A garota olhou para o grande prédio à sua frente, dando um longo suspiro. Seria eufemismo dizer que ela estava nervosa em seu primeiro dia de aula. Jason, que estava ao seu lado, passou o braço por seus ombros e a guiou para dentro da escola.

Thalia tentava de todo jeito não ficar olhando para os lados, mas era impossível. O único lugar humano que visitara foi a casa de Jason, mas a escola nem se comparava em tamanho. Era incrível para ela, todas aquelas pessoas e coisas para ver.

Jason dissera que ela teria de cuidar dos seus sentidos aguçados, se não enlouqueceria. Por isso, tentava ao máximo não deixar seus ouvidos captarem cada conversa naquele corredor, ou seu nariz cada cheiro.

Avistaram Nico pegando um de seus livros no armário, e Thalia percebeu que realmente era diferente com ele. Algo dentro de si esquentava quando estavam perto, e era como se ela o conhecesse há muito tempo.

— Nico! – Jason chamou. O moreno olhou para eles e Thalia viu os óculos negros em seu rosto. Claro que sabia o que eram óculos, Jason usava-os também, mas nunca tinha visto alguém tão bonito usando-os. E tudo pareceu melhorar quando seus olhos se encontraram e os cantos de seus lábios vermelhos se levantaram, fazendo com que as bochechas levantassem levemente os óculos também. Permitiu-se sentir seu cheiro novamente, ajustando-se para sentir apenas ele.

— Hey! – Exclamou quando se aproximaram, então se virou para Thalia. – Jay me disse que você ia estudar aqui também. E me disse que nunca estudou em uma escola. Espero que goste daqui.

— Obrigada. – Sorriu. – Meu armário é o duzentos e três, sabe onde fica?

— Ali. – Apontou três armários depois do seu. – O de Jason é o do lado.

Thalia sorriu.

— Obrigada. – Agradeceu enquanto caminhava até o que seria seu armário. Sendo seguida pelos dois garotos.

Thalia passou os primeiros cinco segundos pensando em como abriria seu armário. Até que lhe ocorreu que aquele estranho objeto preto era a maçaneta. Portanto, a primeira coisa que fez foi segurar, girar e puxar. A princípio, nada aconteceu. Pensou que ela poderia estar emperrada, então fez um pouco mais de pressão no lugar.

Assim que a porta do armário se abriu, tanto a “maçaneta” quanto uma pequena trava que se encontrava do lado de dentro voaram para longe do armário. E, assim como Thalia, Nico e Jason tiveram que se abaixar para que não fossem atingidos pelos objetos.

— Droga. – Resmungou. Devia ter usado força demais para puxar a porta. Jason lhe lançou um olhar repreensor e ela ergueu as sobrancelhas. Estava irritada, mais com Jason do que com si mesma. Ninguém havia lhe dado um “manual de instruções para abrir o armário”.

— Acho que já estava quebrado. – Disse Jason enquanto pegava, delicadamente, o braço de Thalia e a afastava da multidão. – Pelo amor de Deus, Thalia! Tome cuidado com sua força!

— Ninguém me disse como abrir aquele armário! – Ela rebateu no tom mais baixo de voz possível.

— Só tente não quebrar o novo armário que eu darei um jeito de conseguir para você. – Ele suspirou baixo. – Eu te ensino a abri-lo. – Ele percebeu que Nico se aproximava e mudou completamente o assunto ao encará-lo, fingindo estar falando com Thalia sobre a estrutura da escola. – Eu gostaria de poder te mostrar... Mas tenho que ver o seu armário.

— Eu posso mostrar a escola para ela. – Nico se ofereceu com um sorriso amigo. Thalia, novamente, bloqueou todos os cheiros para se concentrar apenas no dele.

Jason, por um momento, olhou de Thalia para Nico. Por fim, ele assentiu, devolvendo o sorriso de Nico, e caminhou até uma sala no final do corredor. Sobre a porta, Thalia seu a palavra Secretaria.

Ela começou a andar quando ouviu Nico chamá-la, já alguns passos à sua frente. E não deixou de notar o quanto seu sorriso era lindo. Como estava atravessando o corredor novamente, não pôde evitar espiar pelo canto do olho o que deveria ser seu armário, agora sem a trava, o que, consequentemente, fazia com que a porta ficasse escancarada para que todos vissem a maravilhosa obra de Thalia Grace logo em seu primeiro dia de aula!

— Tudo bem? – Ela foi despertada de seu devaneio quando ouviu a voz de Nico. Ele seguiu seu olhar até o armário quebrado e riu baixo. – Ei, Não se preocupe com isso.

— Primeiro dia de aula e eu já destruí o armário da escola! – Ela resmungou. – Nem quero imaginar o que vai acabar acontecendo na metade do ano!

Claro que aquela frase poderia ter mais de um significado. Thalia estava preocupada com vários problemas que poderiam ocorrer durante seu ano letivo. E se ela acabasse se descontrolando no meio da escola? E se ela se transformasse na frente de todos? E se a descobrissem? E se os lobos negros a encontrassem? Pior: e se matassem Nico e ela não pudesse fazer nada?

— Não se preocupe com isso! – Nico deu um sorriso amigável. – Se quiser saber, no meu primeiro dia de aula aqui, puxei a porta do armário com tanta empolgação que a porta soltou e caiu no meu pé.

Thalia deu uma pequena risada, não acreditando no que o garoto contara e, ao mesmo tempo, imaginando a cena.

— Sério? – Ela continuou rindo. – Só pode ser brincadeira!

— Não é! – Nico riu junto com ela. E seu riso era tão bonito quanto seu sorriso. Mais uma coisa em Nico que agradava Thalia. – Meu pé ficou enfaixado por duas semanas! E eu nem comentei sobre quando estava tão apertado que entrei no banheiro feminino por engano!

Dessa vez, Thalia teve que rir mais alto.

~^~

Nico não conteve um sorriso ao ouvir Thalia rir pela segunda vez naquele dia. Só quando saíram da área dos armários que Nico lembrou-se do que estava fazendo: mostrando a escola pra Thalia.

Ele seguiu o corredor e virou quando viu a entrada do ginásio de esportes.

— Aquela ali no fundo é a piscina. – Ele apontou para uma área mais distante quando entraram no ginásio. – A quadra de vôlei fica do lado de fora. – Ele apontou para uma parte externa do ginásio, onde se via apenas a rede de vôlei.

— E a de basquete? – Questionou Thalia.

— Estamos pisando nela. – Nico riu quando Thalia ergueu o olhar, fitando cada detalhe daquela quadra. Parecia extremamente curiosa. – Eu devia ter deixado para mostrar isso por último. – Ele comentou enquanto caminhavam até a saída do ginásio, que dava para o mesmo corredor de antes. Só que, dessa vez, Nico continuou em frente até se deparar com a primeira porta.

— Por quê? – Os olhos azuis de Thalia o fitaram curiosos. E Nico não pôde deixar de se lembrar do lobo que vira na noite anterior. Por um momento, ele se perguntou se veria aquele lobo de novo ou simplesmente se esqueceria dele com o tempo.

— Porque agora vem a parte chata. – Nico riu baixo. – As salas de aula. – Ele a guiou até a primeira porta. – A escola tem uma sala específica para cada matéria. Você já tem seu horário?

Thalia assentiu, tirando do bolso um pedaço de papel cuidadosamente dobrado.

— Jason me explicou algumas coisas. – Ela olhou para o papel. – Minha primeira aula é de química.

— A minha também. – Ele indicou a porta com um grande sorriso, não acreditando na sua sorte. – E essa é a sala de química.

Thalia levantou-se na porta dos pés para olhar pela pequena janela na porta. A sala era composta por várias mesas para duplas. Alguns aparelhos estranhos se encontravam em estantes e um grande quadro negro se encontrava no fundo.

— As aulas são em dupla? – Olhou para Nico com seus grandes olhos azuis, piscando de curiosidade e nervosismo.

— Sim. – Ele sorriu levemente. – Mas antes de você chegar estávamos com um número impar de pessoas. Minha dupla é o Jason, mas se você quiser peço para ele trocar, ou eu mesmo troco.

Ela abriu um pequeno sorriso para o garoto, concordando levemente com a cabeça antes de pronunciar:

— Se não for incomodar, seria maravilhoso! – Uma risada gostosa seguiu-se e Nico teve de rir junto. Sentiu-se, de repente, íntimo o suficiente para segurar sua mão e a puxar para as próximas salas. Seria eufemismo dizer que seu coração bateu mais rápido quando ela apertou levemente sua mão em resposta.

Chegaram à mais uma porta e a morena levantou os olhos, lendo a placa posta estrategicamente para que fosse fácil lê-la.

— Blibi... Blibli... – Thalia franziu o cenho ao tentar pronunciar a palavra que estava escrita. – Como se fala?

— Biblioteca. – Ele riu baixo. – Nunca foi a uma?

Thalia negou. E Nico não pode deixar de se sentir mais intrigado do que antes. E, ao mesmo tempo, mais atraído pela curiosidade que brilhava nos olhos azuis da morena. Por fim, ele abriu a porta da biblioteca e entrou na frente. Ele sorriu ao ouvir Thalia arquejar baixinho quando viu as grandes prateleiras de livros da biblioteca do colégio. Aquela era uma das razões de Nico gostar tanto de estudar lá: a biblioteca de seu colégio era enorme.

— São muitos livros! – Ela olhou ao redor. E Nico riu baixo ao ver seus olhos brilhando. Thalia era extremamente curiosa. – Eu nunca vi tantos em um lugar só!

— E são muito bons! – Nico chegou ao seu lado. – Ainda faltam alguns minutos para começar a primeira aula. Quer dar uma olhada?

Thalia, como uma criancinha, correu para dentro, passando os olhos rapidamente pelos livros, lendo seus títulos. Nico a seguiu com uma risada baixa, indicando-a vez ou outra livros que já tinha lido.