Okaeri escrita por Jessie


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Olá, consegui finalizar esse aqui mais rápido do que esperava. Espero que gostem :)



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Capítulo 2

(Breathe Me-Sia)

Me ajude, eu fiz isso de novo

Já estive aqui muitas vezes antes

Me machuquei de novo hoje

E o pior é que não há ninguém pra culpar

 

Ainda lhe era estranho ter que se confrontar com seus próprios sentimentos e emoções. Quando se passa tanto tempo refreando impulsos e desejos se torna um hábito trancafiá-los em um lugar de difícil acesso de seu ser. Agora ao ter que enfrenta-los ainda era difícil para ele conseguir entender e saber o que fazer com, por exemplo, a estranha sensação de sentir o coração se apertando quando foi encarado por olhos verdes tão frios.

Sakura o olhava como se não passasse de um desconhecido, mas ele havia se tornado aquilo, não é mesmo? Passar tanto tempo fora era o motivo responsável por toda aquela frieza nos olhos de uma menina que parecia ter estrelas no olhar toda vez que o encarava? Outra coisa que ele não sabia como lidar: o sentimento que parecia com dor, mas era mais profundo, como se algo o perfurasse lentamente, não na carne, mas em um lugar mais incorpóreo. Era aquilo que as pessoas chamavam de dor na alma?

Era muita coisa para se preocupar em pouco tempo. Ele ainda não estava preparado para encará-la, e depois cobrir que ela nem ao menos parecia se importar com a presença dele ali fazia com que achasse que esse “enfretamento” deveria ser adiado, quem sabe para sempre.

Quando ele imaginava o retorno da garota pensava que ela lhe exigiria resposta, que lhe gritaria verdades. E ele queria ouvir aquelas verdades. Queria perceber o que sentiria ao ser confrontado, a ter todos os seus pecados jogados em seu rosto, o silêncio dela era algo inesperado, aquela atitude era tão não-Sakura, que ele não sabia como lidar. Pra ser sincero, ele não sabia lidar com ela de forma nenhuma: calada ou falante. E demorou tempo pra conseguir perceber aquilo, mas, era verdade que no momento que decidiu voltar esperava receber o mesmo sorriso caloroso que ela lhe dava na época de crianças.

Sim, ele sabia que era egoísmo. Desejar que ela tivesse ficado tanto tempo presa a um sentimento que nutria por ele, sentimento que tantas vezes ele rejeitou e deixou isso muito claro pra ela, era exigir algo que não podia. Então quando ela simplesmente parecia ignorá-lo enquanto caminhava ao lado de Naruto e sorria pelas bobagens do Uzumaki, ele percebeu que a única coisa que ele tinha o direito era de observá-la e desejar que ela fosse feliz.

Aquilo era o que tinha para colher de tudo que já tinha feito. Não havia a quem culpar, porque toda a responsabilidade de suas ações e das palavrar que algum dia tinha dito era completamente e exclusivamente dele.

Seja minha amiga

Me segure, me proteja

Me descubra, eu sou pequeno e necessitado

Me aqueça e me respire

 

****

 

Naruto tagarelava sem parar enquanto caminhava ao lado de seus melhores amigos, da família que formou em Konoha. Era mais do que esperado que ele ficasse em estado de alegria extrema ao ver finalmente que havia conseguido alcançar seu maior objetivo, ter seus amigos mais uma vez reunidos. A única coisa que faltava para aquela alegria estar completa era Kakashi aparecer com seu costumeiro livrinho e os acompanhar em um ramém no Ichiraku. Sua felicidade era tamanha que não percebia que Sakura não parecia tão interessada em seu discurso atrapalhado como o de costume.

            Por mais que tentasse Sakura não tinha capacidade nenhuma de se concentrar no discurso gigantesco de Naruto. Seu foco era a pessoa que estava calada. Sasuke. Desde quando estava na vila? Porque parecia diferente? Qual o motivo de não estar preso? Era um ninja de Konoha novamente? Essas e outras perguntas pipocavam em sua mente que trabalhava freneticamente para tentar assimilar todas as informações. Como Naruto conseguira fazer com que ele voltasse? O Uchiha teria voltado por livre e espontânea vontade? Queria descobrir tudo aquilo. Tantas coisas passavam por sua cabeça e pareceu voltar à realidade ao perceber que não deveria estar tão interessada em uma pessoa que não merecia aquilo.

            — Você está me ouvindo Sakura-chan? — Ela voltou a si quando notou que Naruto a olhava com uma expressão nada satisfeita 

            — Desculpe Naruto — Falou sem graça 

            — Tudo bem — Falou ele retornando a sorrir — Estava dizendo que o teme e eu estamos indo almoçar no Ichiraku. Quer ir com a gente? 

            — Eu não sei Naruto... — A simples possibilidade de ficar perto de Sasuke a deixava em pânico. 

            — Ah! — Choramingou o Uzumaki — Vamos Sakura-chan, para podermos conversar um pouco. Faz muito tempo que não conversamos. 

            Ela parou para pensar. O que teria de mais? Ela não queria provar para si mesma que não sentia nada por Sasuke Uchiha? Tinha que se acostumar com o fato que dali para frente o veria muitas vezes, afinal eram do mesmo time, ao menos eram antes dele sair da vila deixando-a desacordada em um banco gelado. A simples lembrança daquela noite fez com que calafrios percorressem o corpo dela.

             Além do que, Naruto era seu amigo, queria poder conversar com ele, Sasuke está lá não faria nenhuma diferença. Estava indo para conversar com Naruto, e não para ficar perto de Sasuke. 

            — Tudo bem — Falou ela suspirando em seguida — Irei almoçar com você... ― Fez questão de enfatizar o “você”. Na sua mente aquilo soou tão infantil. 

            — Ótimo — Celebrou o loiro com mais um de seus sorrisos exclusivos — A Hina vai ficar tão feliz quando ver você, Sakura-chan. —Os olhos de Naruto brilhavam ao falar da namorada 

            — Estou com tantas saudades dela — Declarou Sakura — Como vai o namoro de vocês? 

            — Melhor impossível — Disse o loiro, com um brilho apaixonado no olhar — Quero me casar em breve.

            — Que noticia maravilhosa! — Exclamou a Haruno — Quero ser a madrinha, hein? 

            — Claro que vai. — Confirmou Naruto — Você e o teme. 

            — Quem disse que quero ser seu padrinho dobe? — Falou Sasuke se pronunciando pela primeira vez desde que saíram do prédio Hokage. 

            — Ah, teme! —Resmungou o loiro — Você só não tinha aceitado ainda porque disse que não ficaria sozinho no altar, mas agora que a Sakura-chan voltou você não ficará sozinho. Terá companhia.

            — Hn — Murmurou Sasuke.

            — Sasuke não perdeu o costume de responder com monossílabos — Ironizou a rosada rindo e fazendo um movimento com a mão como se estivesse espantando a situação pra longe ­—Vamos nos apressar, estou com fome.

            A única reação que Sasuke teve diante da ação da Haruno foi um leve arquear em suas sobrancelhas. Bom, não era mistério pra ele que muita gente não gostava de sua costumeira forma de expressão: com poucas palavras e mais ações, mas daí perceber que Sakura conseguia dizer o que não gostava nele era uma coisa bem diferente. Foi naquele momento que ele passou a perceber as mudanças internas que ela realizara.

Já no Ichiraku Sakura parou um momento para observar tudo que havia se modificado. A loja de ramén, que tempos atrás não passava de uma barraca com bancos, agora tinha se ampliado e parecia um restaurante, ou bistrô, com algumas mesas espalhadas, mas conservando o mesmo ambiente de aconchego que só o dono do lugar conseguia trazer.

 Logo um dos atendentes veio saber o que eles iriam pedir. O Uzumaki pediu quatro ramén de porco, que ele mesmo disso que era apenas  a entrada do longo almoço que teria . Sakura e Sasuke pediram somente um de legumes. Algum tempo depois eles foram servidos. Três tigelas de ramén depois Naruto saiu da mesa dizendo que precisava ir ao banheiro, típico dele, e se foi deixando uma Sakura aturdida com a possibilidade de ficar a sós com Sasuke, o que ela realmente não queria que acontecesse.

            Há seis anos ficaria imensamente feliz, daria saltos de alegria, aos doze anos passar um tempo com ele era o que ela mais desejava. Só que aquela situação em que se encontrava lhe deixava constrangida, não conseguia nem olhar para os olhos dele, e pelos seus pensamentos passou que era sempre daquela maneira, em nenhum momento conseguia encarar aqueles olhos de frente.

Aquele era realmente um dia de surpresas, porque por mais estranho que fosse, ou era, quem iniciou a conversar entre eles foi o próprio Sasuke.

            — Essa missão foi muito longa. — Falou Sasuke — Não acha, Sakura?

            Surpresa e uma pontada, bem pequena, mas ela existia, de felicidade apareceram no coração de Sakura. O plano dela era que a mesa permanecesse em silêncio enquanto Naruto não voltava, até porque, pelo costume, Sasuke nunca se dignaria a começar uma conversa com ela, e bem, ela não tinha vontade nenhuma de trocar impressões com ele naquele momento. Por isso demorou cerca de trinta segundos pra processar a pergunta e formular a resposta antes de responder a ele.

            — Não, — Sua resposta saiu o mais firme que conseguiu — Acho que pelo o que eu tinha que realizar o tempo que gastei esta dentro do previsto.

            — Mas, três anos realmente é muito tempo fora de casa — Sakura já estava começando a se irritar com o surto de fala do Uchiha, porque ele estava falando que três anos era muito tempo? Ele havia passado quase sete anos longe da vila. — Muita coisa mudou.

            — Sim! — Concordou — São outros tempos.

            Um silêncio extremamente incômodo se instalou na mesa. Ninguém tinha nada a mais para acrescentar, o tempo que ambos tinham passado separados fez com que eles não tivessem nenhum assunto para discutir. Até que Sakura tinha milhares de perguntas para fazer. Por que ele estava ali? Veio por que quis? Ou foi Obrigado? Há quanto tempo tinha retornado? Ela pensou, pensou, pensou. A final, uma perguntinha não provava nada. Ela perguntar alguma coisa a Sasuke não queria dizer que ela estava realmente interessada nele, era só um direito que ela tinha de saber depois de tudo que passou por ele.

            — Então Sasuke... — o Uchiha arqueou uma sobrancelha. Sasuke?— Há quanto tempo está na vila?

            Ele não pode deixar de sorrir, ao menos uma parte da Sakura de doze anos ainda estava ali. Ela ainda era curiosa e isso o tranquilizou. Quem sabe outras características da antiga Sakura ainda existissem. A pergunta era: o quanto ele desejava viver com a presença da Sakura antiga? 

            — Aproximadamente três anos — Sasuke foi direto ao ponto.

            — Bastante tempo — Sakura tentava assimilar todas as informações — já deve ter se readaptado a vila. — Aquilo foi dito como uma afirmação, mas o que ela queria mesmo saber é como ele estava se sentindo com tanta coisa que ele encontrou em Konoha.

            — Sim. — Ainda era Sasuke e suas respostas curtas e diretas, e ela se pegou percebendo isso.  Por mais que a primeira impressão fosse que ele estava diferente, Sakura sabia que no fundo ele ainda era o mesmo Uchiha que saíra da vila em busca de poder e que continuava frio em relação a qualquer outra coisa.

            Logo que Naruto voltou ela se despediu dos dois e disse que ainda tinha que resolver umas coisas antes de ir para casa: coisas como ir ao mercado comprar alguma coisa para ter em casa, já que três anos fora da vila reduziram seus mantimentos a zero.

            — A Sakura com certeza não é a mesma que você conheceu. — Naruto disse enquanto via sua amiga se distânciar no final da rua.

            — Hn.

— Você pode até fazer parecer que não se importar com ela, mas sei que você ficou bem chocado com a mudança da Sakura-chan.

            — Pare de falar idiotices dobe — Resmungou Sasuke querendo que aquela conversa ficasse por ali.

            — Espero que você perceba a tempo que ela não é a mesma de antes — Concluiu o Uzumaki com uma expressão séria — Devo ir agora, até mais.  

            Eu já me surpreendi com ela, Naruto.

X~x~x~x~x~x~X

            Quando ela finalmente chegou a sua casa ainda não tinha tirado de seus pensamentos o encontro com Sasuke. Tudo acontecera tão rápido que por algumas vezes cogitou a possibilidade daquilo ser uma grande ilusão. Em apenas uma manhã havia chegado de uma missão, encontrado com Sasuke depois de três anos, almoçado com ele (e Naruto obviamente), e, por fim, o mais estranho, conversou com ela por iniciativa do Uchiha.

            Após a longa chuveirada vestiu uma roupa confortável e jogou-se na cama, precisava descansar para amenizar as sensações desconfortáveis que estava sentindo. Era por volta das duas da tarde.

            Despertou aos poucos, foi abrindo as pálpebras devagar para se acostumar com a claridade do quarto proporcionado pelo abajur no criado mudo. Olhou para o relógio e se espantou com o horário que ele marcava. Já se passavam das oito da noite. A Haruno havia dormido bastante, mas foi recompensada, pois se levantou mais disposta, todo o cansaço tinha ido embora.

            Desceu para cozinha, felizmente tinha passado no supermercado antes de voltar para casa, quando saiu do Ichiraku. Não soube o porquê, mas teve vontade de fazer dangos. E foi isso que fez. Pegou os ingredientes necessários e começou a prepará-los, meia hora depois estavam prontos. Quando já ia colocar o primeiro na boca, ouviu batidas na porta

— Quem é uma hora dessas? — Resmungou enquanto ia atender o seu visitante inesperado. Só que quando abriu ficou feliz por vê-los ali, exceto a ultima pessoa. As três figuras paradas em sua porta eram Hinata, Naruto  e... Sasuke. 

— Oi Sakura-chan! — Naruto lhe cumprimentou com seu costumeiro sorriso.

 — Oi Naruto , Quanto tempo Hinata!!! — Disse Sakura passando pelos dois rapazes e estendendo seus braços para uma de suas melhores amigas.

            — Desculpa não ter te avisado antes. — A namorada de Naruto sussurrou o mais baixo que pode. Sakura soube que Hinata estava se referindo ao fato de Sasuke estar na vila.

            — Tudo bem — Sakura não tinha porque culpar Hinata por nada, havia sido apenas um capricho do destino. 

— Estava morrendo de saudade de você. — Falou Hinata enquanto já entrava na casa e se acomodava em uma cadeira ao lado de Sakura

            — Eu também. — Disse Sakura — Boa noite, Sasuke. — Querendo evitar que aquilo se prolongasse daquela vez ela tomou a iniciativa de falar com ele.

            — Boa noite — Respondeu o Uchiha.

            — E então, vieram me visitar?

            — Sabe o que é Sakura-chan... — Naruto começou a falar assumindo o tom de voz que usava quando queria alguma coisa— Como nós estamos de férias, e Hina também, nos queremos saber se você não quer vir com a gente em uma viajem espetacular de férias.

            — Para onde você e Hinata vão? — Perguntou ela. Viajar era muito divertido, ainda mais com pessoas agradáveis, mas ela realmente não queria ser um espécie de incomodo em alguma viagem romântica que o casal estivesse planejando.

            — O Sasuke-teme também vai Sakura-chan — Disse o loiro.

            — Você também irá Sasuke? — Por não acreditar naquilo não pode se conter e perguntou. Aquele não era o estilo do Uchiha. Viajar com os amigos? Desde quando ele fazia aquelas coisas?

            — Vai ser melhor do ficar aqui — Sasuke respondeu como se aquela fosse a coisa mais óbvia do mundo ninja.

            — hmmm — Suspirou Sakura — Então Naruto... Para onde vocês querem ir? 

            — Para o país da Neve! — Exclamou o Uzumaki — Você já imaginou como vai ser legal? Lá está no inverno. Vai nevar! Tem tanto tempo que não temos neve em Konoha!

            — É Sakura-chan — Continuou Hinata — Venha com a gente, você precisa descansar um pouco, se diverti. Está há muito tempo trabalhando.

            — E quando vocês estão planejando ir? — perguntou Sakura ainda indecisa.

            — Daqui a uma semana. — Respondeu o loiro

            Era complicado saber o que fazer naquela situação. Ela realmente estava precisado de férias, passar um tempo num local tranquilo como o escolhido pra viajem sempre tinha ajudado a reorganizar seus pensamentos. Enquanto em outra situação sua respostava imediata seria positiva ao pedido, mas naquele momento, sabendo que Sasuke também iria , ficou em dúvidas sobre o que deveria fazer. Obviamente, o país da Neve era grande o suficiente para que ela  ficasse perto do Uchiha apenas em momentos onde não fosse possível fugir.

            — Eu vou sim, Naruto! — Disse ela com um sorriso. 

            — Ótimo — Exclamou o Uzumaki também sorrindo — Vamos nos divertir muito. 

            — Acabei de fazer dangos — Informou Sakura — Vocês querem? Fiz do jeito que você gosta Hina. 

            — Adoraria, não sabe como senti falta deles — Falou A Hyuuga. 

            — Então vamos todos lá para a cozinha. 

            E assim todos se dirigiram para a cozinha para comerem os dangos. Sasuke somente observava as coisas. Tudo realmente havia mudado bastante. Nunca em sua vida poderia imaginar ver Naruto namorando com Hinata. Os dois eram extremos opostos, como sol e lua, mas ambos necessitavam da luz um do outro. Além do que, Sasuke, sempre viu Naruto declarando que amava Sakura, nunca pensou que o Uzumaki mudasse o que sentia. 

            Sakura se sentia estranha com a presença dele ali. Era como se estivesse tendo seu espaço invadido por algo indesejado. Diferente do que sua personalidade ditava, ficou mais calada naquela noite enquanto apenas observava seus três visitantes. Hinata e Naruto pareciam tão felizes juntos e ela estava muito alegre por seus amigos, e por mais estranho que pareça Sasuke não parecia deslocado do lado dos dois, pelo contrário, parecia que ele fazia parte daquela alegria, como se realmente estivesse feliz por Naruto. Ela queria acreditar que era verdade.

            — Sakura-chan? — Falou a Hyuuga — Você já viu o quem tem atrás desta porta? — ela falou enquanto apontava para a porta em um dos lados da cozinha. Essa era a porta de um tipo de quartinho da bagunça. 

            — Não. Por que?  

            — Abra— Pediu Hinata.

            Mesmo sem entender nada Sakura colocou-se em frente à dita porta. Quando abriu a porta teve que se esquivar rapidamente de muitos embrulhos que foram caindo aos seus pés.

            — Mas o que significa tudo isso? — Perguntou confusa. 

            — Você não faz ideia Sakura-chan? — Indagou o Uzumaki.

            — Não, nenhuma.

            — Isso são presentes do seu fã-clube. — Informou a morena

            — Não acredito nisso!

            —Eles continuaram mandando presentes mesmo sem você estar em casa — Falou Hinata — mandaram no Natal, ano novo, dia dos namorados, seu aniversário e etc. Eu peguei todos e guardei para você ver o que vai fazer.    — Acho que eles nunca me deixarão em paz. — Suspirou uma Sakura derrotada.

            — Você já devia ter se acostumado com isso — Disse o loiro gargalhando

—Eu não vou me acostumar nunca, queria que me esquecessem. Espero que depois desse tempo fora eles tenham arrumado algo melhor pra fazer do que me perseguir. —Ela olhou para Sasuke e pela primeira vez desde que se encontraram ela falou como se não fazia diferença ele ter saído na vila ou não. —Francamente, Sasuke, como você conseguia lidar com seu fã-clube? Preciso de umas dicas.

Sakura sorria, e logo foi acompanhada pelo riso tímido de Hinata e mais risadas escandalosas de Naruto. Já Sasuke não sabia como reagir àquela aparentemente tranquilidade que a dona da casa usara para com ele. Pareciam duas pessoas diferentes: a Sakura incomodada por sua presença e a garota relaxada que conseguia fazer uma piada com ele.

            Não foi nenhuma surpresa pra ele saber que a garota tinha uma espécie de fã-clube (ele realmente não entendia como as pessoas podiam perder tempo com isso). Como aluna de uma Hokage, ninja que ajudou o mundo a vencer uma guerra e, francamente, uma bela mulher, era quase impossível que ninguém fosse notar o quanto ela era desejável, e era difícil admitir, até pra ele seria se fosse a outra situação.  

              — Depois verei o que faço com isso. — Falou Sakura.

            — Hina e eu temos que ir agora — Informou o Uzumaki enquanto enlaçava a cintura da namorada.

            — Já está tarde — concordou a morena — Papai pode reclamar.

            — Ele já está aceitando melhor o relacionamento de vocês? — Perguntou Sakura

            — Agora sim— Disse a Hyuuga —Mas no começo, você deve se lembrar, ele não foi muito de acordo

            —Só que ele teria que acabar aceitando. Eu não iria desistir da Hina depois que ela tentou me salvar de Pain.

            — Nem me lembre desse dia. — Pediu Sakura — Foi horrível.

            — É melhor nós irmos. Você vai ficar Sasuke? — Perguntou Naruto. E Sakura arregalou os olhos. É claro que Sasuke não ficaria, não é?

            — Não — Respondeu o Uchiha para alivio dela.

            — Tchau, Sakura-chan. — Falou Naruto

            — Depois venho aqui para nós conversarmos — Disse Hinata.

            — Venha mesmo — Falou a Haruno.

            Sakura terminou de organizar a cozinha recolher os embrulhos de seus admiradores. Uma veia de irritação ainda era saliente em seu rosto, tinha que dar um jeito naquilo. Agora que sofria com a perseguição de um “fã-clube” conseguia imaginar o desespero de Sasuke aos doze anos quando uma legião de garotas corria atrás dele, ela estava no meio de todas. Talvez fosse bom pedir desculpas por todos os momentos constrangedores, ela riu com aquilo. Talvez não fosse tão difícil voltar a conviver com ele.

****

Ai, eu me perdi de novo

Me perdi e não estou em lugar nenhum pra ser encontrado

É, eu acho que devo estar quebrado

Eu me perdi de novo, e me sinto desprotegido

 

            Naquela noite, após chegar da casa de Sakura ele não fez o ritual a que estava acostumado: banho, comida e cama. Diferente de todos os dias que podia estar em casa ele seguiu para um pequeno caminho nos fundos de seu apartamento. Rara eram as vezes que pegava aquele caminho, mas sentiu a estranha necessidade de se encontrar com o passado.

            O pequeno caminho de pedra estava desgastado pelo tempo, os muros que o ladeavam tinham rachaduras e faltava pintura em todos os lugares. Ele conseguia se lembrar de como aquele lugar parecia com uma extensão de Konoha na época que sua família ainda habitava ali. Era difícil para ele, mas algumas vezes necessário, entrar no antigo distrito Uchiha.

            Sua vida era composta de marcos. E dois, dos mais importantes, se passaram naquele lugar. Ali conheceu os dois extremos da vida: a felicidade e o desespero. Fora ali que vivera sua infância feliz, e ali foi onde viu aquela felicidade escorrer por suas mãos. Não queria lembrar-se daquilo no momento. Só estava ali porque precisava de um lugar para pensar, e por mais que parecesse estranho, ou mórbido, a varanda da casa onde cresceu era o local que mais lhe passava tranquilidade.

            Ao chegar não se preocupou em olhar a aparência da casa, ou da poeira que se acumulava sobre os móveis de madeira dentro dela. Ele atravessou os corredores sem parar e olhar as coisas que lhe cercavam. Parou apenas quando se sentou no assoalho de madeira, colocando sua inseparável katana ao lado de onde estava, fechou seus olhos e fez algo que há muito tempo queria fazer: ele suspirou.

            Sim, ele precisava daquilo. Aquele dia estava tão cheio de acontecimentos que ele sentia que a qualquer momento seu peito iria explodir se não conseguisse colocar todo aquele sentimento confuso e acumulado para fora. Seus olhos abriram de repente quando um som saiu de seus lábios, seu peito arfava incessantemente e seu ar parecia rarefeito. Tentava controlar a respiração em vão, tinha tempo que não sentia nada parecido, ele se lembrava bem das crises de pânico. Elas começaram semanas depois que Itachi se fora e sobre ele foram despejadas todas as verdades que envolviam o verdadeiro massacre ao seu clã.

            Logo viriam os tremores de mão e o suor frio. Ele não conseguia entender o porquê ter uma crise logo naquele momento. Ele estava bem. Os três anos na vila tinha feito seus fantasma adormecerem e os sentimentos que o incomodavam estavam esquecidos, e agora toda aquela sensação de pânico voltara com força. Ele olhava para suas mãos e via sangue escorrendo por elas. Foi naquele momento que soube que estava à beira de um abismo. Logo começariam as alucinações e ele fechou os olhos enquanto agradecia em pensamento o fato de estar sozinho e não ter ninguém presenciando a sua fraqueza.

            Mesmo controlando foi impossível deixar de soltar um sorriso triste, quem imaginaria que o último Uchiha em vida era um ser patético que sofria de síndrome do pânico. Provavelmente ninguém acreditaria, e se acreditassem considerariam aquilo como o mínimo de castigo que a vida poderia lhe dar por todo mal que ele tinha causado. Ninguém entenderia que tudo que ele passou criou um buraco tão grande nele que não havia possibilidade de ser preenchido.

            Enquanto sua respiração ficava cada vez mais descontrolada ele pensava se alguém conseguiria entender o que ele estava passando, e se ele merecia que alguém o entendesse. Seus pensamentos foram até Naruto, seu amigo que nunca havia desistido. Naruto não entenderia o que Sasuke sentia, não por insensibilidade ou algo do tipo, e sim pelo fato de que a visão de mundo que o Uzumaki tinha fazia com que ele encarasse a situação de um ângulo diferente.

            Adormeceu ali mesmo, enquanto tentava pensar em algo que pudesse lhe dar apoio e conforto.  Seu ultimo pensamento foi o de que talvez Sakura, sim, Sakura conseguiria entender o que ele estava sentindo.

Me ajude, eu fiz isso de novo

Já estive aqui muitas vezes antes

Me machuquei de novo hoje

E o pior é que não há ninguém pra culpar 


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Notas finais do capítulo

Férias é uma maravilha, vou tentar adiantar o máximo que eu consegui até minhas férias da faculdade acabarem

Beiiijos

Até o proximo



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