Kate POV

Ele me olhava quando acordei, e eu notei o quanto sentia falta de acordar de manhã ao seu lado, seu rosto sendo a primeira coisa que eu via quando abria meus olhos. Eu dormira perfeitamente bem, livre dos pesadelos – ou mesmo sonhos – que haviam se tornando dolorosamente frequentes.

— Bom dia. – Castle disse quando notou meus olhos abertos e eu sorri, movendo minha mão direita e descansando-a em seu rosto, meus dedos brincando distraidamente com sua orelha.

— Oi. – Eu respondi. – Você dormiu bem? – Perguntei e ele assentiu.

— Maravilhosamente bem. Você?

— Sim. – E emendei – Foi uma ótima noite.

— E como... – ele se inclinou para me beijar – Eu senti sua falta.

— Eu sentia sua falta, também. –Suspirei e encostei nossas testas. – Demais.

Senti seu sorriso antes que pudesse olhá-lo. Abri os olhos, vendo a maneira como ele me observava, sabendo que ele podia ver através de mim. Sabendo – já tendo caminhado por essa estrada vezes o suficiente – que eu não precisava dizer nada, não precisava provar nada; ele simplesmente sabia. Um olhar e ele sabia exatamente o que eu estava sentindo, sempre soube.

Era idiotice negar qualquer coisa, então eu desviei os olhos, fugindo de seu olhar que me fazia sentir nua.

— Então...

— Não muda muita coisa. – Sussurrei e o encarei. Não era preciso muito esforço para ver o desapontamento ali.

— Por que?

— Apenas não muda.... Eu ainda... – parei, ter certeza de como faze-lo enxergar o que eu tentava mostrar.

Mas, como sempre, Castle sabia exatamente.

Ele pegou meu rosto quando desviei o olhar novamente, e dessa vez não me deixou ir.

— Dói, e você está com medo. – Ele começou. – Eu sei, eu me sinto assim também. Eu estou com você! Mas eu também sei que o único motivo de você não querer tentar novamente é porque se sente culpada. Você acha que a culpa é sua porque não sabia que estava grávida, e nós estávamos tentando, mas eu também não sabia! É meu trabalho observar você e eu não notei, então se quer culpar alguém, culpe a mim!

Oh, Castle.

— Não é sua culpa. Você não sabia...

— E nem você! – Ele me olhou como se eu fosse a maior tola. Talvez eu fosse mesmo. – Kate, essas coisas acontecem, e elas podem acabar conosco ou nos deixar mais fortes, isso quem decide somos nós.                           

— E se acontecer de novo? – Perguntei e pude sentir as barreiras que eu havia posto entre nós caírem de uma única vez. Era uma nova dor e um alívio quase físicos. Meu corpo ficou mole e senti seus braços me envolverem.

— Nós vamos lidar com isso, se quiser. E se não quiser, nós temos outras opções, certo? Eu só estou dizendo isso porque sei o quanto você quer ser mãe.... Eu sei.

— Eu quero. – Disse antes que pudesse me conter. Nós havíamos conversado sobre isso milhares de vezes. – Mas...

— Vai acontecer se tiver que acontecer. – Ele me lembrou gentilmente. – E nós não temos que pensar sobre isso agora, certo?

Pensei por um segundo. Ele tinha razão. Eu sabia que Castle não queria me pressionar, e fazia um belo trabalho. Nós podíamos pensar sobre isso depois, deixar o que tiver que acontecer, acontecer – sendo bom ou não.

— Certo. – Assenti e sorri fraquinho. Relaxei e me aconcheguei em seus braços, respirando em seu ombro. – Obrigada.

Ele me apertou. – Disponha, senhorita.

Eu ri, levantando meu rosto e olhando para ele. – Eu sou um grande problema, não sou?

— Enorme. – Concorda e posso sentir a careta chocada em meu rosto. – Eu não mudaria nada.

Mordi os lábios e aproximei nossos rostos. – Ótimo.

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4 semanas depois

Assim que abri a porta do loft, quase senti o ar aconchegante me abraçar, da forma que só o nosso lar conseguia fazer. Respirei fundo e espreguicei. Havia sido um caso cansativo, e mal podia esperar para deitar na cama e dormir por mais de doze horas seguidas.

—Mal posso esperar para tomar um banho e me deitar. – Disse em um tom de voz alto.

—Não agora, Kate. – Castle me disse, olhando com uma cara animada. – Agora eu preciso que você troque de roupa, nós vamos jantar fora.

—Jantar fora?

—Por que não? É sexta-feira. – Ele deu de ombros. – Nós acabamos de fechar esse caso, tudo o que eu quero é que você aceite o convite do seu marido.

Olhei para ele, mordendo minha bochecha. Resolvi não discutir, Castle era bem persistente quando queria (o que implicava quase sempre).

—Tudo bem, eu aceito seu convite. – Sorri para ele, que sustentava um enorme sorriso. – Mas posso saber qual é a ocasião especial?

—Não preciso de uma ocasião especial para querer jantar fora com você. – Pegou uma das minhas mãos, beijando meus dedos. – Eu apenas quero sair com você, jantar fora, fazer algo diferente da nossa rotina. Vamos celebrar a vida. Nós estamos aqui, lutando, apesar de tudo o que nos aconteceu. – Eu entendia seu ponto. E podia concordar que talvez seria uma boa ideia, variar, pelo menos uma vez.

—Estamos mesmo lutando. – Respondi olhando em seus olhos, que brilhavam irritantemente. – Isso vai ser ótimo, obrigada.

—Me agradeça ao final da noite. – Piscou para mim, me puxando para o quarto.

Nós realmente precisávamos nos arrumar.

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O letreiro do Remy's me fez sorrir. Aquilo era uma coisa nossa, e por mais que o tempo passasse, nunca iria se tornar algo ordinário. Era um restaurante especial, com várias lembranças ótimas.

—Você me fez trocar de roupa para jantar no Remy's? – Perguntei assim que o vi abrir a minha porta, estendendo a mão para que eu saísse. – Eu poderia ter vindo com a mesma roupa do trabalho!

—É o começo de algo especial, eu queria que você estivesse mais à vontade. – Castle disse, e assim que eu saí do carro, fechou a porta. – Não é porque estamos no Remy's que hoje não vai ser uma noite... elegante.

—O que, vamos jantar com velas sobre nossa mesa? Uma toalha branca? Já sei, uma orquestra tocando In My Veins? – Perguntei apenas para provocá-lo.

—Acho que está mais para mesa com toalha quadriculada, uma luminária um pouco acima de nossas cabeças e se tivermos sorte, estaremos escutando Taylor Swift.

Assim que entramos, pude ver a única mesa vaga com uma pequena vela decorada, com a toalha bem alinhada. Aquilo era coisa dele, e nem gostava de imaginar o que ele teve que fazer para arrumar aquilo.

—Tem realmente uma vela na mesa. – Pensei em voz alta.

—Eu ainda tenho os meus truques, detetive Beckett. – Fez um sinal para que eu sentasse. Castle estava se saindo um ótimo cavalheiro, como sempre era. Mas o fato de estarmos fazendo isso no meio de um restaurante fast-food tornava tudo ainda mais inesperado.

Quando ele finalmente se sentou, olhei para ele, como se estivesse querendo dizer algo óbvio.

—Ok, nós realmente somos as pessoas mais bem vestidas desse lugar. – Olhei em volta, e a maioria dos clientes ali parecia ter no máximo 17 anos.

—E as mais velhas. – Respondeu, pegando o cardápio. Olhou para mim, com um pequeno sorriso nos lábios. – O que? Você sabe que é verdade!

—Eu sei.

—Então pare de falar e decida o que vamos comer.

—Pode pedir o mesmo de sempre.

—Você tem certeza disso?

—Absoluta.

Castle chamou o garçom, que rapidamente anotou os pedidos e prometeu que em pouco tempo voltaria

—Você subornou quem para conseguir isso?

—Você pensa tão mal de mim, Kate. – Sua voz de falsa ofensa me fez querer revirar os olhos. – Eu só disse que hoje era uma ocasião especial e pedi para o gerente se ele podia fazer isso por mim.

—E ele aceitou fácil assim?

—Bom, depois de assinar 6 livros e prometer uma personagem com o nome da mãe dele, eu consegui.

—Você é louco.

—Eu faria qualquer coisa por você. – Disse, dando de ombros. – E por nós. Não foi um sacrifício.

Estávamos tão perdidos em conversas paralelas que mal percebemos o tempo passar. O garçom voltou com os nossos lanches, e não sabia que estava com tanta fome até aquele momento. Meu corpo iria agradecer por uma bela dose de besteiras, depois de tudo o que aconteceu nos últimos dias.

Sorri para ele, quando uma pequena gota de ketchup apareceu no canto de sua boca. Me inclinei para limpar, olhando em seus olhos azuis. A sensação de olhar para eles me trazia uma calma absurda, e certamente poderia passar horas e horas apenas perdida ali. 

—Então, o que estamos fazendo, realmente? – Limpei a garganta, enquanto ajeitava as batatas sobre meu prato.

—Vou te apresentar a minha proposta. – Castle tomou um pouco de seu milkshake. – Nós vamos fazer isso toda sexta-feira, sem exceções.

—Sem exceções?

—Sim. – Simplesmente respondeu. – Essa será nossa forma de lidarmos com as coisas, não nos afastando, o que eu sei que deixou de acontecer no começo da semana, só quero dizer que vamos fazer isso juntos. Sair para jantar, aproveitarmos a companhia um do outro, conversar sobre a nossa semana, compartilhar nossos sonhos, ou qualquer outra coisa, desde que você aceite tornar isso algo semanal.

—Não sei se a ideia de virmos aqui toda semana me parece boa. Eu posso engordar bastante...

—Não exatamente aqui. – Disse completamente chocado. Deus, ele era tão fácil! – Em qualquer lugar que você queira, só quis vir aqui hoje para poder conversar com você sobre isso. Você precisa estar de acordo.

—Você me convenceu quando disse sobre fazer isso toda sexta-feira. – Tomei um pouco do meu milkshake. Com um olhar sugestivo, confirmei o que havia acabado de dizer, e parecia que ali, naquele momento, Castle estava finalmente em paz. Era uma ótima ideia, e ele sabia disso.

A partir daquela sexta-feira à noite, esses encontros haviam se tornado parte de nossa rotina, e era algo que eu não gostaria de mudar por nada.