Carpe Diem escrita por Maga Clari
Notas iniciais do capítulo
A música de hoje é Cigarette Daydreams - Cage The Elephant
Demorei MUITO, né? Perdão. Espero que curtam este capítulo!
Beijos ♥
Naquela noite, voltei para casa com apenas algo em mente: eu iria embora.
Não dava mais, eu não aguentava mais. Só não sabia se teria coragem. Pertenço à Corvinal, não à Grifinória, como Scorpius.
Quando bati a porta atrás de mim, pude ver a cena mais chata e rotineira a que tanto me cansei. Papai estava lendo o Profeta Diário de frente para a lareira; mamãe escrevia algo em seus milhares de pergaminhos sobre a mesa. O cheiro do chá vinha da cozinha, como se eles houvessem preparado há pouco tempo.
Eu havia chegado em casa por volta das 9pm, o horário que ambos voltam do trabalho, quando não há nada tão sério a fazer lá. Tentei pigarrear, chamando a atenção deles. Ninguém pareceu se importar. Então subi as escadas cautelosamente.
— Longo dia com o Lovegood, hã? — papai não deixou de alfinetar.
— Põe longo nisso!
Ele virou algumas páginas do jornal, displicentemente, sem olhar para mim um segundo sequer.
— Tem chá na cozinha.
— Desço já, papai. Antes, tenho algo a resolver.
E então entrei no meu quarto. Guardei tudo num malão extensivo, antes que eu mudasse de ideia. Encarei-o por alguns instantes, para então descer as escadas novamente.
— O que é isso, Rose? — foi a vez de mamãe falar. Ela tirou seus óculos de leitura e pude ver a ruga em sua testa.
— É, aonde você pensa que vai? — papai completou-a.
— Passar uns dias fora.
— Como assim passar uns dias fora? — papai já havia se levantado. Suas mãos estavam ameaçadoramente em seu quadril.
— Significa que vocês não irão me ver aqui por um tempo. Está tão difícil entender?
— Rose Granger Weasley! — mamãe correu para me alcançar no vão da porta — Caso tenha esquecido, ainda sou responsável por você enquanto morar conosco. Exijo respeito! Aonde você vai?
— Dar um jeito nisso.
E então, antes que perdesse a coragem, aparatei para bem longe dali.
Estava chovendo, e eu não sabia o que fazer ou para onde ir. Fui, então, à casa de Nique, sabendo que era a melhor escolha. Encontrei-a bebendo com James na soleira da porta, e ambos sorriram para mim.
— Sua louca! — Nique gritou, chamando-me para se juntar a eles — Chega aqui!
Empurrei meu malão até onde estavam e fiquei em pé.
— Ei! — a compreensão pareceu chegar até ela — O que aconteceu?
James me estudava com o olhar. Parecia no mínimo curioso.
— Só preciso que diga que estou aqui nos próximos dias.
— E Nique faria isso por quê..?
— Porque é pra isso que primos-amigos servem, James — respondi-o sem demora.
— Aonde você vai, afinal? — ele disse.
— Por que todo mundo quer saber?
— É para isso que servem os amigos, certo? — James riu e me estendeu a garrafa — Só preocupação.
— Você não parece bem, Rose — Nique completou-o.
— Eu não preciso de tanta preocupação! — gritei, aborrecida.
— Escuta, Rose... — Nique suspirou — Você aparece aqui, toda molhada na chuva, com um malão e uma cara estranha. Queremos te ajudar. Só isso.
— Preciso de um tempo longe de casa. Espero que entenda.
Nique balançou a cabeça lentamente.
— E como pretende ir para sei lá onde? — James perguntou.
— Aparatando?
— Rose. Até eu sei os riscos de estrinchamento nessas condições climáticas. E sei que está com um malão enorme...
— Eu vim até aqui, não vim?
— Por favor — ele tentou de novo — Deixa alguém te ajudar uma vez na vida!
Então, James procurou algo em seus bolsos. Estendeu-me um molho de chaves. Havia só duas lá.
— Traga-o de volta e intacto. Quando descarregar seu malão aonde quer que você vá. Pode ser amanhã.
James também tinha um carro-voador. No estado em que me encontrava, acabei aceitando sua gentileza. Não era realmente comum James ajudar alguém.
Agradeci, estranhamente tímida para alguém como eu. Então descarreguei a bagagem no maleiro do carro e dirigi mesmo com chuva.
Acontece que eu estava perdida.
Eu não queria atrapalhar o momento romântico de minha melhor amiga.
Não mesmo.
Não havia mais para onde ir.
Estava a ponto de voltar para casa, mas meu emocional me pegou de surpresa. Parei no meio da rua, estacionei o carro e sentei no meio-fio. Comecei a chorar. Chorar para valer.
Havia desistido de minha família, de meus amigos, até mesmo de Scorpius? Para onde iria? E naquele tempo, ainda por cima?!
Eu não poderia desistir.
Sou independente.
Já disse isso antes.
Me viro sozinha, certo?
Errado. Eu precisava de alguém para nortear meus pensamentos. E Scorpius fora embora quando toquei no assunto. Ele não me apoiava, correto? Errado de novo.
— O que está fazendo aqui?
Quando levantei o rosto, encontrei-o me olhando com curiosidade.
Scorpius fumava três cigarros de uma só vez e suas mãos pareciam ligeiramente trêmulas. Mas eu não perguntaria nada.
— Dei um tempo de casa.
— Fez sua escolha, então.
— Obviamente.
Voltei a olhar para o chão, para meus pés.
Scorpius se sentou comigo.
— Sabe, Rose... — ele começou, soprando a fumaça para longe de mim — É muito solitário lá em casa. Acabei me desacostumando esse tempo que passei fora.
— Se veio aqui me dar sermão...
— Estou pensando que... — continuou, ignorando o que eu disse — Você pode ir para lá, se quiser.
— Está me chamando para morar com você? — minha voz saiu incrédula.
— Não é como um pedido de casamento — ele deu uma risadinha gostosa, daquele jeito de sempre. Unindo o lábio superior ao nariz — Somos amigos, certo? Um ajuda ao outro. Você precisa de uma casa. Eu preciso de companhia.
Scorpius tragou uma última vez e jogou o fumo para longe, para o meio da rua.
— E seus pais?
Scorpius havia perdido toda a leveza com uma simples pergunta. Seu tom esfriara:
— Meu pai não se importará.
— E sua mãe?
— Rose, quer ir logo, de uma vez?
— Por que não fazemos algo divertido? Para nos distrair? Podíamos roubar de novo.
— Não é bem assim que funciona, Rose.
Franzi a testa, sem entender.
— Precisamos de um propósito. Aventura sem propósito é um instante perdido, não acha?
— O propósito é nos distrair — disse categoricamente — Sei que não sou a única deprimida aqui.
Scorpius me olhou por alguns segundos, e eu não consegui interpretar sua expressão.
— Tudo bem. Sei algo que podemos fazer.
— Estou de carro — apontei para o Cadillac de James.
Scorpius guardou um sorriso no canto da boca.
— Posso dirigir? — mordeu os lábios, recuperando o espírito divertido de sempre — Quero lhe fazer uma surpresa.
— Só não arranhe o carro do meu primo, pelo amor de Merlin!
— Não garanto nada.
Então, ele pegou as chaves comigo e esperou que eu me sentasse no lado do carona. Fechou os olhos e tirou um lenço do bolso da jaqueta. Nesse momento, pude reparar que ele ainda usava a mesma roupa de antes. Mas eu não perguntaria.
É claro que não.
Deixei-o amarrar o lenço em meus olhos e esperei que ele me levasse para sei lá onde.
Quando ouvi o motor diminuir, perguntei:
— Posso ver agora?
— Não. Ainda não.
Scorpius desafivelou meu cinto e me ajudou a sair do carro, já do lado de fora. Puxou meus dedos e entrelaçou-os aos seus. Quando paramos de andar, eu já estava curiosa demais para não olhar uma frestinha só.
— Tudo bem, tudo bem. Deixa que eu tiro.
Então ele desamarrou o nó.
Estávamos numa biblioteca imensa. Maior ainda que a de Hogwarts. Eu não havia entendido a grande referência.
— O que é isso aqui?
Scorpius deu uma risadinha.
— Eu gosto muito de ler, sabe... — ele caminhou pelas estantes, passando o dedo nos livros — Passo a madrugada toda aqui, quando não tenho para onde ir.
— Essa é sua grande aventura?
— Quer aventura melhor do que estas histórias? — ele se jogou numa poltrona e tornou a rir — Bem, pelo visto você estava certa. Não é um bom exemplo para a Corvinal.
— Quem vai saber?
Scorpius jogou no chão dois exemplares que havia apanhado antes. Entrelaçou os dedos e olhou para mim, de modo enigmático.
— Aonde gostaria de ir agora? Vamos... Qualquer lugar. Só não me diga. Pense.
Antes que eu pudesse formular um pensamento, a sala se transformou numa danceteria. A mesma onde nós dois nos reencontramos.
— Boa escolha, Rose.
O som de um DJ imaginário preencheu o ambiente. Luzes bruxuleavam em meio à escuridão.
Scorpius havia se levantado para dançar comigo. Ele estendera a mão. Eu aceitei-a, mas não antes de dar voz aos meus questionamentos.
— Estamos em Hogwarts?
— Acho que terá tempo suficiente para descobrir.
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