Crosses - One Shot escrita por Tainá Trajano


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Como assim Frank não está na lista de personagens do site? ;-;

Hello, folks! Faz tempo que não posto uma one short. Venho tentando me concentrar muito em Youkai, e não sei se está fazendo o efeito que espero. Mas vamos lá. Depois do quarto episódio do jogo, Frank se tornou o meu personagem favorito. Embora ele não mostre, acho muito intenso o sentimento dele por Rachel, e como vocês devem saber (ou não) Life Is Strange não tem um epílogo, e isso é uma porta aberta para escritores amadores que escrevem s :v Espero que gostem.

Antes, uma citação do nosso protagonista da :

"I was eating those beans, are you fucking insane? I WAS EATING THOSE BEANS!" - Frank Bowers



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Estacionei o RV e lavei o rosto. Havia decidido apenas dirigir por aquela cidade quando eu acordei, mas fazia algum tempo que não me alimentava direito. Deixei ração para Pompidou e saí do trailer.

O céu estava azul e a brisa trazida pelas ondas percorria o estacionamento e passava por meu corpo, dando energia. Era um belo dia em Arcadia Bay, e eu a odiei por isso. Aquela cidade não merecia uma manhã tão acolhedora depois de ter me dado àquelas últimas noites de lamento.

Entrei no Two Whales e me dirigi às bancadas. Uma garota ficou assustada ao me ver, mas logo abaixou a cabeça para seu prato. Não liguei para aquilo, embora ela me parecesse familiar. Sentei no banco alto e dei meu pedido para a garçonete atrás do balcão. Olhei em volta, e tudo parecia, finalmente, normal. Os mesmos adultos cansados, os mesmos adolescentes idiotas e o mesmo cheiro forte do café. Até eu perceber que a jukebox tocava um artista besta de folk. Um dos favoritos dela. Depois de tanto esforço tentando esquecer esses pensamentos, uma porra de música traz tudo de volta.

Sem notar, acabei suspirando alto demais.

— Dia difícil? – perguntou a garota ao meu lado, a voz baixa e com um tom amigável, sem tirar os olhos de seu bacon com ovos.

—... Meio isso – a analisei antes de responder. Não era da conta dela, mas ninguém me mandou fazer cara de coitado por aí.

— Aqui está. Bom dia, Frank - a garçonete entregou meu café e omeletes, e antes de sair deu meia volta e se dirigiu a jovem. - Ah, Max! Esqueci de te avisar. Você pode passar lá em casa para pegar o que quiser do quarto da Chloe.

Ah, Chloe Price. Por isso a reconhecia, ela devia ter ido ao seu enterro.

— Oh, você tem certeza, Joyce? Digo, é muito legal da sua parte, mas eu sei que pode ser difícil se desfazer das coisas dela. E logo para mim, que...

— Está tudo bem, querida. Eu tenho certeza que ela iria gostar. Além do mais, vai estar me fazendo um favor. Não gosto daquelas coisas punk. Não quando não tem ninguém pra usá-las.

A mulher sorriu e continuou com o trabalho. Lembrar daquela bulldog azul me fez rir um pouco, sempre metida a durona. Esperei sua mãe se afastar.

— Então você conheceu Chloe Price?- Soltei um riso abafado. - Aquela pivete morreu sem me pagar o que devia.

— Me desculpe por isso – ela olhou para mim agora, com um sorriso envergonhado. – Ela... Estava com muitas coisas na cabeça.

— Estranho você falar assim dela, nunca vi vocês juntas – pensei mais um pouco, enquanto botava uma garfada na boca. – Na verdade, nunca vi você por aqui – ela parecia careta demais pra andar com aquela punk.

— Ahm... Nós costumávamos sair quando criança. Corríamos por toda Arcadia Bay inventando histórias. A gente dominava essa cidade, - ela parecia distante, com o olhar perdido em algum lugar – até eu mudar para Seattle. Mas pode apostar, eu a conheço bem.

Fiquei meio perdido com o jeito que ela falou de Chloe. Eu só queria puxar um papo, quem sabe descobrir se ela tinha deixado meu dinheiro em algum lugar. Mas aquilo pareceu intenso.

 - Mas soube que ela estava saindo com outra garota – continuou. – Rachel Amber, se não me engano.

 Meu punho se fechou instantaneamente no talher quando escutei aquele nome saindo da boca dela. Tudo estava indo bem, por que ela tinha que falar? Como essa vadia sabia daquilo?!

— Acha que só por ter voltado pra cá, pro enterro da sua querida amiguinha, tem o direito de pensar que sabe de tudo?!

Mas assim que disse aquilo, desarmei. Ela levantou com um prato na mão, e com a outra tocou meu ombro. Me deu um longo sorriso abatido antes de ir sentar em uma das mesas. Seus olhos pareciam saber de tudo, e seu toque... Foi a única coisa que me confortou depois do que aconteceu.

Depois daquilo, pareci voltar no tempo.

Lá estava eu, falando pela primeira vez com Rachel Amber. Lembro como senti alguma coisa esquisita assim que ela sorriu, como se pedir drogas fosse uma das sete maravilhas do mundo. Depois começamos a nos ver com frequência. Sempre com a mesma desculpa, mas ela acabava passando um bom tempo comigo. Ela fazia conversar parecer fácil. Pompidou não a estranhou, então deixei que entrasse no trailer. Ela falava de como era legal enquanto fingia que dirigia o RV, e acabou falando em sair daquela cidade e todos os seus sonhos. Lembro de como fiquei fascinado, sentado no banco de carona, ouvindo ela falar com tanta ambição de tudo aquilo. De como seu cabelo parecia dourado quando a luz da tarde batia, e como os olhos pareciam irradiar energia. Me perguntei várias vezes se era possível existir uma garota incrível como ela.

Lembro de um dia em que ela perguntou se eu tinha algum sonho, e como ela ficou abismada quando eu falei “eu sonho com um dia em que as pessoas parem de me pedir fiado”. Eu sabia que ela deveria me achar um perdedor sem nenhuma vontade de viver, mas ela não pareceu se importar muito, só brincou com a minha cara. Acho que só o desejo dela valia.

Quando eu não estava com ela, percebia que ela estava em toda parte. Todos conheciam Rachel Amber.  Alguns falavam mal, mas mesmo assim não se davam conta que estavam hipnotizados por aquela garota, nem que tenha sido por um momento sequer. Ela parecia entender a todos e ser única ao mesmo tempo. Para Blackwell ela era uma ótima aluna, enquanto para os outros alunos ela era uma rebelde. Todos percebiam sua aura motivadora, que emanava aquela coisa estranha que senti na primeira vez que a vi. Acho que todos ficavam marcados quando a conheciam porque na verdade queriam saber como ela funcionava. Um verdadeiro mistério.

Minha vida tinha mudado desde então. Estava alegre e até tinha esquecido dos problemas, mas eu só percebi isso um dia, quando a vi dançando no meu trailer. Aquela minha casa, que eu sempre olhei como meu refúgio, havia ganhado uma luz de fora. Eu não deixava pessoas entrarem na minha vida tão facilmente como deixei Rachel. Tudo se tornou tão anormal na minha vida tão facilmente que só pude notar quando aquela luz de sua alma brilhou intensamente e só para mim. Eu amava Rachel Amber.

Mas depois de um tempo, achei que talvez ela não amasse.

Todos pareciam sentir o que eu sentia pela Rachel. Todos enxergavam o que eu enxergava nela. O diferencial seria o que ela sentia pelos outros. E o que ela sentia por mim parecia não ter a intensidade que eu esperava. Talvez fosse menos do que ela sentia por Chloe Price, num nível amoroso. Talvez eu fosse apenas um cara que ela deixou que a amasse. Não seria estranho, até porque estávamos falando da pedra preciosa de Arcadia Bay, vestida em jeans rasgados e camisa xadrez. Mas em algum ponto aquilo começou a doer. Doía aceitar que ela não queria sair comigo em público. Doía ver como ela se preocupava em não contar sobre nós para sua melhor amiga. Doía ouvir ela me pedindo mercadoria quase todas as vezes que nos víamos.

Até que chegou um dia em que ficamos chapados no meu quarto. Eu tentava não revelar toda a confusão que eu podia estar apenas imaginando, até que ela falou em deixar Arcadia Bay comigo. Eu não sei se ela estava brincando, devaneando novamente sobre seu sonho, mas aquilo fez meu sangue subir para a cabeça. Na verdade, eu só consigo lembrar da minha voz alterada antes de apagar. Não conseguia compreender o que ela sentia sobre mim, e nem mesmo ela pode me explicar, porque eu estava gritando com ela. Mas ela não podia brincar comigo daquele jeito. Não quando eu a amava.

As últimas coisas que recebi dela foram cartas. A primeira ela estava zangada comigo, e a segunda ela parecia triste por ter que dar um tempo. Pensar sobre suas palavras me fez achar que talvez toda a minha gritaria a tenha abatido de verdade. Eu me senti um pedaço de merda por dias, sem saber quando a veria de novo.

Depois eu descobri o motivo dela não atender aos meus telefonemas nem porque não a encontrava em lugar algum. Foi depois de ler o jornal.

Eu havia colaborado para sua morte.

O filho da puta do professor daquela academia de mesquinhos precisava das drogas para tirar fotos de garotas dopadas em uma sala escura. Ele usou a Rachel. E outro aluno, o filho dos Prescott, que o ajudava a matou de overdose tentando impressiona-lo, como se ela não fosse nada. Eu queria mata-los com as minhas próprias mãos. Aqueles psicopatas não podiam trata-la como se não fosse nada! Não a Rachel Amber! Não a minha Rachel.

Ela não podia estar morta. As noites que eu passei em claro foi imaginando como a Rachel poderia ter escapado daquele miserável. “Não é impossível, ela é esperta. A garota mais esperta que já conheci. Ela estava em algum lugar.” E ai eu lembrava novamente que haviam encontrado seu corpo enterrado num lixão, e eu afundava novamente. Usava qualquer droga e bebia até me desligar.  Às vezes eu a via ao meu lado, ou escutava o som do seu riso, mas me cansei de tudo aquilo. E depois cansei de cansar de tudo aquilo. Quem sabe se eu não tivesse gritado, ela ainda estaria ali. Eu podia impedir aquilo, podia convencê-la a passar a noite no trailer. Ela teria me escutado.  Mas eu não podia voltar no tempo.

Depois daquela manhã no Two Whales, eu me dei conta de quem era a Rachel Amber. Ela havia se tornado a garota de Arcadia Bay. Ambas misteriosas, ambas acolhedoras de alguma forma, nunca revelando seus segredos. Nada podia fazer você querer sair de Arcadia Bay, assim como nada podia fazer você parar de gostar da garota. E mesmo depois de morta, ela nunca iria deixar de ser a cara daquela cidade. Mas eu não podia viver ali. Não mais. Não com tudo e todos me lembrando dela, me fazendo pensar que ela estava viva. Ninguém nunca iria olhar as pichações com seu nome sem se dar conta do que realmente aconteceu, porque ela ainda estava ali para eles. Ela era um símbolo para todos, e sempre seria desde que a cidade estivesse de pé. Mas era óbvio para mim que ela não estava ali. Não podia fingir tudo aquilo depois de ela ter entrado na minha vida, depois que eu acostumei meus olhos com a sua luz.

Terminei o café e parti com meu trailer e meu cachorro para a estrada estadual de Oregon. Eu iria embora daquela cidade, levando o sonho de Rachel Amber.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler até o final! Sabe, essa foi meio que um "desabafo" de tudo que eu achava que tinha acontecido com o Frank, então foi muito bom por no papel aka WordPad. Qualquer erro me avisem, por favor! E sintam-se a vontade para comentar! ~o~



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