Desajustadas escrita por KitKatie


Capítulo 28
Pai


Notas iniciais do capítulo

Olá! Finalmente o capítulo, eu disse que dessa vez era para valer (até escrevi mais do que a minha média o)
Antes de mais nada, eu agradeço as lindas da Manu e da Madu (rs) pelas lindas recomendações, elas me encheram de alegria :)
Bom, o cap anterior não oficial era um aviso e isso é contra as regras do site, portanto tomei uma advertência e tive o cap excluido. Desculpe aqueles que não respondi :

Sem mais delongas, vamos ao capitulo, que na minha opinião é um dos mais emocionantes rs :v
Espero que gostem!
Boa leitura ♥



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Thalia não respirava. Os olhos cheios de lagrimas e o corpo estático.

Ninguém falava, mas o silêncio ali era ensurdecedor. A poça de sangue já tomava proporções enormes, a ponto de quase chegarem aos sapatos de Thalia. E foi essa percepção que fez a garota cair na real e arregalar os olhos.

—Silena, chama uma ambulância, agora. –Sua fala mal passou de um sussurro e no estado catatônico que a colega se encontrava, com os lábios pressionados e o olhar perdido, quase morto, sabia que ela não a ouviria. –SILENA, AJUDA, AGORA. –Seu berro pareceu despertar a garota que mais do que rapidamente pegou seu celular e discou por ajuda.

Thalia lançou um olhar cortante para o pai de Katie, mas não tinha tempo para cuidar dele agora, apenas agachou-se ao lado da amiga e após ter certeza que a mesma ainda estava viva sussurrou que tudo iria ficar bem. Era uma promessa e os Grace jamais quebravam suas promessas.

Suspirou, limpando os resquícios de lagrimas nos seus olhos e ao ver Silena se ajoelhando-se ao lado de Katie enfim levantou-se e andou ate o pai dela. E com fúria contida, questionou:

—Por que fez isso? –Mesmo cara a cara o homem parecia perdido, seu olhar era vago e ele nem parecia em sintonia com a terra. –EU ESTOU FALANDO COM VOCÊ, SEU IMBECIL. QUAL É A PORRA DO SEU PROBLEMA? ELA É SUA FILHA, SEU MONSTRO DE MERDA.

Berrava enquanto torcia o colarinho do homem e segurava-se para não soca-lo, apenas por respeito a Katie. Sentiu Silena puxa-la e segurar sua mão com delicadeza.

—Se algo acontecer a Katie... –Silena começou, com a voz chorosa. –Eu faço questão de destruir a sua vida, está me entendendo?

Porém ele mal expressava reação.

Ao fundo uma sirene soava e Thalia rezou, com uma fé que nem sabia possuir, que desse tempo.

Viu enfermeiros entrando e rapidamente atendendo Katie. A colega mal reagia, parecia uma boneca, toda mole, aquela visão fez o estomago de Thalia revirar-se.

—Precisamos do responsável da garota. –Um dos socorristas disse enquanto colocava Katie dentro da ambulância.

—Essa imbecil foi mexer na dispensa e uma garrafa caiu na cabeça dela, sempre foi desastrada. –O homem disse, com uma tranquilidade absurda. –Onde eu assino?

Thalia podia vomitar ali mesmo. Até onde o cinismo desse homem iria? Seu corpo formigava, ela queria desmenti-lo, fazer ele pagar. Mas sabia que isso podia piorar tudo, Katie não queria aquilo, por enquanto respeitaria o desejo da amiga.

—Isso não vai ficar assim, pirralha. –O homem sussurrou ao passar por si e Thalia quis rir com desgosto, ele ainda por cima tinha a coragem de ameaça-la.

 Tudo passava como um filme borrado, era como se tudo aquilo não passasse de um pesadelo borrado e Thalia nunca quis tanto que fosse. Sua mente estava letárgica, como se tivesse bebido.

Ouvi as sirenes e sabia que estava dentro da ambulância, segurava a mão de Silena e só percebeu que chorava quando um soluço escapou de si. Estava assustada, aterrorizada.

Sempre detestou seu pai mas sabia que ele nunca faria nada para machuca-la. Sentiu-se culpada por tantas vezes reclamar de sua família para Katie...

Silena parecia na mesma que si, ela chorava copiosamente e parecia desesperada.

Ouvia a conversa dos médicos ali mas não entendia os códigos. Apenas torcia para sua amiga vivesse, precisava de Katie ela era sua melhor amiga, seu alicerce, a primeira pessoa que a entendeu sem julga-la. Gostaria de poder dizer a Katie o quanto ela era importante.

Sentiu seu celular, quem lembrava estar com, vibrar e o ignorou. Porém quem ligava era insistente e assim que o colocou ao lado do ouvido ouviu a voz grave de Zeus soar.

—Onde você está? Luke está aqui ele disse que... –Ia dizendo mas se interrompeu ao ouvir um som de fundo. –Thalia que som é esse? É uma sirene? Você foi presa? –Sua voz tornou-se dura.

—É uma ambulância. –Sua voz estava fraca e embargada, Thalia detestava mostrar seu lado frágil, mas naquele momento daria tudo para receber um abraço de seu pai.

—Ambulância? –A voz de repente adquiriu um traço de preocupação. –Você está chorando? THALIA? –Ele berrou esperando que Thalia respondesse mas a menina apenas fungou e ao fundo um enfermeiro berrou:

—ESTAMOS PERDENDO O PULSO. –Nesse momento Thalia segurou um berro e o som parecia uma engasgada e isso foi suficiente para Zeus desesperar-se.

—THALIA? –Ele berrou mais uma vez e a menina apenas desligou o celular, permitindo-se chorar, dessa vez livre.

Não sabia dizer em que momento chegaram ao hospital, apenas sabia que estava ali, abraçada a uma Silena que chorava já mais fraco. Thalia não chorava, mas o seu desespero ainda era o mesmo, o olhar vazio para o chão com cheiro de álcool a entregava.

Mordeu o lábio e uma série de pensamentos aleatórios preencheu sua mente. Sequer pensou na ligação com seu pai, apenas lembrava vagamente de uma menção a Luke, mas naquele momento, pensava apenas em Katie.

Nunca fora do tipo religiosa, mas naquele momento poderia se ajoelhar para implorar a todas as divindades para que sua amiga ficasse viva.

A cada médico que cruzava o corredor, uma esperança. Apenas queria que um deles viesse até si e dissesse que sua amiga ficaria bem, viva e bem. Seria capaz de dar todo o dinheiro possível.

Por um momento pensou sobre a conta do hospital, sabia que Katie passava por dificuldades, mas logo abandonou o pensamento, ela não era rica atoa, pagaria aquilo mesmo que tivesse que rastejar a Zeus.

Logo seus pensamentos pararam no causador daquilo. Thalia sentiu seu sangue ferver ao pensar naquele desgraçado que nem mesmo estava ali. Como ele podia causar todo aquele mal a um garota tão delicada como Katie? Precisava não ter coração para conseguir encostar nela com intenções maldosas.

Sentia vontade de chorar de raiva. Thalia sabia onde ele estaria agora. Em um bar.

Thalia viveu aquilo. Sua mãe era exatamente como o pai de Katie. Ela podia não machuca-la fisicamente mas as torturas psicológicas eram piores que uma surra bem dada. Grande parte de suas cicatrizes eram causadas pela mulher que mais deveria ama-la.

E naquele momento, sentada em um banco duro de uma recepção de hospital cheirando a desinfetante e com uma Silena desestabilizada ao seu lado que Thalia percebeu que ela e Katie eram muito mais parecidas do que imaginava.

Thalia olhou para o lado e teve a constatação de que Silena chorara até cair no sono. Por longos minutos analisou a garota ali e quase soltou um riso amargo, durante quase toda sua vida quis ser exatamente como Silena, linda, delicada, feminina, sociável e perfeita. Silena era exatamente a definição de perfeição, a definição que seu pai defendia.

Olhando ela assim, tão exposta, Thalia percebia que Silena estava longe de ser a patricinha que sempre imaginou que ela fosse. A sua preocupação com Katie, o modo de a segurou para não cometer nenhuma besteira, aquela garota tinha bem mais sob a faixada.

Olhou para o corpo dela e suspirou. A quanto tempo Silena não comia?

Não precisava ser um gênio para perceber que a garota tinha algum distúrbio alimentar. O corpo dela tinha uma magreza que não era natural. Sua pele era ressecada, mesmo que ela tentasse encobrir sob camadas e mais camadas de cremes caros, seus cabelos também, uma fraqueza doente escondida sob hidratantes. As unhas levemente descascadas e quebradiças comprovavam sua teoria. Silena era anorexia.

Thalia sabia muito sobre essa doença. Nunca admitiria a ninguém, mas já se encontrou várias e várias vezes sentada no chão do banheiro enquanto forçava o próprio vomito. Durante sua pré-adolescência ela queria tanto agradar seus pais que parou de comer apenas para ter o corpo padrão.

Suspirou. Silena era uma atriz e tanto. Se Thalia não conhecesse com clareza os sintomas talvez não reparasse. Perguntava-se a quanto tempo a garota passava por tudo aqui sozinha. Quando essa confusão acabasse sentaria e conversaria com Silena, de amiga para amiga.

Fechou os olhos e mais uma vez retornou seus pensamentos a Katie. Já estava há pelo menos 1 hora naquele hospital e ninguém havia vindo falar sobre o estado que a garota se encontrava. Era uma espera agoniante. Sentia vontade de correr até a sala onde quer que Katie estivesse, arrombar a porta e exigir noticias sobre a amiga.

Viu Silena remexer-se a abri os olhos.

—Cade a Katie? –Perguntou, com uma ponta de esperança o suspiro que Thalia soltou foi suficiente para quebrar o brilho em seu olhar.

—Ainda sem noticias. –Thalia disse e Silena sentou-se, viu-a colocar as mãos sobre o estomago e fazer uma careta. –Com fome?

—Não muita. –Silena soltou um sorriso, Thalia sabia que era falso, mas não era momento para aquilo.

—Tem um restaurante lá embaixo, pode ir se quiser. Eu fico e te chamo assim que conseguir noticias. –Thalia tentou sorrir de modo reconfortante para Silena, mas o máximo que conseguiu foi uma careta amarela.

Silena assentiu e apenas pediu se Thalia não queria nada e após ve-la negar e jurar que a chamaria no momento em que falassem sobre Katie, saiu, indo pela direção oposta a do refeitório.

Thalia quis falar algo, mas apenas encolheu-se na cadeira. Ver Silena se torturando machuva a si. Ver Silena daquele jeito a lembrava anos atrás, quando ainda tinha esperança de ser a filha perfeita. Lembrava da época que culpou-se por não ser a filha perfeita e acreditou que a culpa do divorcio fosse sua. Da época que viu a mãe afundar-se nas drogas...

Sem que pudesse evitar já chorava.

Queria ajudar Silena, mas como poderia? Não conseguiu ajuda a única amiga. Não conseguiu ajudar a si mesma.

Thalia era patética.

Às vezes questionava-se era mesmo necessária ali. Tudo que fazia era estragar tudo. Nunca conseguia ajudar ninguém. Era um peso morto ali e detestava isso.

Olhou para os próprios pulsos, pousando nas finas cicatrizes ali, cortes verticais. Nem mesmo conseguiu se matar quando queria. Patética.

Levantou-se e sentiu um leve incomodo nas pernas, precisava caminhar pelo menos um pouco. Ficar ali, apenas sentada, lhe faria pirar.

Porém mal conseguiu dar dois passos antes de ouvir berros de uma voz familiar a si.

—EU EXIJO VER MINHA FILHA. –Zeus, com toda sua postura em um terno caro, berrava com a recepcionista, que parecia a ponto de chorar.

—Zeus. –Thalia disse parando perto dele porém não pode dizer nada logo sentiu um impacto de outro corpo contra si. Braços circularam seu corpo e um perfume conhecido lhe invadiu as narinas. –Luke? –Disse com um fio de voz, confusa.

—Você está bem, meus deuses, Thalia. –Ele sussurrava, apertando-a contra seu corpo. –Você não faz ideia do que eu passei. Quem deixou você me assustar assim, garota punk?

—O que...? –Thalia não entendia.

—Você podia ter ao menos dito que a ambulância não era para você. –Zeus parou ao seu lado, esfregando as têmporas, vendo sua filha, sem reação, ser abraçada. Tentou disfarçar o suspiro de alivio ao vê-la bem.

A ficha caiu para Thalia e ela lembrou-se do telefone. Sorriu amarela para o pai e sentiu o aperto contra Luke diminuir, ele estava cara a cara com ela.

—Você estava chorando... –Ele falou de um modo preocupado, passando os dedos pelos rastos das lagrimas. –Por que está aqui? O que aconteceu?

—A Katie... Minha amiga... Ela... –Thalia gaguejava, não sabia como explicar. –Ela se machucou. –Só conseguiu responder após respirar profundamente. Não podia contar o que aconteceu ali, sabia a proporção que a situação tomaria.

—Como? –Seu pai questionou.

—Ela foi abrir um armário e uma garrafa mal colocada caiu na cabeça dela. –Thalia comentou baixo, já sentindo vontade de chorar novamente. Detestou usar o mesmo discurso que aquele monstro, mas não conseguiu pensar em nada convincente a tempo.

—Como você soube que ela estava lá? Você não deveria estar em casa fazendo trabalho? –O tom de Zeus era levemente acusador. Thalia mordeu os lábios e tentou se separar dos braços de Luke, porém ele apenas a segurou contra si, como se quisesse uma prova de que ela estava realmente ali e bem. 

—Eu estava fazendo, mas a Silena me ligou desesperada e eu fui até lá. –Thalia respondeu e antes que ele perguntasse completou. –Eu pulei a janela, achei que se você me visse correndo desesperada ia me impedir pra pedir onde eu estava indo. Não podia demorar.

—Silena? –Zeus parecia não ter prestado atenção em nenhuma outra palavra. –Silena Beauregard? A filha de Afrodite?

Mesmo sem ter certeza de que era, Thalia apenas assentiu e viu seu pai abrir um sorriso.

—Gosto dessa garota. Ela um bom exemplo

Thalia queria socar seu pai, sua melhor amiga podia estar morrendo naquele momento e ele se preocupava com os bons exemplos para Thalia?

—Você disse que a Katie se machucou... –Luke disse. –Katie Gardner? –Thalia assentiu, desconfiada, e o viu arregalar os olhos e sussurar. –O Travis vai surtar... –Se não estivesse colada nele não teria ouvido.

—O que o Travis tem haver com isso? –Thalia apenas sabia que ele estava procurando pela garota.

Luke a soltou e pegou seu celular. Thalia, mesmo que não fosse admitir, preferia o calor dos braços de Luke de alguma forma sentia-se protegida. Luke havia ligado para Travis e Thalia ainda não entendi o que estava acontecendo.

Olhou para Zeus e viu ele com uma expressão pensativa.

—Sua amiga... Ela é filha de quem? –Ele questionou, hesitante.

Thalia parou para pensar alguns segundos, apenas sabia quem era o pai de Katie, o monstro. Analisando melhor, Katie nunca falou sobre sua mãe, assim como Thalia, talvez ela tivesse problemas com a mãe.

—Não sei muito sobre a família dela. –Thalia sussurrou.

—Ela tem cabelos castanhos, sardas e olhos verdes, não é? –Zeus questionou de forma amargurada.

—Como você sabe? –Thalia arregalou os olhos.

—Eu não quero mais você sendo amiga dessa menina. –Zeus rebateu firme.

—O que? –Thalia olhou para o pai confusa, já com uma leve raiva

—Você não sabe de quem essa menina é filha. –Zeus disse olhando para o lado, com uma leve raiva contida no olhar.

Thalia arregalou os olhos, seu pai sabia sobre aquele monstro?

—Eu sei. –Thalia disse com a voz amargurada. –Eu sei muito bem de quem ela é filha.

—O que? –Zeus arregalou os olhos. –Thalia, seja lá o que aquela mulher tenha falado... É tudo mentira... Eu juro que tentei ajudar ela, mas ela era teimosa, cismou que ia criar a menina sozinha e...

—Espera, do que você tá falando? –Thalia arregalou os olhos dando um passo para tras, ele conhecia o monstro que era o pai da Katie e ainda assim não fez nada?

—Thalia, eu tentei de toda a forma me aproximar da menina, mas eu não podia arruinar meu casamento... –A voz dele ia abaixando.

—O QUE? –Thalia berrou entendendo o que se passava ali. Luke já a olhava, o telefone desligado, até mesmo podia ver Silena ao canto. –Você... Você tá... Tá dizendo que...

—Thalia, eu sinto tanto... –O homem disse e tentou encostar na filha, porém ela desviou, em seu olhar o nojo estampado.

—Você e a mãe dela...? –Thalia balbuciou, nervosa.

—Eu... –Zeus não sabia como responder, não estava pronto para abrir o jogo com Thalia, aquilo era um segredo que escondia a sete chaves de tudo e todos.

—ME RESPONDE, ZEUS. –Thalia berrou já sentindo os olhos encherem de lágrimas. –Você é o pai da Katie?


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Notas finais do capítulo

~corre

O que acharam? :v
Lembrem de expor suas opiniões nos comentários ^^

Perdoem os eventuais erros que passam :)

Espero que tenham gostado
Vale lembrar, Desajustadas voltou para ficar ^^

Vejo você no próximo cap ♥