasse, percebendo que o alvoroço do lado de fora tinha cessado, mas ela o havia matado, não poderia delegar a outro a tarefa de que continuasse assim.

Estava a pedir a garota que se aproximasse para cuidar de Chase para que pudesse cuidar que Axel não retornasse, quando o amigo se ergueu, derrubando Harley e avançado sobre ela.

A garota conseguiu que ele não a mordesse, o empurrando, mas o homem rolou e se dirigiu para outras duas presas.

“Use sua arma.” Ordenou a Harley, dando um chute em Axel para que não mordesse a perna de Chase.

“Estou desarmada.” Harley gritou e correu para o portão a deixando sozinha.

A maldita covarde.

Linn se afastou de Chase e derrubou Axel com outro ponta pé, na direção da cama, caçando seu arpão na perna, empunhando e atirando, para errar. Recuando, por que a coisa só tinha um tiro e precisava recarregar.

Odiou-se por não gostar de armas de fogo e evitar usá-las, xingou e chutou Axel novamente, caindo sobre as pernas de Chase, puxando do coldre na perna um dos arpões, segurando a haste de madeira com força e avançando para acertar Axel por baixo do queixo.

O corpo caiu no espaço entre a cama e o colchão, o rosto próximo ao de Chase, morto realmente, e Linn se voltou para o amigo, tocando seu pescoço, percebendo que seu coração na batia mais.

“Não.” Gritou e começou a fazer massagem em seu peito, com força. “Um dois, três... Cinco.” E logo soprando em sua boca.

Repetiu a ação por um longo minuto, sem se importar que seus braços doessem, que seu rosto e boca seguiam tomados pelo sangue dele, o gosto metálico e doce não lhe revoltando de forma alguma.

“Preciso de ajuda.” Gritou continuando a massagear seu peito. “Acorde seu desgraçado.” Implorou, voltando a tomar sua boca, soprando algumas vezes, até que ele ofegou e abriu os olhos.

“Chase.” Ela ofegou aliviada, se afastando, pegando a bomba e colocando eu seu rosto, voltando a lhe ajudar a respirar.

“Aqui.” Hershel apareceu com uma bolsa de soro e algumas injeções, cuidando dele, com Linn tentando não chorar, sem sucesso.

Chase desviou os olhos dela para Axel caído ao seu lado, para a bomba de ar sobre seu rosto, e voltou a encarar a face da mulher sobre o seu.

“Não podia deixar você ir.” Ela disse, apenas para ele, percebendo a acusação em seus olhos.

Chase jamais aceitaria que o tivesse salvado à custa da vida de um amigo. Mas ela não se importava. Linn apenas dava graças que a escolha não tivesse sido entre ele e Sam, por que não saberia o que teria feito.


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