Carpe Diem escrita por Maga Clari


Capítulo 11
E para o Tempo parar


Notas iniciais do capítulo

Música de hoje: O vento - Los Hermanos
Continuo com preguiça e cansaço, mas estou tentando alterar os primeiros capítulos



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Quando estava fumando com Scorpius Malfoy no bosque de sua casa, senti o tempo parar.

De repente, eu havia percebido.

O garoto de onze anos sentado no fundo da sala sozinho ainda existia. Mesmo depois de sua falsa popularidade, Scorpius sentia-se só.

Ele estava só em Hogwarts, rodeado de conversas vazias demais pra sua intelectualidade e gosto por cultura e saber;

Ele estava só quando saía à noite para se aventurar e fazer besteiras. Sem ninguém dizê-lo a hora de parar;

Ele estava só em casa, numa imensa mansão, quando mal o entendiam e privavam sua pobre existência de fazer ou agir como queria.

Scorpius cresceu sozinho e eu não percebi. Perdi-me na mágoa e ressentimento por alguém que só não sentia-se bom o bastante para  falar comigo. Esqueci-me do menino que comia sozinho e estudava sozinho.

Simplesmente esqueci.

Então, naquele momento, quando seus dedos tremiam ao segurar o cigarro de ervas, eu só queria chorar. Compartilhar seus sentimentos.

— Não estou aqui a passeio, Rose — ele me disse, sendo pela primeira vez sincero.

— Disso eu já suspeitava.

— Há uma pessoa no St. Mungus. Alguém muito importante.

Scorpius respirou fundo e olhou para seus pés.

— A vida é bem maluca, não é? Coisas acontecem. E quando é pra acontecer, magia não resolve. Foi isso que os magos das trevas penaram para descobrir.

Assisti-o soprar outra fumaça.

Ele ainda não olhava para mim.

— O que ela tem? — atrevi-me a perguntar.

— Infecção nos pulmões. Pegou vírus em ambiente de trabalho. Pesquisas na Amazônia.

Meu coração batia ruidosamente.

A famosa ironia enfim havia feito sentido.

— Scorpius... — inclinei-me para olhá-lo nos olhos — Você a ama, não é?

— A única pessoa que conseguiu me entender.

Os lábios de Scorpius se juntavam à tremedeira dos dedos.

— E então apareceu você, Rose.

Scorpius virou-se para mim, finalmente criando coragem para me olhar.

— Não é uma namorada. Não me olhe assim.

Observei Scorpius se levantar, de repente, encarando o vazio. Um sorriso estranho tomou sua face, chamando-me para acompanhá-lo.

— Quando criança, eu costumava brincar por aqui. Você sabe... naquela época que a magia começou a ficar séria, bem antes de completar onze anos.

— Sei exatamente como — sorri, incentivando-o a continuar.

— Eu fechava os olhos. E era capaz de ouvir a natureza. E as fadinhas. Nossa, quantas fadinhas apareciam!

— Ainda tem fada aqui?

— Bem escondidinhas. A mansão sempre esteve vazia depois que cresci. Nunca mais foi a mesma coisa. Você não deve saber a sensação. Sei que a culpa não é sua, mas é a verdade. A família Weasley é bem diferente.

— Tem razão. Tudo que eu quero é silêncio e liberdade. Minha alforria daquela casa entupida de malucos!

— Mas sentirá falta. Não acha?

— Falta do quê?

— Quando estiver sozinha como eu, Rose. Olhará para uma área verde e se lembrará. De quando corria com seu irmão em fantasias infantis. Ou quando seu pai jogava Quadribol com vocês. Ou quando sua mãe lhe empurrava num balanço ou gangorra.

Um silêncio desconfortável surgiu.

Eu estava entendendo aos poucos. Muito lentamente. Aproximei-me dele para sussurrar, como se fosse um segredo.

— Onde está sua mãe, Scorpius?

— Leito número 2, segundo andar.

Scorpius estava de costas. Ele não se virou para responder  minha pergunta.

Quando me atrevi a me por à sua frente, vi seus olhos levemente vermelhos. Não pude decifrar se era o cigarro ou choro ou ambos. Mas senti dor em olhar para ele.

— Adorei ter você noite passada, Rose — ele disse, de repente — Por mim eu a teria todas as noites. Mas se estivesse em seu lugar, voltaria para casa.

— Não se importe comigo. Ficarei com você mais alguns dias.

— Não precisa.

— Eu quero.

Scorpius soprou fumaça no espaço entre nós e então jogou o que sobrara num arbusto. Eu imitei-o.

Já não estava mais aguentando o gosto daquilo na boca.

— Podemos ir vê-la? — sugeri.

— Não — ele foi categórico — Agora não.

— O que quer fazer, então?

— Primeiro, um banho. Depois, a gente se encontra na porta principal. Vou lhe mostrar o banheiro de hóspedes.

Já era perto do meio-dia quando Scorpius surgiu pelo hall de entrada. A bipolaridade inglesa permitiu-lhe usar uma camiseta regata preta e bermuda jeans. Procurei incessantemente por algo vermelho ou dourado ou que lembrasse um leão.

Não encontrei nada.

— Onde está a peça da Grifinória?

Scorpius sorriu de lado e beijou o topo de minha cabeça.

— Definitivamente, o Chapéu Seletor já estava velho demais para fazer a sua escolha.

E então, seguimos para o carro de James. Colocamos o cinto e dei a marcha.

— Preciso devolver isto aqui para meu primo. Ele está na casa de Nique.

— Não brinca! — a animação repentina relembrou a criança que ele deve ter sido na escola. Quando havia fofocas pelos corredores — Eles estão mesmo namorando?!

— Sim, estão — sorri, levemente.

Não demoramos muito para chegar à casa dela. Pedi que Scorpius descesse do carro também, e tal fora a mesma surpresa que meus primos tiveram ao vê-lo.

— Nem precisa perguntar. Okay? — cortei-os logo, sem muita paciência — Só vim devolver.

— Está entregue — ele disse, em redundância.

E então corremos para bem longe dali, antes que nos perturbassem. Mas ainda pude ouvi-los gritar:

— Juízo, Rosinha — foi a voz de James — Não quero ser tio tão cedo!

— Até mais, sua doida! — essa foi Nique.

Estávamos rindo muito durante essa corrida. Mas não resistimos muito tempo. Havíamos chegado a um campo aberto, do lado esquerdo da estrada. Olhei para Scorpius, sem saber exatamente o que fazer ou para onde ir.

— Lembra quando disse que para tudo há um propósito?

— Claro que sim.

— Vamos por sua cabeça para funcionar, então?

Ele deu uma risadinha ao ver minha expressão de descrença.

— Tudo bem — ele continuou, piscando para mim, em seguida — Onde estamos, Rose?

— No meio do nada?

— Tem alguma linha de trem?

— Não.

— Ponto de ônibus?

— Não.

— Algo que pareça chave-de-portal?

— Não.

— Sabemos para onde ir, exatamente?

— Não.

— Então nem adiantaria uma chave-de-portal, nesse caso. Nem mesmo lareiras, correto?

— Corretíssimo.

— O que pode acontecer se aparatarmos sem saber exatamente para onde ir?

— Destrinchamos.

— Olhe à sua direita, cabelo-de-fogo. O que você vê naquele bar-hospedaria?

— Carros?

Um sorriso sapeca brincou nos lábios de Scorpius. Ele foi até lá sem nem esperar pela minha resposta.

E eu o segui, obviamente.

— Não podemos usar magia — ele sussurrou.

— Por que não?

— Chequei tudo — sua voz quase não existia — Não há feitiços de proteção. Além disso, as placas dos carros não são do mesmo código dos nossos. São trouxas.

— Scorpius, eu nunca roubei um carro! — exclamei, exasperada, ainda em sussurros.

— Ah, como amo a Academia de Aurores!

Scorpius respirou fundo de modo exagerado antes de vigiar ao redor. Então, fez sinal para que eu me abaixasse, ao lado do carro que ele havia escolhido, no estacionamento de fora.

Depois, ele se enfiou embaixo do carro e apertou alguma coisa que nunca descobri exatamente o que era.  Após alguns poucos segundos, Scorpius estendeu os dedos para a porta do carro e estava destrancada.

— Quer uma carona, senhorita?

— Não recusaria por um milhão de galeões.

Scorpius riu e então acelerou pela estrada.

Levantei os braços para cima, naquele conversível, sentindo a brisa fresca que me levava à aventura.

— Estou adorando isso, garoto-grude! Como fez isso?

— Ah, segredos, segredos, minha cara Rose.

— Não vão nos pegar?

— Cuidei disso.

Havia uma ruga em minha testa possivelmente. Porque ele voltou a falar:

— Conhece os hackers de computador trouxa?

— Na verdade, não.

— Bem. Eles burlam alguns códigos matemáticos para evitar serem pegos em suas barbáries no mundo virtual que é a internet.

— E..?

— Foi quase a mesma coisa. Só que com magia.

— Você é simplesmente incrível!

Scorpius voltou a sorrir e a dirigir o conversível.

— Para onde vamos? — ele disse.

— Qualquer lugar.

— Que tal só um dia de folga? Sem preocupação, sem doença, sem cigarro, sem lei, sem rock, sem nada. Só nós dois?

— Mas, Scorp...

— O que foi?

— Já roubamos um carro.

— Quer ou não quer, cabelo-de-fogo?

— Fechado. Para onde vamos, então?

— Já ouviu falar em praia de nudismo, Rose?

— Sem chance, sem chance alguma, seu pervertido!

Scorpius gargalhou muito alto. Alto o suficiente para me fazer querer guardar aquele momento para mim. Para sempre.

— Estou brincando, sua maluca. Podemos só... dirigir por aí, se quiser.

E foi o que fizemos.

Dirigimos por horas e horas. Parando apenas para tomar um suco ou tirar fotos com a câmera que ele havia levado.

Tudo que eu queria era que o tempo estivesse mesmo congelado, como já disse anteriormente.

Que ficássemos eternamente em alegria.

Eu amava Scorpius.

Sempre o amei.

E agora, sabendo parte de sua verdade, amei-o mais ainda.

Mas aquilo não era tudo.

É claro que não.

Sempre haveria mais e mais verdades escondidas naquele sorriso contido e em seus olhos cansados.

E eu só queria abraçá-lo para sempre.


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