De repente, com se uma lâmpada fosse acesa em cima da sua cabeça, Stiles percebeu o que estava fazendo: seguindo o carro de Lydia, indo para a casa dela, onde passariam horas estudando, sozinhos. Todas as  células do seu corpo o diziam para ir embora, fazer a meia volta e ir para casa. Mas isso deixaria Lydia triste. Ou irritada. Ele não podia fazer isso.  
 
Quando chegaram, Lydia estacionou seu carro na garagem e Stiles, no meio fio. Ele hesitou antes de sair do carro e segui-la até a porta.  
 
— Ok, aqui estamos, - ela disse quando entraram. - Onde você quer estudar? 
 
Stiles deu de ombros.  
 
— Não sei. Onde você faz isso? 
 
— Na minha cama.  
 
— Oook, vamos ficar na mesa da cozinha mesmo.  
 
— Certo, - ela disse. - Só um minuto, vou pegar minhas anotações.  
 
Ele acenou com a cabeça e ela subiu as escadas. Stiles ficou ali em pé por um minuto inteiro antes de ir para a cozinha.  Ele se lembrou do café da manhã que tiveram ali, e ficou com medo de começar a suar de nervosismo. Pelo menos eles ficariam na cozinha. Coisas inesperadas podiam acontecer se ficassem no quarto.  
 
Assim que chegou no seu quarto, Lydia chutou os saltos para fora dos pés e soltou uma respiração pesada. Seu coração, que estava agindo muito bem, dadas as circunstancias, começou a acelerar. Ela achou um elástico na bolsa e prendeu o cabelo num coque bagunçado. Ela andou pelo quarto reunindo tudo que iriam precisar. Se ela parasse para pensar, talvez nem descesse, mas como isso não podia acontecer, ela pegou suas coisas e desceu as escadas.  
 
— Pronto para começar? - ela disse, colocando tudo na mesa e sentando na frente dele.  
 
— Sim, pode começar,- ele respondeu.  
 
XXXXX 
Depois de horas de estudos incessantes, Stiles teve certeza de que ela estava tentando matá-lo. Não era por causa da matemática que enchia sua cabeça. Lydia era uma excelente professora. Conseguia fazê-lo entender todos aqueles números, coisas que nenhum dos seus professores havia conseguido.  
 
O que matava eram as coisas que ela fazia: colocando uma mecha solta de cabelo atrás da orelha, franzindo o cenho, o que fazia aquela marquinha aparecer entre suas sobrancelhas, colocando a mão em seu pescoço exposto, mordendo o lábio enquanto se concentrava. Stiles a assistia como seu filme preferido.  
 
Ele nunca esteve mais agradecido quando ela pediu uma pausa.  
 
— Obrigado, deus,- ele disse, deixando a cabeça cair na mesa.  
 
Lydia riu e levantou-se.  
 
— Tem sorte que estou cansada. Senão fazia isso o dia todo. - Stiles gemeu e ela riu de novo. Seu estômago roncou, lembrando-a que não haviam comido o dia todo. - Está com fome? 
 
Stiles quase pulou da cadeira.  
 
— Estou faminto, - disse.  
 
— É, eu também.- Lydia abriu os armários, procurando. - Mas acho que não tenho nenhum lanche.  
 
Ele franziu a testa.  
 
— Sério? Como você sobrevive sem lanches? 
 
— Eu os comi, gênio. - Ela revirou os olhos.  
 
— Ok, então... - Stiles coçou a nuca. - A gente podia pedir pizza.  
 
— Boa ideia. Você tem... 
 
— Pode deixar,- ele disse, pegando o celular do bolso, teclando rapidamente e colocando-o no ouvido.  
 
— Você tem uma pizzaria na discagem rápida? - ela perguntou, erguendo as sobrancelhas.  
 
Ela a olhou inocentemente.  
 
— Que foi? É bastante útil. - Lydia ia argumentar, mas ele levantou o dedo. - Oi, eu gostaria de... Hey, John! E aí, cara? 
 
Lydia olhou para ele com uma interrogação no rosto. Stiles deu de ombros e formou as palavras "discagem rápida" com a boca.  
 
— Sim, quero uma grande de, hum... - Ele olhou para ela e Lydia sussurrou "nada com abacaxis". Enquanto ele terminava o pedido, ela arrumou o que estava na mesa.  
 
— Ok, obrigado cara,- ele disse e desligou. - A pizza deve chegar em trinta minutos, no máximo.  
 
— Ainda não acredito que você tem uma pizzaria na discagem rápida.  
 
— Por que não? Sou um adolescente! 
 
Lydia revirou os olhos novamente.  
 
— Você não vai ser adolescente para sempre.  
 
— Carpe diem, baby,- ele disse numa voz quase sedutora.  
 
Lydia ergueu as sobrancelhas, surpresa pela atitude, e riu, saindo da cozinha e indo para a sala.  
 
— Quer assistir alguma coisa?- perguntou, pegando o controle remoto.  
 
— Sim, claro. - Eles sentaram no sofá e assistiram a alguns programas de comédia enquanto conversavam sobre coisas aleatórias. Era surpreendente o quanto eles se davam bem, como velhos amigas. As bochechas de Lydia doíam de tanto rir quando a campainha tocou, avisando a chegada da pizza. Ía levantando-se quando Stiles o fez primeiro.  
 
— Não, deixa comigo. 
 
— Tudo bem, - ela disse. Ele foi atender a porta enquanto ela passeava pelos canais, procurando algo para assistir.  
 
Stiles entrou na sala gritando "pizzaaa" num sotaque italiano falso que a fez rir. Ele colocou a caixa na mesa de centro e sentou-se no chão, descansando a cabeça no sofá.  
 
— Os Vingadores? Sério? - ele perguntou, pegando a caixa e oferecendo a ela.  
 
— O que? Eu gosto, - ela disse, pegando um pedaço.  
 
— Quantas vezes você já assistiu? 
 
— Quatro, eu acho.  
 
— Jesus, Lydia. Arranja uma vida. - Ela riu e deu um tapa na cabeça dele. Sorrindo, ele se virou para ela. - Nove vezes. Ganhei.  
 
Lydia poderia ter visto o filme cem vezes - mas nenhumas das vezes seriam como aquela. Aparentemente, Stiles sabia todas as falas do filme, e as dizia no momento certo e de um jeito diferente para cada personagem. Ás vezes ele errava e improvisava, o que era ainda melhor. Ela tinha que comer com cuidado para não engasgar com a pizza, porque não parava de rir. Quando o filme acabou, ela enxugou as lágrimas que caíram dos seus olhos.  
 
— Tudo bem aí?- ele perguntou, mudando de canal quando os créditos apareceram na tela.  
 
— Eu nunca mais vou ver esse filme, - ela disse. - Sério, por que Capitão América tem essa voz calminha? 
 
Ele deu de ombros.  
 
— Não sei, ele parece ser um cara calminho.  
 
— É mesmo? 
 
— É, sendo um soldado de 90 anos e tal.  
 
— Eu nunca usaria a palavra "calminho" para descrever um homem como aquele.  
 
Ele virou para ela.  
 
— Como o que? 
 
— Ah, você sabe. Alto, forte, lindo... 
 
Stiles bufou e virou para a frente.  
 
— É, que seja.  
 
Lydia abriu um sorriso largo, mesmo que ele não pudesse ver. Ele estava com ciúmes dela? Ela quis rir, não porque ele estava com ciúmes de um personagem fictício, mas de alegria, porque ele estava, de alguma forma, cuidando dela. Ela nunca achou que ciúmes a deixaria tão feliz. Stilea permaneceu em silêncio, assistindo algum programa de culinária.  
 
Ela esticou a mão e começou a brincar com os cabelos dele.  
 
Todo o corpo do garoto ficou tenso. Ela estava tocando nele, e isso era razão suficiente para fezer seu coração acelerar. Seu toque era gentil, elétrico, mas macio. Stiles suspirou e inclinou a cabeça para trás, derretendo sob suas mãos.  
 
— Seu cabelo é mais macio do que eu imaginava, - ela comentou.  
 
— Hmm... - ele murmurou. - Eu me sinto um filhote.  
 
Lydia riu.  
 
— Quer que eu pare? 
 
— Não, não. Não pare.  
 
Ela sorriu e continuou brincado com seus cabelos, massageando sua nuca e seus ombros uma vez ou outra. Riu quando Stiles, sem levantar a cabeça ou abrir os olhos, esticou o braço e pegou o último pedaço de pizza da caixa e começou a comê-lo.  
 
— Como pode ainda estar com fome? 
 
Ele deu de ombros enquanto terminava o pedaço. Depois que terminou, ele não se mexeu, o que a fez pensar que ele havia cochilado.  
 
— Stiles?- ela chamou.  
 
— Hmm...? 
 
— Você não parece confortável.- Ela deu tapinhas no ombro dele e colocou os pés no chão. - Venha cá.  
 
Lydia colocou uma almofada no colo e gesticulou para ele sentar no sofá. Stiles sorriu para ele e lavantou-se como uma criança feliz. Ele nem hesitou ao sentar no sofá e deitar a cabeça no colo dela. Lydia riu de leve e beijou sua testa, fazendo-o suspirar e fechar os olhos.  
 
Era tão natural simplesmente ficar ali. Ela olhou para o rosto dele; tinha quase certeza de que ele havia adormecido, mas havia um pequeno sorriso nos seus lábios. Ele era lindo. Seu coração derreteu enquanto o assistia dormir, e ela nem se importou com a rapidez com que ela estava se apaixonando por ele.  
 
XXXXX 
 
— Lydia! Lydia! - A garota acordou com sua mãe a chamando e balançando seu ombro. Ela abriu os olhos e franziu o cenho, protegendo-os da luz.  
 
— Oi mãe, - ela murmurou, sentando direito. Stiles ainda estava adormecido em seu colo, com a boca entreaberta. Ela sorriu de leve, o que não passou despercebido pela mãe.  
 
— Oi, - Natalie murmurou de volta, um sorriso brincando em seus lábios. - Está ficando tarde. Vou para o meu quarto.  
 
Enquanto sua mãe subia as escadas, Lydia balançou o braço de Stiles.  
 
— Stiles, acorda, - ela falou. Ele murmurou algo que ela não entendeu, então balançou com mais força. - Stiles! 
 
Ele acordou de repente e rolou para o chão, caindo com um barulho alto.  
 
— Você está bem? - ela perguntou.  
 
— Uhmm,- ele murmurou com o rosto contra o chão. Ficou ali por mais uns segundos antes de sentar. - Que horas são? 
 
— Não sei.  
 
Ele pegou o celular do bolso e olhou para a tela acesa. Haviam três ligações perdidas da sua tia.  
 
— Droga. Tenho que ir.  
 
— Ok. - Ela foi com ele até a cozinha, e o esperou colocar suas coisas na mochila e pendurá-la no ombro. - Vou com você até o carro.  
 
Eles andaram em silêncio até o Jeep azul. Stiles abriu a porta do carro e jogou a mochila dentro antes de se virar para ela.  
 
— Então... Obrigado pela ajuda e tal,- disse. Estava grato pela escuridão, assim ela não podia ver o quão nervoso ele estava.  
 
Ela sorriu.  
 
— De nada. Obrigada pela pizza.  
 
— Ok. - E então silêncio caiu sobre eles. O coração de Stiles batia forte porque ele queria dizer mais alguma coisa. Ele queria tocá-la. Nunca sentiu-se tão perto de alguém, desejando tanto alguém. Ele a queria. - Ah, foda-se.  
 
Ele colocou as mãos em ambos os lados do rosto dela e juntou seus lábios com os dela. Lydia congelou por um segundo, mas depois derreteu completamente, puxando-o para mais perto. Stiles sentiu algo quebrar dentro dele, esquentando-o, deixando-o em chamas.  
 
Seu coração parecia que ia explodir no seu peito.  
 
Quando se separaram, o que pareciam ser horas depois, os dois arquejavam. Lydia não pôde evitar sorrir. Stiles não sorriu, simplesmente porque estava encantado. Ele abaixou as mãos e, depois de olhá-la intensamente nos olhos, virou-se e entrou no carro.