Até que a Morte nos Una escrita por Nuwandah


Capítulo 28
Até que a morte nos una


Notas iniciais do capítulo

SIM, um capítulo com o nome da história! Vamos finalmente à fonte literal desse nome!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/673321/chapter/28

O tecido sedoso quase fazia cócegas e a moeda amarrada tilintava suave no ar enquanto o omamori deslizava já com certa destreza entre meus dedos. Virou um pequeno hábito meu mexer no pequeno amuleto em momentos que eu queria desestressar ou apenas me distrair do tédio. Naquele momento, eram as duas coisas juntas, já que uma viagem de ônibus de Tokyo a Wakayama levava, no mínimo, sete horas. Eu não sabia pontuar se o maior problema era o meio de transporte ou o tempo. Como o carro, o ônibus, apesar de maior, ainda passava um sentimento claustrofóbico, principalmente quando em movimento, com o som do motor ao fundo e as leves jogadas para os lados com as curvas. Um grande aparelho de tortura sobre rodas.

Já quase lamentava por Itachi ter afrouxado as medidas de segurança recentemente. Já faz sete meses desde quando nos mudamos para o apartamento novo por causa do assédio da imprensa e só de uns tempos para cá não tínhamos mais problemas com isso. Graças a isso, foi possível que eu fosse com a turma para a famigerada viagem à praia com o dinheiro que conseguimos no Festival de Inverno no ano anterior.

Foi animadora a hora em que Itachi disse que achava “seguro o bastante” eu ir para outra província com um bando de adolescente para passar a semana na praia, mas, pensando agora, que já tinha horas – e ainda teriam mais horas – de confinamento naquela caixa metálica andante, nada parecia mais tão excitante.

Encolhi os ombros contra o encosto do banco, tomando cuidado para não mexer demais com a cabeça de Naruto, que estava apoiada em mim. Ele dormia como se não houvesse qualquer problema no mundo e eu só tinha que torcer para que ele não babasse na minha manga, ou ele infelizmente seria acordado no susto com um soco.

Era noite e as luzes do ônibus estavam apagadas havia quase uma hora. Mesmo contando apenas com a luz esparsa do lado de fora, era possível ver a pequena marca no lábio inferior de Naruto deixada por Toya naquela forma tão covarde que ainda fazia meu sangue ferver tal como naquele dia de neve.

Era melhor isso, focar na raiva e no conforto do omamori entre meus dedos para me distrair do jeito tão semelhante que as luzes dos postes corriam rápido pela escuridão do interior do veículo, do jeito que tudo se parece e se confunde no negrume.

— Nossa, saca essa vista! – Naruto falou animado demais e alto demais para alguém que passou a noite inteira em um ônibus de viagem e estava acordado às 4h carregando mala para fora de ônibus.

— Olha como o sol pinta a água de laranja! – Sakura seguiu a linha de emoção, só que ela tinha motivo para estar animada, já que não precisava descansar.

Mesmo assim, tudo que fiz foi olhar para os dois com uma certa aversão. Eu só precisava de uma cama para colocar meus ossos de volta ao lugar e cá estavam os dois dessa maneira.

— Naruto, se você gritar de novo, eu juro que te jogo na janela do quarto e finjo demência. – Suigetsu disse enquanto praticamente espelhava minha expressão, mas com um pouco mais de contornos por conta do esforço em carregar sua mala grande demais. Afinal, para que uma coisa tão grande assim?

— Que saco, só fica todo mundo quieto que a gente entra no hotel em paz. – Shikamaru resmungou pelas nossas costas.

Na verdade, era um resort bem chamativo à beira-mar. Um pequeno luxo desnecessário para um grupo de adolescentes que não estão em viagem exatamente para relaxarem, mas o montante arrecadado no festival foi o bastante para isso. O lado bom é que não precisaríamos bancar alimentação à parte, então poderíamos focar em outros lugares da cidade para gastar  nossos orçamentos individuais.

Mas isso era uma questão para depois, de preferência quando todos estiverem com o sono em dia.

— Temos uma lista!

Kiba pôs o papel dramaticamente entre as louças do almoço como se fosse um maldito pirata mostrando seu mapa do tesouro. As cerâmicas tilintavam com o impacto na mesa e segurei alto meu pote de arroz para salvá-lo de qualquer possível catástrofe. Levantei uma sobrancelha em questionamento para ele, não me esforçando para engolir logo o que mastigava e perguntar o que diabos aquilo significava.

— Kiba e eu fizemos um levantamento dos lugares pra gente visitar. – Suigetsu explicou, cruzando os braços e erguendo o rosto de maneira orgulhosa.

— Consultar quem vai junto ninguém quer, né? – Naruto acusou, soando quase traído.

— E vocês se importam com isso? Eu sou um excelente planejador de viagens! – Suigetsu gesticulou exageradamente, o que me fez querer afundar na cadeira do restaurante de tanta vergonha.

E ele tinha razão, não é como se Naruto, Shikamaru ou eu iríamos nos interessar em gastar horas de nossos dias procurando pontos turísticos.

— Eu quero ir no Castelo de Wakayama e fazer snorkel! – Sakura exclamou enquanto sua cabeça passava pelo peito de Kiba, dando uma olhada na dita lista antes de todos.

Não é como se ela precisasse pagar por ingresso ou adquirir equipamentos de mergulho ou sequer de companhia para ir a algum desses lugares, mas o interesse de Sakura me fez querer estar com ela nesses momentos. 

— Castelo e snorkel parecem boas opções. – Disse ao esticar o pescoço para ter boa visão do que estava escrito no papel, ignorando a forma com que os pelos nos braços de e Kiba se eriçaram em um arrepio confuso por causa de Sakura.

— Bacana, mas você notou que a gente pode fazer observação de baleias? – O rosto inteiro de Naruto pareceu brilhar só com a possibilidade de ver cetáceos pessoalmente.

Ok, acho que eu facilmente votaria nisso também.

— Quem é que vai cuidar do churrasco?

Tratei de ficar bem quieto para não chamar a atenção e não ser cotado como uma opção. O corpo parecia já sobreaquecido apenas com a caminhada sob o sol de mais de 30ºC. Naquele dia particularmente quente, a sola do pé certamente ficou vermelha em contato com a areia clara e fofa, fazendo ser prazeroso e doloroso ao mesmo tempo caminhar na praia da Kada. Não precisava de mais uma fonte de calor, obrigado.

Mesmo assim, não fui o primeiro entusiasmado a se jogar contra a água depois que concentrados nossos pertences sob um guarda-sol. Caminhei no meu tempo, como Shikamaru, e deixei que as pequenas ondas alcançassem meus pés quase escaldados.

E como a água era fria! Provavelmente não tanto, mas para o meu corpo aquecido pelo calor e pelo esforço da caminhada até a praia, a água não parecia muito diferente de como era no outono. A sorte é que a água ali era serena e rasa, com ondas baixas, se não o choque térmico estava quase garantido.

Mas algo parecido veio mesmo assim quando fui atingido por uma grande onda pela lateral, o que não fazia menor sentido com a água ainda chegando apenas nos joelhos. Até que fez sentido com as risadas de Naruto, que gargalhava abertamente junto a Kiba enquanto eu ainda tentava me recuperar do choque e tirar o cabelo grudado da cara.

— Naruto, seu…! – Esbravejei.

— Parece um gato molhado! – Suigetsu se juntou aos outros, como um bom traidor.

Até Sakura soltou uma pequena risada com esse comentário. Outra traidora.

Lancei para ela um pequeno olhar julgador. Ela estava na água junto comigo, apesar de não vestir qualquer roupa de banho – continuava com a mesma blusa vermelha e saia azul de sempre –, mas parecia que o calor a havia dado algum rubor, o que era estranho.

Como seria a roupa que Sakura usaria na praia se nossa situação fosse diferente? Usaria chapéu? Vestido branco? Como será que ela ficaria de biquíni– Opa, linha de pensamento perigoso, Sasuke, para com isso– 

Outro borrifo de água chegou a salpicar perto de mim, mas dessa vez o ataque não foi contra mim. A vítima da vez era o próprio Suigetsu, que corria de outras investidas de Naruto, que acabou virando suas costas para mim no meio da perseguição – e criou a oportunidade perfeita para minha vingança.

Mergulhei em direção às pernas do loiro. Quando suas canelas bateram contra meus ombros, as agarrei e dei impulso para cima. Eu submergi e Naruto capotou para dentro da água. Gargalhadas ressoaram ao meu redor e Naruto ainda estava desnorteado dentro do mar quando me juntei a eles.

— Aí, já sei quem vai ficar na grelha. – E Naruto finalmente voltou à superfície, tossindo a água que acabou engolindo. Pus a mão sobre a cabeça dele e dei leves batidinhas amigáveis, dignas de se fazer em um cachorro. – Não é mesmo, Naruto? Quem vai ser o melhor churrasqueiro de praia?

Quase que de imediato, minha mãe foi expulsa de onde estava com um tapa.

— Sasuke! – Naruto vociferou e se jogou contra mim, derrubando ambos na água rasa.

Entre gritos, risadas, xingamentos e a própria luta em si, era praticamente impossível ingerir um pouco da água insuportavelmente salgada, mas isso não foi um problema, a briga aquática valeu a pena. Menos quando os escolhidos para chefiar a grelha alugada para o churrasco na praia não foi só Naruto como eu também. Uma tremenda injustiça.

— Meu braço dói de tanto virar carne. – Reclamei ao vento, mas Sakura sabia que o choramingo era para ela.

— Mas o churrasco fez sucesso! Acho que você e Naruto fazem uma boa dupla na grelha! – Sakura riu sem interromper a caminhada ao meu lado.

— Eles comeriam até pedra se eu salgasse bem o bastante. – Bufei e tudo que Sakura fez foi apenas rir mais.

— Mesmo assim, – Sakura retomou. – tem sido uma semana divertida. – Ela jogou os braços para trás e conectou as mãos, como gostava de fazer quando caminhávamos juntos. Foi a vez dela olhar para cima e falar com o vento. – Tem sido bom ver como vocês estão se divertindo de forma tão leve. – Sakura inclinou a cabeça e me olhou diretamente, as luzes do porto onde estávamos refletiam nela tão bem. – Você está mais leve. 

O comentário de Sakura me fez pensar em como ela estava certa, mas não totalmente. Pode ser que ter se livrado de Toya e da mídia tenha me tirado um peso das costas, mas não é como se o estado em que estou agora fosse o mesmo de quando fui morar em Tokyo. Antes, era como se houvesse um novelo de lã completamente emaranhado dentro do meu peito e, agora, ele não só estava sendo desembolado como também tricotado. Eu conseguia apontar alguns motivos para essa mudança em mim, e a principal delas estava bem na minha frente.

E eu era tão, mas tão grato por ter Sakura na minha vida. Apesar dos pesares, apesar de tudo ter caminhado na direção oposta, era como se fosse para estarmos juntos de qualquer forma.

— Por que será? – Foi o que tive coragem de responder, levando os dedos à testa dela para um peteleco que nunca a atingiria.

Sakura corou quase de imediato, levando uma das mãos à testa como se tivesse sentido o pequeno impacto. Parece que ela entendeu o recado, afinal.

O mercado de peixe na marina estava fechado desde antes do pôr-do-sol, e agora seus corredores esvaziados estavam contrastantes com o que seriam ao amanhecer. As únicas coisas ocupando as passagens do grande labirinto por ora eram as bandeiras das lojas e os imensos peixes decorativos pendurados nas paredes ou no ar por cabos de aço. Mesmo assim, a marina toda continuava iluminada pelas milhares de luzes do parque também ali instalado. Os gritos advindos da montanha russa que corria no momento me lembrou que em breve seria hora de me encontrar com os outros para aproveitar o parque.

Tomei o meu tempo na caminhada no porto, que contornava o mercado até a entrada do parque. Era bom estar em uma área afastada de gente, assim era possível ter um tempo para conversar com Sakura à vontade, o que vinha sendo um desafio nos dias de viagem. Aproveitei com ela para apreciar a calmaria e a brisa de início de noite. A overshirt que vestia sobre a camiseta balançava junto com o meu cabelo, mas era agradável a sensação.

— Hm, eles estavam aqui quando chegamos? – Sakura de repente perguntou.

Segui o olhar intrigado de Sakura até a área de alimentação na lateral do mercado, que era em parte descoberta, portanto era iluminada pela luz do parque também e não ficava consumida pela escuridão do resto do mercado. Ali, em meio às diversas mesas, havia dois homens sentados juntos, um de frente para o outro, ambos de braços cruzados sobre o tampo de madeira. Eles não conversavam, nem sequer se olhavam. Passariam-se facilmente por estátuas se quisessem. Era como se eles não quisessem ser notados…

Foi então que entendi o que estava acontecendo e fui consumido nada mais do que revolta.

— Eles são jornalistas. – Setenciei dentre os dentes.

Como eles ousavam? Eles já não tiveram o bastante?

— Pera, vai fazer o quê? – Sakura questionou quando passei a marchar em direção à dupla.

Todo aquele tempo andando na rua tendo que estar em alerta por medo desses abutres surgirem com suas câmeras e perguntas estúpidas. Todo esse tempo sem poder ao menos sair para me divertir com os meus amigos e, agora que finalmente tínhamos sido deixados em paz, vinham mais esses.

— Ei! – Chamei os dois em tom desafiante quando me aproximei o bastante do cercado da praça de alimentação. Eles se moveram minimamente, mas foi o bastante para me deixar satisfeito por tirar alguma reação deles. – Vocês não têm nada melho–

As palavras morreram na minha boca como se meu cérebro tivesse sido desplugado quando debrucei sobre o cercado e vi mais de perto o rosto de um dos homens. Nossos olhares se encontraram, mas tudo que consegui registrar foi a cicatriz de meia-lua que curvava em relevo a têmpora do homem – uma meia-lua de diâmetro exato ao do relógio que meu pai sempre usava no pulso. E aquele olhar frio, eu lembrava dele quando cheio de ódio e banhado pelo próprio sangue ao ponto de escorrer.

Não sei dizer por quanto tempo permaneci congelado na mesma posição, com a boca antes aberta para reclamar e agora, apenas em choque, mas minhas pernas rapidamente voltaram a funcionar quando o homem lentamente se pôs de pé. Quase em automático, os pés foram para trás, garantindo uma distância mínima entre nós. Os joelhos tremiam, e me esforcei para evitar de ir ao chão com a súbita falta de força.

O outro homem também se pôs de pé, igualmente calmo. Em algum lugar, bem ao fundo, ouvi Sakura se sobressaltando. Eles me encararam com expressões neutras – quase beirando o tédio – por alguns instantes e então começaram a andar.

Quase tropecei em meus próprios pés quando me joguei mais para trás e comecei a correr na direção oposta. Meu coração batia tão forte contra as minhas costelas que parecia que elas cederiam a qualquer momento.

— Eles… não estão vindo? – Ouvi Sakura confusa ao meu lado, e foi então que tive coragem de olhar para trás.

De fato, os homens só continuavam a caminhar e já viravam para sumir na frente do mercado, no sentido completamente contrário ao meu. Assim, me toquei que estaria perdendo uma chance inigualável. Os homens que nos sequestraram e mataram meus pais estavam ali, bem próximos de mim, e eu estava prestes a perdê-los de vista.

— Espera, o que você tá fazendo?! – Sakura se pôs à minha frente com um olhar quase selvagem e as mãos erguidas quando ameacei andar de volta para o mercado.

— É a minha chance. – Senti minha boca dizer. Minha cabeça estava repleta de estática. – Não posso perder eles de vista, senão eles podem nunca mais aparecer. – Coloquei a mão no bolso do shorts e tirei o celular de lá.

— Ficou louco?! Esses homens são perigosos, são assassinos! – Sakura estava apavorada enquanto seguia os meus passos. – Sasuke-kun, por favor…!

A visão dela assim me ajudou a focar minha mente com um instinto de proteção, a estática deixando meus ouvidos de imediato. Sentia-me determinado e, ao parar momentaneamente, lancei para Sakura um sorriso reconfortante a fim de transparecer isso.

— Não se preocupe, eu já tomei minha decisão. – Olhava fundo para aquelas esmeraldas marejadas. – Eu prometo que ainda vou viver muito por nós dois… até que a morte nos una.

“– Sasuke-kun, irei dizer mais uma vez: eu já estou morta, meu tempo já passou, mas o seu, não. Se isso te incomoda, então viva por mim, viva por nós dois. Faça valer a pena”.

Não, isso aqui não é uma história de Shakespeare, minha vida não terminará em morte e tragédia. Eu farei meu próprio final, eu traçarei meu próprio destino e lutarei pelo meu final feliz.

A fala pegou Sakura de surpresa e ela arregalou os olhos, mas não era momento para processarmos que eu havia praticamente me declarado para Sakura ao dizer que não morreria ali.

Sem mais tempo a perder, voltei a andar na direção de onde havia visto os homens virarem a esquina e olhei para os contatos na minha lista telefônica após abrir o celular com um movimento rápido do pulso. Tinha que arrumar uma forma de alertar todos ao mesmo tempo. Enquanto isso, Sakura parecia ter se recuperado rápido da surpresa, pois já estava correndo à minha frente, provavelmente para previnir que eu precisasse chegar perto demais dos dois homens.

Naruto atendeu ao segundo toque.

— Sasuke, que milagre você ligar e não mandar mensagem! Já chegou no parque?

— Naruto, preste atenção. Eu preciso que você chame a polícia no mercado de peixe e avise o Itachi. Eles est–

Uma mão veio de trás de mim e se fechou sobre a minha, dobrando o celular e finalizando a ligação. Sakura emitiu algum som à distância que não consegui distinguir. Estava ocupado demais olhando em absoluto assombro para o dono da mão que ainda me segurava.

Havia um terceiro. Como eu pude esquecer?

Eu voltei para não perdê-los e fui direto para o alcance deles. Talvez fosse exatamente isso que eles quisessem. Era uma armadilha?

Mas não tive tempo para pensar em mais nada. Uma voz aguda soou alto perto de mim e o homem levantou sua outra mão para segurar algo molhado sobre minha boca e nariz. Só pude registrar o cheiro de amêndoas enquanto tudo virava trevas. Mais uma maldita vez.

A primeira coisa que veio aos meus sentidos foi o intenso latejar que ressoava por todo o meu crânio. A cicatriz ali agonizava e céus, eu só queria que aquilo parasse.

— -kun! Sasuke-kun! – Alguém me chamava, mas quem? Estava tudo tão escuro, tão confuso.

Notei que minhas pálpebras estavam fechadas e as forcei a abrirem minimamente, sibilando de dor assim que a luz do ambiente perfurou minha cabeça. Apertei os olhos instintivamente e tentei respirar devagar. Depois de alguns segundos, tomei coragem para abrir os olhos novamente, mas com mais cuidado.

— Sasuke-kun! – O rosto de Sakura estava bem à minha frente, deitado rente ao chão. Sua expressão emanava alívio, mas tinha algo estranho.

A luz, na verdade, estava bastante escassa. Fontes de luz reluziam, mas só à distância. Havia também um zumbido ao fundo, de gente gritando e falando alto. Pisquei mais algumas vezes para ajustar a visão e levantei uma mão ainda pesada para tentar, em vão, me empurrar um pouco para cima. Por que eu estava no chão?

E então foi como se todo o ar tivesse sido arrancado de mim de uma vez só. Aqueles homens estavam em Wakayama e haviam me emboscado.

— Ele estava com alguém no celular. Eu ouvi ele falar para chamar a polícia. – Uma voz desconhecida reverberou pelo ambiente.

Segui o som com o olhar e me deparei com um par de botas que insistia em bater o solado no chão. Eu lembrava daquelas botas de quando minha mãe me segurava para me impedir de engasgar no meu próprio sangue. Lembro que foi o dono daquele par quem atirou em nós dois a sangue frio, que matou minha mãe enquanto ela estava ajoelhada no chão.

E lá estava eu, deitado no chão como antes, e à mercê novamente dos meus algozes.

— Ei, está comigo? – Sakura estalou os dedos na minha frente. – Preciso que você foque em mim, ok? Sem dormir.

— S-Sakura… – Minha voz saiu quase sem forças, espelhando muito bem a fraqueza que sentia por todo o meu corpo, completamente pesado contra o chão.

Mais um par de botas fez barulho contra o chão, dessa vez ao andar em minha direção. Sakura se ergueu em um pulo e me esforcei para virar a cabeça e olhar para cima.

As mãos de Sakura estavam fechadas em punho tão forte que elas tremiam. Ela encarava o homem que se aproximava, mas ele não a notou, claro, e ele apenas andou até a minha frente com uma expressão estranha.

— O moleque tava falando sozinho. Parece que o garoto ficou ó – Ele fez círculos com o indicador erguido ao lado da própria cabeça. – depois do seu trabalho mal feito. – E se virou para o outro cara que havia ficado para trás.

Ajustada a posição no chão, agora eu conseguia vê-los melhor. O acusado cruzou os braços em irritação. Ele era o homem que ganhou do meu pai uma marca na têmpora. Ela era bem visível por ter cicatrizado como queloide. Ao menos algo de ruim esse filho da puta carregou daquela noite.

— Então vamos acabar logo com isso. – Ele respondeu ao que se aproximou de mim. Suas vozes eram familiares, elas ainda eram frescas em meus pesadelos.

— Não, não, não! – Vi Sakura se agitar, olhar para os homens e então para mim várias vezes.

Cheguei à mesma conclusão de Sakura logo em seguida: eles queriam finalizar o trabalho um ano atrás. Aquilo era uma queima de arquivo.

Precisava de tempo. Se Naruto fosse só um pouco perspicaz, a polícia já havia sido acionada e, dado o cheiro forte de peixe, não havíamos nos distanciado do porto. Na verdade, ali devia ser o interior do mercado, já que estávamos cercados por corredores de barracas de madeira e com um teto negro sobre nossas cabeças.

— Vocês… – Tentei limpar a garganta para me livrar do nó que já se formava ali. Forcei o cotovelo como apoio para ao menos tirar a cabeça do chão e lançar um olhar mais apropriado para escórias como aquelas. – Vocês mataram os meus pais.

Os homens apenas se entreolharam, mas não disseram nada.

— Por quê? – Eu precisava saber. Essa pergunta me assombrava já há um ano. – Eles demitiram algum de vocês? Ou vocês foram contratados por alguém? – Mais uma vez, apenas uma troca de olhares e meu sangue ferveu. – Vocês nos fizeram passar por um verdadeiro inferno, vocês me devem isso. Eu mereço saber! – Esbravejei e minha voz ecoou pelo galpão que cobria o mercado.

— Escuta, garoto. – O homem à minha frente agachou-se, pôs os cotovelos sobre as coxas e deixou as mãos caídas de forma despojada. – Primeiro, essa é a última vez que você levantou sua voz, entendeu? Você vai morrer hoje, mas eu posso fazer com que isso seja muito, mas muito doloroso, beleza? – Ele alcançou algo atrás e voltou com uma faca borboleta, não tardando em jogá-la de um lado para o outro para mostrar sua presteza com a arma. – Beleza? – Ele perguntou de novo, com mais autoridade e um acréscimo de ameaça.

Acenei rápido com a cabeça. Minha mandíbula estava tensa demais trincando os dentes para falar alguma coisa.

— Bom menino. – Ele sorriu satisfeito. – Segundo, a gente não te deve porra nenhuma. – A ponta da faca brilhou perto do meu rosto quando ele a virou para mim. – Mas vou considerar esse um último pedido. – A lâmina se afastou do meu rosto e soltei a respiração que nem notei que havia prendido. – A gente não fazia ideia de quem vocês eram até todos os jornais surtarem com o que fizemos. O carro era bacana e famílias são alvos melhores porque são mais fáceis de controlar. É só usar um para dominar os outros.

Como… assim? Ninguém planejou o sequestro? Fomos sentenciados só por aparentarmos ter dinheiro e sermos vistos como presas fáceis? Quer dizer que o sequestro, a execução e tudo isso pelo que minha família passou – o que Sakura passou – foram obras do mero acaso?

Nossas dores, as mortes deles foram isso mesmo? Algo trivial, sem significado ou motivo?

Só notei que minha respiração estava errática quando a visão começou a embaçar. Dobrei os dedos bem apertados, a ponto das juntas ficarem esbranquiçadas, mas mesmo assim as mãos não pararam de tremer. Que sensação horrível era aquela, de pequenez, de incapacidade.

— Já chega. – O terceiro, que era o motorista do outro carro naquele dia, interviu. – Temos que sair daqui logo. Dêem um jeito nisso.

Tec, tec, tec.

O girar do tambor de um revólver ressoou alto naquele grande mercado vazio e uma grande náusea se enroscou em volta de meu estômago, me deixando tonto.

— Lembra dele? Você vai se comportar e não vamos precisar usar ele de novo, né? – O homem à minha frente agora havia trocado a faca borboleta por uma arma que era tão horrendamente familiar.

Era nítida ainda a visão dele girando e girando aquele tambor com uma única bala, encaixando-o no corpo e apertando o gatilho, rindo quando disparou e não saiu projétil.

Minha visão estava em túnel, a cabeça repleta de estática e a respiração irregular ocupava os ouvidos quando o homem da cicatriz andou até o lado do que tinha o revólver e também se agachou.

— Rápido e sem marcas. – O que permaneceu em pé coordenou.

— Vai ser um funeral bonito. – O homem com o revólver quase lamentou ao guardar o artifício atrás de si.

Sakura de repente estava em pé no mesmo ponto em que os homens ocupavam. Sua face estava ávida com ansiedade e urgência.

— Sasuke-kun, você precisa levantar agora! Eles querem forjar o seu suicídio!

— Isso se acharem o corpo rápido, né? Lembra daquela garota? – O homem cicatrizado comentou com o outro, e fui tomado por uma terrível sensação.

Arrastei-me para trás o mais rápido que pude para me afastar daqueles dois. O que ele queria dizer com aquilo? O que eles fizeram? Por que Sakura sabia exatamente o que eles queriam?

Minhas mãos arrastaram pelo piso frio até que as costas bateram contra uma estrutura de madeira. Olhei para trás e vi que havia chegado à uma bancada pertencente a uma fileira de lojinhas que formava aquele corredor. Não havia mais rota de fuga.

— Sasuke-kun!

Quando olhei para a frente de novo, os dois homens já estavam em cima de mim novamente. Tentei empurrá-los e chutar, mas eles estavam em vantagem por número, posição e força. O com cicatriz em estantes segurou meus braços e sentou sobre minhas pernas, limitando por completo meus movimentos. O outro colocou uma de suas mãos sobre minha boca e com a outra pinçou o meu nariz, parando o fluxo de ar inteiramente.

— Shh. – O que sufocava fez quando comecei a me contorcer e fazer pequenos barulhos de desespero sob sua mão. – Já vai acabar.

Um estouro alto sobressaltou todos ali e as mãos que me restringiram soltaram imediatamente assim que os dois homens pularam em pé, voltados para a origem do barulho. O som da trava do revólver sendo solta ressoou logo em seguida, já a postos na mão de seu dono.

Respirei fundo, tentando recuperar o fôlego perdido. Segui também a fonte do estrondo e precisei ajustar minha postura sentado para ver – dentro de uma das lojas do outro lado – um quadro grande de madeira fincado em uma caixa de vidro. A água da caixa, que provavelmente é (era) usada para colocar frutos do mar durante o dia, escorria livremente pelo chão e já invadia o corredor onde estávamos.

Em pé de frente à bancada cheia de outras caixas de vidro estava Sakura, levemente curvada e arfando forte. A franja pendia sobre o rosto e os olhos brilhavam com algo feroz. Ela quem fez aquilo?

Um sentimento de déjà vu de quando jogamos Ouija no hospital me tomou. Naquele dia, Sakura estava assustadora e conseguiu fazer com que nos sentíssemos num verdadeiro filme de terror.

— Ah. – Um dos homens soltou, relaxando a postura. – O prego deve ter se soltado.

Foi ele dizer isso que Sakura apoiou ambas as mãos no quadro ao lado e o puxou para baixo com toda a força de seu corpo. A peça imitou a vizinha e se espatifou contra a caixa de vidro abaixo de si, fazendo todos se sobressaltarem.

Sakura não esperou uma segunda reação e disparou para as lojas da outra lateral do corredor, onde estávamos. Como eu estava no chão apoiado em uma das bancadas, pude apenas ouvir quando mais objetos foram quebrados.

— Mas que merda é essa?! – Um deles gritou ao girar para o novo lado de destruição. A terceira vez claramente os assustou, mesmo assim, um quarto estouro logo ecoou pelo mercado.

— Quem está aí?! – O outro esbravejou, apontando seu revólver de forma cega para as lojas tomadas por caco e água.

Mais um estouro ecoou, dessa vez mais fundo no corredor. O motorista sacou uma pistola da cintura e caminhou devagar em direção ao som, olhando para todos os lados.

— Fiquem aí. – Ele ordenou para os outros dois, que continuavam perto de mim.

Com certo assombro, vi Sakura flutuar alto pelo ar, fazendo-me lembrar de que sim, Sakura era um espírito e isso significava que as leis da física já não mais se aplicavam a ela.

Sakura posou sentada e com graciosidade sobre uma réplica de peixe suspensa, que facilmente medida mais de dois metros de comprimento. Sua expressão era séria, com um certo desprezo ao seguir o caminhar daquele homem. Ambas as mãos dela trabalhavam em cima da peça decorativa, uma em cada lado. Um barulho baixo, fino e longo ressoava repetidamente, mas, com o eco do lugar, era difícil estabelecer a fonte.

Ao menos para quem não conseguia ver Sakura mexendo na base dos cabos de sustentação.

Assim que os pés do homem o puseram exatamente embaixo da réplica, ela despencou. O homem nem viu o que o acertou na cabeça. Foi ao chão com a peça imensa por cima de si e lá ficou, imóvel.

— Mas que porra! – O com cicarriz finalmente sacou sua própria arma.

— Quem é?! Apareça ou o garoto paga! – O outro voltou seu revólver contra mim sem sequer olhar para baixo e meu sangue gelou.

Mas Sakura logo apareceu na minha frente, pondo-se entre mim e a dupla.

— Bu. – Foi tudo o que ela disse.

Os homens giraram num pulo. Seus olhos foram direto em uma Sakura muito visível e eles empalideceram de imediato. O que estava mais perto, apontando seu revólver para mim, gritou e se jogou para trás à medida em que o outro ergueu sua pistola e atirou contra Sakura. Madeira e vidro estouraram na loja de trás quando as balas saraivaram pelo do corpo de Sakura.

Enquanto eu me encolhia para me proteger dos projéteis e estilhaços que voavam pelo corredor, não pude evitar de recordar também de quando Sakura expulsou os moleques que estavam caçoando de um gato na Praça Omamori meses atrás.

“– Não se esqueça de que também sou um fantasma, também sei assombrar”.

Foi isso que ela fez com eles?

— Atira direito!

O outro homem reclamou e começou ele também a atirar contra Sakura com o seu revólver, só que com muito mais afinco. Ela, que estava parada como uma estátua até então, começou a andar lentamente para a frente. Os caras recuaram de imediato, mas continuaram a atirar.

Então, o som de disparos da revólver deu lugar a singelos cliques. O homem ficou sem bala. Tomei coragem para desproteger mais o rosto e vi o brilho de uma outra pistola, estando caída no chão a poucos centímetros da boca do peixe de mentira espatifado em cima de uma forma que permanecia inerte. Parecia que ele a tinha cuspido – o que, de certa forma, era verdade.

Verifiquei como estava a comoção à minha frente: o homem com a pistola tentava se entender com a sua arma e o com cicatriz se preocupava em esvaziar seu pente em Sakura, que já os encurralava contra as bancadas das lojas da outra lateral do corredor. Era agora ou nunca.

Com um pouco de esforço, pus-me de pé e corri os poucos metros necessários para alcançar a arma de fogo. O toque era gelado e o peso além do esperado. A pegada na arma aparentava não exatamente certa, mas sentia ser além disso o motivo para aquilo não parecer certo entre minhas mãos.

Mesmo assim, tentei firmar o agarre da melhor forma que pude e deixei o instinto comandar. Passei o polegar na trava, apontei para cima e disparei. O coice foi forte contra meus cotovelos e ombros e tive que batalhar contra o impulso para não deixar a arma escapar das mãos. Assim que recuperei o controle, já fui descendo a mira para a localização genérica dos dois homens, que já estavam congelados e com suas atenções tiradas de Sakura pela primeira vez.

— Larguem as armas! – Gritei a plenos pulmões, torcendo para a voz não tremular como meus membros ameaçavam.

O homem com o revólver ameaçou virar demais para a minha direção e, no reflexo, atirei novamente, só que dessa vez para baixo, algo próximo de seus pés. Minhas palmas gritaram novamente com o forte recuo, mas não era hora de vacilar.

— Eu mandei soltar! – Gritei mais uma vez, chegando um pouco mais perto com certa energia para provar o meu ponto.

Os homens se encolheram semelhante quando fizeram durante o quebra-quebra de Sakura, e dessa vez eles jogaram seus armamentos no chão sem mais delongas.

Meus braços formigavam e não era pelo esforço de segurar no alto aquela arma pesada. Na verdade, meu rosto e todo o corpo formigavam. O ar que expirava forte abrasava a pele já quente.

Era a minha chance. Finalmente eu estava frente a frente com aquelas pessoas de novo e agora tinha a vantagem, tinha a oportunidade de vingar o que eles fizeram conosco, de me vingar pela morte dos meus pais e por terem deixado Itachi e eu sozinhos. Céus, eu torcia para que não fosse isso, mas poderia me vingar pela morte de Sakura também.

Sakura, inclusive, continuava com sua postura séria, numa completa discordância ao que seria sua real natureza.  Mas não tinha como culpá-la por agir assim quando de frente com seus próprios carrascos.

— É com você. – E a cabeça dela estava virada para mim, ignorando as miradas confusas dos homens entre nós dois. Seus olhos esmeralda estavam duros, quase opacos. Não havia nada daquele brilho marcante.

Foi só quando um soluço escapou de minha garganta que notei que estava chorando.

Depois de tudo pelo que passamos, de todo o horror daquela noite, depois da dor da perda dos meus pais e ter uma parte minha arrancada junto, sendo forçado a viver à sombra daquela noite, depois de tudo isso, era esse o ponto sem retorno, culminamos nele.

E foi então que notei que o choro não era só pela dor, mas pela raiva e o rancor. Tudo aquilo de terrível que passamos era obra daquelas pessoas à minha frente, tão detestáveis que meu corpo inteiro tremia. Eu poderia dar um fim a eles como eles fizeram conosco e finalmente fazer justiça.

Mas algo estava muito errado ali. Sakura não era daquele jeito. Ela queria ser médica, ajudar a salvar vidas, qualquer que fosse. O fato de eu tirar uma vida dessa forma, mesmo que por vingança, não me faria igual àqueles homens? Como Sakura reagiria quando ela chegasse à mesma conclusão? Como ficaria nossa relação?

Se eu atirasse, ela voltaria ao normal e sorriria de novo, eu sorriria de novo? Se meus pais ao menos estivessem aqui como Sakura estava, eles pediriam para o filho deles apertar o gatilho?

— Eu poderia acabar com isso agora. – Minha postura relaxou, ainda que não tirasse os homens da mira para mantê-los sob controle. – Mas não sou covarde que nem vocês.

Sakura pareceu surpresa, mas não mais do que os dois homens, que pareciam já se conformar com uma vingança inevitável.

— Polícia! Mãos para o alto!

Uma nova voz gritou ao longe. Olhei para trás por reflexo e vi duas pessoas fardadas vindo do início do corredor. Finalmente, a polícia havia nos encontrado.

— Cuidado! – Sakura gritou e me virei de volta com urgência, mas um dos homens já estava vindo para cima de mim, com uma mão estendida e a outra empunhando sua faca borboleta.

Ele queria finalizar o serviço enquanto ainda tinha tempo? Me fazer de refém?

Tudo aconteceu no espaço de segundos: me contraí para trás em reflexo e a arma disparou mais uma vez. O homem nunca me alcançou, foi ao chão de imediato com uma mancha crescente em sua blusa clara.

Eu ainda tentava processar o que aconteceu quando um disparo abafado por silenciador vibrou em meus ouvidos ao mesmo tempo em que senti dor explodindo em meu peito. A visão embaçou e as pernas bambearam de imediato com a dor que tirava o ar, mas ainda consegui ver o homem da cicatriz com sua arma erguida em minha direção antes de cair para trás. As balas dele não haviam acabado.

Mal senti a queda. O mundo só girava, respirar era impossível, a dor me consumia e a voz de Sakura era registrada, mas estava tão distante. Pisquei e os olhos dela estavam lá, me olhando de cima enquanto lágrimas despencavam deles sem parar. Fossem elas físicas, provavelmente estariam molhando meu rosto.

Era por minha causa? Estava tão feio assim? Não era para ela estar dessa forma por minha causa.

“– Hunf. É só você não sumir assim novamente.

— Tudo bem. Eu prometo.

— Em troca dessa promessa, eu também vou fazer uma. Eu nunca mais vou te fazer chorar.”

— Desculpa… – Tentei abafar um gemido de dor quando inspirei para falar e agonia aflorou em meu peito. – Acabei te fazendo chorar…

Mas isso só pareceu fazer as lágrimas de Sakura caírem ainda mais e ela se agitou.

— Calma, não se esforce!

“– Shh... Calma, não se esforce.”

Minha mente, apesar de muito distraída com o ferimento em meu peito, não deixou de fornecer a memória daquela noite, o que foi dito para mim enquanto eu era impedido de me afogar em meu próprio sangue. Aquele não foi um tom tão energético como o de agora, mas o resto casou perfeitamente.

Aquilo não fazia qualquer sentido. Eu tinha certeza de que era a minha mãe quem estava lá e me ajudou a sobreviver a custo da própria vida. No entanto, Sakura morreu no mesmo dia e pelas mãos daqueles homens também, mas como?

Meus pensamentos estavam misturados e não conseguia conectar os pontos que sentia estar na ponta dos meus dedos. Tudo escorria como areia.

Eu não podia morrer ali, justo agora que me declarei para Sakura e aceitei viver por nós dois. Não estava nem um pouco disposto a morrer naquela noite, afinal, eu tinha uma promessa a cumprir.

Mas parece que eu não era bom em manter promessas.


Continua…


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que as demoras para postar não tenham feito vocês esquecerem que adoro um cliffhanger
Ah, devo avisar que a próxima postagem será dupla! Teremos o capítulo final e um epílogo!
Tenho algo pronto? Absolutamente não, desculpa haha



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Até que a Morte nos Una" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.