Entrelinhas Ron e Hemione - Intuições escrita por Morgana Lisbeth


Capítulo 9
Encontros e desencontros


Notas iniciais do capítulo

“Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo

Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito

Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo é o meu amor”

(Tribalistas)



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Assim que reiniciaram as atividades em Hogwarts, depois das festas de fim de ano, Harry começou a ter aulas de oclumência com Snape, a pedido de Dumbledore. Era uma tentativa de fechar a mente do bruxo aos ataques de Voldemort. Nessas ausências do amigo, Hermione e Ron sempre permaneciam juntos, geralmente estudando ou conversando.

Hermione gostava muito desses momentos, quando ficavam tão próximos e, entre um dever e outro, podia olhar com tranquilidade os orbes azuis que tanto a encantavam. Naquela noite, porém, ela estava impaciente.

Não aguentava mais as atitudes contraditórias de Ron. Em muitas ocasiões, o ruivo parecia deixar claro, por gestos, palavras e, de modo especial, pelo jeito como a olhava, que gostava dela mais do que como amiga. Ao receber o perfume de presente, teve esperança que o rapaz pudesse finalmente declarar o seu amor. No entanto, ele não tomava qualquer atitude e, em muitos momentos, demostrava não se importar com os sentimentos dela.

Depois do Baile de Inverno, quando por sua reação extremamente ciumenta Ron pareceu mostrar pela primeira vez ter um interesse especial pela menina, ela decidiu. Não tomaria a iniciativa, como sempre fazia quando o assunto era relacionado ao estudo ou mesmo a algum plano para ajudar Harry no combate a Voldemort. Ron é que teria que dar o primeiro passo, assim como Krum tinha feito, caso quisesse conquistá-la.

Ron não era indiferente a Hermione. Muito pelo contrário. Notava a presença e as atitudes dela até demais. Não é que descobriu que a menina tinha desenhado coraçõezinhos no horário de aula de Lockbatt no segundo ano e que guardara o cartão do professor debaixo do travesseiro? Foi também o primeiro a perceber que ela havia diminuído os dentes após o feitiço de Malfoy.

Contraditoriamente, porém, parecia que só tinha descoberto no ano passado que ela era uma menina! "Será que sou para Ron apenas mais 'um amigo', como Harry? Mas ele não notou quando os óculos de Harry entortaram", se questionava. Bastava, porém, lembrar-se de como o ruivo a olhou, com susto e admiração, quando a viu chegando ao baile, que todas as suas dúvidas se dissipavam.

Mas se Ron gostava dela, por que não tomava a iniciativa? Hermione já estava cansada disso. Bem que tentava motivar alguma reação despertando o ciúme do rapaz. Por isso escrevia as cartas para Krum na sala comunal, na presença do amigo. Precisou escrever metros de pergaminho, no entanto, para  Ron notar que ela não estava fazendo um dever de casa. Até que funcionou, mas parcialmente. Ele reclamou, porém, não tomou qualquer outra iniciativa.

Tudo isso a deixava vez por outra muito irritada e naquela noite, em particular, ela estava bem chateada com o amigo. Foi quando Ron empurrou o pergaminho para um canto, afastou a cadeira e, se espreguiçou.

— Chega por hoje! Cansei... – o bruxo disse isso de forma displicente, sem esperar pela reação da menina.

— Você não quer nada com nada, Ronald. Parece não ter um propósito, um objetivo na vida. Desiste fácil de tudo, não luta pelo que quer, ou melhor, acho que você nem sabe o que quer – ela disparou com irritação.

— Calma, Mione! Por que essa revolta toda? O que fiz com você? – o bruxo ficou assustado.

— O que você não faz por você. Isso é que devia se perguntar. Você por acaso tem algum projeto para o futuro? Como imagina a sua vida daqui a 10 anos? – ela parecia uma professora interpelando o aluno que não faz o dever de casa.

Ainda um tanto assustado com a reação da menina, Ron respondeu:

— Daqui a 10 anos... Vou ter 25 anos! Eu me imagino trabalhando como auror, quem sabe com algum dinheiro, uma casa... Ah, e de repente posso estar atuando como goleiro em algum time de quadribol!

Quando Hermione olhou para o rapaz, que falava com seu jeito tão simples e espontâneo,  grande parte de sua irritação se desmanchou. Mas ainda assim ela não podia perder a oportunidade de dar um "puxão de orelha" no amigo.

— Você acha que vai conseguir ser um auror, especialmente um auror de sucesso, se não estudar e muito?! – ela cruzou os braços.

O bruxo argumentou que estava se esforçando, mas não tinha a inteligência de Hermione e nem facilidade para se concentrar muito tempo no estudo. 

— Isso não é verdade, Ron. Você é muito inteligente, basta lembrar como joga xadrez excepcionalmente bem. E esse é um jogo que exige muita concentração - contrapôs a jovem, que tinha uma admiração sincera pelo amigo e sua inteligência intuitiva. — Você pega as coisas no ar. Eu, ao contrário, preciso estudar muito. Se você estudasse, com certeza seria muito mais brilhante do que eu.

Ron discordava da amiga. Sabia que ela era muito intuitiva também, só que nem sempre valorizava esse dom. Preferiu ficar quieto porque percebeu que qualquer palavra poderia irritar ainda mais a garota.

Se fosse num outro momento, Hermione jamais falaria desse assunto. Mas o aparente marasmo sentimental de Ron, que se limitava a paquerar veelas e outras mulheres mais velhas, sem tomar qualquer atitude concreta para conquistar alguém – muito menos ela –, a irritara o suficiente.

— E quanto à sua vida sentimental? Você não planeja nada? Não pensa em se casar, ter filhos?! – caso tivesse pensado um pouco mais, Hermione não faria aquele pergunte comprometedora.

"Caramba! - Ron pensou - Como Hermione me pergunta isso? Claro que eu quero me casar, mas só se for com ela"!

O garoto se assustou com os próprios pensamentos. "Casar com Mione? Que loucura! De onde tirei tal ideia"? Era verdade que a amiga estava cada dia mais bonita e, em vários momentos, ele se sentia desconcertado diante dela. Mas nada justificava pensar em algo além de amizade. Até porque nem sabia se Hermione gostava dele e, por ora, preferia não descobrir. Morria de medo de levar um fora caso insinuasse um maior interesse por ela. Mas Ron não ia deixar se pegar nas palavras. Preferiu contra-argumentar.

— Casar muito cedo? Nem pensar! Gui tem 25 anos e nunca teve um relacionamento sério...

— Ótimo, Ronald Wealey! Você tem mesmo a profundidade sentimental de uma colher de chá. Vítor tem 19 anos e já pensa seriamente em se casar! – Ron se perguntava por que ela tinha que falar de novo daquele jogador.

— Pensa em se casar com você, eu imagino! Então não precisa se preocupar comigo - ele a desafiou.

Como sempre,  o garoto se irritava quando Hermione falava em Vítor Krum, mas agora ela também já estava suficientemente chateada. Será que Ron nunca notaria que Krum não significava nada para a menina, que era dele que Hermione gostava?!

— Eu e Vítor somos apenas amigos. Já falei isso para você um milhão de vezes! – ela estava chateada.

— Mione, por favor, me deixa em paz. Eu já estudei o suficiente por hoje. Vou me deitar. Boa noite! – o ruivo, que estava com as orelhas vermelhas, se levantou rapidamente.

A menina não queria isso. Desejava que Ron ficasse com ela, esperando por Harry, como sempre fazia. Mas estava consciente de que o havia provocado. Se tivesse falado com brandura, conseguiria convencê-lo a continuar a estudar, como quase sempre acontecia. Era impressionante. Se Hermione levantasse a voz, ele reagia da mesma forma. Mas se falasse de um jeito meigo, Ron logo cedia e fazia todas as vontades da amiga. Pensando bem, com ela não era diferente. Bastava o ruivo dizer "Mione, por favor..." que logo se derretia. Mas dessa vez não recuaria. Tinha cansado da falta de ação do rapaz.

Ele chegou ao dormitório chateado, mas, principalmente, intrigado. Que conversa estranha aquela de Hermione! Querer saber os planos dele para daqui a 10 anos! E por que se preocupava tanto se ele estaria casado? "Peraí! Será que para Mione sou mais que um amigo? Deixa de ser idiota, Ronald Weasley! Claro que ela não gosta de você, só gosta de ter o controle sobre tudo, também sobre a sua vida"!

No entanto, quando finalmente se deitou, foi o rosto sorridente da menina que viu ao fechar os olhos. Lembrou-se das risadas dela sempre que contava alguma coisa engraçada durante as rondas que os dois faziam, como monitores, pelos silenciosos corredores de Hogwarts.

Hermione demorou a conseguir dormir. Por que tinha que ter falado tudo aquilo para Ron? O ruivo, como sempre, não tinha entendido nada e ainda estava achando que ela era maluca. "Seria tão mais fácil se eu gostasse do Krum. Mas não tem jeito. Meu coração não bate forte e nem sinto qualquer entusiasmo quando estou com Vítor. Meu coração, mesmo se eu não queria que fosse assim, já é do Ron. Não, não, não, decididamente não. Eu sou dona do meu coração e não vou perder o controle da situação tão fácil assim. Tenho que desistir de vez de Ron, ele nunca vai tomar a iniciativa". E assim, desiludida e conformada, finalmente adormeceu.

De manhã, quando desceu para a sala comunal, a primeira pessoa que Hermione viu foi Ron, sentando na poltrona favorita e bastante sonolento

— Bom dia, Ron! Onde está Harry? – ela esperava uma reação pouco amigável.

— Ele já foi tomar café. Eu estava esperando você – a voz um pouco rouca era suave ao mesmo tempo.

— Ah... é? Por que? – a bruxa não conseguiu esconder um certo constrangimento.

— Acho que você ficou chateada comigo ontem... Você pensa que eu não estou me esforçando nos estudos, eu sei. Talvez tenha razão, mas eu queria dizer que vou tentar me esforçar para valer de hoje em diante – ele ergueu as sobrancelhas e deu um leve sorriso.

Como sempre, Ron falava com uma simplicidade e sinceridade desconcertantes. Mesmo se muitas vezes ele a decepcionava com as palavras, verdade era que em muitas outras o ruivo tinha o dom de usar as palavras certas e a deixar assim, encantada e sem reação. O rapaz estava dizendo que iria se esforçar no estudo e não estava a censurando por ter bancado a chata na noite anterior. Pelo contrário, dizia que ela tinha razão.

Nos últimos dias de janeiro, Hermione recebeu uma carta de Krum. Entre outras coisas, o búlgaro falava que continuava querendo "ser mais do que amigo" dela e perguntava quando poderiam se encontrar pessoalmente. A menina resolveu encerrar aquela amizade por correspondência. Afinal, não queria iludir o rapaz e, depois de ganhar o perfume de Ron, a esperança de que o ruivo gostava dela havia se fortalecido em seu coração. Era Ron que amava e precisava investir naquele relacionamento.

Em sua resposta a Vítor disse, muito simplesmente, que não havia possibilidade dela e do jogador serem mais que amigos, de modo especial porque amava outro rapaz e tinha esse sentimento retribuído. Bem, aquela segunda parte era por conta e risco dela. Não sabia ao certo o que Ron sentia. Mas achou melhor falar que era correspondida para não alimentar qualquer falsa esperança no búlgaro. "Também preciso me dedicar exclusivamente aos estudos em preparação para os NOMs", escreveu a menina, encerrando a carta com um agradecimento pela amizade de Krum.

Quando colocava a carta no envelope, sentada em um canto afastado do salão comunal, Ron se aproximou. "Mione, você não pode me ajudar no trabalho de Astronomia. Eu não sei muito bem a localização do...", ele interrompeu a fala assim que observou o envelope endereçado a Vítor Krum.

— Deixa pra lá. Não precisa. Pelo visto você está muito ocupada. Não sei como pensa em tirar boas notas nos NOMs se gasta tanto tempo escrevendo para esse idiota – ele logo emburrou a cara.

— Ron, você sabe que detesto que chame Vítor de idiota. Se você não gosta dele, pelo menos o respeite – protestou com firmeza.

— Sem problema. Você tem o direito de namorar quem quiser – rebateu, virando-se para ir embora.

— Vítor não é meu namorado! Mas pelo visto vou ter que acabar namorando ele para você parar de me encher a paciência – revidou quase gritando, com rosto muito vermelho.

A subiu para o dormitório chateada. Por que Ron tinha que agir sempre assim? E justamente agora que ela tinha decidido encerrar aquela amizade por correspondência para investir apenas no relacionamento com ele. Mas não contaria essa decisão para o amigo, pelo menos por enquanto.

No dia seguinte, mais tranquilo, Ron toma coragem de voltar ao assunto. "Mione, sei que não agi bem em chamar Krum de idiota. Mas não consigo entender por que você ainda se corresponde com ele. Aquele cara não tem nada a ver com você, não sei o que uma amizade assim pode acrescentar na sua vida", o ruivo olhava para a amiga com decisão.

— Acho que não é educado deixar de responder a uma carta. E depois é sempre bom conhecer um pouco mais da rotina dos bruxos de outros países e escolas. Você sabe como sou curiosa – a menina encarava aqueles olhos azuis com especial interesse.

— Basta pegar alguns livros na biblioteca para saber sobre os bruxos de todos os países. Eu mesmo posso ler e depois conto para você como é – Ron rebateu sem esconder uma leve irritação.

— Ótima ideia, Ron. Eu aceito. Aproveita para aprender também alguns feitiços característicos desses países – ela abriu um sorriso sabendo que o amigo não levaria adiante aquela ideia insana.

— Mione, você está zombando da minha cara – ele a censurou.

A menina não resistiu e caiu na gargalhada. Pensava que Ron ficaria ainda mais irritado, mas ele, ao contrário, também começou a rir. Quando finalmente cessou a sessão de risos, ela adotou um tom de voz meigo:

— Não precisa se preocupar. Jamais vou trocar a sua amizade pela de Vítor. Você chegou primeiro em minha vida.

Ele ficou confuso. Não sabia se a amiga continuava a brincar ou se falava sério. A menina, no entanto, havia aberto o coração.

 

 

* * * * * * * * * * * *

 

 

Depois que recebem a notícia que os Comensais da Morte, bruxos aliados de Voldemort, haviam fugido de Azkaban, as reuniões da Armada de Dumbledore se tornam mais frequentes. Além do intenso treinamento e dos muitos deveres, Ron e Hermione ainda têm que dar conta das funções de monitores.

O rapaz por vezes reclama, dizendo que está cansado de ficar andando de um lado para outro, vigiando os corredores. A menina não se queixa por que, mesmo se nunca dispensaria um momento de estudo, gosta de caminhar ao lado do ruivo e conversar com ele, sem chance de ser interrompida por alguém. Com exceção, é claro, dos momentos que Pirraça resolve aparecer e gritar "Cabeça Vermelha e Sabe-Tudo estão namorando".

Ron desconfiava que a amiga não tinha gostado muito do perfume com o qual lhe presenteara e, durante um ronda, fica surpreso ao identificar aquela fragrância na menina. "Você está usando o perfume que te dei?", perguntou à queima-roupa. Hermione, levemente rosada, responde que sim.

Ainda inebriado com aquela fragrância, o ruivo toma uma atitude corajosa. Dali a dois dias, no sábado, os alunos estariam liberados para visitar Hogsmead. Ron gostava sempre de ir até lá,  especialmente para tomar cerveja amanteigada no pub e comprar guloseimas na Dedosdemel. Mesmo se jamais dissera isso a Hermione, sempre se sentia bem na companhia da amiga, e foi espontâneo convidá-la para ir com ele à vila.

— Será no Dia de San Valentin, mas como eu e você não estamos comprometidos com ninguém, podemos sair juntos, como amigos. O que acha? – Ron abriu um lindo sorriso.

A garota lamenta por isso, mas não vai poder acompanhar o amigo. Ron, intrigado com aquela recusa, pergunta o porquê. "Eu e Harry temos uma questão a resolver", tentou explicar. "Questão a resolver no Dia de San Valentin? Como assim?", ele a interrogou. "Eu não posso contar nada para você. Pelo menos por enquanto. Mas você vai saber no tempo certo", Hermione respondeu enigmática.

Ron fica bem chateado. Chega a pensar na possibilidade dos amigos estarem namorando. "Não, Harry teria me contado", fala para si mesmo, tentando afastar essa ideia da cabeça.

Ainda assim, acha muita estranha a atitude da amiga e a confronta. "Hermione, a última vez que você fez tanto mistério foi no Baile de Inverno, quando não quis contar que iria com Krum. Não gosto nada disso. Se você realmente me considerasse um amigo, confiaria mais em mim", argumentou.

— Eu tenho grande consideração por você como amigo, mas não posso contar nada. É um assunto só meu e do Harry – tentou explicar.

— Ótimo! Agora vocês dois têm segredinhos, né? O horário da ronda terminou. Eu estou indo. Boa noite – falou com a voz irritada.

Hermione ainda gritou o nome do amigo que, quase correndo, logo dobrou em outro corredor. "Ai, Ron, Ron, Ron... Quando a gente finalmente vai se entender? Até quando vamos continuar brigando?", perguntava a menina ao rapaz em pensamento.

O ruivo estava muito distante e tão mal-humorado que nem mesmo os melhores pensamentos poderiam alcançá-lo.

Quando voltou da bem-sucedida missão de Hogsmead, convicta de que havia convencido Rita Skeeter a escrever o artigo em defesa de Harry, a inteligente bruxa tinha uma única preocupação: fazer as pazes com Ron.

Hermione sabia que ele sentia-se muito magoado. Tinha pedido de um jeito tão carinhoso para a amiga acompanhá-lo à Hogsmead. "Vai ser divertido. Vamos poder tomar uma cerveja amanteigada, ir ao Dedosdemel. Você pode escolher o doce que quiser, dos mais baratos, é claro, e eu pago", ele havia proposto com um sorriso.

Como foi dolorido dizer ao amigo que não podia acompanhá-lo. Imaginou que ainda assim ele iria à vila. Mas ao encontrar Gina por lá soube que o amigo tinha ficado no Castelo e estava com um humor péssimo. "Precisava ver o jeito como ele estava tratando os alunos do primeiro ano", a ruiva contou.

Não encontrou com o amigo na sala comunal ao entardecer, como já era rotina, nem durante o jantar. Naquela noite eles eram os responsáveis pela ronda e temeu que o amigo não comparecesse. Ao chegar ao corredor, no entanto, viu um vulto com os cabelos vermelhos, que a aguardava.

— Oi, Ron. Achei que você não vinha para a ronda... – ela o saudou em voz baixa.

— Eu tenho escolha?! - Ron mostrava todo o seu mau-humor.

— Acho que não. A não ser que queira receber uma detenção – ela mordeu os lábios, estudando cada reação do amigo.

O bruxo mal olhou para ela e começou a caminhar. Estava visivelmente chateado. Hermione ficou alguns minutos em silêncio, acelerando o passo para acompanhar Ron. Decidiu quebrar o gelo:

— Ron... me desculpe. Você tem razão. Eu devia ter lhe contado o que fui fazer em Hogsmead – ela buscou a reconciliação.

Esperava que o amigo dissesse alguma coisa, mas, como ele continuou em silêncio, prosseguiu: "Você não quer saber como foi"?

— Não, Hermione, não estou nem um pouco curioso – Ron continuou a andar a passos largos, obrigando a menina a quase correr para ficar ao lado dele.

Se dependesse de Ron, ficariam brigados por muito tempo. Hermione também era orgulhosa, mas estava cansada daquela queda de braços.

— Você vai ficar a ronda toda em silêncio? –ela o provocou.

— Só porque estamos fazendo a ronda juntos não significa que temos obrigação de conversar – ele ainda estava magoado.

Aquela foi a gota d'água. O sangue da menina subiu e ela também elevou a voz: "É assim, Ron?! Então você continua a ronda sozinho que eu vou voltar para Grifinória"!

Ele parou e, pela primeira vez naquela noite, olhou com atenção para a menina, que o encarava magoada. "Você não vai fazer isso, vai?", perguntou com certa surpresa.

— Vou sim! Por que? Vai me denunciar para a professora Minerva? – Hermione também tinha o pavio curto.

— Claro que não. Mas você faz sempre questão de cumprir suas obrigações como monitora... – a voz do rapaz era branda.

— Que eu saiba não é minha obrigação aturar um monitor mal-humorado! – Hermione estava com o rosto muito vermelho.

O rapaz a olhou de um modo assustado. Apenas agora, que corria o risco de ficar sem a companhia da menina, se dava conta de como estava sendo rude. Percebeu que precisava pedir desculpas. Não era fácil, mas mais difícil seria ficar sem Hermione.

— Foi mal. Estou com um humor péssimo, eu sei. Vou tentar melhorar... – ele mais uma vez a surpreendeu ao pedir desculpas com tanta simplicidade e a desarmou.

— Podemos conversar agora então? – a fisionomia de Hermione voltou a ficar serena.

— Vamos conversar ou fazer a ronda como monitores? – o ruivo ergueu as sobrancelhas.

"Ron! Sempre conversamos enquanto fazemos a ronda...", ela ponderou. Os dois finalmente sorriram e ela perguntou se podia contar sobre sua ida a Hogsmead. O rapaz concordou.

Com atenção, Ron ouviu tudo que a menina tinha a falar. A inteligência e a perspicácia de Hermione já eram suas conhecidas desde o primeiro ano de Hogwarts. Mas neste último ano a amiga o surpreendia por sua ousadia e coragem, vencendo o medo - antes tão presente nela - de ser criticada por quebrar regras.

— Excelente ideia, Mione! Mas tratando-se de Rita Skeeter, tudo é possível. Não confio nem um pouco nela – o rapaz afirmou.

Hermione não o contradisse. Havia percebido, pelo olhar admirado do menino, que o elogio feito por ele era sincero. Só não imaginava que Ron a criticaria por atrapalhar o encontro de Harry e Cho.

— Mas você precisava ter marcado no Dia de San Valentin e estragar o encontro de Harry com Cho? – aqueles olhos azuis a interrogavam.

— Era o dia que eu tinha livre para poder visitar Hogsmead. Harry é que deveria ter comunicado isso de uma forma melhor para Cho. Faltou sensibilidade... – ela contrapôs.

— Sensibilidade? Sensibilidade é coisa de menina! - disse Ron sem pensar muito, logo se dando conta, pela cara fechada da amiga, que havia cometido uma gafe.

— Caso não saiba, Ronald Billius Weasley, sensibilidade é ter a capacidade de perceber qual a melhor forma de agir e falar para não magoar uma pessoa. Mas claro que você não sabe disso porque é o senhor insensível - disparou Hermione.

— As meninas são muito complicadas. Ficam magoadas por qualquer coisa – ele argumentou.

Foi obrigado a ouvir todo um discurso de Hermione criticando a "postura machista" do amigo. Mas o rapaz não estava chateado. Pelo contrário. Amava ouvir a amiga defender com paixão as suas convicções.

 

 

* * * * * * * * * * *

 

 

Depois de mais um treino no qual falhara muitas vezes, Ron chegou todo sujo e desanimado à sala comunal. Hermione, a princípio, se manteve indiferente e irritada. "Ele gasta tempo demais com quadribol e ainda para isso. Devia estudar mais, assim é que garantirá o seu futuro. E o pior é que, quando ele perde, fica insuportável", ela pensava.

Ao reparar melhor na fisionomia de Ron, percebeu que ele não estava apenas irritado e sim muito triste. Lembrou-se de como ele ficara arrasado após o jogo contra Sonserina ao ponto de se isolar de todos um dia inteiro, voltando para a torre de Grifinória apenas ao anoitecer.

— Ron, não fica assim. Tem dias que é mais difícil mesmo – a menina usou um tom de voz carinhoso, tentando animar o amigo, que conseguiu dar um sorriso fraco em troca.

Os dois despediram-se com os corações pesados. Ron, por não conseguir sair-se bem como goleiro e assim dar algum orgulho para os amigos e para si mesmo. Hermione por não conseguir fazer o ruivo sentir-se mais autoconfiante e alcançar os resultados que sabia que ele podia atingir.

No café da manhã, um acontecimento inesperado alegra o dia dos dois. Enquanto terminam de comer, dezenas de corujas começam a invadir o refeitório trazendo cartas endereçadas a Harry. Após a publicação do artigo de Rita Skeeter, várias pessoas escrevem ao bruxinho querendo manifestar solidariedade ou dizer simplesmente que acreditam nele. Ron e Hermione ajudam a abrir e ler as correspondências, muito felizes com aquele resultado. "Você é mesmo genial, Mione", elogiou Ron e a amiga sente que ganhou o dia.

Poucos dias depois, em comemoração ao aniversário de Ron, a garota decide preparar uma festa surpresa para ele. Burlando a severa vigilância de Umbridge, com a colaboração dos elfos domésticos, Hermione faz um delicioso bolo para o amigo. E traça o seguinte plano para surpreender o ruivo: Harry o convidaria para ir à biblioteca antes do jantar e assim seriam os últimos a fazer a refeição e, consequentemente, a chegar ao salão comunal. Neste meio tempo, com a ajuda de Gina, Neville, Fred e Jorge e outros alunos da Grifinória, ela prepararia a festa.

Tudo foi muito simples e rápido, até porque não podiam correr o risco de ser descobertos por Umbridge, que havia abolido todas as reuniões, inclusive as festivas. Mesmo assim, não faltaram os balões mágicos nas cores vermelha e amarela, que explodiam silenciosamente, deixando um rastro luminoso, faixa com "Feliz Aniversário" e velas encantadas.

Enquanto a menina terminava de suspender alguns balões com a ajuda da varinha, os gêmeos se aproximaram dando risadinhas.

— Então é hoje que você vai pedir Ron em namoro? – perguntou Fred em tom divertido.

A bruxa não costumava responder as provocações dos gêmeos, limitando-se a lançar olhares furiosos. Mas agora já era demais!

— Vocês sabem perfeitamente bem que eu e Ron somos apenas amigos – falou em um tom de voz ameaçador.

— E se depender de Ron, vocês continuarão a ser amigos por muito tempo – ponderou Jorge.

— É exatamente isso que quero. Agora, com licença, que vou terminar a decoração da festa – respondeu decidida.

—Tem razão. Melhor assim. Ron seria um péssimo namorado – Fred abafou um risinho.

— Continue investindo no seu relacionamento com Krum – completou Jorge.

Os dois se afastaram rapidamente, antes que Hermione pudesse lançar outro olhar fulminante. A menina balançou a cabeça. Não bastasse a indecisão de Ron, ainda tinha que aturar as piadinhas dos gêmeos. Pior é que achava que eles tinham razão. O ruivo pelo qual era apaixonada era inseguro demais para tomar qualquer atitude, mesmo se gostasse dela. E Hermione ainda nem tinha certeza se o rapaz correspondia ao seu sentimento.

No momento que entrou na sala comunal, Ron ficou sinceramente emocionado. Essa era a sua primeira festa surpresa e, na verdade, a melhor comemoração de aniversário que tivera até hoje. Depois de comer um pedaço de bolo, ele se aproximou de Hermione.

— Você, como sempre, escondendo muitos segredos de mim – Ron se queixou com a fisionomia fechada.

— Não gostou da surpresa?! Achei que ficaria feliz... – ela mostrou certa decepção.

Ron, abrindo um largo sorriso, respondeu. "Claro que gostei, Mione! E muito. Você me surpreendeu positivamente, mais uma vez. Muito obrigada pela festa", disse sem desmanchar o sorriso, fazendo o coração da menina bater feliz.



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Para  ouvir antes, durante ou depois de ler o capítulo: 

You And Me

http://bit.ly/1SXawVk

'Cause it's you and me and all of the people
With nothing to do
Nothing to prove
And it' you and me and all of the people
And I don't know why
I can't keep my eyes off of you

There's something about you now
I can't quite figure out
Everything she does is beautiful
Everything she does is right

'Cause it's you and me and all of the people
With nothing to do
Nothing to lose
And it's you and me and all of the people
And I don't know why
I can't keep my eyes off of you

(...)

 


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Notas finais do capítulo

Olá!

Mais três capítulos e completamos nossa leitura das entrelinhas do relacionamento de Ron e Mione no quinto livro da sério HP.

Comentários são muito bem-vindos!



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