Paixões Gregas - Opostos(Em Degustação) escrita por moni


Capítulo 6
Capitulo 6


Notas iniciais do capítulo

Oi gente. Mais um capitulo. Espero que gostem. Agora o próximo vai demorar uns dois dias. Quero tentar colocar os comentários em dia antes de continuar. Obrigada pelo carinho de sempre.
BEIJOSSSSSSSSS



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   Pov – Tyler

   Idiota, idiota, idiota. Como posso ter feito isso? Eu podia resistir. Não devia nunca ter beijado July, já era uma tortura, como vai ser agora?

   Que beijo foi aquele? Aqueles, nunca senti aquilo com nenhuma garota. Os lábios dela são macios, a pele é suave. Meu coração nunca tinha disparado em um beijo, mas então eu estava lá perdido, envolvido, encantado com aqueles olhos claros brilhando para mim. O rosto corado, pareceu até que foi especial para ela.

   A verdade é que foi para mim. Muito mais que isso, acho que nunca mais vou esquecer, nem sei se vou resistir. O que foi aquele beijo de despedida? Coisa de casalzinho de namorados da televisão.

   Acendo mais um cigarro, apresso o passo. July é a garota mais linda que já vi. Toda delicada. Simples, não é mimada, como sempre pensei, quando cuida da minha irmã parece que nasceu para isso. Eu não sei como vou sair dessa.

   O celular vibra no meu bolso. Pego quase correndo, quem sabe é ela me ligando. Assim que atendo a sensação boa vai embora. Juan está na linha.

   ─Tyler estou te esperando. Quero que venha aqui agora. – Fico mudo. Paro de andar. Passo a mão pelo cabelo. Atiro o cigarro longe. Que merda, esse cara não desiste nunca? – Tyler?

   ─Eu ouvi. Minha avó está doente.

   ─Agora Tyler. Tem vinte minutos.

   ─Eu... eu... Juan, preciso ver as coisas em casa.

   ─Vou mandar alguém lá.

   ─Não. – Me apresso, não quero ninguém na minha casa. – Estou indo.

   ─Ótimo.

   Mudo a direção, no fim só o que posso fazer é obedece-lo, quem sabe no futuro, se conseguir um emprego eu pego minha família e sumo?

   Assim que entro em sua sala ele fica de pé, me encara raivoso, estaco em sua frente sem entender o que se passa, ele afasta a cadeira e caminha até mim. Sem aviso me acerta um soco. Minha vontade é revidar, fecho a mão, logo dois de seus homens me cercam num aviso silencioso. Controlo a raiva.

   ─O que tem na porra dessa sua cabeça? – Ele grita enquanto passo a mão no queixo tentando reorganizar as ideias. – A filha do Nick Stefanos? É maluco?

   ─Não sei do que está falando. – Suas mãos vêm para meu colarinho. Ele me aperta contra a parede. – Juan.

   ─Eu mesmo vi. Ninguém me disse. Vi vocês se agarrando em um beco. Você é um imbecil, vai me criar problemas. Se Nick bater em minha porta fazendo cobranças você está morto.

   Empurro Juan. Ele aceita. Caminha de volta para sua mesa. Pega um embrulho, coloca sobre a mesa com um pedaço de papel e sobre ele uma pistola.

   ─Começa hoje seu trabalho. Vai fazer uma entrega. Agora mesmo. – Olho para o pacote. Só pode ser droga. – Aqui tem tanto dinheiro que nem a vida de toda sua droga de família pagaria.

   ─Juan eu não posso fazer isso. – Ele ri. Arrasta o embrulho em minha direção.

   ─Pedro, pega uma mochila para ele guardar isso. – Juan me encara assim que o homem sai. – Vai sozinho, com a mochila nas costas e a pé. Levanta menos suspeita. Dois dos meus homens vão te seguir a distância. Será sua proteção, mas se for idiota vai acabar morto. Eles já foram avisados.

   ─Por que eles mesmos não entregam?

   ─Está na hora de se comprometer. Se acabar nas mãos da polícia acho que sabe que não pode me entregar. Se acontecer você morre na cadeia e sua família aqui fora.

   Engulo em seco, não é como se pudesse escolher. A caixa não é pesada quando eu a ergo tomando cuidado para não tocar a arma. Coloco o pacote na mochila.

   ─Cocaína?

   ─Heroína. Então não brinca comigo. Segue até lá, entrega, some em silencio. Em duas horas vai estar em casa. – Coloco a mochila nas costas. Juan me estende a arma. Nego.

   ─Não vou levar isso, não mesmo, pode me matar se quiser, não sei atirar e não quero aprender. Se me obrigar a levar essa merda jogo na primeira lata de lixo do caminho.

   ─Covarde. Tem muito a aprender. – Ele coloca a arma na cintura. – Se tentarem te roubar e não se defender por que não está armado vai pagar por isso.

   Encaro o endereço. Soho. Posso pegar o metrô, espero que tudo corra bem. Deixo Juan sem me despedir. Ele que vá para o inferno. Caminho apressado. Que se dane se esses tais seguranças estão ou não atrás de mim. Quando chego no Soho as ruas estão movimentadas.

   O endereço é uma galeria de arte. Eu sabia que seria para um desses artistas malucos que moram por esses lados. Tem gente de todo tipo. Toco a campainha. Escuto o barulho de saltos batendo no assoalho, uns minutos depois uma mulher alta e elegante num vestido negro abre a porta.

   Está toda maquiada. Tem um ar distraído, escuto música alta vindo de dentro do lugar. Ela me olha um momento.

   ─Sim? – Abro a mochila e estendo o pacote. A mulher sorri. – Juan? – Afirmo. Ela retira umas notas do decote. Abre um sorriso despreocupado quando pega o pacote. – Um presentinho pela rapidez.

   A porta se fecha na minha cara no minuto seguinte. Sinto um alivio me invadir. Além dele um pouco de vergonha também. Não queria ser assim fraco. Conto as notas. Cem dólares. Ao menos garante mais uns dias de paz em casa.

   Enfio as mãos no bolso da jaqueta e caminho de volta para casa. Quando chego as duas dormiam. Sobre a mesa um bilhete escrito em espanhol. Anita, mãe de Dulce fala pouco inglês.

   Ela ficou até colocar as duas na cama. Isso me tranquiliza um pouco. Me atiro no sofá. A primeira coisa que penso é July. Seus lábios, aquele beijo. Eu não passo de um entregador de drogas, não vai demorar e acabo na cadeia. Como todos os seguidores de Juan. O que posso dar a ela?

   Nick Stefanos me mata. Eu não tenho nada que me meter nisso. Digito seu telefone. O que penso e o que faço são opostos. Não são dez da noite ainda, ela talvez esteja fazendo o dever.

   ─Alô. – A voz suave do outro lado da linha me desestabiliza.

   ─Oi. – Não sei mais o que dizer. Penso nos beijos, é quase como estar na frente dela. ─ Está acordada? – Pergunta estúpida.

   ─Sim. Lendo um pouco. Tudo bem?

   ─Elas estão dormindo. Sem febre.

   ─Falei com o Chad. O exame não ficou pronto ainda. Ele disse que demora uma semana. Quando ficar pronto te liga.

   ─Certo. É só isso. Pode voltar para seu livro.

   ─Tyler. – Ela me chama.

   ─Fala.

   ─Você chegou agora?

   ─Não sei que diferença isso faz. – Não consigo ser pressionado, minha atitude é sempre defesa.

   ─Estava com Juan? – Não respondo. Não quero admitir o que fiz hoje. Isso só nos afasta ainda mais. Cria um abismo intransponível. – Tyler não se entrega.

   ─Boa noite July. – Não quero discutir isso. Ela não pode fazer nada por mim.

   ─Tyler espera...

   ─Não temos que ter nenhuma conversa. Você não entende como as coisas são por aqui. É melhor eu desligar. Só queria mesmo avisar. – E ouvir a sua voz. Penso sem admitir.

   ─Obrigada. Boa noite. – Ela diz um tanto triste.

   ─Você vem amanhã? – O que diabos eu estou fazendo?

   ─Vou.

   ─Tudo bem. Tchau.

   O que afinal eu estou fazendo? Eu devia ficar longe dela, devia ter dito para nunca mais voltar, mas não disse. Pelo contrário. Quis me certificar que ela vem.

   O sofá é irritante no calor, mas em noites como a de hoje até que não é de todo ruim. Fecho os olhos e tudo se confunde. Primeiro vem July e seus beijos, depois meus passos apressados com o peso daquela droga toda em minhas costas.

   Acho que nunca senti tanto medo, nem mesmo quando minha mãe morreu e me vi sozinho com minha avó e Bárbara. Tudo podia dar errado, não sou um criminoso, não tenho talento para isso. Sou grosso, mal-humorado, raivoso, mas bandido não.

   Custo a pegar no sono. Acordo com o choro de Bárbara antes mesmo de amanhecer. Nunca sei direito o que fazer. Ergo minha pequena nos braços. Ela está abatida e sonolenta. Troco a fralda e aqueço o leite. Ela mama, enquanto ando pela casa balançando Bárbara.

   Quando termino ela ainda está acordada. Continuo a andar com ela pelo mínimo apartamento. Bárbara não é feliz. Ninguém aqui é. Não poderíamos ser. Olho para seu rostinho agora mais calmo. Às vezes me pergunto se ela sente falta da mãe.

   Duvido, elas nunca foram muito ligadas. Assisto o dia amanhecer com ela nos braços. Os dois silenciosos olhando pela janela. Não é uma vista lá muito interessante.

   Quando vó Manoela fica de pé Bárbara adormece.

   ─Os dois já estão aí? – Ela arrasta os chinelos até nós. Beija a neta. Depois me afaga o rosto de leve. – Ela está com febre.

   ─O que eu faço vó?

   ─Dá o remédio que o médico receitou. Eu vou preparar uma xicara de café e depois fico com ela.

   ─A senhora está melhor?

   ─Mais cansada que nunca. Não sei mais o que isso quer dizer. Talvez seja só a idade, tudo isso que estamos vivendo. Você enfiado com esses bandidos. – Ela vai resmungando enquanto coloca água para ferver. – Eu dei muito asar. Primeiro sua mãe. Minha única filha. Uma decepção, agora você se enfiando com as mesmas pessoas. Espero que ela tenha mais sorte.

   ─Acha que quero isso? – Pergunto colocando a pequena na cama.

   ─Já falamos sobre esse seu orgulho estúpido. Pensa que não percebo as coisas? Eu sei que a pequena July te ofereceu ajuda. Que tem pai rico, mas você não se dobra.

   ─O que acha que ela pode fazer? Sabe o que acontece se ele se meter. Quer prejudicar a menina? Ou mesmo o pai dela? Nem estou falando da gente vó. Por que acredite. Ele vai acabar com a gente.

   ─Eu vivi toda minha vida aqui e nunca me meti com essa gente. – Ela me lembra mais uma vez. Só esquece que foi minha mãe que nos jogou nesse abismo.

   ─Não fiz dividas com Juan. Não me meti nisso. Ela se meteu. Agora chega. Eu vou sair. Se está bem pode ficar um pouco sozinha. – Caminho para o chuveiro. Quando saio do banho as duas estão quietas no quarto. Vou ao super mercado, compro o leite de Bárbara, algumas coisas para minha avó e quando entro com a sacola os olhos de vó Manoela expõe mais uma vez sua decepção.

   ─O dinheiro veio dele? – De algum modo sim. Sem forças para mentir eu apenas coloco as sacolas sobre a pia.

   ─Eu tenho que fazer uma coisa. Depois eu volto.

   Saio pelas ruas caminhado sem destino. Pensando em como as coisas vão ser no futuro. Até quando vou conseguir manter minha irmã e minha avó juntas? É tanto peso em minhas costas que as vezes só quero desaparecer.

   Quando chego em casa, depois de horas andando em busca de refrescar a cabeça ou encontrar um milagre, July está com Bárbara no colo.

   Sinto um certo alivio quando meus olhos encontram os dela. No fim ela me faz bem.

   July não se move. Só fica ali. Sentada a me olhar. Eu desvio meus olhos. Procuro por Dulce.

   ─Não vão estudar hoje?

   ─A Dulce não pode. Ela vai ao médico. Vim mesmo assim para visita-las. Se importa?

   ─Ela fica sorrindo no seu colo. – Ignoro sua pergunta por que se for responder o que é certo tenho que dizer que me importo.

   ─Pensei que podíamos dar uma volta com ela. Está um solzinho fraco. Nunca tira Bárbara daqui? – Não. A verdade é que desde que minha mãe morreu a alguns meses que nenhuma das duas sai de dentro de casa. – Dona Manoela disse que não quer ir.

   ─Acho que tudo bem. – Com um sorriso July se levanta carregando Bárbara.

   ─Podemos dar uma volta no quarteirão. Ela vai se acalmar um pouco.

   Pego a garotinha de seus braços e deixamos o apartamento. Caminho lentamente, Bárbara fica animada.

   ─Estava certa. Nunca tinha pensado em fazer isso. Da próxima vez que ela começar a ficar irritada eu vou fazer isso.

   ─Ela vai gostar. Tyler, você ontem...

   ─Fiz uma entrega. É isso que quer saber? Está pronta para ir embora e nunca mais voltar? – Ela se espanta. Paramos em frente a porta.

   ─O que quer é isso?

   ─Isso é o certo. – Bárbara em meus braços com uma mão na boca olhando July destoa da situação.

   ─Me beijou. – Ela me lembra. Como se não pensasse nela o tempo todo.

   ─Não fiz isso sozinho.

   ─Mas só você parece não querer admitir isso. Só você parece arrependido.

   ─Por que insiste em vir aqui? Por que fica querendo se meter na minha vida? Somos opostos July.

   ─Eu não sei. O que sei é que não consigo evitar. Não conseguia, mas se o que quer é isso... – Sinto sua tristeza. Não é menor que a minha. Ela faz um carinho no rosto corado de Bárbara. – Ela vai ser linda. Vou falar com a Dulce amanhã, arrumar outro lugar... – July se cala. Beija o rosto de Bárbara. – Sinto se invadi demais sua vida.

   Os olhos claros encontram os meus e depois eles desviam, ela começa a se afastar. Seguro sua mão. Sei o que devo fazer, mas quando foi que ouvi a razão?

   ─Espera. – Ela olha primeiro para minha mão presa a dela, depois para meus olhos. – Quero que continue a vir. Quero beijar você de novo.

   Num leve puxão eu a trago para mais perto e quando me dou conta estou mais uma vez beijando July. É a mesma sensação perfeita de paz e desejo. Como nunca senti antes. Quando nos afastamos um pouco Bárbara segurava seus cabelos.

   ─Aí! – Ela ri enquanto tento soltar os fios que minha irmã segura interessada.

   ─Pronto. Vamos subir?

   Ela aceita. Enquanto voltamos para casa subindo as escadas devagar fico pensando se não estou apenas arrastando July para o mesmo buraco que eu. Coloco Bárbara em seu carrinho. Minha avó está mais uma vez na cama.

   ─Tem que dar água para ela Tyler. -July me avisa. Não sei mesmo nada sobre um bebê. – Faço o que me pede. Dou uma mamadeira com água para ela. July está sentada no sofá de frente para o carrinho de Bárbara que muito mais calma acaba adormecendo.

   ─Um passei pelo quarteirão com ela será uma nova rotina. Não sei como cuidar dela. Simplesmente não tenho a menor ideia do que um bebê precisa.

   ─Tyler. – July tem um ar sério. Me sento a seu lado. – Essa entrega. Se você caísse na mão da polícia...

   ─Minha vida tinha acabado. Se não tivesse feito seria o mesmo. Eu não tenho escolha.

   ─Não consigo não me preocupar com isso.

   ─Ele queria que levasse uma arma. Não levei, me recusei. – Ela sorri, parece orgulhosa. – Eu vou sair dessa do meu jeito.

   ─Se precisar de ajuda... se acabar em alguma confusão. Pode por favor me prometer que me pede ajuda?

   ─July eu só quero que dê um apoio a Dulce e a mãe dela cuidando da Bárbara e da vó Manoela.

   Os olhos dela marejam. Não sei se alguém já se preocupou assim comigo. Sem pensar muito eu toco seu rosto. Trago July para perto de mim puxando sua cintura fina. Ela espalma a mão em meu peito.

   ─Eu não quero fazer isso. Não quero você aqui. Não quero beijar você. Não quero sentir nada disso. Somos de mundos diferentes. – Digo tudo que preciso dizer e mais uma vez faço o estremo oposto, tomo seus lábios num longo beijo.

   July me envolve o pescoço. Seus dedos afundam em meus cabelos, ela se entrega sempre aos beijos como se isso fosse tudo que quer. Minha mão que envolve sua cintura escorrega pela coxa. Ela fica tensa no mesmo instante e me afasto um pouco.

   ─Tudo bem?

   ─É que eu não... Acho que não estou pronta, essas coisas... Tyler eu nunca tinha beijado ninguém e sou...

   Virgem? Dezessete anos e nunca tinha beijado ninguém? Nunca me passou pela cabeça. Fico surpreso. Acho que só isso. Nem sei o que dizer.

   ─Me acha idiota?

   ─Não acho nada. Cada um é de um jeito. Eu não vou fazer nada. Vou respeitar isso. – Solto July.

   ─Você me acha sim idiota. Nem quer mais me beijar.

   ─O que você quer afinal? – Ela acaba de dizer que não está pronta. – Quer me beijar ou não quer me beijar?  - Meu tom é ríspido. Seus olhos assustados me avisam isso. Respiro fundo. Sempre sou assim. Brusco. Irritável. Me arrependo no mesmo momento. – Desculpe.

   ─Elas estão bem. Dulce não vai estudar hoje então é melhor eu ir embora. – A voz parece tão triste. Eu nunca vou saber como agradar essa garota. Eu nem devia tentar. Devia só deixa-la ir embora magoada comigo e torcer para que nunca mais voltasse.

    Quando July tenta ficar de pé eu a puxo pela mão, ela cai desajeitada ao meu lado, quase no meu colo. Sorri e me arranca um sorriso. Os olhos cintilam quando encontram os meus.

   ─Sorriu. – Ela diz tocando meu rosto. – Fica bonito.

   O sorriso se desfaz, não costumo mesmo sorrir. Não tenho qualquer motivo para isso. A não ser o rosto delicado de July e o brilho de seus olhos.

   ─Eu quero que me beije. – Ela diz e parece sempre tão corajosa. – Pensei nisso a noite toda, não importa o resto, as diferenças, gosto dos beijos e isso é o que me importa. Só sei disso.

   ─Gosto quando fala assim. Só sei disso. – Guardo a vontade de sorrir.

   ─Falava sempre assim quando era pequena. Minha família se derretia. Fui crescendo e virou mania. – Eu beijo July, ficamos ali. Trocando beijos no sofá.

   Vó Manoela surge na sala, eu e July pulamos para longe um do outro. Ela não é tola, mas finge bem e não faz comentário. July me ajuda a cuidar das duas, alimentar, dar remédio e colocar na cama. Quando o dia termina estamos os dois no sofá assistindo televisão e trocando beijos.

   July é uma menina bem criada, não é garota de ficar trocando beijos por aí como se fosse apenas diversão. Não sei como vai ser depois.

   ─Eu vou embora Tyler. Já vai escurecer e tenho que ir a pé. Não tenho dinheiro para taxi.

   ─É a milionária mais pobre que conheço. – Ela me sorri. De novo me acaricia o rosto. Esse jeitinho dela me deixa sempre meio encantado.

   ─Dei o dinheiro que tinha para ração dos animais da Dulce. Uma parte da minha mesada vai para os médicos sem fronteiras, depois tem uma ong que ajuda animais abandonados que ajudo e a Dulce. Não sobra muito. Vivo devendo para os meus irmãos.

   ─Sempre achei que tinha todo dinheiro que queria nas mãos.

   ─Não. Alguns sim. Alana e Luka, meus primos que moram na Grécia, eles são mais controlados. Meu irmão mais velho na minha idade tinha cartão, carro, mas eu sou meio atrapalhada com isso de dinheiro.

   ─É estranho mesmo não ter carro. Tudo garoto rico ganha um.

   ─Isso é por outro motivo. Eu e o papai conversamos, minha mãe concorda. Temos que evitar poluir muito o meio ambiente, então eu escolhi não ter carro. Sou péssima motorista de qualquer modo.

   Fico de pé puxando sua mão, passo meus braços por sua cintura e beijo seus lábios.

   ─Vou te levar. Amanhã é sábado. – Fico pensando se vou vê-la.

   ─Vou passar o fim de semana na casa do meu tio em Alpine. Ajudar nos preparativos do casamento. Josh vai casar.

   ─Com a garota do sequestro?

   ─Sim. Lizzie. Minha prima. Eles não são primos. – Ela se apressa. Nem pensei nisso, dou de ombros mostrando que isso não me interessa. – Vou me despedir delas.

   July some para o quarto uns minutos. Eu a espero na porta. Andar com ela por aí não é nada seguro. Se Juan nos vê juntos de novo será mais problema. Se o pai dela nos vir então eu acho que ela vai acabar muito encrencada.

   Seguimos pelo caminho de sempre, nada de becos, não é boa ideia. Encontrar alguém daquela gangue maldita vai me levar a mais problemas.

      Não caminho de mãos dadas com ela, não me ofereço para carregar sua mochila, não consigo parar de pensar na tolice que é carregar uma garota tão protegida e bem cuidada para o buraco que me encontro. Principalmente depois de descobrir que ela nunca nem mesmo tinha sido beijada.

   Talvez ela tenha sentido algo por mim, mas pode ser apenas essa imagem de cara problema que a seduz, não sei, não devo tentar descobrir, preciso ser forte.

   Coloco a mão no bolso para pegar um cigarro, logo me lembro de sua saúde e desisto.

   Acho que July percebe que estou numa luta interna, ela não puxa assunto. Me deixa caminhar em silencio ao seu lado. Quando chegamos mais uma vez a uma quadra de sua casa eu paro de andar. Me volto para July.

   ─Vou voltar daqui. Não quero ir até sua porta.

   ─Nunca quer. – Ela constata e está certa. – Me liga no fim de semana?

   ─Minha avó e Bárbara estão muito bem. Não se preocupe. – July entende o recado. Balança a cabeça concordando, depois olha para os próprios pés. – Não vamos namorar July. Esses beijos, ontem, hoje. Isso não vai ficar acontecendo toda vez que a gente se encontrar. Isso não nos leva a lugar nenhum.

   July balança a cabeça ainda olhando para o chão, queria ver seus olhos para entender o que está pensando, sentindo. Não é nada disso que quero dizer. Isso é o que precisa ser dito e não sei fazer de outro modo que não seja a mais pura e simples verdade.

   ─Não vou mais na sua casa Tyler. – Ela simplesmente se afasta. Me deixa ali plantado na calçada e caminha apressada para casa. Fico assistindo ela desaparecer entre os pedestres sem nem uma vez se voltar para me olhar.

   Volto para casa pensando se ela vai cumprir sua promessa. No fundo quero que volte. Eu sinto algo perto de felicidade quando estamos juntos, mesmo sabendo que não tenho direito de me sentir assim.

   Juan me chama para entregas todo fim de semana. Duas vezes no sábado, uma no domingo. Na segunda tenho que voltar ao Soho. Todas as vezes fico me sentindo um lixo. Pequeno e impotente. Com medo de acabar preso.

   Quando chego em casa segunda muito tarde descubro que ela não veio. Não telefonou e realmente não apareceu. Isso é confuso, por que devia estar comemorando e não estou.

   Juntei duzentos dólares no fim de semana. Juan diz que está preparando algo grande. Não sei como vou fazer para fugir disso. Me dá medo pensar em ferir alguém. Bárbara não tem mais febre. Vó Manoela continua muito fraca, abatida e brava.

   Depois de outra discussão eu as deixo mais uma vez. Tem uma fúria dentro de mim que não se aplaca nunca. Compro uma garrafa de vodka. Me sento num dos becos por que passei com July.

   Começo a beber, só quero me entorpecer um pouco, esquecer o mundo e onde me encontro. July é teimosa. Não sai da minha mente. Meia garrafa depois as pernas estão moles, a língua travada e ainda assim ela domina minha mente.

   Quando a garrafa acaba fecho meus olhos. O mundo gira e volto a abri-los. Por que não vou atrás dela? A ideia de bater em seu apartamento, bêbado, sujo e cheirando a cigarro me provoca um ataque de riso.

   Nick Stefanos não pensaria duas vezes em chamar a polícia. Tento mais um gole, a garrafa secou.  Posso comprar outra. Penso me apoiando na parede para ficar de pé. Não posso. Minha avó e Bárbara estão sozinhas em casa. Por que eu sou um grande babaca.

   É madrugada quando entro tropeçando e evitando barulhos. Me atiro no sofá e a bebedeira me consome num sono sem sonhos. Minha cabeça pesada e dolorida me desperta. Quando fico de pé tudo escurece um momento.

   ─Por que não toma um rumo e para de beber desse jeito? Tem dezoito anos Tyler. Uma vida pela frente. É fraco.

   Minha avó está de pé, diante de mim. O rosto enrugado, os cabelos brancos, uma vida de batalhas, a maior parte delas perdida. Se olharmos em volta, talvez nem mesmo tenha alguma batalha vencida.

   ─Banho. – É tudo que consigo dizer sem vomitar na frente dela. Depois de um comprimido e chuveiro me sinto inteiro de novo.

   ─Vá dizer a ela que sente muito. Aposto que mandou a garota para fora da sua vida. A única coisa boa que te aconteceu e dispensou.

   ─Está tudo bem? A senhora e Bárbara estão bem?

   ─Onde vai?

   ─Eu vou... Não prometo nada vovó, vou só... talvez ela não esteja brava.

   ─Demore o que for preciso. – Ela sorri.

   Disparo casa a fora. Não vou chegar a tempo de vê-la sair do colégio se não correr. Só quero ver se está bem, se está triste. Quem sabe está, podemos conversar um pouco ou não. O que importa é ver seu rosto e ter certeza que sinto o que acho que sinto. O resto penso depois.

   Paro longe do portão. Próximo a uma lojinha de CDs, do outro lado da rua uns bons metros da escola. Carros elegantes saem do estacionamento um atrás do outro. Motoristas pegam garotinhos e garotinhas na frente da escola.

   O mundo perfeito de July me desmotiva. Meu ânimo de vê-la ou falar com ela desaparece e quando penso em ir embora eu a vejo caminhar com uma amiga. É tão linda. Os cabelos claros soltos ao vento. Um sorriso distante no rosto. Um cara se aproxima dela. Passa um braço por seu pescoço. Balança o tempo todo a chave de um carro.

   Sinto meu sangue ferver de raiva. Ela não o afasta. Fica ali falando com a amiga enquanto o palhaço a mantem num abraço que ela também não corresponde.

   Pego o celular. Não aguento ver aquilo e ficar calado. Ela vasculha a bolsa quando o escuta tocar. 

   ─Alô.

   ─Disse que nunca tinha beijado ninguém. O que esse cara faz pendurado no seu pescoço?

   ─Tyler? – July acerta uma cotovelada no estômago do idiota que se afasta com uma careta. Continua logo depois a olhar em volta. Me procura caminhando em direção ao portão. – Onde está?

   ─Não respondeu o que ele faz em seu pescoço.

   ─É só um garoto. – Ela diz olhando para todos os lados. – Ryan pode ir com o Tom. Eu vou na Dulce. Tyler? Onde está?

   ─Eu... – Fico mudo, vejo quando ela acena para o irmão e depois de ver o carro elegante partir atravessa a rua.

   ─Me espera. – Ela caminha em minha direção como se estivesse me vendo. Saio do canto do poste e olho para ela. Ficamos parados frente a frente.

    ─Como...

   ─Loja de CDs, ouvi a música ao fundo. – Claro. Que tolice a minha. Agora que já me comportei com um babaca e que estamos um de frente para o outro eu não sei o que dizer ou fazer. Ela se mantem em silêncio. Fui eu que vim atrás dela. Eu é que tenho que dizer qualquer coisa.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Beijosssssssssss