A Escuridão Escarlate escrita por Tris Z


Capítulo 2
Capitulo 1




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Eu não precisava olhar pela janela para saber que estávamos pousando. Eu já sabia disso, e acreditem, não era porque o piloto tinha acabado de avisar. Eu podia sentir. Podia sentir em cada partícula de meu corpo que eu estava finalmente em casa.

O avião pousou sem problemas. Sem preocupações. Levantei e peguei minha mala que estava guardada no compartimento superior, sendo seguida pelos meus irmãos: Stefan e Damon Salvatore.

Stefan havia ficado quieto a viagem inteira, coma exceção de seus raros sussurros. Damon, no entanto,estava distraído com suas conversas consigo mesmo, e com a pequena garrafa de metal que trazia junto a si. Eu tinha certeza que o liquido dentro dela possuía algum teor alcoólico.

Levávamos uma boa vida na Itália. Eu sabia que Stefan não queria ter vindo, mesmo nunca tendo dito isso em voz alta, seus gestos o denunciavam.  Mas eu não tinha escolha, o tempo nunca foi um bom amigo para mim e minha família, voltar para casa, era algo que não deveríamos adiar mais. Tampouco, eu gostaria de estar aqui, na America, em uma cidadezinha remota e pacata do interior, estudando outra vez, repetindo tudo outra vez, como um disco arranhado.

Embora, eu e meu irmão mais novo, não estivéssemos nem um pouco satisfeitos com essa mudança repentina, Damon estava estranhamente alegre com os novos ares.  E eu suspeitava seriamente que isso tivesse haver com os bares e com os novos pescoços a sua disposição.

Deixei que esses devaneios percorressem a minha mente enquanto esperávamos o vôo de Portland para Forks.

                    **********************

Stefan dirigia calmamente pela estrada, havia lhe dado as chaves sabendo que dirigir o acalmaria. Damon estava sentado no banco de trás com garrafa próxima aos lábios, enquanto cantarolava uma melodia dramática. Revirei os olhos em ironia, e voltei a encostar no banco. Deixei que meus olhos vagassem pela paisagem esverdeada de Forks e comecei a dizer:

— Nós vamos nos acostumar com Forks. Conversei com Zack, a pensão dos Salvatore é nossa, e os quartos nossos ainda estão intactos... Mais ou menos... Ele reformou umas partes já que estavam caindo aos pedaços... E dá para chegar rápido até a escola...

— Owh, owh, owh. Você não vai me forçar a ir a escola, não é?

Abri um sorriso tranqüilo.

— Não. Não vou fazer você ir à escola. Até porque sei que isso seria inútil.

Ele deu uma fraca gargalhada e Stefan revirou os olhos

— Fique tranqüila Bella. Tudo vai dar certo.

Assenti com a cabeça, e torci para que Stefan estivesse certo.

**********************

O carro parou ao meio fio, em frente a o que nestes próximos anos chamaríamos de lar.

— Quando você disse ” caindo aos pedaços” eu não imaginei que fosse tão serio! — zombou Damon, enquanto saia do carro.

Resisti ao impulso de revirar os olhos.

— Não seja estraga prazeres. A casa esta em perfeito estado. — falei em uma animação forçada enquanto caminhava até a porta da frente.

— Se você diz. — disse Stefan enquanto se aproximava com as malas na mão.

Eu sorri para os dois, saiu um pouco forçado.

— Se animem! A garagem é grande o suficiente para caber seus carros.

Damon arqueou a sobrancelha.

— Até o meu?

— Sim.

Pela primeira vez desde o começo da viagem, eu vi meu irmão sorrir.

— Então para mim já é o paraíso — zombou

Bufei e procurei as chaves no bolso de minha calça.

 Antes mesmo que conseguisse achar as chaves, a porta se escancarou revelando Zack, um parente distante que restara. Um humano.

Sorri calorosamente para ele, meu sobrinho — ou quase isso, já que ele era novo demais para ser sobrinho de alguém com 164 anos — retribuiu o gesto. Zack olhou para meus irmãos que esperavam que uma simples palavra saísse de seus lábios.

O olhei suplicante. Tínhamos feito um trato.

— Entrem.

La dentro, Damon vasculhava toda a casa, enquanto eu e Stefan subíamos para o segundo andar em busca dos quartos.

Meu quarto apesar de grande, era simples. De um lado havia uma pequena parede com prateleiras cheias de livros, do outro lado, uma escrivaninha com um pequeno computador; encostada com lençóis escuros, a minha cama, e abaixo da janela, uma singela e adorável cadeira de balanço.

Suspirei, satisfeita.

Sentei-me na cama e coloquei a mala ao meu lado. Comecei a desfazê-la, sabendo que ela ficaria guardada por um bom tempo.

Desci as escadas em direção a sala. O cômodo era extravagante, com seus papeis de paredes antigos em tons de vermelho, os moveis do século passado e os enormes lustres, além é claro, do assoalho de madeira. Em um dos corredores, pendurados lado a lado estavam antigos retratos de mim e meus irmãos. Havia quatro quadros de 1864, da época em que a humanidade corria por minhas veias com o sangue sendo pulsado por meu coração. Uma era de Damon, outra de Stefan, de nosso pai já falecido, Giuseppe, e finalmente, uma minha. Mas não foram elas que chamaram minha atenção, mas sim, a pequena foto que se mantinha presa na moldura de um dos quadros. Observei-a de perto.

A foto era antiga, da década de 30 — em preto e branco. Estávamos abraçados um ao outro, sorrindo abertamente. A memória do dia reviveu como se houvesse ocorrido ontem. Era um dia feliz, tínhamos acabado de chegar a Inglaterra, não havia nenhum indicio de guerra, a única coisa que existis era a oportunidade de uma nova vida, ou o mais perto disso.

Minha historia não é bonita. Na verdade, nunca foi. A mais de 150 anos atrás, eu e meus irmãos passamos pelo maior trauma de nossas vidas, sendo caçados por bestas, vendo sangue escorrer do corpo de entes queridos e sentir a morte na pele. Vivendo num tormento angustiante, esperando pelo nascer da aurora e torcendo fervorosamente para que o nosso coração continuasse a bater. Era tremendamente irônico que mesmo depois da morte, o coração ainda ressoa-se no peito.

Depois de tudo isso,quando finalmente descobrimos o que éramos ,nos separamos. Damon e Stefan nutriam um ódio um pelo outro que nunca compreendi, na verdade eu odiava a razão de tudo isso: Katherine.

Levou décadas para poder conseguir que meus irmãos fizessem as pazes, embora hoje nenhum dos dois possui-se uma boa relação, morávamos juntos como uma família.

Morar juntos, no começo, foi um desafio. Na época,quando éramos humanos,tudo era mais fácil. Levávamos uma rotina diferente, as coisas eram diferentes e além de tudo, nosso pai ainda estava vivo. A maior dificuldade acabou se tornando nossas peculiaridades. Stefan e eu, com nossas dietas vegetarianas e Damon com sua insaciável sede por sangue humano. Damon com seu jeito desapegado e brincalhão e o meu humor explosivo e sério. Tudo com o tempo acabou se tornando uma bela mistura. Naquela década de 30, acabávamos de perceber aquilo.

 Com o tempo, viajamos de um lado para outro, mas infelizmente, nossos corações possuíam uma ferida aberta que jamais havia se curado. Voltar para casa era a única maneira de fechar. E era exatamente por isso que estávamos em Forks.

Suspirei, apoiando a foto outra vez na moldura.

— Gostou da foto? — questionou Stefan, entrando na sala.

Acenei com a cabeça em concordância.

— Foi você que a trouxe?

Ele assentiu

— Achei que fosse apropriado. É o lugar dela.

Sorri. Sim, minha família pertencia a esse lugar.

— Sim — sorri outra vez, de uma forma melancólica. — É o lugar dela.

**********************

Primeiro dia de aula.

Eu nunca encontrei sequer um resquício de medo ao dizer essas simples palavras. Na verdade, a única coisa que vinha mente ao dizer essa frase, era tédio.

Sem vontade alguma, desci as escadas e me deparei com Damon, que segurava uma garrafa de uísque em uma mão e um copo cheio com gelo na outra.

— Como vai Bella?

— Já de manha Damon?— disse apontando para a bebida

— Bom dia para você também.

Revirei os olhos e lembrei-me da sua ausência na noite de ontem.

— Você não deixou nenhum rastro ontem deixou? Sei que caçou.

Ele cerrou os olhos

— Não — ele falou — Não deixei nenhum rastro.

Não precisava de muito para saber que ele dizia a verdade.

— Ótimo — falei pegando a garrafa de uísque.

— Ei... — Damon grunhiu enquanto eu sumia dentro da cozinha.

Stefan apareceu no momento que as ultimas gotas da bebida alcoólica escorriam pelo ralo da pia. Ele ergueu a sobrancelha e não disse nada, apenas me seguiu para a garagem e ligou o carro.

**********************

O carro protestou com a tentativa, vã, de Stefan ao acelerá-lo, e meu irmão caçula — geralmente sério e concentrado — grunhiu frustrado.

Eu ri da situação.

— Porque você comprou essa lata velha?

Revirei os olhos

— Você tem alguma idéia melhor?

— Oh, eu não sei. Talvez devêssemos usar o meu carro.

Neguei com um movimento de cabeça.

— Isso chamaria a atenção. Temos que nos misturar.

Stefan me olhou com ceticismo.

— Você esta falando sério? Como não vamos chamar a atenção com esse trambolho?

— Eu fiz minhas pesquisas — respondi — A maioria dos carros são antigos.

— Mas há esse ponto? Ele mais velho que eu!

— Não exagere — desdenhei — O carro foi construído na década de 50.

Stefan bufou

— Tudo bem. Mas não podia ser um carro que ultrapassasse 80 quilômetros por hora?

O ignorei.

— Contente-se. Você vai usá-lo muito daqui para frente.

Com um suspiro frustrado, eu sabia que havia ganhado a breve discussão. Depois de um tempo, Stefan me olhou com curiosidade.

— Quanto você pagou por essa geringonça?

Reprimi a risada que tentou escapar pelos meus lábios.

— Cinqüenta pratas.

Ele fez uma expressão que misturava surpresa e incredulidade.

— Tudo isso? Essa picape não vale nem a metade.

— Foi um bom preço. — argumentei

— Só para você. — ele zombou.

Continuamos nossa conversa animada até chegar a escola. Onde começaríamos uma nova vida.

Ou era o que eu me forçava acreditar.

 


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