Poisonous escrita por AleyAutumn


Capítulo 2
Cold blood




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   Cold Blood

A jovem morena olhava distraidamente as ondas que se quebravam na praia, o vento nesse dia em especial estava muito forte fazendo com que uma grande quantidade de areia invadisse a enorme loja. Com um suspiro ela fechou as janelas laterais deixando apenas a enorme porta aberta, se sentou sobre uma pequena mesa e passou a balançar as pernas enquanto pensava nas duas ultimas semanas.

Havia simplesmente fugido da Itália assim que se recuperou, não suportava sua vida estressante com uma família que a odiava, seu trabalho cansativo e sua faculdade de artes que tanto consumia sua pouca vontade. A jovem se encontrava em um estado de tristeza lastimável quando seu querido avô decidiu que o melhor a se fazer era ajudar a jovem a construir a vida em um outro lugar. Ela seria eternamente grata.

— Vejo que gosta da vista. - Akira comentou se aproximando enquanto ela abria um sorriso pequeno.

— Meu avô escolheu um lugar lindo. - comentou.

Seu avô Alex foi um grande empresário, deixava lojas espalhadas por cada cidade que visitava no mundo. A jovem Marjorie fora beneficiada com isso, pois teve o prazer de finalmente conhecer e viver no lugar que sempre quis. NonnoAl era um enorme lote composto por um bar enorme e uma loja de dois andares, o local era típico de comércios na praia, todo feito de madeiras com objetos e decorações coloridas.

O bar era tinha 3 enorme portões que só eram vistos quando o local era fechado, a estrutura era toda de madeira assim como as mesas e cadeiras espalhadas pelo local, o enorme balcão era de uma madeira escura e extremamente pesada, era rodeado por cadeiras altas do outro lado havia uma série de bebidas, alguns aparelhos de mistura e café e uma enorme estufa cheia de tortas, ao lado havia uma porta que ia para a cozinha. O bar tinha um pequena ponte sobre um lago artificial cheio de peixes coloridos e pequenas luzes, a ponte se conectava a um deck onde havia uma loja enorme com vitrines onde haviam pranchas, roupas, lembranças, pequenas estátuas, quadros e vários souvenires sobre a Nova Zelândia. O banheiro ficava ao lado, cerca de 15 metros.

— Parece que vai haver uma tempestade. - Akira a olhou com carinho, da mesma forma que olharia para uma irmã - Estou feliz por ter se mudado.

— Eu também estou. E eu quero ver essa tal tempestade. - sorriu para o moreno.

— Isso só porque mora no alto daquela colina. - zombou da garota.

— Não faz com que não seja perigoso. - reclamou com ironia.

— Não mesmo. Já pensou se desliza? - provocou e ela lhe mostrou o dedo do meio.

— Sim. Pensei. Seria uma pena, você morreria de saudades. - desceu da mesa com cuidado e pegou o copo de suco que ele ofereceu - Obrigada.

— Bem. Já vou, tenho que voltar para a faculdade.

— Ok Doutor. - ele riu do sotaque exageradamente italiano - Não ria de mim.

Ele riu mais ainda quando ela embolou a língua. Jorie sorriu, em apenas duas semanas ela havia aprendido o básico do inglês, diversas vezes a morena tinha problemas para se comunicar já que não falava inglês fluentemente e seu sotaque era pesado demais fazendo com que muitas vezes as pessoas não compreendessem o que ela dizia.

Acenou para Akira e começou a pensar no jovem. Akira estava em seus 22 anos e cursava a faculdade de medicina, queria ser um cirurgião. O jovem era animado, carinhoso e muito implicante, mas cuidava de seus próximos como ninguém, ele havia admitido que cursaria a faculdade de medicina por causa dos poucos médicos que havia na pequena cidade, tendo apenas um na emergência, o restante trabalhava apenas com consultas.

— Jorie preciso de você no bar. Vou limpar o banheiro masculino, tenho certeza que você não se sentiria confortável caso alguém o usasse enquanto limpa. - Louis avisou entrando na loja.

"Os mictórios" a jovem pensou com ironia. Louis sabia que ela odiava ficar no bar, mas como o movimento era pequeno a jovem não se importou em ficar no local, era melhor do que ter que parar o tempo inteiro para que algum homem usasse o banheiro sem se incomodar com a presença da jovem.

— Tudo bem Louis, ficarei sem problemas. - sorriu para ele indo em direção ao bar.

A jovem foi até a cozinha e pegou o imenso avental preto, o colocou e seguiu em direção ao bar, haviam apenas dois clientes em mesas separadas que conversavam alto um o outro, cansado de falar alto o homem que parecia mais velho se levantou e foi até o outro se sentando na cadeira ao lado e retomou a conversa.

Louis era um cozinheiro maravilhoso, melhor até mesmo que muitos chefes de cozinha. Era um homem em seus 50 anos de idade, com ótima postura, compreensivo, carinhoso, protetor e muito sábio. Tanto quanto Ellie que era sua mais nova namorada, a gerente do local era bonita, impecavelmente educada e amorosa. Em apenas duas semanas, a jovem Jorie havia se sentido muito mais amada do que em 21 anos.

Como não gostar dessa cidade? A cidade era linda, era tudo tão limpo e bem cuidado que chegava a dar uma certa inveja do cuidado que tinham com a cidade, parecia que cuidavam muito mais da cidade do que da população, é como um ser humano trata seu melhor amigo. Os prédios eram pequenos e havia uma grande quantidade de vilas espalhadas pela cidade, as arquiteturas eram antigas e bonitas dando um ar único ao local. Ela se sentia em um sonho.

Marjorie pegou o celular que estava sobre o balcão e um cardápio, seguiu o cliente apressado que entrou no bar e foi em direção a mesa mais distante do balcão. Assim que ele se sentou ela anotou o número da mesa no celular e lhe entregou o cardápio sem olhar no rosto de seu cliente.

— Olá, sou Marjorie e serei sua garçonete hoje. - tentou esconder o forte sotaque, mas falhou miseravelmente se repreendendo por isso.

— Olá Marjorie. - o homem se comunicou com ela com um leve sotaque - Quero apenas uma cerveja.

A jovem reprimiu um suspiro quando olhou em direção ao cliente, ele estava com o cardápio em frente ao rosto, mas era possível o observar bem. Os olhos de um castanho profundo que a olhavam com intensidade, o nariz era pontudo, os lábios eram finos, o cabelo era castanho curto e estava perfeitamente penteado e estranhamente a pele do belo homem estava pálida, até mesmo para um turista. Talvez ele tivesse percebido que não gostava tanto assim de praia e decidiu ficar apenas para não jogar dinheiro fora.

Marjorie clicou na pequena lista e selecionou a cerveja enviando o pedido para o computador, se virou e foi em direção ao bar pegando a cerveja e um copo, foi em direção a mesa do cliente e depositou o pedido na mesa.

— Só isso senhor? - perguntou colocando um cacho atrás da orelha.

— Só. Sente-se, eu estou procurando por ajuda. - ofereceu a cadeira a frente.

— Não posso. E meu inglês é limitado. Desculpe-me. - abriu um pequeno sorriso e foi em direção ao balcão. 

A jovem se sentiu gélida após ser rude com o cliente, provavelmente os outros funcionários do bar sentariam com ele e conversariam, mas a limitação da jovem com o inglês não permitia e ela não gostaria de envergonhar-se logo agora que estava começando a aprender a língua. Seria demais para ela dizer algo que não deveria sem nem mesmo saber o significado da palavra. Marjorie se reprendeu por seu comportamento grosseiro, não se parecia em nada com quem ela era.

Sentou-se em uma das cadeiras no balcão e apoiou o rosto na mão esquerda enquanto com a direita revisava o mapa que Adrian havia lhe entregado, vários locais circulados por uma caneta vermelha marcavam onde a jovem deveria ir para conseguir suprimentos, ajuda e roupas. Havia também uma agenda em sua casa com nome, endereços e números de pessoas que trabalhavam na vila em suas próprias casas, caso a jovem precisasse de móveis, salões de beleza, entre outras coisas. Marjorie revisou tudo enquanto sentia suas costas queimarem com o olhar intenso do moreno, mas apenas ignorou e começou a fazer mais círculos no mapa enquanto passava as coordenadas para o próprio celular, as gravando, utilizaria o GPS mais tarde. Havia pouco tempo que morava no local e conhecia apenas os locais mais próximos de sua casa, uma mercearia pequena e um salão minúsculo.

— Minha menina, como você está linda. - Ellie elogiou se aproximando - Não havia te visto hoje. Ando resolvendo tantos problemas com meu filho. - reclamou passando as mãos pelo rosto.

— Faculdade? - questionou enquanto descia da cadeira e ia para o outro lado do balcão.

— Sim. Se eu soubesse...

— Imagino. Também tive os maus momentos, mas vai valer a pena pra ele e pra cidade. - piscou.

— Não tem vontade de voltar? - olhou carinhosamente.

— As vezes, mas eu vim para cá para poder me livrar dessas obrigações de cidade grande. - sorriu para ela - Essa cobrança social é cansativa. - escolheu as palavras com dificuldade, com medo de falar algo que não deveria.

— Eu entendo. Comigo foi a mesma coisa, mas meu filho quer ser médico. É bom que seja, é muito difícil ter que ir para hospitais tão longe. Precisamos de alguém aqui na emergência já que muitos médicos só trabalham com consultas.

Sorriu para ela.

Olhou para Ellie, era uma mulher em seus 47 anos, magérrima e bronzeada, com a pele lisa e um sorriso invejável. Quem a via a primeira vez imaginava se tratar de uma mulher rica e esnobe, mas apesar de ter uma boa vida era uma mulher simples e humilde.

— Sente falta do seu avô? - Ellie se escorou no balcão.

— Sim. Uma mudança e tanto. – comentou arrumando o cabelo, assim que seu avô faleceu ela recebeu a notícia e agora se tornara responsável pela administração dos locais, isso não a animou muito e a jovem decidiu encarregar Ellie disso.

— É sim. Eu fico imaginando quando Akira sair de casa, eu ficarei perdida.

— Ele provavelmente só ficará alguns minutos de dis...dis...distância. - a reconfortou.

— Só iria me tranquilizar se ele estivesse de baixo do mesmo teto. E se eu o visse dormindo ao invés de saber como ele está e o que está fazendo.

— Eu entendo. - pronunciou com certa dificuldade.

— Você está fazendo um ótimo trabalho, além de que está aprendendo inglês muito rápido. Seu avô não mentiu em nada sobre você. Me pergunto sempre que te vejo. Nova Zelândia? Você é lindíssima, deveria ser uma modelo. Deveria estar rodando a Europa.

A jovem riu enquanto colocava a mão sobre a pequena barriga.

— Essa gordurinha não concorda comigo trabalhando para Victória Secret's.

— Ela? Não vejo nada.

Ellie abriu um sorriso malicioso enquanto se afastava olhando para o topo da cabeça da morena.

— Vá atender seu cliente. - e desapareceu.

A jovem se virou rapidamente e deu de cara com seu último cliente, ele segurava a garrafa de cerveja enquanto depositava o copo com cuidado sobre o balcão e se sentava em uma das cadeiras, o moreno abriu um sorriso misterioso e se inclinou em direção a jovem entregando a garrafa.

— Irei querer outra Marjorie. - pronunciou o nome da jovem de forma lenta.

Marjorie o serviu e se afastou discretamente ficando de frente para o imenso espelho procurando pelo motivo que fizera o homem a olhar tanto, a jovem não encontrou. A jovem era uma bela morena em seus 21 anos de idade, possuía 1,75 de altura, cabelos cacheados longos de um tom castanho, sua pele era levemente bronzeada, os olhos eram de um verde incrível, os lábios eram grossos e o nariz fino.

“Talvez esteja procurando por alguém semelhante a mim” Pensou enquanto o olhando, mas mal sabia que ele estava analisando o ambiente e sondando as pessoas que o poderia levar onde ele queria.

— Sou Elijah. Elijah Mikaelson. – se apresentou.

— Marjorie Albanio.

— Me desculpe a curiosidade senhorita Albanio, mas é daqui? - olhou com a expressão neutra.

— Não, sou da Itália Sr. Mikaelson.

— Suspeitei. - deu um sorriso malicioso ao ver que estava certo, havia ouvido falar sobre a “tímida e frágil” garota que chegou na cidade.

— Como? - piscou confusa enquanto pensava que não se parecia nada com as beldades e altíssimas italianas.

— O sotaque. Morei lá durante alguns anos. - sorriu para ele.

— Entrega muito. De onde é? - perguntou com calma temendo confundi-lo com seu inglês.

— Inglaterra. - ele riu ao ver as feições confusas da jovem - Mas já faz alguns anos que me mudei para o Estado Unidos, por isso quase não percebe meu sotaque. - começou a falar com a jovem em italiano.

— Parece um viajante. Conheceu mais países? - perguntou curiosa, ele teria conhecido a Índia? Teria ido a Nova Iorque? Japão?

— Não muitos, me concentrei mais na América, mas conheci muito bem os Estados Unidos.- sorriu.

— E como é?

— Quente.

— E você, qual o motivo de ter vindo parar aqui?

— A Itália é barulhenta. - evitou fazer uma careta ao ouvir o nome do país do qual havia fugido - E você? O que faz aqui? Não parece de férias. - apontou para a camisa escura de botões e a calça social.

— América do Norte é barulhenta. - sorriu para ela - Na realidade eu estou procurando uma pessoa, meu irmão mais novo. E uma mulher chamada Sophia Agarke. Conhece? – sondou.

— Na realidade não conheço. Cheguei a apenas duas semanas, não conheci muitas pessoas ainda. Vivo um pouco escondida. Desculpe não poder ajudar. - comentou formal demais.

— Está tudo bem. É um local grande.

— Todos os habitantes se conhecem. - comentou envergonhada, desde que chegou havia tido contato apenas com quatro pessoas.

Os olhos do moreno brilhavam enquanto ela o encarava com um olhar vidrado, um sorriso tranquilo apareceu em seu rosto enquanto ele assumia um semblante calmo como se tivesse acabado de descobrir algo interessante.

— Me lembra muito alguém Srta. Albanio.

— Deve ser alguém bem diferente, não sou alguém com aparência comum. - Marjorie era uma mistura de toda a sua família.

— Realmente não é. - o encarou deslumbrada, como poderia haver um homem tão charmoso?

— Algo mais Sr. Mikaelson? 

— Não Srta. Albanio e me chame de Elijah.

— Então me chame de Marjorie, ou Jorie. - riu enquanto Louis se aproximava e a cutucava.

— Jorie... já pode ir para casa. Vamos fechar mais cedo, parece que o festival ao invés de acabar hoje a tarde, irá acabar amanhã. - murmurou chateado.

— Tudo bem . - pegou a bolsa em um pequena gaveta no balcão - Tchau Elijah, Louis. - entregou o celular para ele.

A morena saiu rapidamente do bar e foi em direção a praia, haviam pequenos postes pelo caminho que começavam a acender a medida que o sol começava a baixar. Marjorie sentia os pés afundaram na areia fofa que estava muito quente, os pés se moviam com rapidez, quase uma pequena corrida em direção a uma vila composta por apenas 12 casas.

Louis havia apressado sua saída, estava incomodado com o pouco movimento nada habitual do local, já que havia um grande evento que iria durar cerca de 3 dias no local, assim fazendo com que todos os clientes do velho homem se concentrasse na cidade ao invés do bar.

Marjorie parou no meio do caminho ao ouvir seu nome ser chamado, antes mesmo que pudesse se virar Elijah já estava a sua frente impecavelmente arrumado, sem nenhum fio de cabelo fora do lugar.

— Oi. Precisa de algo? - voltou a caminhar.

— Não, vou acompanha-la até em casa. - falou com simplicidade à acompanhando.

— Não é necessário. - ele a olhou com uma calma perturbadora. Ele está irritado?

— A praia está deserta. - olhou ao redor.

— Local tranquilo. - sorriu, mas ele continuou sério então desistiu - Se você quer...

Sorrindo passou a acompanhar em silêncio. Olhou discretamente em direção a ele, não lhe passou pela cabeça que Elijah parecia estar querendo algum contato intimo já que em sua cidade era comum que mulheres fossem acompanhadas até a porta de casa, mas ela tinha que ser cautelosa já que não sabia se tais costumes eram comum no restante do mundo, afinal nunca havia ido muito longe. Sua curiosidade se manifestou antes que pudesse se controlar.

— Sempre faz isso?

— Acompanhar mulheres até em casa? Nem sempre, a maioria das mulheres que conheço se livrariam de problemas sozinhas. Sem ofender. - pensou olhando para longe.

— Sou capaz disso. - empinou o nariz e Elijah riu, para ele ela era a criatura mais indefesa que já havia tido contato.

— Eu não disse que não seria capaz, quero acompanha-la. - falou indiferente colocando as mãos dentro dos bolsos das calças.

O moreno se apressou em pagar a conta e ir atrás dela já que estava anoitecendo, Elijah era um vampiro e era natural que imaginasse que todos os seres humanos eram indefesos, mas ele achava em especial que a aquela garota seria a mais indefesa de todas, já que caminhava em uma praia deserta em direção a uma vila escondida. Seus instintos mais antigos da época em que ainda era um homem “sentimental” voltaram com força assim que a viu mancar pela areia em direção ao escuro, Elijah antes mesmo de se tornar um vampiro sempre fora cuidadoso em relação as mulheres, se a jovem mancava daquela forma provavelmente não conseguiria se defender ou correr. Ele era naturalmente um cavalheiro, mesmo depois de séculos. Mesmo sendo um assassino cruel.

Ou talvez estivesse apenas curioso por ver o medo e a dor estampado nos olhos da jovem, da mesma forma que os viu estampado nos olhos de Niklaus a anos atrás, isso de certa forma chamou sua atenção.

— Então tudo bem.- deu de ombros enquanto tornava a caminhar.

— Me responda Marjorie. - olhou confusa - Veio para cá sozinha? Sem nada?

— Vim. Na realidade não vim sem nada, meu avô era dono do bar e da loja e me deu uma casa para eu viver aqui. E não estou sozinha, tenho Ellie e Louis, são bons pra mim. – ele novamente viu a dor passar pelos olhos dela.

— Só há você e seu avô?

— Era a única pessoa que tinha, ele morreu assim que cheguei aqui - mordeu os lábios e virou o rosto para o mar - E seu irmão?

— Tenho três irmãos. E esse é o "fugitivo". Se chama Kol. – ele informou com o olhar perdido, não deveriam ter deixado Kol tão livre, não era seguro e poderia lhes trazer problemas.

Riu do nome estranho.

— Exótico.

— Tanto quanto a personalidade. - dirigiu-lhe um olhar sombrio.

— Entendo - murmurou - Aqui está bom. - avisou parando na frente do único caminho que a levava para casa.

— Mora aqui? - apontou para a casinha do lado.

— Lá em cima. - apontou para o alto.

— Então vamos. - saiu na frente e logo parou para esperar a jovem.

Os dois entraram em uma pequena trilha feita de paralelepípedos, avançaram até passarem por quatro casas e chegarem a um caminho largo que subia em direção a uma pequena colina onde haviam apenas duas casas, a de Marjorie e a de um vizinho estranho e simpático que ela conhecia como Kim.

— Como se chamam seus outros irmãos?

— Rebekah, Niklaus.

— Personalidade difícil? - saltou um pequeno galho que quase a derrubou.

— Na maior parte do tempo. - sem saber o que dizer ficou em silencio.

— É aqui. - apontou para a casa de madeira de dois andares, pequena e aconchegante rodeada de coqueiros.

Quando chegaram ao topo a jovem respirava ofegante, a testa suava e seu rosto estava incrivelmente corado, ela se dobrou e apoiou as mãos no joelho enquanto esperava que a dor a deixasse de incomodar.

— Então fico por aqui. - olhou para ele tentando achar algum resquício de cansaço, mas sua expressão era de preocupação - Isolada.

— Não muito. De uma forma ou de outra o que quer que venham fazer, só à um caminho pra usar.

A resposta não o agradou, como havia um ser humano tão despreocupado com a própria segurança? Definitivamente algo a assustou muito, que nada poderia ser visto como um problema.

— Quer entrar? - perguntou, não o queria dentro de sua casa, não por ele ser desagradável apenas por não o conhecer.

— Não obrigado, tenho que ir.

Se despediu com um aceno enquanto ela entrava em casa trancando a porta. A casa era toda de madeira escura, com janelas grandes. A sala era pequena, composta por dois sofás azul brancos, um tapete de cor azul e uma mesa de centro branco com rack claro e uma tv. A apenas três metros de distancia havia uma mesa redonda com quatro cadeiras, a cozinha era separada apenas por um balcão com 2 cadeiras altas, com uma janela imensa de frente para o mar. Ao lado da cozinha um pequeno corredor com uma escada que dava para o andar de cima onde havia uma varanda, o banheiro e dois quartos.

— Lar doce lar. 

Abriu a geladeira notando que havia apenas um pedaço de bolo de chocolate, decidiu que precisava muito ir ao mercado, onde não tinha ideia de onde era. Pegou a carteira notando que tinha uma grande quantidade de dinheiro já que seu avô havia pagado toda a sua mudança.

— Obrigada.- suspirou e pegou o bolo de chocolate o devorando.

Lavou a louça e foi para o andar de cima em direção ao banheiro olhando as unhas que estavam pintadas de um rosa chamativo já que era o único esmalte que ela havia levado. Correu para o banheiro e tomou um banho rápido tirando toda a areia que havia se acumulado em seu corpo, saiu do banheiro penteando os cabelos, pegou uma blusa cor vinho de manga curta, um short preto e um all star. 

Desceu para o andar de baixo e se dirigiu para fora de casa enquanto pegava as chaves do carro de seu avô dentro da bolsa, seu avô já havia esclarecido para Marjorie que Kim vinha usando o carro algumas vezes para evitar que houvessem problemas. A  jovem constatou que realmente seu vizinho havia cuidado muito bem do carro.

Marjorie ligou o GPS e esperou que ele a guiasse, assim que chegou a cidade ela havia percebido uma grande quantidade de lojas que haviam chamado sua atenção, mas decidiu que hoje não seria um bom dia para conhecer as lojas, visto que ela precisava muito comprar suprimentos.

Depois de meio hora rodando, finalmente a garota havia conseguido chegar ao mercado e constatou que aquele não iria conseguir suprir suas necessidades no momento, afinal faltava bastante coisa em sua casa. Novamente mexeu no GPS e passou as coordenadas do mapa que Louis havia lhe dado, ela teria que ir ao centro então se apressou em ligar o carro e ir o mais depressa possível. Vinte minutos depois a jovem encontrou um imenso mercado que estava razoavelmente cheio.

A morena escolheu tudo rapidamente, ansiando para voltar para casa e ter uma boa noite de sono, pegou algumas frutas, vegetais, doces, chocolate, sorvete e produtos de limpeza. Já que havia trago apenas poucas peças de roupa a jovem aproveitou para comprar mais algumas, infelizmente ela teria de ir em um outro local para achar sapatos.

Com um suspiro ela empurrou o enorme carrinho lotado de coisas em direção ao caixa, devido a ser uma cidade turística provavelmente ela conseguiria encontrar uma loja de sapatos aberta. Seus pensamentos foram interrompidos quando sentiu o carrinho bater com violência em seu abdômen, ela franziu as sobrancelhas e percebeu que havia acertado um homem provavelmente de sua idade.

— Me desculpe - pediu enquanto o encarava, seu tom de voz saindo inexpressivo.

— Sem problemas, eu também não estava prestando atenção. - os olhos dele brilharam e ela reprimiu um tremor enquanto ele colocava seus fones de ouvido.

Se sentindo envergonhada a jovem decide continuar seu trajeto sentindo que ele ainda a observava, novamente ela reprimiu um tremor e colocou suas coisas sobre o caixa enquanto a funcionária começava a passar as compras. Sorridente ela pagou as compras e foi em direção ao carro, começou a guardar as compras com rapidez enquanto não percebia que seu carrinho começava a descer o pequeno estacionamento em direção a rua, assim como também não percebeu que um belo moreno havia segurado o mesmo.

A jovem se sobressaiu ao sentir um toque frio em suas costelas, ela se virou rapidamente se dando conta de que era o homem que ela havia atropelado no mercado.

— Desculpe incomodar, mas acho que você iria sentir falta disso. - retirou os fones de ouvido e ela pode ver o carrinho deslizar para a rua quando ele o soltou, antes que fosse muito longe ele esticou o braço e o puxou de volta. 

— Muito obrigada. Do jeito que eu sou eu nem ia reparar que estava faltando algo. - se queixou enquanto arrumava o espaço no porta malas.

Ele a olhou intrigado enquanto abria um sorriso doce, imediatamente a jovem teve uma péssima impressão dele, os olhos dele eram cruéis e maliciosos, não parecia em nada com aquele menino doce que ele tentava mostrar ser. Ele tinha um rostinho de bebê, o cabelo escuro caia sobre os olhos e ela sabia que ele era muito mais velho do que aparentava ser. Ela só não tinha ideia do quanto.

— Perdi a oportunidade de ter comida de graça? - sorriu pegando as sacolas começando a colocar no porta malas.

Tentou deixar a tensão de lado dando um breve risada.

— Eu não tentaria comprar briga com uma mulher com fome, ainda mais quando você está segurando minha pizza.

Ela teve que admitir que com a ajuda dele ela havia terminado mais rápido, quando se virou para agradecer ela novamente reprimiu um tremor, ele a encarava extremamente concentrado.

— Não é daqui. Falou comigo em inglês, o pessoal daqui tem um língua engraçada. - sorriu.

— Eu nem havia percebido. Não sou. Estou de passagem. - mentiu com confiança e ele acreditou.

— Quanto tempo vai ficar? -olhou para as compras, definitivamente eram coisas demais pra dizer que estava prestes a ir embora.

— Algumas semanas, não tenho certeza. - murmurou com seu sorriso mais simpático.

Seu sorriso se tornou caloroso assim como seus olhos.

— Sou Kol. - ergueu a mão.

— Marjorie. - apertou sua mão - Está tarde. Melhor eu ir. Muito obrigada Kol. - soprou um beijo.

Em pouco tempo a morena chegou em casa, guardou as compras e foi para o quarto trancando a porta e a janela, olhou pelo vidro vendo a lua que brilhava intensamente e fechou a cortina branca deixando apenas que a claridade entrasse no quarto sem a incomodar, se deitou na imensa cama fofa e pensou no jovem que havia visto no mercado.

Kol é um nome exótico. Muito.

Elijah também.

Qual era o nome do irmão dele mesmo?


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