Jet Black Heart escrita por Rocker


Capítulo 1
Capítulo Único




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Jet Black Heart - SOUNDS GOOD FEELS GOOD

Capítulo Único

Written by Rocker

Abri a porta do meu apartamento em Nova York e suspirei.

A pior parte do meu dia sempre foi chegar em casa e perceber o quão vazio ele ficava sem ele. Meu coração ficava vazio sem ele.

Tranquei a porta e andei a passos curtos e preguiçosos até a mesinha que ficava logo abaixo da televisão de plasma pendurada no painel da parede. Tirei o único par de saltos altos que eu tinha e o deixei ali ao lado, já enfiando os pés nas pantufas de pinguim que ele me dera. Apesar do meu trabalho ser algo bem liberal, às vezes a empresa exigia que eu me vestisse mais socialmente em eventos de maior porte.

Depositei minha câmera sobre a mesinha e logo minha atenção foi para o porta-retratos colocado estrategicamente no centro dela. Eu parecia tão pequena perto da exuberância e da beleza dele. Cabelos loiros brilhando contra o sol e olhos azuis, que deveriam estar focados na câmera que Michael segurava, estavam focados em mim. O sorriso quase infantil brincava em seus lábios finos, e o piercing em seu lábio inferior fazia-me reviver bem aquele dia, no qual brinquei com ele, mordendo-o logo em cima, assim que a foto fora tirada, daquela mesma câmera que eu tinha colocado sobre a mesa.

Meu coração sangrou. A dor de não o ter ali mais comigo se tornava quase fixa sempre que eu via seu rosto em uma das milhares de fotografias que eu tinha espalhadas por todo o apartamento – ser fotógrafa queria dizer também que seu apartamento também se transformava em um estúdio particular.

Dei as costas ao porta-retratos quando percebi que meus olhos ameaçavam marejar. O que eu menos precisava naquele momento era minha própria piedade. Mas foi difícil – impossível, na verdade – evitar que lembranças surgissem à mente assim que me deitei no sofá da sala.

 

Everybody's got their demons

Even wide awake or dreaming

I'm the one who ends up leaving

Make it okay

 

Mais uma vez eu acordava soando, mesmo que do lado de fora do meu apartamento e sem meu aquecedor, Nova York devia fazer cerca de dez graus.

Vê-lo se afastando de mim na escuridão do meu mais terrível pesadelo e me enxotando de sua vida com o desprezo quase palpável em sua voz feria meu coração e arrancava uma parte dele. Consequência disso eram as madrugadas que eu passava em claro – e já estava quase me acostumando a isso. A parte que restava de mim era queimada viva ao perceber que meus demônios reais me seguiam até mesmo nos momentos que eu pensava que teria paz.

Naquele dia, porém, eu não ficaria à janela do meu quarto, sozinha com uma barra de chocolate e uma caneca enorme de café – meus fiéis aliados contra o sono e toda uma nova sequência de pesadelos que se seguiriam caso eu não resistisse à batalha e me entregasse à minha cama.

Não, nada disso aconteceu aquele dia.

Naquele dia, ele estava ali comigo.

— Ei, calma, amor, por favor. – ao ouvir sua voz, meu coração acalmou sua turbulência e meu olhar foi atraído para suas orbes azuis como se fossem ímãs. – Eu estou aqui.

— Ah, Luke! – exclamei, abraçando-o forte e tentando ter a certeza de que ele estava ali comigo. De que sempre estaria. – Foi terrível... – era tudo o que eu conseguia resmungar, tentando não deixar que os soluços me dominassem.

— Shh, calma. – ele sussurrou contra meus cabelos, enquanto os acariciava.

Um soluço irrompeu por minha garganta e isso pareceu funcionar como alavanca para ele. Luke deitou-se novamente ao meu lado na minha cama de casal, puxando-me contra seu peito e começando a cantarolar. A melodia em sua voz alterava tudo dentro de mim, desregulando meu sistema e meus pensamentos. Quando reconheci os versos, todo o meu controle foi pelos ares e todo o amor que eu sentia por aquele homem implodia para dentro de meu peito antes de explodir por todo o meu ser como uma bomba – inevitável, imponente, imutável e avassaladora.

Era minha música favorita, pois era a nossa música.

 

See a war I wanna fight it

See a match I wanna strike it

Every fire I've ignited

Fade into grey

 

À medida que as lembranças vinham, as lágrimas seguiam seu curso por meu rosto. Era inevitável. Eu podia tentar bloquear seu rosto em minha mente, mas tudo nesse apartamento – as fotografias espalhadas, o sofá onde o obriguei a dormir uma vez, o quarto que dividíamos todas as vezes que ele vinha me ver, até mesmo seu cheiro ainda impregnado em alguns objetos – fazia-me lembrar do único homem que já amei e poderia amar na vida.

Levantei-me do sofá, tonta de repente pela falta de força; chorar sempre tirava todas as minhas energias. Queria não sentir aquela dor do coração. Queria que meu coração fosse um enorme buraco negro. Ou apenas negro como a solidão e frio como a noite. Bastava qualquer coisa que não me fizesse sofrer como eu sofria.

Cheguei ao quarto, tentando ignorar a nova pontada em meu peito. Eu deveria estar acostumada a elas quando entrava no cômodo que se recusava a admitir a ausência de Luke. Seu cheiro, apesar de fraquíssimo pela última vez que lancei um jato de seu perfume esquecido no ar, ainda estava ali. Contrariando todas as minhas vontades, meu corpo levou-me até a mesa de fotos. Ele a chamava assim por estar sempre lotada das fotografias que eu tirava – cada uma delas representando uma ideia diferente, um sentimento diferente e um objetivo diferente.

Meus olhos bateram instantaneamente na foto que se encontrava no extremo canto esquerdo, ameaçando cair da mesa.

Luke me abraçava por trás, enquanto eu, numa falha tentativa de criar uma selfie com uma câmera profissional, não conseguia parar de rir. Era uma fotografia simples, sem muitos efeitos e jogos de luzes.

E era uma das minhas favoritas.

 

But now that I'm broken

Now that you know it

Caught up in a moment

Can you see inside?

 

— Não, Luke, para! – gritei, mas sem conseguir que uma risada escapasse de meus lábios.

— Claro que não, não mandei você me sujar! – ouvi sua voz risonha gritando atrás de mim, não tão longe quanto eu gostaria que estivesse.

Tentei apressar meus passos, mas apesar de ser alta, Luke tinha as pernas ainda maiores, então eu já deveria desconfiar que fugir dele não resultaria em mais do que alguns segundos de corrida. Senti seus braços abraçando minha cintura por trás e logo meus pés não tocavam mais a grama húmida.

— Me larga, Hemmings! – exclamei, mas a risada saiu de meus lábios sem minha permissão.

— Como eu disse, não mandei você me sujar!

Tentei me livrar de seus braços, mas não consegui – e também não era como se eu estivesse realmente tentando. Luke enfiou seu rosto em meu pescoço, sujando-me com a torta que eu havia espalhado por seu nariz e suas bochechas. Encolhi-me com a sensação que era ter torta em minha pele e Luke me apertou mais em seus braços.

— Agora eu que estou suja! – reclamei.

— Vingança. – ele disse simplesmente, girando-me para ficar de frente para ele.

Ao olhar diretamente no azul de seus olhos, eu esqueci tudo. O Central Park à nossa volta, a torta que sujava seu rosto e meu pescoço, as cócegas que a grama fazia em meus pés descalços e até mesmo nossos nomes. Tudo o que eu via era a paixão em seus olhos que muito provavelmente espelhavam os meus. E quando ele se inclinou para me beijar, não me importei com mais nada. Naquele momento, tudo o que importava era o gosto de morango que ganhou o beijo e o fato de que nos amávamos. Nos amávamos da forma mais simples e verdadeira possível.

 

Cause I've got a jet black heart

And there's a hurricane underneath it

Trying to keep us apart

I write with a poison pen

But these chemicals moving between us

Are the reasons to start again

 

Eu fui arrancada de meus pensamentos com o som da campainha tocando. Desviei os olhos da minha fotografia e deixei minha bolsa ao lado da cama antes de ir em direção à porta da sala. Nem me dei ao trabalho de olhar pelo olho mágico, já que na maioria das vezes era minha vizinha de 70 anos que vinha sempre ver como eu estava, já que há pouco mais de dez meses eu havia quase entrado em depressão.

Quando eu me deparei com os olhos azuis brilhantes que eu tanto conhecia, porém, percebi que não era a Sra. Cooper.

— Luke?! – arfei, dando um passo atrás.

— Oi. – ele disse na voz rouca que eu não ouvia há dez meses. – Posso entrar?

Engoli em seco as emoções que ameaçavam explodir meu peito e assenti, dando passagem a ele. Assim que ele passou mim, exalando a colônia que eu não cansava de sentir nas poucas roupas dele que ficaram em meu quarto, tive que fazer um esforço ainda maior para não deixar que as lágrimas que eu segurava fugissem de onde estavam. Ou até mesmo que eu fugisse de onde estava.

— O que veio fazer aqui? – perguntei com a voz rouca, ainda de costas pra ele e com a testa apoiada na madeira da porta.

Por algum motivo, eu não podia, eu não queria olha para ele e tornar sua presença ainda mais real depois de todo aquele tempo. Aquilo só poderia ser um sonho ou uma alucinação muito bem feita pela minha mente doente de saudades. Sabia que deixar todas aquelas fotos nossas espalhadas pelo meu apartamento não fariam bem à minha sanidade.

— Vim me desculpar. – ele disse, e ao ouvir sua voz estava mais próxima do que o ideal para manter minha mente sã, percebi porque não queria olhar para ele. No momento em que eu me afundasse no oceano que eram seus olhos azuis, eu estaria completamente rendida.

— Você sabe que aquilo não tem perdão para mim. – eu disse em voz baixa, mas sabia que ele tinha me ouvido.

 

Now I'm holding on for dear life

There's no way that we could rewind

Maybe there's nothing after midnight

That could make you stay

 

— Amor. – Luke me chamou, entrando no quarto onde eu estava deitada, apenas de pijama – que consistia em um short curto e alguma blusa roubada dele. – Precisamos conversar.

Eu sempre odiei essa frase, e nunca pensei que a odiaria ainda mais naquele dia.

— Pode falar. – murmurei com a voz um pouco rouca, por ter acabado de acordar.

Luke sentou-se na ponta da cama, parecendo meio desconfortável, e percebi que a conversa seria realmente séria. Então sentei-me na cama e espreguicei-me, esperando pelo que viria a seguir.

— Estamos... juntos... há alguns meses. – ele começou, com cuidado, e percebi que ele tinha tomado o cuidado para não dizer a palavra namorando e isso me deixou hesitante. – Mas amanhã terei que sair de Nova York e começar a nova tour.

Disso eu já sabia. Tinha medo de saber até onde ele queria chegar com isso.

— E? – incentivei-o quando ele se calou.

Ele suspirou profundamente, e apenas pela sua expressão de pesar eu já entendi o que ele queria dizer antes mesmo de ouvi-lo dizer com todas as letras.

— Acho melhor acabar por aqui. – Luke então finalmente soltou as palavras que colocariam em risco todo o meu emocional pelos próximos meses.

Eu não conseguia fazer nada a não ser encarar os olhos azuis que me observavam de volta, incapaz de proferir uma palavra que fosse. Tudo o que eu tinha, tudo o que eu sentia desmoronava ali, bem na minha frente. Meu coração se apertava e minha respiração acelerava à medida que as lágrimas ameaçavam a sair.

— Por-por quê?! – era a única coisa que eu poderia perguntar naquele momento.

— Eu preciso... – ele pausou, desviando os olhos dos meus e soltando um longo suspiro. – Preciso me concentrar completamente na minha carreira. – e não teria tempo para outra pessoa, acrescentei mentalmente, sabendo que era aquilo que ele queria dizer.

O redemoinho explodiu e eu abaixei a cabeça para que ele não me visse chorando. Então era isso? Depois de todos os nossos momentos juntos, bons e ruins? Depois de todos os “eu te amo” trocados? Depois de todos aqueles meses? Ao que parecia, a resposta era “sim, depois de tudo o que passamos ele estava me dispensando da pior forma que eu já fui dispensada”. E a pior parte? Meu coração não parecia querer aceitar aqui.

— Amor, você está chorando? – ele perguntou quando um soluço teimoso irrompeu por meus lábios, levantando meu queixo para que eu pudesse encará-lo, mas logo me afastei, voltando a abaixá-lo.

Quando ouvi a palavra amor saindo de seus lábios, porém, uma raiva fervente emanou do meu peito para todo o corpo.

— Saia. – murmuro tão baixo que nem mesmo consigo escutar o que falo.

— O que? – ele perguntou.

— SAIA! – berro, apontando para a porta e ainda sem olhá-lo.

Permaneci quieta, chorando silenciosamente enquanto ouvia-o guardar as roupas em sua mochila e controlava a vontade de colocar fogo em tudo aquilo. E então alguns segundos se passam até que eu escuto o som da porta da frente se fechando.

Luke se fora, deixando-me sozinha com minha dor.

 

The blood in my veins

Is made up of mistakes

Let's forget who we are

And dive into the dark

As we burst into colors

We turn into life

 

Eu respirei fundo antes de finalmente me voltar para Luke e encarar o meu passado. O passado que eu não estava preparada para encarar. Seria uma batalha que eu não estava pronta para vencer.

— Depois de todo esse tempo? – perguntei com a voz falha. Eu não estava chorando, mas todas as emoções que eu mantive escondidas durante tanto tempo fazia o bolo em minha garganta crescer ainda mais.

Luke suspirou, dando um passo atrás para longe de mim e deixando a mochila que eu nem percebi que ele segurava no chão.

— Eu tentei, eu juro para você. – ele começou, e minhas mãos começaram a soar frio. Eu estava ansiosa pelo que ele falaria. – Tentei de todas as maneiras esquecer o tempo que passamos juntos, mas parecia impossível. Toda vez que eu olhava pela janela, eu imaginava a que distância estava Nova York. Toda vez que eu olhava para o meu celular, eu tinha que segurar o impulso de te ligar, imaginando que você me odiasse. Mas eu me odeio pelo que eu fiz. Podíamos estar todo esse tempo juntos, trocando mensagens e vídeos e nos visitando o quanto desse. Mas eu preferi ignorar o único sentimento verdadeiro que eu já senti e acabei magoando a única garota por quem eu havia realmente me apaixonado.

Permaneci em silêncio, petrificada. Todas as vezes que eu imaginei-o vindo até aqui para se desculpar e me pedir de volta, em nenhuma delas tinha Luke parado à minha frente à beira do choro e do desespero, dizendo palavras simples, mas que carregavam todas as emoções possíveis. Eu queria muito não acreditar nele, não cair no que podia ser uma armadilha, mas era impossível. Luke me conquistara a primeira vez no show que eu havia ido com minha amiga há mais de um ano, e me conquistava agora, dizendo que eu era a garota que ele amava. Vendo-o ali parado à minha frente, eu me sentia voltando à vida que eu tinha deixado há mais de dez meses.

— Luke, eu... – comecei, mas travei ao perceber que não havia palavras suficientes para expressar o que eu estava sentindo.

Sua expressão se alterou, indicando desespero. Luke deu um passo à frente e segurou meu rosto em mãos à medida que as lágrimas em seus olhos escorriam.

— Por favor, me dê mais uma chance. – ele implorou, a voz baixa e rouca que fez meu coração se acelerar ainda mais. – Olha, eu vim de uma longa tour pensando apenas em ficar aqui em Nova York pelos próximos meses, gastando todas as minhas férias com você, somente com você. – ele encostou nossas testas, e sua aproximação me arrancou o fôlego por um instante. – Eu te amo, e preciso consertar a burrada que fiz com você.

Respirei fundo. Eu já tinha a resposta antes mesmo que ele pedisse.

— Eu posso estar fazendo a maior burrice da minha vida – murmurei, e seu corpo se tencionou, esperando pelas minhas próximas palavras. –, mas eu também quero um recomeço.

Ele suspirou, abrindo um sorriso aliviado.

— Que bom – ele disse, abraçando minha cintura contra seu corpo, fazendo-me arrepiar pela falta que eu tinha sentido desse gesto. –, porque eu não sei o que faria se me dispensasse agora. Já estão todos em Sydney para as férias.

Eu ri junto com ele e, sem aguentar um segundo a mais, puxei-o para um beijo que selaria a promessa de um novo recomeço.

O nosso recomeço.

 

The blood in my veins

Is made up of mistakes

Let's forget who we are

And dive into the dark

As we burst into colors

We turn into life



Cause I've got a jet black heart

And there's a hurricane underneath it

Trying to keep us apart

I write with a poison pen

But these chemicals moving between us

Are the reasons to start again


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