Desajustadas escrita por KitKatie


Capítulo 40
Desespero


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores, como estão?
O capítulo de hoje tem um acontecimento importante!



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Silena havia tido uma longa semana. Os dias arrastados cinzentos. Não sabia que um coração doído podia deixar todo o resto machucado também.

Desde o “fora” – assim que havia apelido o incidente onde Charles não quis segurar sua mão e fugiu dela como o Diabo da Cruz – Silena não havia feito muita coisa. Conversou com as amigas, e fez questão de disfarçar sua dor, mantendo a pose empolgadas de sempre. Até pensou em confidenciar as meninas o ocorrido mas sentia que isso seria egoísta de sua parte. Thalia estava tão feliz com Luke, brilhando, quase literalmente. Katie estava experimentando um renascer, longe do crápula de seu pai. E Annie, pobrezinha, absorta num mundinho de problemas.

Algumas dores é preciso enfrentar sozinha, afinal. Tentou manter-se positiva, logo iria modelar, pelo menos isso podia consola-la, era o que mais amava fazer. Mas, nem isso aquietava seu coração, oras, Charles disse que iria com ela e agora mal a olhava.

Na escola parecia que ela era um fantasma, ele a evitava. Ele havia começado a jogar futebol americano e passou a andar com os atletas e Silena não era doida de enfiar-se no meio de um monte de gigantes suados para achar Charles. E ele havia chegado a uma conclusão: ela não lutaria por um espaço que ele não queria que ela ocupasse.

Podia estar apaixonada por ele mas sabia que devia amar outra pessoa antes. Ela mesma. Se ele a quisesse por perto, maravilha, se não, Silena não poderia fazer nada. Demorou anos, e custou muitos corações partidos para que a menina entendesse isso, seu pai a ensinava isso constantemente e ela estava disposta a pôr na prática. Por mais difícil que fosse.

Sem dar-se conta, estava chorando. Sentada em frente a penteadeira. No seu grande dia. Tinha uma sessão de fotos dali uma hora e, definitivamente, não iria com o rosto inchado de choro.

Charles fazia mais falta do que Silena podia imaginar, em tão pouco tempo viu-se apegada demais a ele. Suspirando, limpou o rosto. Era hora de ir até o estúdio. Iria caminhando, queimar umas calorias. Cuidou muito bem de sua alimentação e da rotina de exercícios durante a semana mas exercício nunca é demais – ao menos, era assim que pensava.

Desceu as escadas, com sua bolsa sobre os ombros e precisou se apoiar no batente ao abrir a porta e dar-se de frente a uma parede musculosa.

—Charles? –A voz saiu esganiçada pelo susto de ver o garoto.

—Hey, Si. –Ele parecia tímido.

—O que você está fazendo aqui?

—Hoje é sua sessão de fotos, não é? Eu disse que iria te acompanhar. –Ele coçou a nuca.

—Achei que não viria. –Silena olhou para os próprios pés. –Afinal, passou a semana toda me ignorando. –Não queria iniciar uma briga mas as palavras saltaram de sua boca, estava magoada, afinal.

—Eu... –Charles abriu a boca e abaixou o olhar, seus ombros desceram e ele parecia realmente triste. –Sinto muito, Si. De verdade. Eu só não... Não sabia como te encarar depois do que aconteceu no estacionamento, ok?

Silena manteve-se pensativa por alguns segundos. Não era a melhor das desculpas mas ela não podia esperar um grande fora, afinal, não fizera uma grande declaração. Gostava demais da companhia dele e não seria orgulhosa. Forçou um sorriso.

—Tudo bem, o que passou, passou. –Virou-se e trancou a porta. –Vamos? É meio longe daqui...

—Eu vim de carro. –Charles adiantou-se, balançando uma chave prateada entre os dedos. Ele estava confuso, não imaginou que Silena levaria na boa o acontecido. Viu no olhar dela a magoa, e isso o fez sentir-se o pior dos trastes, mas não havia muito que fazer agora...

—Eu não sabia que havia comprado um carro. –Silena puxou conversa, já acomodada e com cinto na caminhonete cheirosa do garoto.

—Eu o construí, basicamente. –Charles disse, numa voz empolgada. –Comprei a carcaça e os componentes básicos, o resto fiz na oficina. Meu pai me ajudou bastante mas...

—Uau, você é realmente muito talentoso. –Silena orgulhou-se genuinamente dele.

O caminho foi marcado por um silêncio desconfortável. O clima entre eles era esquisito. Por mais que Silena tivesse tido que estava tudo bem, havia um estranhamento no ar. A menina tentando entender o que levará Charles a afastar-se dela e Charles com vergonha de si mesmo pensando no que diria a Silena.

Chegando no lugar marcado para o ensaio, Silena e Charles entraram lado a lado, com o menino parecendo um segurança. Se não fosse pelo uniforme de jogador de futebol que usava passaria batido como, de fato, segurança.

—Seu namorado? –A maquiadora que ocupava-se pincelando o rosto de Silena questionou baixinho, entre risos.

—Sim. –Silena apenas concordou. Era mais fácil isso do que “Amigo pelo qual sou apaixonada e que, aparentemente, não sente o mesmo mas está aqui nesse momento me fazendo ter uma esperança e expectativa que, talvez, não devesse ter.”

—Ele é uma gracinha. –A maquiadora soltou uma piscadinha. –Não desgrudou o olhar de você desde que chegou.

Silena limitou-se a sorrir e olhou para o espelho, estava ficando linda. Gostava de estar maquiada assim, escondia todas as imperfeições de seu rosto. Olhou de soslaio para Charles e o pegou encarando, ele desviou o olhar rapidamente e cruzou os braços, desconcentrado. A menina riu, era difícil resistir a um cara tão fofo.

—Olá, Silena, sou Eros, o fotografo responsável por esse encontro, certo? Podemos começar?

—Claro. –A garota exalava empolgação.

Era de fato cansativo modelar. Trocar várias vezes de roupa, de pose, mudar o cabelo, a maquiagem, senta, levanta, deita... Mas Silena amava aqui, sentia-se incrível. Sabia que havia nascido para aquilo, era onde se sentia bem.

A tarde passou rápida. Silena estava tão feliz que nem viu o relógio correr. Já era quase 5 tarde e agora os efeitos do cansaço – somados a uma rotina intensa de exercícios e uma alimentação restritiva ao extremo – pensavam em seus ombros. Sua vista já estava ficando turva mas ela driblava aquela sensação bebendo muita água e chupando balinhas de menta que trouxera. Parecia impecável a qualquer olhar.

Menos ao de Charles Baeckendorf. Seu maior admirador. O garoto tinha como passatempo observar Silena e aprenderá a decifra-la, entender suas emoções. E naquele momento via que ela não estava bem. Ela brilhará a tarde toda, feliz de um jeito genuíno. Era difícil não olhar para ela e sentir-se feliz também, Charles estava alegre por ver Silena daquele jeito.

Mas nas ultimas horas ela já parecia cansada e apagada. Mas, ele consolava-se, de fato era um trabalho exaustivo. Tentou afastar de sua mente o pensamento que julgou protetor ao extremo.

Voltar a olhar sua Silena. Ela era a mais sublime criatura que já havia visto. Linda como nada no mundo poderia ser. Se deuses existissem ela sem duvidas seria a personificação de Afrodite, a deusa da beleza. Era radiante, pura e genuína, algo incomparável. Charles sentia-se mínimo perto dela e odiava isso. Toda vez que estava perto da perfeição encarnada de Silena, sentia como se todos os seus defeitos saltassem.

Olhou suas próprias mãos e suspirou. Poderia ele dar uma vida boa a Silena? Ser bom para ela? Ela não teria vergonha de andar com alguém como ele? As inseguranças batiam forte em sua mente e era impossível para ele fugir delas. Queria estar com ela, dizer que a amava mas não sentia-se digno de amar ela. Ele era um reles mortal e ela era... Silena Beauregard.

Voltou a encarar a menina, que estava sentada num sofá branco, perfeita em um vestido vermelho. Quase teve que desviar o olhar, ela era tão linda. Sorriu. E não era só si, Silena era mais linda por dentro do que por fora, se é que isso fosse possível.

Viu quando ela levantou do sofá e viu também quando ela cambaleou. Charles não controlou mais seu corpo, deixou os pés correrem até a menina e, por graça divina, chegou nela antes que desmaiasse. O corpo da menina desfaleceu nos braços de Charles, que, com olhos arregalados e sangue frio, estancou.

—Silena? –A voz saiu num gaguejar. O corpo arrepiado. Medo

A ultima coisa que Silena viu antes da consciência deixar-lhe foi os lindos olhos de Charles, assustados a encarando. Queria ter forças para sussurrar que o amava mas de sua boca saiu apenas alguns grunhidos.

Ali, com Silena desmaiada em seus braços, Charles entendeu o que “desespero” significava.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Só para que fique claro, Silena desmaiou por culpa da falta de alimentação, o cansaço foi o potencializador. Vamos ver o desenrolar a partir daqui!

Até o próximo ♥