Em dois meses encontrei um apartamento, não era grande, mas era só para mim então era suficiente. Voltei ao meu velho apartamento para pegar os restos das coisas, já fazia meio ano que eu não via Draco. 

Eu tinha enviado uma carta para ele informando minha ida, ele me respondeu com seu horário de almoço para que eu tivesse como entrar. O loiro já estava na porta me aguardando quando cheguei pontualmente em seu fuso horário. 

— Quanto tempo - ele me abraçou bem forte, eu o abracei de volta e relutei em soltá-lo.

— Senti sua falta - falei, ele me soltou.

— Também senti a sua - eu sorri meio timida. - Bom, vamos? Tenho pouco tempo.

— Claro...

Era estranho vê-lo apressado.

Entrei no apartamento, ele mudara de lugar muitos móveis, algumas plantas decoravam o ambiente, mais plantas do que quando eu morava lá. 

Em um canto da sala minhas caixas estavam empilhadas, abri a bolsa que eu levara e comecei a colocar tudo dentro. 

— Pronto - falei depois de um tempo - Obrigada.

— Venha almoçar - ele falou da cozinha, eu o observei - Você veio de longe, merece comer algo.

Agradeci e me juntei a ele para comer. Draco me contou do trabalho, me explicou que usavam os acontecidos com Voldemort e Morfino para traçar outros possíveis ataques e que como ele estava presente nos dois era o líder das pesquisas e analises. Eu podia ver seu orgulho em seu rosto, ele estava feliz e eu me sentindo sozinha. 

Depois de conversarmos um pouco mais ele me levou até o portal antes de voltar para o trabalho. Vê-lo parecia ter piorado minha saudade dele. Em casa arrumei minhas coisas da melhor forma par ao meu ânimo. Sentei no sofá e olhei a hora, teria aulas extras em algumas horas e precisava voltar para o Castelo. Peguei minha vassoura, agora se tornara meu principal meio de transporte, e decolei. 

Pousei na área fora da escola, levei minha vassoura para a estufa a apoiei em um canto, reguei algumas plantas, coloquei vitamina em outras, separei as plantas da aula, os instrumentos para os alunos, na lousa que eu tinha instalado em uma das paredes anotei a atividade do dia. O sol estava quente, então com um pouco mais de magia eu refrigerei melhor a área, pude perceber as plantas se agitarem agradecidas.

— Vocês merecem - comentei com elas. - Agora um pouco de música trouxa para relaxar - liguei o único instrumento trouxa da estufa além da lousa, o pequeno rápido que começou a tocar bem baixinho Elvis. - Agora posso dar minha aula.

— Você deu um belo toque só seu aqui - meu coração se agitou com aquela voz. Eu não olhei para  a porta, continuei mexendo na terra de uma das plantas. - Isso é um rádio trouxa?

— É, sim - eu respondi sem olhar a pessoa.

— Gostei. Quem diria que você seria tão organizada assim - apontou para a mesa - E as plantas estão muito bem.

— Obrigada - eu me virei para por o último vaso na mesa e esbarrei nele. Depois de tantos anos eu ainda ficava assim com ele, por quê? - Desculpa...

— Não se preocupe - ele tomou o vaso da minha mão e colocou na mesa. - A Diretora e Raoni foram quem me disseram para vir aqui, disseram que eu ia gostar. - eu o olhei, minhas bochechas queimavam, eu devia estar ridicula. Mais de trinta anos de idade e agindo como uma adolescente. 

— Espero que tenha gostado com o que eu fiz aqui. - falei me esquivando dele e indo até a porta.

— Eles não falavam do ambiente - eu parei, não o olhei.

Abri a porta, alguns alunos começaram a entrar.

— Agora irei dar uma aula. Podemos nos falar depois?

— Claro - ele se retirou - Vou passar alguns dias por aqui.

Ele fechou a porta e eu senti meu corpo estremecer.

Os alunos conversavam alto, até eu bater palmas, eu consegui o respeito deles rápido, acho que as duas provas surpresas no primeiro mês deve tê-los feito ficar com medo de serem reprovados, mas na verdade eu só queria saber qual era o conhecimento deles tanto sobre o mundo bruxo quanto o mundo trouxa, era apenas uma brincadeira que surtiu mais efeito do que eu poderia imaginar.

A aula acabou próximo do horário do almoço, era uma aula extracurricular que a Diretora dissera que o professor Filipe tentou aplicar enquanto dava aula, mas não teve tempo para isso. Eu terminei o material e a introduzi, por enquanto a aceitação estava sendo muito boa. 

No meio da aula um Dedo-Duro entrou voando na estufa e me entregou uma carta, a Diretora comprou alguns par ao Castelo, disse que gostara muito do Peru e queria arriscar com alguns da mesma espécie e a experiência estava sendo ótima. 

"Reunião de ex-profissionais e ex-alunos da escola, jantar especial em meu Gabinete depois do toque de recolher dos alunos, aguardo por todos."

Que maravilha! Agora vou precisar encarar logo de cara Neville. Eu não estava preparada para algo tão formal com ele. 

Assim que todos me entregaram a atividade fui para meu quarto no Castelo, busquei por uma roupa que fosse adequada, eu não tinha muita coisa ali, no final de semana iria para minha casa para trocar e lavar as da semana, então, eu não costumo trazer muita coisa. 

Peguei uma saia e um blazer que minha mãe teria orgulho de me ver usando aquilo. Uma regata branca por baixo, e uma sapatilha, eu me recuso a usar salto no Castelo, aquilo ali é um ambiente de suicidio para quem resolver usar salto-alto.

Para o jantar levei as atividades do dia para corrigir. Comia e olhava as respostas dos alunos. No jantar eu já tinha uma ideia de quem tinham convidado e quem confirmara presença. Carla chegara com Leo, as crianças estudava em Hogwarts. Neville estava sentado em uma das pontas da mesa dos professores, até o professor Filipe apareceu no jantar dos alunos. Continuei com meu trabalho. 

A Diretora fez alguns anuncios, pontuações e coisas rotineiras enquanto eu ainda estava concentrada nas atividades, quando o jantar acabou fui até Carla e Leo, já fazia alguns meses que eu não os via e sentia falta dos jantares.

— Sentimos sua falta - minha melhor amiga me abraçou - Você nos abandonou vindo para cá.

— Quem dera fosse abandono - ela riu - Isso aqui é só de hoje - mostrei a pilha de papel para ela.

— Você, com toda certeza, estaria na minha lista de piores professores.

— É bem provável.

Rimos. Ela e Leo foram comigo até meu quarto para eu deixar as atividades. Depois fomos até o gabinete da Diretora, ele havia mudado. Os móveis estavam encaixados em espaços nas paredes, ao centro uma enorme mesa redonda, a própria já estava ali com Raoni ao seu lado. Professor Filipe estava junto deles e outros professores. Depois de nós três alguém entrou de forma ruidosa.

— Nyack? - eu o olhei, estava muito bem pela idade que no atingia. O corpo parecia mais forte do que nunca, ela nos olhou e riu. Deu espaço para mais alguém entrar - Mari? - os dois estavam de mãos dadas, eu não esperava por aquilo. Mari e Nyack estavam juntos, era o casal mais inusitado.

— Ag! - Mari veio até mim e me abraçou bem forte, eu mal conseguia reconhecer a menina do guaxinim ali a minha frente.

— Nossa! Como você cresceu - eu a abracei bem forte de volta.

— Pois é - ela sorriu e se sentou a mesa.

Aos poucos todos fomos tomando nossos lugares, a conversa ocorria alta enquanto a Diretora aprecia alegre em nos ver dando bem. O último a chegar fora Neville, ele entrou sem-graça, se desculpou o atraso e brincou de ser culpa do fuso-horário. Sentou próximo ao professor Filipe que o cumprimentou feliz.

A conversa ocorreu a noite inteira, todos pareciamos amigos de longas datas. 

— Viu nossa criação, Neville? - ouvi Filipe comentar com Neville - Nossa criança tomou nosso lugar e está trilhando um caminho melhor que o nosso. 

Eu os ignorei, nem mesmo observei a reação de Neville.

— Bom, eu preciso ir - falei me levantando - Desculpa por deixá-los em meio a essa ótima comemoração, mas se eu não entregar as notas amanhã, sabem como é. - todos riram.

Eu me retirava do gabinete quando algum passo veio logo atrás de mim. 

— Ag - olhei, Longbottom estava ali me observando.

— Aconteceu algo?

— Eu preciso falar com você... - eu não o entendi - Sobre tudo... Tem algum lugar que possamos ir?

— Tem o muro? - ele não entendeu - Eu e Carla iamos lá para ficarmos sozinhas, deve ser um bom lugar.

Ele confirmou, o guiei até lá.