Lágrimas Perdidas escrita por Candy


Capítulo 4
Capítulo 4: “C”


Notas iniciais do capítulo

Ei, gente! Tudo bem?
Já esclareço antes do início da leitura que este 'C' não é a inicial de Christopher, nem Christian. Aliás, não é nome de nenhuma pessoa.

Boa leitura!



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Enquanto eu colocava o meu biquíni, me perguntava até onde aquelas mensagens iriam. E tinha medo de imaginar.

Quando cheguei à piscina, não encontrei ninguém. Estava vazia. Parei por alguns segundos olhando ao redor me perguntando onde todos estariam àquela hora, que não estavam ali aproveitando aquele dia maravilhoso – pelo menos em relação à questão física, já que o sol estava perfeito para pegar um ótimo bronze e se refrescar na água da piscina.

Dei de ombros e andei até uma das últimas espreguiçadeiras. Coloquei minha bolsa na mesinha ao lado, tirei meu short e pequei uma toalha e estendi para me deitar.

Sentei inclinada para trás, quase deitada e dobrei as pernas. Alcancei meu protetor na bolsa e coloquei uma quantidade nas mãos – se eu me bronzeasse além da conta e reclamasse de ardência mais tarde, já podia até ouvir Mai dizendo “Eu ainda te avisei.. RUM!”.

Ainda que eu ordenasse a mim mesma que não pensasse em certas coisas, os pensamentos já invadiam minha mente antes que eu notasse. Enquanto eu espalhava o protetor pelo meu corpo comecei a lembrar de momentos que eu devia está me esforçando para esquecer.

Faz quatro meses, mas durante todo esse tempo aconteceram tantas coisas que intensificaram toda a história, que faz parecerem anos, enfim...

RBD estava de turnê na España. E pensando agora, me faz ter vontade de rir da ironia dos fatos. Eu estava em um país distante do meu, ele também estava distante do seu país, e foi na España que nossos caminhos se cruzaram. Nunca pensei que algo assim fosse acontecer em uma dessas viagens da banda. Caminhos tão diferentes, vidas tão distantes...

Mas foi naquele dia, naquele hotel. Naquela tarde eu já tinha o visto, e segundo o que ele me falou depois, ele também me notou. Foi quando a banda estava saindo para dar entrevistas para vários meios. E só retornaríamos ao hotel após o show, pois não daria tempo de voltar para um breve descanso, nem nos arrumarmos lá.

Quando eu estava saindo do elevador e caminhava para a saída junto com todo o pessoal da banda, eu olhei em meio a conversas e risadas para a direção do balcão da recepção. Naquele momento meu coração parou, me calei e meu sorriso se desfez. Fiquei parada por alguns segundos antes de ser abraçada por Poncho que voltou para não me deixar para trás. Paramos diante da porta giratória, e esperamos enquanto alguns homens da equipe tentavam controlar a multidão aglomerada lá fora. Então meu coração voltou a bater, mas dessa vez acelerado. Não desviei meus olhos de lá da recepção por mais um tempo.

O que vi foi um homem alto, bastante alto, magro porém forte.. Seus cabelos eram bem escuros e lisos, cortado baixo na nuca, mas na frente caia em mechas nos olhos. Ele estava com um cotovelo apoiado no balcão e lia alguns papeis que estavam em sua mão. Usava um jeans e uma blusa de frio preta com um cachecol vermelho, e pela blusa não muito folgada pude ver que possuía músculos delineados, me causando um arrepio repentino.

Ele levantou o olhar direto para a minha direção, de repente, como se sentisse olhos sobre ele. Deu um leve sorriso e baixou a mirada novamente. Meu coração acelerou ainda mais com o susto, e apertei Poncho no abraço, ele me olhou e sorriu dando um leve sopro em minha franja. Eu sorri e tentei concentrar minha atenção na entrada, até que nos chamaram e nos guiaram até a van.

Fui despertada dos meus pensamentos quando senti uma sombra bloqueando os raios de sol do meu rosto. Foi então que me dei conta de que espalhei o protetor no meu corpo e me acomodei na espreguiçadeira e nem percebi minhas ações. Eu estava deitada, inclinada, quase deitada sobre a cadeira com as pernas dobradas, cobrindo meus olhos com o antebraço direito.

Ao sentir aquela sombra diante de mim, tirei um pouco o antebraço sobre meus olhos me permitindo ter um pouquinho de campo de visão.

Foi então que vi duas ninas paradas diante de mim, balançando as pernas mostrando o quanto estavam nervosas e empolgadas. Ajeitei-me na cadeira, me sentando deixando uma perna dobrada deitada e a outra caída apoiando o pé no chão. As observei melhor e elas pareciam ter entre oito e nove anos apenas, e uma segurava uma sacola, enquanto a outra segurava um balão de gás.

Hola” – eu disse sorrindo. Elas se entreolharam e soltaram um gritinho agudo. Eu ri ao observar suas perninhas balançando ainda mais.

Feliz Cumpleaños!” – as duas falaram em couro, erguendo a sacola e o balão para mim.

Gracias” – agradeci sorrindo, pegando os presentes.

Após abraços, beijos e tirar algumas fotos com elas eu estava sozinha novamente. Perguntei-me o que seria melhor: ter impedido que aquele segurança levasse as ninas ou estar sozinha, correndo o risco de recordar coisas que.. Enfim.

Mas nem tive tempo para pensar nas opções. Porque antes que eu me levantasse e fosse atrás daquelas meninas e deixasse que elas ficassem ali comigo, eu já estava relembrando de certos momentos outra vez. Deixei os presentes na cadeira ao lado e me deitei novamente, mas dessa vez de bruços.

Após uma tarde exaustiva de entrevista para rádio, televisão e outros meios, eu ainda fiz o show com toda a disposição do mundo. Mas no final, eu já estava exausta e meu corpo gritava “cama”, enquanto minha mente gritava “descanso”. Tudo em mim estava cansado.. Cada célula do meu corpo. Quando voltamos para o hotel, eu nunca imaginaria que meu tão desejado e merecido descanso teria que ser adiado. Não esperava que aquela noite ainda me prometesse mais emoções...

Quando entramos ao hotel eu, Anahí e Mai nos apoiávamos uma na outra tamanha era a exaustão. Ao contrário dos rapazes que riam e comentavam sobre algum assunto que conversavam. No mínimo um assunto esdrúxulo, como a maioria dos homens conversam quando estão reunidos. E eu estava tão cansada que não tinha forças nem para manter minha atenção neles.

Ao entrar no elevador, me soltei das niñas e me escorei na lateral, ao lado do espelho, suplicando em pensamento que Luís Luisilo deixasse de conversar e entrasse de uma vez naquele elevador. Mas de repente, o vi cumprimentando um homem com um aperto de mão e trocando meia dúzia de palavras. Quando ele se virou para a nossa direção, meu coração acelerou e eu me ergui ficando ereta. Ajeitei mais ou menos meus cabelos enquanto engolia em seco. Era ele. Aquele homem que vi naquela tarde no balcão da recepção.

O homem entrou no elevador cumprimentando-nos com um breve aceno de cabeça. Ele estava ainda mais irresistível vestindo um terno provavelmente sob medida por se encaixar tão perfeitamente naquele corpo. Só não usava gravata, o que dava mais charme, deixando-o com aparência jovem, e ao mesmo tempo madura. Quantos anos teria?

Ao contrário daquela tarde, desta vez seu cabelo estava molhado, penteado para trás. Não pude deixar de pensar naquelas mechas lisas e escuras caindo sobre seus olhos. Os dedos das minhas mãos formigaram e eu tive que lutar contra a vontade desenfreada de mergulhá-los nos cabelos daquele homem, deixando-os revoltos, fazendo com que aquelas mechas caíssem novamente sobre aquele rosto lindo.

Vi quando ele levou a mão até o painel e apertou o “C”. Surpreendi-me. Além de lindo e irresistível, devia ter muito dinheiro para estar hospedado na cobertura daquele hotel, que era um dos melhores da España, e o melhor de Madrid.

Meu coração ainda acelerava e o elevador não tinha nem saído do lugar para o aumento do meu desespero. Quando o Luís enfim entrou, suspirei aliviada. Só teria que suportar aquelas cargas elétricas vindas daquele estranho por 14 andares. Tentei me concentrar no painel onde marcava a contagem dos andares.

Ainda que seja loucura da minha cabeça, mas algumas vezes pude sentir que ele me olhava. Desisti de olhar a contagem dos andares, pois sentia que assim demorava ainda mais para chegar. Encostei-me novamente e agarrei o braço da Anahí. Ela se virou para mim, sorriu e apoiou a cabeça no meu ombro. Com a outra mão eu fiz um breve carinho nos seus cabelos, e quando dei por mim, eu já estava olhando para o estranho.

Ele olhava fixo para a porta como se esperasse ansiosamente que seu andar – a nada chique cobertura – chegasse, assim como eu também estava. Mas acho que mais uma vez ele sentiu olhos sobre ele e levou sua mirada para mim. Nossos olhares de cruzaram e pensei que não voltaria a respirar após ver aquele sorriso que ele deu para mim. Um sorriso largo, lindo, dentes perfeitos, brancos... Com certeza esse era o seu cartão de visitas onde quer que ele fosse. E eu que pensei que ele em si já era um verdadeiro cartão de visitas sem mesmo sorrir, apenas por possuir toda aquela presença que possui.

Fiquei sem ação naquele momento, e o máximo que consegui foi ensaiar um sorriso, antes de baixar a cabeça. Senti-me a pessoa mais boba do mundo, pior que aquelas adolescentes que se apaixonam pela primeira vez.

Quando o elevador apitou avisando que meu andar chegara, senti um misto de alivio e desapontamento por não ver mais aquele rosto bonito.

Quando cheguei ao meu quarto, o que eu mais queria era um banho quente para relaxar e esquecer aquele homem que perturbava tanto a minha cabeça. Eu culpei o cansaço por ter reagido daquela forma com alguém que nunca vi na vida e nem conheço.

Eu estava terminando de me enxugar após um pouco mais de trinta minutos debaixo d’água, quando escuto o telefone do quarto soar. Enrolei-me na toalha e corri para atender.

Bueno..?”

Hola! Dulce?”

“Sim..”

“Dulce, é da recepção. Perdão incomodar”

“Tudo bem” – falei sorrindo.

“É que..” – ela fez uma pausa – “é que.. é..”

Que pasa?”  - me preocupei de verdade.

“Bem, é que o dono do hotel quer falar com a senhora”

“O dono do hotel?”

“Sim”

“Comigo?”

“Sim” – falou como se também estivesse surpresa com esse fato.

“Mas porque comigo? O que aconteceu?”

“Não sei. Mas ele quer vê-la urgente”

“Mas eu não fiz nada..” – sussurrei enquanto pensava em fração de segundos minhas ações naquele hotel desde que chegara ali. Chegamos no dia anterior e desde então não cometi nada de errado. Bem, pelo menos dessa vez não aprontei nada. Não cheguei bêbada fazendo bagunça, nada de som muito alto, nem quebrei nada, enfim – “Ele não adiantou o assunto?”

“Não, só pediu que me comunicasse com a senhora e pedisse que, por favor, se dirigisse até sua suíte” – ela disse a última palavra em um fio de voz – “Na cobertura” – completou baixinho novamente.

“Suíte?” – perguntei quase num grito pela surpresa. Mas o que será que esse homem quer comigo?, eu pensava intrigada.

“Sim” – ela respondeu sem graça.

“Tudo bem” – respondi enfim. Eu já ia desligar, quando me lembrei de um detalhe – “Espera” – gritei.

“Sim, senhora?!”

“E qual é o nome dele?”

“Luís Carlos”

Ela me disse também o número da porta, que eu havia me esquecido de perguntar. Ao desligar dei algumas voltas pelo quarto enquanto roía minha unha do polegar da mão direita. Esse cara devia ser um velho gordo, barrigudo e barbudo. Talvez tarado. Arrepiei-me com o asco e o medo que me deu ao pensar nisso. Passaria no quarto da Anahí e a levaria comigo. Não. Melhor levar Poncho. Ele se impõe e me protege. Foi então que me lembrei que aquele homem lindo que vi mais cedo estava hospedado na cobertura. Lembrei-me de tê-lo visto apertar o “C”. Acabei por decidir ir sozinha e deixaria a porta da suíte aberta. Se o velho tarado que pensa que só porque é dono do hotel pode fazer o que quiser, tentar me agarrar, eu grito e aquele homem lindo me salva. Problema resolvido. Parcialmente resolvido.

Sorri, e me perguntei se eu sorria imaginando a cena daquele homem entrando me salvando do barrigudo tarado, ou se era porque tinha acabado de conseguir morder aquela carninha do cantinho da unha que custou tanto trabalho pra conseguir...

Vesti uma calça jeans, uma blusinha amarela e um casaco preto. Não passou pela minha cabeça me arrumar para ver um velhote. Mas ainda assim, não pude deixar de realçar meus olhos, mania...

Pensei se deveria falar com Pedro sobre isso e perguntar o que ele achava, mas acabei não me prendendo a essa hipótese, nem sei por que. Depois de calçar meus chinelos, saí do quarto e encontrei Poncho no corredor. Sorri e me virei para encostar a porta. Foi aí que ele chegou por trás me abraçando, apoiando o queixo no meu ombro.

“Mmm...” – cheirando meu pescoço, ou os meus cabelos – “Adoro seu cheirinho” – apertando o abraço. Sorri pousando minha mão esquerda em sua face, acariciando-a – “Onde está indo cheirosa desse jeito?”

“Resolver uma coisinha” – descansei minha mão sobre a dele, que ainda envolvia meu corpo, e fiz carinho.

“Pensei que estava cansadinha. Que ia chegar e dormir” – disse, desfazendo o abraço. Voltei-me de frente para ele e o abracei, descansando meu rosto no peito forte. Tive que reunir forças para não ficar ali para sempre.

“É o que eu estaria fazendo se não tivessem me chamado” – disse após respirar fundo.

“Quem te chamou?” – eu disse tudo para ele. E acho que não foi boa ideia – “Eu vou com você” – ele disse decidido, desfazendo o abraço.

“Não precisa, Poncho. Eu até pensei em te chamar mesmo. Mas depois pensei, e não precisa” – ele me olhou desconfiado, levantando uma sobrancelha. “Fica tranquilo, bobo” – eu falei acariciando a bochecha dele – “E você, onde está indo?”

“Os rapazes estão lá embaixo. Vão jantar no restaurante e eu resolvi ir também”

“Não sei como aguenta, depois do dia que tivemos hoje” – falei passando os dedos pelos cabelos molhados dele.

“Ah.. Eu estou cansado, mas..” – eu o interrompi.

“Mas não consegue ficar quieto, verdade?” – ri.

“Vou comer, conversar lá com o pessoal, assim relaxo e descanso” – piscou para mim. Eu sorri. Ele chamou o elevador, e quando chegou eu entrei, e ele esperaria por outro, já que ele ia descer e eu subir – “Toma cuidado lá em cima, Dul” – ele disse me olhando sério – “Qualquer coisa, sei lá, grita, pelo amor de Deus. Eu acho melhor ir com você” – disse, entrando no elevador.

“Poncho....” – disse rindo – “Sai” – empurrando ele – “Vai ficar tudo bem. Eu já sou bem grandinha, sabia?” – disse, com as mãos na cintura. Ele me olhou dando um sorriso torto.

“Não é, não. Olha esse tamanhozinho que tem” – riu.

“Ah... besta” – apertei o “C” e a porta fechou.

Desta vez, o elevador nunca havia chegado tão rápido. Amaldiçoei aquela joça, por ter chegado tão rápido, quando eu pedia que demorasse mais.

Ao chegar à cobertura, olhei para os lados e sentia um frio na barriga. Não era medo. Então o que era?, eu ficava me perguntando.

Fui até a suíte com o número correspondente ao que me dissera a mulher da recepção. Tentei bater umas três vezes, mas sempre desistia antes da minha mão tocar a porta. Coçava minha nuca, mexia no meu piercing do nariz. Levei minha mão até meu umbigo e mexi no meu piercing dali também; puxava para baixo e para cima, ficava girando, algo que já estava se tornando mais uma mania minha quando estava nervosa, enquanto criava coragem para saber o que aquele velho queria comigo.

Olhei para a suíte vizinha e sorri me perguntando se seria aquela que aquele homem supergato estava hospedado. Tomara que seja, desejei em pensamento, porque seria mais fácil de me escutar, caso eu gritasse.

Reuni forças e bati na porta. O clássico “toc-toc-toc”. Minha mão estava gelada e suava enquanto esperava que ele me atendesse.

Quando a porta se abriu, todos as células do meu corpo congelaram. Meus olhos não piscavam, e minha boca ficou seca me impossibilitando de engolir. Minha face ficou branca nos primeiros segundos, para ganhar uma cor tão vermelha quanto meus cabelos em seguida.

Como pude me enganar de porta assim?, eu me perguntava super envergonhada. Aquela era a habitação daquele homem. Aquele homem lindo que vi hoje à tarde e que desde então persegue meus pensamentos.

“Olá” – o sorriso mais branco e perfeito sorriu para mim.

“Perdão...” – disse, lutando para formular as palavras – “Creo que me equivoqué” – disse conferindo o número da porta.

“Não, acho que não” – ainda com aquele sorriso, me desconcertando cada segundo mais.

“Sim” – insisti – “Estou procurando o Sr. Luís Carlos”

Mucho gusto” – sorriu estendendo-me sua mão. Olhei para aquela mão linda estendida a espera da minha. Fiquei ainda mais desconcertada e confusa. O que significava aquilo?

Ele estava diferente de momentos atrás, no elevador. Livrara-se daquela roupa que o deixava tão sério, e estava usando uma roupa mais informal e jovem. Vestia calça jeans e uma camiseta azul marinho com alguns desenhos e nomes escritos na frente. Seus cabelos estavam do jeito que o deixava ainda mais lindo. Estavam molhados, porém, estavam rebeldes, desgrenhados, caindo algumas mechas sobre seus olhos.

“Que?” – voltei minha mirada para ele.

Mucho gusto” – repetiu ele – “Muito prazer” – disse em português. Pensei que talvez ele estivesse confundindo, por não saber falar minha língua. O que ele falara até então, eram palavras bastante conhecidas.

Necesito hablar... Necessito falar” – arrisquei meu português chulo – “Com o dono deste hotel”

Niña...” – ele disse suspirando, sorrindo suave. Meu coração acelerou – “Eu falo fluentemente o espanhol” – ele disse num espanhol perfeito – “Entendi o que você disse. Sou eu o dono deste hotel, sou Luís Carlos” – ele disse sorrindo. Meu coração faltou saltar pela boca, tamanha a intensidade de suas batidas. Minhas bochechas apresentaram uma coloração ainda mais forte que o vermelho de antes, podia quase jurar, pois elas pegavam fogo – “Mas se você não se incomodar, gostaria que me chamasse de Luke. É assim que me chamam meus amigos e familiares. Por que não entra? Não sei você, mas eu não tenho o hábito de ficar conversando no corredor” – disse a última frase em tom brincalhão, em seguida me deu passagem para entrar. Sorri e entrei.

Odiei-me naquele momento por não ter me arrumado. Mas nunca ia imaginar que ele fosse o velho tarado, enfim.

Ele me indicou o sofá e se sentou ao meu lado, não muito perto.

“Quer beber algo?” – ele perguntou. Eu neguei com a cabeça. Ele abaixou a cabeça, respirou fundo, antes de voltar a me olhar. Eu observava cada ação sua, sem tirar meus olhos dele – “Lo que hizo conmigo, niña?” – perguntou envergonhado. Eu olhei surpresa para ele, com os olhos abertos. Ele riu – “ Não paro de pensar em você, todo o dia” – ele me disse que me viu sair naquela tarde, que foi ali que tudo começou; não pôde deixar de pensar em mim. Logo após a banda deixar o hotel, ele subiu para se arrumar, pois teria uma reunião de negócios com alguns empresários hoteleiros. Não conseguiu se concentrar durante toda a reunião, e no final, se resultou mais exaustiva que deveria ser, pois só pensava em cabelos vermelhos em frente dele – “E quando cheguei e a vi no elevador, foi um alívio para a minha mente. Conversei com alguém da sua equipe, disse quem eu era e disse que gostaria de subir naquele elevador. Um minuto após as portas do elevador se fechar, descobri que esta fora uma péssima ideia” – ensaiou um sorriso, passando os dedos pelos cabelos. Olhei para os meus dedos, ordenando-os que se controlassem, ainda que fosse inevitável pensar em como devia ser bom mergulhar os dedos naqueles cabelos.

“Por quê?” – perguntei em um fio de voz.

“Foi perturbador estar em um espaço tão pequeno com você tão próxima” – não podia acreditar que ele sentira o mesmo que eu todo o dia. Sorri sem jeito para ele antes de lhe dizer que acontecera o mesmo comigo. No final, os dois deram risadas como dois bobos – “Então, posso saber o nome da mulher que invadiu minha mente todo o dia?” - ele perguntou respirando com dificuldade por ter rido tanto.

“Dulce Maria”

“Dulce Maria” – ele repetiu.

“Pensei que já soubesse” – disse envergonhada.

“Não... Não, o máximo aonde cheguei com as informações é de que canta em uma banda” – assenti rindo. Ele se tornava interessante a cada minuto. Não conhecia a RBD?

“Então, Dulce Maria...”

“Pode me chamar de Dulce.. ou Dul” – disse sorrindo.

“Então, Dul, quer beber alguma coisa?”

“O que tem?”

“Terei o que você quiser” – disse se levantando e indo até o bar – “Conhece caipivodka?” – me olhou por cima dos ombros perguntando – “É brasileira”

“Não. Conheço caipirinha”

“Quase isso” – disse em tom brincalhão – “Experimenta essa” – trazendo os copos com as bebidas prontas.

“Mm...” – bebendo – “Muito bom” – sorri. Ele assentiu bebendo a dele também – “Então...” – falei bebendo mais um pouquinho – “É brasileiro?!” – disse mais afirmando que perguntando.

“Mm-hm” – ele assentiu.

“E é o dono desse hotel?” – perguntei curiosa. Afinal, ele era muito jovem.

“Bem, na verdade não” – sorriu – “Meu pai é o dono”

“Mmmm”

“Mas eu ajudo a administrar” – ele relaxou no sofá; dobrou uma perna sobre a coxa, apoiou um braço no encosto – “Meu pai é um grande empresário. Sua rede de hotéis cresceu muito em todo o mundo, e agora o velho quase não dá conta. Ele fica mais na Europa e África, cuidamos dos negócios de lá. E eu fico mais na América”

Conversamos durante horas, sem ver o tempo passar. Ele me contou sobre ele; tem vinte e seis anos, começou a trabalhar com o pai desde o primeiro ano da faculdade de administração, sua mãe falecera há seis anos atrás, dias após uma cirurgia e ele morava com a avó materna deste então, a quem tem um imenso carinho, e.... é solteiro.

Eu contei-lhe sobre a minha. Bem, pelo menos o básico; sobre a banda e suas constantes viagens por vários países, minha família e o quanto sinto saudade, minhas paixões – pintura, composição, coleções, e tal – e no final, parecia que nos conhecíamos há muito tempo. Ele não tentou nada durante toda a noite. Nem mesmo um carinho inocente. Manteve a postura e o respeito todo o tempo. E eu me perguntava se isso era bom ou ruim, ainda que eu desejasse que ele tomasse uma iniciativa, pelo amor de Deus.

Despedi-me quando vi que o relógio marcava 3h25m. Eu precisava descansar para o dia seguinte. Foi difícil convencê-lo disso. Ele não queria me deixar sair de lá. E eu estava adorando isso. Ele foi comigo até a porta, mas parou a mão na maçaneta, antes de abri-la.

“Vou te ver amanhã, Dul?” – Perguntou baixinho.

“An-ham” – eu assenti – “Quando eu chegar. Não posso dizer a que horas, porque isso eu não sei” – falei sorrindo. Ele levou a mão até minha bochecha, e com o dorso acariciou suavemente. Fechei os olhos por alguns segundos sentindo. Meu coração acelerou. Ele parou o carinho e segurou meu rosto cobrindo-o com aquela mão grande. Abri os olhos mirando-o.

“Então nos vemos amanhã” – sussurrou e se aproximou unindo nossos lábios, mantendo-os colados por alguns segundos, antes de me dar um selinho. Afastou-se e sorriu, com aquele sorriso lindo – “Esperarei ansiosamente” – sorri, sentindo meus lábios queimarem. Ele abriu a porta e eu saí.

O tempo que levei para chegar ao meu quarto eu nem notei. Estava perdida em pensamentos desconexos que só me levavam ao momento em que aqueles lábios quentes tocaram os meus. Só despertei dos meus pensamentos quando ouvi o telefone do quarto soar. Peguei e me deitei na cama.

“Alô”

“Pequena, enfim atendeu. Chegou agora? Estou ligando toda a noite”

“Poncho” – sorri, alegre em ouvi-lo – “Cheguei agora e estou bem”

“Que bom” – ele suspirou, parecendo aliviado – “E como foi lá? O que ele queria, afinal? Ele não fez nada, verdade?”

“Não” – ri. Nada que eu não quisesse, pensei – “Foi tudo bem lá. Ele só queria conversar”

“E conversaram até agora?” – desconfiado. Eu ri.

“Pois é. Viu como não precisava de você ir?!” – brinquei.

“Bem, já que está tudo bem e você já está aí, então vai dormir, pequena. Amanhã o dia será puxado”

“Oh, meu Deus” – suspirei – “O que seria de mim sem esses cuidados?” – ouvi a risada rouca dele do outro lado da linha – “Poncho, desculpa por ter te preocupado e atrapalhado seu descanso” – pedi sem graça.

“Vou saber cobrar por isso” – disse com voz sensual e riu.

O clima estava tão agradável, o sol aquecia a minha pele de uma maneira tão gostosa, amenizado pela brisa suave e fresquinha que soprava que eu estava quase dormindo enquanto recordava todas aquelas lembranças. Eu estava deitada de bruços com meu celular embaixo da minha cabeça, por isso me assustei quando ele começou a vibrar junto ao meu braço. Levantei depressa me sentando na cadeira e pegando-o. Estava difícil de enxergar, pela alta claridade do sol. Depois de fazer um grande esforço, enfim consegui ler que havia recebido uma mensagem de texto. Meu coração acelerou imaginando de quem seria, mas ao ver de quem era, sorri aliviada – ainda que no fundo eu tenha querido ler uma nova mensagem dele.

Maria,

Ya estoy en casa. Me llames.

Besos, Sam


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Até o próximo!



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