Shattered escrita por Nash


Capítulo 15
You make me happy when skies are gray




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Quando Sherlock despertou ele encontrou a cama já vazia ao seu lado. Em seguida, se levantou, buscou o robe e foi para a cozinha atrás de chá. No momento que tinha uma caneca cheia em suas mãos, ele coçou os olhos e se virou, então viu John já limpo e vestido olhando para o relógio com uma cara preocupada e então perguntou:

— Você sabe qual o seu problema?

— Não. – O médico respondeu fazendo a mesma cara que sempre fazia quando Sherlock ia começar com as provocações deles. O fato de que agora serem noivos e criarem uma filha juntos não parecia influenciar muita coisa em relação a isso.

— Você se preocupa demais.

— Mas – John deu um suspiro fundo e então continuou – Molly disse que chegaria a meia hora atrás e ainda não apareceu.

— Não é como se nenhum de nós nunca tivesse se atrasado procurando aonde estava o sapato dela... ou qualquer coisa parecida. Molly é muito atenciosa com Pattie, ela vai estar bem.

— Não é com Pattie que me preocupo – John respondeu. Tinha sido duro passar sozinho pela transformação da filha de um bebê para uma pequena criança enérgica. No primeiro momento, quando estava sozinho longe de Londres, tudo parecia dez vezes pior e mais cansativo. Tinha melhorado quando ele tinha voltado a Baker Street e tinha recebido ajuda vinda da senhoria e da médica, mas ele sabia que a falta de Sherlock era o que cotidianamente abria um buraco no peito dele. Agora que ele estava de volta, a filha tinha melhorado no comportamento, mas ele ainda se via apegado a sensação de ter que fazer tudo sozinho para uma criança tão pequena.

— Não acha que você exagera demais sobre sua filha?

John iria responder a pergunta quando finalmente puderam ouvir os passos na escada em conjunto com o risinho de Pattie que se aproximava aos poucos. Ambos fizeram uma cara de surpresa e se entreolharam quando viram o que a filha vestia.

— O que é isso? – Sherlock perguntou com aquela entonação ligeiramente ríspida que era do seu costume.

— John me disse que ela gostava de dinossauros, então passamos em uma loja de fantasias e ela adorou. – Molly respondeu sorrindo e quando viu o detetive fazer uma careta, completou – Não se preocupe, Sherlock. É nova.

— Não precisava disso, Molly. – O médico disse sério, mas ao se virar para a filha e ver como ela tinha ficado fofa com a roupa verde (que vinha com placas marrons saindo ao longo da coluna como um estegossauro) não pode evitar de sorrir – Como vai, meu amor?

— Dadi! – Pattie exclamou quando John a pegou nos braços. Então, mostrando os dentinhos como se fosse uma fera ameaçadora, completou – Pat dino! Rawwr!

— Pattie, você é um dinossauro herbívoro, não pode fazer ameaças desse tipo ao seu pai. – Sherlock disse sério enquanto se dirigia a menina. Molly e John reviraram os olhos e o médico começou a rir sozinho.

— Não estrague a brincadeira da menina, Sherlock. – John falou para o moreno. – Deixe ela pensar que é um t-rex se é o que ela quer.

— Mas o t-rex não tem placas ao longo da coluna, John.

— E desde quando você entende tanto de dinossauros? Houve um caso que envolvia o assassinato de algum e eu não soube?

— Não – Sherlock disse entre os dentes com um já prévio sinal de irritação. – Mas, Pattie, sua filha, gosta muito de dinossauros... então, achei que fosse válido aprender para ensiná-la a diferenciar. Mas...

— Papa! – Pattie interrompeu o moreno que ainda ponderou por um momento se continuaria o discurso, mas preferiu pegar a filha dos braços de John. No instante que Sherlock a segurou, ela também abriu a boca para exibir os dentinhos e deu um rugido. Molly riu acreditando que provavelmente tenha sido a coisa mais fofa que já tinha visto.

— Oh, pelos céus, Pattie. Você tem muito o que aprender. – O detetive levantou uma das sobrancelhas enquanto falava com a filha e a levou para uma das poltronas enquanto abria um livro infantil cheio de dinossauros no colo.

— Bem, – John então se virou para Molly que observava tudo sorrindo – obrigada mais uma vez.

— Não tem o que agradecer, John. Você sabe que é sempre um prazer ajudar a cuidar dela. Eu disse isso quando você voltou sozinho naquele tempo e sempre será verdade. – Ela buscou o celular no bolso para verificar as horas e então completou – Bem, minha hora de ir.

O médico e ela se despediram, ela tentou dar tchau para Sherlock que não deu ouvidos como fazia na maioria das vezes e então disse mais alto:

— Tchau, Pattie!

— Tiao, Olly! – A pequena respondeu do colo do detetive com um pequeno beijo. A médica retribui o gesto e saiu porta afora.

John ficou observando a filha no colo do detetive e sorriu com a cena. Sherlock apontava seriamente para as imagens nos livros e repetia os nomes científicos pausadamente esperando que Patricia repetisse.

— Sherlock – ele começou a falar e esperou que o moreno demonstrasse que estava prestando atenção, então continuou – não acha que ela é nova demais para isso?

— Quanto mais cedo a mente dela for treinada, melhor.

— Treinada para o quê? Ser geóloga? Ela não tem nem dois anos e você já quer definir a vida dela pelos gostos que ela tem agora?

— Não seja ridículo, John – Sherlock disse sério. – Um cientista que estuda dinossauros é chamado paleontólogo. Um geólogo estuda sobre rochas. – Então, o moreno se virou para Pattie e começou a resmungar – Geólogos. Hmpf! Não escute seu pai. Ele não sabe o que diz.

O médico não pode evitar de rir com aquela resposta, sem antes, é claro, revirar os olhos. Mas o fato de que o moreno estava realmente dedicado àquela missão de ensinar a filha que não tinha nem dois anos, qual a diferença entre um estegossauro e um t-rex era impressionante, mas não era, realmente, surpreendente.

— Vocês ficam bem? Eu tenho que ir.

— Sim, ficamos. – O Holmes respondeu com um sorriso ao ver que John se aproximava para lhe dar um beijo. Eles tinham passado a noite anterior sozinhos para que começassem a planejar os detalhes do casamento, mas quando se viram sozinhos no apartamento, tinham acabado por ficar juntos entre a mesa e as poltronas. Tudo tinha acabado na cama, é claro. Mas a lembrança do que haviam feito na sala acabou fazendo-o corar.

— Sherlock? Qual o problema?

— Absolutamente nenhum – o Holmes mentiu.

O médico deu de ombros e se despediu da filha. Foi para o trabalho com um sorriso no rosto, sabendo que aquelas duas pessoas que amava tanto estariam o esperando quando voltasse para casa no fim do dia.

— Por que ela continua com essa roupa de dinossauro mesmo? – John perguntou. Ele e Sherlock tinham combinado se encontrarem no supermercado para fazerem reabastecerem a dispensa, mas o médico não esperava encontrar a filha ainda na roupa que tinha visto pela manhã.

— Eu já disse, aparentemente, é impossível tira-la daí – Sherlock respondeu. E quando recebeu um olhar de dúvida do parceiro, completou – Nunca tinha visto ela espernear daquela forma na minha vida... ou na vida dela. Que seja.

— O que falta da lista? – John fez um aceno para o pedaço de papel que o moreno segurava. Então, por um relance avistou uma mulher muito bonita e morena que tinha encontrado em Manchester certa vez. Não conseguia lembrar do nome que ela tinha lhe dito, mas lembrava do seu rosto porque a falta de Sherlock fazia-o relembrar cada detalhe dos dias que ele se comunicava e ela tinha aparecido em um desses dias. Mas quando ele piscou e coçou entre os olhos, ela não estava mais lá.

— John? Você está acordado? Eu disse legumes e ... – Sherlock parou de falar quando o celular tocou no bolso. Ele entregou a lista para o médico e então atendeu a ligação. – O que você quer Mycroft? Agora? Tem certeza? Ok, eu e John estamos indo aí. – O moreno guardou o celular no bolso outra vez e olhou para o loiro – Vamos.

— O que foi?

— Ele não explicou, mas disse que era urgente.

— A família real outra vez?

— Não, ele não estava com a entonação de preocupação correspondente.

Ao chegarem na casa do Holmes mais velho, eles foram orientados por Anthea por esperaram em uma antessala enquanto a reunião anterior acabava.

— Pelos céus – Sherlock revirou os olhos – só meu irmão mesmo para dizer que era algo urgente e nos fazer esperar por uma bobagem qualquer.

— Olha quem fala – John zombou. Patricia parecia muito agitada nos seus braços e decidiu pô-la no chão. Distraída com o brinquedo que levava, não teria muitas chances que ela causasse um dano irreversível a algo que fosse propriedade de Mycroft.

— O que você quer dizer com isso? – O moreno perguntou sério.

— O que eu quero dizer com isso? Sherlock você vive fazendo escândalo sobre as coisas que você tem que fazer. Outro dia achei que você estava morrendo, mas só não conseguia achar o vestido certo para usar em Patricia quando queria leva-la ao parque.

— E eu tenho culpa se você compra a maioria das roupas dela com uma combinação de cores horrível?

— E desde quando você é um expert em roupas de criança também?

— Desde... – Sherlock ia dizer algo, mas decidiu se interromper – não te interessa.

— Olha só – mas não era a voz do Watson que continuava a conversa, era Lestrade que saia da sala de Mycroft carregando Patricia nos braços – acredito que perderam um dinossauro por aqui.

— Gregory – John o cumprimentou com um aceno de cabeça – o que faz aqui?

— Mycroft me contatou, disse que ia precisar da minha ajuda em um caso.

— Que absurdo – Sherlock o olhou apertando os olhos enquanto encarava o detetive inspetor. – Isso não faz nenhum sentido. Por que ele ia precisar da sua ajuda? Você não consegue fazer nada sem a minha ajuda. Ai...

John sorria desajeitado após retrair o braço após a cotovelada que tinha dado no moreno. Gregory fez a mesma cara que sempre fazia quando Sherlock começava a querer tirar sarro dele e apertou a ponte do nariz.

— Bem, rapazes. Eu já vou indo. Tchau, Pattie.

— Tiao, Guegori!

— Que estranho... – O Holmes mais novo disse enquanto via Lestrade se distanciar.

Anthea apareceu indicando que podiam finalmente entrar no escritório. Lá dentro, Mycroft estava sendo numa cadeira atrás de uma mesa de mogno escuro. Ele não estava com a cara de poucos amigos de sempre, mas parecia mais... feliz? Quando se focou em Patricia sorriu e perguntou:

— Por que ela está usando uma fantasia de dinossauro?

— Micofot! – A menina o cumprimentou antes de tudo e em seguida fez o pequeno rugido que vinha fazendo o dia todo – Dino Rawwr!

— Pattie! – Sherlock a repreendeu. – Molly Hooper comprou para ela e parece-me que também ensinou que um estegossauro ruge.

— Oh, pelo menos é um avanço. – O Holmes mais velho disse zombeteiro e se virou para Pattie que estava nos braços de John e falou – Seu pai queria ser um pirata, sabia? Levou muito tempo até que eu o fizesse desistir.

— Sim, obrigado por estragar os sonhos de uma criança.

— Não há de que. – Mycroft sorriu com escárnio e se virou para John – Doutor Watson, vou pedir que dê licença para que eu possa falar a sós com meu irmão, por favor.

— Quê? – Sherlock questionou surpreso.

— Eu preciso falar a sós com você, little brother. Se por um acaso você decidir que é justo comunicar o que te falarei para ele, você o faz, mas...

— Não seja ridículo, Mycroft.

— Eu insisto que preciso falar com você a sós, Sherlock.

— Ok – John disse com um meio sorriso. – Eu espero lá fora. Sem brigas.

Após alguns minutos, Sherlock saiu com o semblante preocupado, mas não disse nada a John. Ele ainda continuou calado quando mais tarde em casa John perguntou o que era e em seguida buscou um dos seus livros para se isolar.

Durante os próximos quinze dias, seu humor continuou péssimo e ele saia sozinho em horários que achava que John não notaria. Mas em uma tarde que parecia como qualquer outra, o celular tocou e quase que instantaneamente o mau humor desapareceu e ele estava normal outra vez, ou o mais normal que Sherlock Holmes poderia ser.

Ainda na noite daquele dia, ele explicou na cama para John que o serviço secreto estava seguindo um grupo de pistas que pareciam suspeitas demais, mas tudo não passou de apenas ser uma célula restante do império do crime de Morgan tentando agir sozinha. O MI-6 tinha então dado cabo dela e tudo não tinha passado de um grande susto.

— Me desculpe por não ter falado nada a você.

— Está bem.

— É que... eu não conseguia conceber a ideia que eu tinha falhado. Eu tentei o tempo todo conseguir as palavras para poder te explicar, mas era vergonhoso demais para mim pensar que tinha falhado e vocês estavam em risco.

— Mas não era... era?

— Não – Sherlock respondeu. John o puxou para perto e deu um beijo na sua testa e passou a mão nos cabelos escuros do outro. Eles agora poderiam voltar para a programação normal e era tudo que importava.

 

~

 

As semanas se passaram e logo o segundo aniversário de Patricia batia à porta. Para John, ainda era uma data com lembranças duras, afinal sempre seria o dia que teria perdido Mary, mas agora doía bem menos do que antes. Pois agora ele tinha Sherlock consigo e com a filha. E a visão dos dois brincando juntos era algo que o enchia com uma sensação boa, daquele tipo que faz você ter certeza que está no caminho certo. E mesmo que já tivesse presenciado a cena um sem número de vezes antes, vê-la se repetindo outra vez naquele dia era como se fosse uma espécie de concretização da família que haviam se tornado.

— Como vai a aniversariante do dia? – Lestrade perguntou ao se aproximar.

— Bem – John sorriu. – Mas já deve estar perdendo a paciência com Sherlock lhe repetindo o dia todo que agora ela tem dois anos.

— Como o tempo voa. Ainda parece que foi ontem que ela nasceu e... – O detetive parou o que ia dizer quando percebeu que estava prestes a entrar em assunto delicado.

— Tudo bem, Greg. Você pode falar... que ela nasceu e Mary faleceu. Na época foi uma sensação horrível e eu me perguntava como poderia comemorar o aniversário da minha filha sabendo que algo tão horrível tinha acontecido no mesmo dia. Mas... – John olhou de relance para Sherlock e a filha que agora estavam entretidos com o presente que Molly entregava. Ele ia dizer para Lestrade que agora tinha Sherlock. E mesmo que Mary tenha sido alguém importante e tenha lhe dado a coisa que mais amava na vida, era o amor que sentia pelo moreno e que recebia de volta dele que fazia com que seguisse em frente a cada dia.

— Mas? – Gregory o tirou do devaneio.

— Mas agora eu tenho Sherlock. E pretendo que isso continue para sempre. – O médico deu um meio sorriso – Eu vou ficar bem.

— Eu sei. Sabe... as vezes ainda não acredito que finalmente vocês estão juntos.

— Como assim finalmente?

— Você sabe, John. Vocês sempre estiveram muito na cara, só não...

— Ainda essa conversa? Você e Mrs Hudson não vão superar nunca? – John podia escutar a voz vindo carregada com uma irritação. Decerto teria sido tudo mais fácil se eles tivessem se resolvido antes, mas as coisas acontecem como devem acontecer. Essa é a verdade absoluta da vida.

A festa era simples, mas bem arrumada como a do ano anterior, apenas com a diferença que este ano apareceram algumas mães e seus respectivos filhos da creche de Patricia. Um animador havia sido contratado, mas logo foi embora por causa das provocações de Sherlock de como seus desafios eram óbvios e ridículos.

— São crianças de dois anos, Sherlock. – John tinha tentado dizer.

— Não é porque ela tem dois anos que não vai ser desafiada com algo para aguçar a mente. Eu sei fazer algo melhor.

— Não. – John respondeu de supetão já prevendo o que o outro poderia organizar. Sherlock revirou os olhos e se distanciou para conversar com Mrs Hudson que andava muito animada sobre o casamento dos dois e sempre estava interessada em ajudar e dar palpites no que fosse possível.

Quando foi a hora de cantar os parabéns para a aniversariante, foi o momento que finalmente Pattie pediu para ir para o seu colo. Obviamente, ele não tinha ciúmes da relação de Sherlock com ela, mas não pode negar se sentir aliviado quando a filha pediu para ficar pertinho dele.

— Dadi! Oh, Pat dois agola! – Ela disse mostrando o dedo indicador e do meio muito orgulhosa do feito.

— Parabéns, meu luv.— John falou enquanto dava um beijo na bochecha dela. Ele tinha até mesmo esperado ao lado do berço dela para que a primeira coisa que ela escutasse ao acordar fosse o seu “parabéns”, mas mesmo assim ele não cansava de repetir o dia todo.  E, então, sem perceber uma mão apareceu e sujou o nariz dela com glacê do bolo. Pattie fez uma cara de surpresa no primeiro momento, mas logo estava rindo. E quando a risada de Sherlock veio junto ele não pode evitar de rir também.

Então, Mrs Hudson puxou o coro e a sala reverberou com o som de todos por estarem ali felizes de estarem participando de mais um ano de Patricia. Logo, todos estariam no casamento dos dois e finalmente tudo poderia terminar como deveria ter sido desde o início: Sherlock e John juntos.

Nesse mesmo momento, Lestrade notou que Mycroft entrava carregando um pacote embrulhado em papel de presente. O pôs na pilha junto com os outros e encarou a aniversariante por um instante e sorriu. Ele ia dar meia volta e ir embora, então o grisalho resolveu intervir. Se aproximou e perguntou:

— Por que não fica mais?

— Sherlock e Patricia estão bem. Eu não tenho muito o que fazer por aqui. – Mycroft respondeu aquilo sem saber o porquê, não é como se devesse algum tipo de explicação ao outro, mas o detetive exercia uma influência sobre ele que ainda não conseguia entender. Ele deu um aceno de cabeça, se virou e começou a descer a escada, mas ainda disse – Tchau Lestrade.

Gregory sorriu e respondeu – Tchau Mycroft.


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