A Lagarta escrita por Vatrushka


Capítulo 15
Caos




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Com um impulso, a Lagarta direcionou sua mão ao teto. Antes que pudesse liberar qualquer magia que o explodisse, algemas voaram em direção aos seus pulsos e tornozelos.

Ajoelhou-se, em choque. Tudo o que podia ouvir era seu coração acelerado. Tudo o que conseguia sentir era desespero.

Falhara.

Lana foi arrastada junto a Giullian e Carl para a frente do altar. Arrancaram suas perucas, jogaram-nos no chão. O Coelho Branco tomou a frente - explicou para os convidados da festa, aos berros, que eles eram as atrações perseguidas, traidores que estavam tentando sabotar a cerimônia.

A feiticeira ouviu as exclamações e os berros exaltados do Salão como estivesse longe, muito longe. Não conseguia encarar nada que não fosse o chão.

Todos morreriam. Luce, Carl, Giullian, ela. Ah, ela.

Lana já nem se importava consigo mesma mais...

Foi quando deu um estalo em sua mente. Olhando para o lado, viu que Alan não havia sido capturado.

Seus ombros murcharam, na esperança de que ele tivesse conseguido fugir.

Alguns segundos depois, notou outra ausência.

'Ghunter...' Alarmou-se. 'Ghunter!'

Rezou para que ele, de certa forma, tivesse um plano para salvá-los.

Foi quando, pela primeira vez, a Lagarta ergueu o olhar. A Rainha estava mais vermelha do que todo o seu reinado. Sua cabeça se balançava em um tique nervoso e seus olhos estavam quase saltando para fora - assim como as veias do seu pescoço.

Nunca vira Victoria tão alterada.

Primeiramente, a Rainha de Copas nada fez. Ficou parada, encarando a situação - como se recusasse a acreditar que aquilo estava realmente acontecendo.

Viktor pôs a mão em seu ombro na tentativa de acordá-la do delírio. Este gesto foi o suficiente para que ela liberasse um longo e afinado grito de ódio.

O pincenê de Lana se quebrou.

'Ah, droga...' Pensaria ela, em uma melhor situação. 'Não o pincenê...'

Victoria começou a vagar, chorando de ódio e quebrando tudo o que via pela frente. Pegou a espada da bainha do marido e rasgou a barriga do padre, em um incontrolável acesso de fúria.

"Era! Para ser! O dia! Perfeito!!" Exclamava, irada. Alguns poucos convidados já haviam começado a se retirar. "Quantas vezes terei de aniquilar para que vocês me obedeçam?!"

Para a sorte dos futuros condenados, Victoria arremessou a espada no chão e pisou em cima dela. E para a surpresa de muitos, ela começou direcionando o ódio para Ryan.

"Coelho!" Ela apontou para ele, trêmula de raiva. "Explique-se!"

Lana sorriu internamente. Afinal, havia sido ele o causador de toda a confusão. Uma palavra errada e também estaria condenado.

"Explicarei tudo o que quiser saber, Majestade." Ele disse, em uma estranha calma. "Isto é o meu humilde presente de casamento."

Falou isso e curvou-se. A corrente foi solta e uma gaiola gigante despencou no meio do Salão.

'Luce!' Pensaram Carl e Lana, no impulso de quererem ir abraçá-la.

Este evento alarmou ainda mais a multidão, ansiosa para sair dali.

A Rainha analisou a prisioneira.

"E. Eu. Com isso?!" Perguntou, tediosa. "É apenas a Lebre, a execução deles todos podia muito bem esperar!"

"Não é apenas a Lebre, Majestade. Ela é a filha desaparecida de Zeno, o Branco. Assim como o Chapeleiro, seu irmão. Ele é, inclusive o primogênito."

Os convidados se apavoraram, e uma boa parcela já corria para a saída. "O verdadeiro herdeiro!" Exclamavam, espantados. "O verdadeiro herdeiro, estava mesmo vivo!"

Agora era o rosto de Viktor que ficava vermelho. Direcionou um olhar de ódio a Carl, que o retribuiu.

"Eu sou o Rei! Eu, e mais ninguém!" Tinha vontade de gritar.

A expressão da Rainha foi aos poucos, suavizando. Começou a gargalhar de vitória, e assim, muitos convidados a imitaram.

Mas antes que pudesse completar a sentença, um fenômeno a impediu.

Ghunter já havia derrotado dois dos capangas quando ouviu a gaiola despencar.

Alarmado, correu por impulso em direção da corrente. O capanga restante enfiou a cabeça do Gato no chão, e em seguida imobilizou-o contra a parede transparente.

"Aceite." Declarou o homem. "Você perdeu."

E era provável que sim, admitiu para si mesmo. Não poderia usar magia ali e estava imobilizado. Tudo o que poderia fazer era ouvir os tumultos do andar de baixo.

Como o chão que pendia em baixo da gaiola havia caído também, pode-se dizer que Ghunter também teve uma vista boa para tudo o que estava acontecendo.

Enfureceu-se ao ver Lana algemada. Tentou soltar-se das mãos do capanga a todo custo, mas não conseguiu. Ele riu de suas tentativas.

O Coelho. Sabia que era um traidor! Devia ter acabado com a raça dele quando ainda tinha a chance!

No meio do tumulto, os olhos do Gato procuraram pelo Alan. Onde ele estava...?

Encontrou-o tão alarmado quanto a multidão em um canto do Salão.

'Fuja, imbecil! Fuja!'

Foi quando viu a Duquesa chegar por trás do Arganaz e asfixiá-lo com um pano.

Seria possível? Não. Duquesa não era uma traidora, tinha certeza disso. Sua expressão de desespero para fugir comprovava.

Duquesa arrastou Alan para longe dali e fugiu junto da confusão. O Gato sentiu imenso alívio. 'Ela arrastou Alan contra sua vontade, pois ele jamais fugiria sozinho. Não sem os irmãos.'

Bom, pelo menos algum deles sobreviveria.

Seu olhar voltou para o escândalo de Victoria. Em seguida, o Coelho liberou a informação de que Carl e seus irmãos eram os herdeiros do trono.

O brutamontes atrás de si alarmou-se. "O quê...?"

Ghunter revirou os olhos. "Não estava sabendo, bonitão?"

"Claro que sabia, imbecil! Mas o plano era que Victoria não descobrisse!"

O Gato foi entendendo aos poucos. Ryan era um traidor de todos os lados. Era da Dinastia Branca, até os Vermelhos chegarem. Fingiu ser Verde e manipulou a todos para que se beneficiasse.

'Um covarde.'

Ghunter aproveitou-se do momento mal esclarecido do capataz para soltar-se e dar uma cotovelada em sua cabeça. Ele capotou no chão, deixando cair um anel com a letra A.

O rapaz pegou o anel. Claramente tinha um feitiço de entrada. Encostou o A na parede, e ela automaticamente desapareceu.

Sem pensar duas vezes, Ghunter pulou dali.

A multidão inteira só fugiu mesmo do casamento quando o Gato, caindo, fez um gesto que ao mesmo tempo abriu as algemas dos companheiros e destruiu a gaiola de Luce.

Tudo aconteceu de forma muito rápida.

A Guarda de Ouros aprontou-se ao redor dos criminosos. Todos os convidados já haviam fugido. Giullian, Lana e Luce, assim que libertos, começaram a contra-atacar.

Ghunter foi direto em Ryan, que estava tentando fugir. O Coelho tentou se esquivar, mas o Gato estava cego demais pela fúria.

Em um movimento de mão, quebrou seu pescoço.

E então teve de lidar com a chuva de guardas que foi em sua direção.

No meio do caos, o Chapeleiro continuou ajoelhado. Ele e Viktor se encaravam sem piscar.

Viktor, enfim, pegou sua espada no chão e foi em direção de Carl com toda a determinação que reunira.

Carl, desarmado, foi desviando dos golpes todas as vezes que possível. Irado, o Rei de Copas bradava durante a luta.

"Eu-!"

Carl agachou-se.

"Sou-!"

Viktor pisou em seu joelho e o Chapeleiro deixou escapar um grito de dor. Ao vê-lo caído no chão, Lana saiu correndo em sua direção.

"O único Rei!!"

Viktor fincou a espada no peito de Carl, rasgando todos os órgãos em direção ao abdômen.

Lana sentiu como se tivesse tomado um tiro. Ao ver o corpo de Carl agoniando e seus olhos perdendo a luz, sentiu uma falta desesperadora de ar. A garganta se fechou. Lágrimas desceram e seu corpo foi invadido por uma onda terrível de dor.

"NÃO!" Guinchou, indo em direção de Viktor.

O Rei percebeu a Lagarta indo em sua direção, e preparou-se para o ataque. Já havia lutado com feiticeiros antes.

O que ele não sabia era que magia é diretamente proporcional ao sentimento de quem a usa. O ódio e o desespero de Lana ampliaram a dimensão de seus poderes.

Por isso que Viktor não teve tempo de reagir, antes que Lana se aproximasse e fincasse uma espada azulada a fundo em sua barriga.

Girando a arma para aumentar a tortura, Lana aproximou a boca do ouvido de Viktor. "Lado vencedor." Sussurrou.

Jogou o Rei no chão, cuspindo sangue e incapaz de sobreviver.

Trêmula, Lana olhou para as próprias mãos cheias de sangue. Foi invadida por inúmeras sensações.

Medo. Ódio. Dor. Perda. Arrependimento. Nojo de si mesma.

'Assassina!' Vozes em sua mente acusavam. 'Assassina!'

As lágrimas viam em cada vez mais abundância. Não era isso que o Mestre queria para ela. Não era isso que Carl queria para ela.

Olhou para o corpo do Chapeleiro. Nos seus últimos segundos, os olhos do rapaz estiveram cravados em Lana.

Controlou uma ânsia de vômito. "Carl..." Não tinha mais voz. "Carl...!"

Seus joelhos cederam. Estava por um triz de não conseguir mais distinguir  o que era fantasia o do que era realidade.

Sangue, destruição... Teve a impressão de ouvir, de longe, um berro de dor e desespero de Luce. Viu, não sabia se dizer se era miragem, o rosto da menina contorcendo-se em prantos.

E viu também sua expressão se mudar para ódio, avançando com tudo na direção de Victoria.

A Rainha parecia apavorada. Podia jurar ter visto sua cabeça rolar...

Pareceu também ter ouvido Cartas gritando ordens de retirada... Armaduras douradas fugindo... O que estava acontecendo...?

A visão de Lana foi escurecendo e seu corpo foi tombando, até sentir mãos em seus ombros.

Em meio de borrões, viu a expressão preocupada de Ghunter.

Ela se permitiu sorrir. Memórias de tempos mais felizes de sua infância lhe saltaram aos olhos. "Não me abandone..." Sussurrou, lembrando-se de Ghunter deixando a vila quando o Mestre morreu. "Não de novo."

Desacordou em meio a um abraço.

"Jamais."


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Notas finais do capítulo

Persevera, pessoal. Depois dessa, persevera.



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