Caderno de ideias escrita por Benihime
Liana acordou arfante, assustada. O livro que estava em seu colo caiu no chão com um estrondo. O quarto estava claro e ela se recostou contra a parede, deixando a luz expulsar o sonho ...
Um barulho suave me faz abrir os olhos. Uma sombra alta está parada na porta. Ondas de frio emanam da figura, fazendo-me tremer.
— Olá, minha bela.
A voz é suave, quase reconfortante, mas seu olhar é frio. Aquele olhar faz meu coração bater mais rápido. Nunca vi olhos dessa cor, desse dourado penetrante.
— O que você quer? Quem é você?
— Não se lembra, Eilantha? — Apenas continuei olhando para ele, surpresa demais para falar. — Você é minha. Eu vou fazê-la lembrar.
Ele então se aproxima, e o frio aumenta. Vou congelando aos poucos. Ele se inclina e suas mãos envolvem meu pescoço, tirando-me o ar.
— Disse que queria ficar comigo, não disse? — A voz soa, fria como gelo. — Agora vamos ficar juntos para sempre.
Respirar fica cada vez mais difícil até que finalmente é impossível e sinto a escuridão me envolver.
Liana respira fundo, tentando expulsar o sonho. Finalmente mais calma, levantou-se e foi até sua escrivaninha, onde uma pequena pilha de desenhos a esperava, com uma folha em branco por cima e uma variedade de instrumentos de desenho ao lado.
Ela sentou-se, tentando se concentrar. Às vezes, após um sonho como aquele, imagens vinham em sua mente. Naquela noite a única coisa que Liana via era o papel branco, vazio.
Decidiu folhear seus desenhos, esperando que aquilo despertasse uma inspiração. A adaga, a praia onde uma figura solitária caminhava, o gazebo onde um casal se abraçava, a grande casa em estilo grego, um pé de oliveira em uma colina, o rosto de um rapaz sorrindo, um navio que partia, pessoas que lutavam ...
Algo estalou em sua mente, uma memória. Com gestos rápidos, reorganizou os desenhos, espalhando-os sobre a cama. Eles logo formaram uma sequência, uma pequena história ... E Liana conhecia cada parte daquilo!
Um sorriso enorme brotou em seu rosto enquanto unia as folhas reorganizadas em uma pilha, pegava uma caneta e começava a escrever. Terminou horas depois, já de manhã.
— Eu consegui — Disse para si mesma — Finalmente!
— Liana! — Sua mãe exclamou, parada na porta — Ainda não está pronta, menina? Vai se atrasar para a aula!
— Droga, eu esqueci! Obrigada, mãe.
Sua mãe apenas fez um gesto para que se apressasse e girou nos calcanhares, indo para a cozinha.
Liana se arrumou às pressas e saiu correndo, deixando a história recém escrito sobre sua escrivaninha.
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Liana quase correu para seu quarto, ansiosa para continuar de onde havia parado pela manhã e concluir o projeto, mas levou um susto ao ver que, sobre o manuscrito, havia um anel e um bilhete. Foi o bilhete que Liana olhou primeiro.
Esqueceu de mencionar essa parte, meu amor. Espero que agora se lembre.
Sob as duas frases, apenas um A rabiscado. A jovem deixou o bilhete de lado e voltou sua atenção para o anel. Era grande, pesado e parecia antigo. No centro havia uma belíssima safira.
Curiosa, ela experimentou a joia. Coube como se tivesse sido feita para seu dedo, e a visão do ouro contra sua pele lhe trouxe a memória de volta.
— Alexandre!
O nome escapou de seus lábios em um quase grito de surpresa, porém com ternura. Estava surpresa por ter esquecido o quanto amara aquele homem.
— Olá, minha bela. — Liana virou-se ao ouvir a voz, tão sua conhecida — Finalmente se lembrou, não?
— Lembrei. — Garantiu — Eu ... Eu me lembro de tudo!
— Isso é bom — Ele sorriu — Podemos finalmente quebrar a maldição.
— Mas como?
— Apenas venha cá, e me dê o anel.
Liana obedeceu sem protestar, estendendo o anel na mão aberta. Alexandre pegou a joia.
— Estenda sua mão.
Ela obedeceu mais uma vez, embora não estivesse entendendo nada. Confiava nele.
— Alexandre ...
— Eilantha ... Com este anel, renovamos a promessa de estarmos juntos, o mesmo compromisso que assumimos séculos atrás. Você aceita essa promessa?
— Aceito. — Ela respondeu, sua mente voltando para uma tarde perdida no tempo, quando fizeram a mesma promessa — E prometo sempre nos encontrarmos de novo, aconteça o que acontecer.
Alexandre sorriu e colocou o anel no dedo da amada. Os olhos de Liana se arregalaram ao sentir o toque do antigo amante.
— Finalmente estou livre. Obrigado, minha bela.
— Não! Não vá ainda!
— Eu preciso. — Ele respondeu — Mas não se preocupe. Nos encontraremos de novo ...
— Em outro tempo, outro lugar.
Liana repetira inconscientemente a metade da frase familiar que ouvira de seu amado em uma noite fatídica séculos atrás.
— Sim, Liana. — Alexandre sorriu — Talvez até mais cedo do que você pensa.
Ele se aproximou e seus braços a envolveram pela cintura, unindo seus corpos. Liana fechou os olhos, aproveitando ao máximo aquele momento. Sentiu uma mão delicada erguendo seu rosto e em seguida os lábios encontraram os seus.
Liana se atirou ao beijo, sentindo aqueles lábios desaparecerem de encontro aos seus. Abriu os olhos finalmente. Estava sozinha.
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Três meses se passaram desde que Liana vira Alexandre pela última vez. Ela se esforçara para escrever o livro que tinha em mente, uma história antiga.
A história se passava na Grécia Antiga, onde dois jovens se apaixonavam. Os dois se amavam de verdade e logo ficaram noivos, mas de repente a Guerra de Tróia começou e ele, como único filho de um homem muito poderoso, foi obrigado a lutar. Nunca voltou. Sua amada ia até a praia todos os dias e caminhava na beira do mar, onde podia ver o espírito do amante falecido. A jovem casou com outro homem, mas manteve o anel que ganhara de seu verdadeiro amor, sempre bem escondido juntamente com a esperança de que ele um dia iria voltar.
É claro que Liana conhecia aquela história. Era a sua história.
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Doze anos se passaram desde que Liana e Alexandre haviam dado o último beijo. Nesses anos, ela lançara seu livro e se tornara uma famosa escritora.
Ela prendeu os cabelos em um coque e se inclinou para ler a mensagem no celular, que repousava sobre a cômoda.
E então, jantar confirmado para às 22h?
A pergunta a fez revirar os olhos. Ryan, seu amigo virtual, era um homem impaciente e detalhista ao extremo.
Já estou a caminho. É bom estar me esperando, seu chato.
Ele não estava. Liana puxou um livro da bolsa e esperou. Só ergueu os olhos quando ouviu uma voz muito conhecida chamar seu nome.
— Liana! — Ele exclamou — Você é ainda mais linda do que imaginei!
O livro caiu de seus dedos e de repente Liana não conseguia respirar.
— Alexandre?
— Não. — O jovem riu — Ryan. Está tudo bem? Você parece meio ... Pálida.
— Estou bem. — Ela conseguiu dizer — Você ... Você me deixou esperando um tempão.
Ele a olhou como se entendesse o sentido real de suas palavras.
— Sinto muito, minha bela.
Liana sorriu, finalmente superando a surpresa inicial.
— Não importa. — Declarou — O importante é que você está aqui agora.
As mãos dos dois se encontraram por cima da mesa e, simples assim, o casal separado pelo destino se reencontrou.
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