O barulho do pequeno salto de sua bota nunca fora tão irritante.

O som ecoava pela sala vazia, Claire estava esperando por mais de quarenta minutos em uma sala qualquer de laboratório.

Ela ainda tinha contato com algumas amigas da faculdade, então pedira com muita insistência um exame de sangue, o mais rápido que pudera ter. Então, escolhera esperar quarenta minutos do que uma semana para o resultado.

Seu esmalte nude já fora arrancado violentamente pelos dentes ansiosos de Claire, que já sentara e andara a sala inteira enquanto aguardava.

Checou seu celular pela milésima vez.

Ainda não havia nenhuma mensagem de Derek.

O suspiro saiu pesado por entre os lábios da ruiva.

Depois que finalmente fizera os testes de farmácia, ela ainda tinha uma pequena esperança de que eles poderiam estar errados, então, não perdeu tempo em correr atrás do resultado definitivo.

Desde ontem tentara inúmeras vezes ligar para seu namorado, mas ele não retornara e nem respondera suas mensagens.

— Claire. - a voz de Brie soou finalmente. - Aqui. - estendeu um envelope lacrado.

— Você sabe? - ela perguntou quando pegou o papel, sem olhar realmente para a antiga amiga.

— Não. - ela foi verdadeira. - Boa sorte. - sorriu amigável.

— Obrigada, Brie. Mesmo.

— Estamos quites. - a morena saiu da sala.

Claire deixou-se sorrir um mínimo segundo e balançou a cabeça.

O envelope em suas mãos a atormentava.

Seus olhos estavam fixos no seu nome impresso apenas na etiqueta ali, ela ainda nem havia ao menos o aberto ainda.

O rasgão do papel parecera ensurdecedor.

“Positivo”.

Claire não quis nem ao menos ler o resto do exame, apenas aquela palavra a fizera soltar um alto choramingo.

Seu coração batia descompassado.

Ela apertou o papel em suas mãos trêmulas.

Estava desesperada, se perguntava se aquilo realmente era possível.

“Tonta, tonta, tonta!”.

Era sim possível.

Claire esquecera totalmente de tomar a pílula depois da primeira noite em que ela e Derek passaram juntos.

Lágrimas grossas passaram a rolar sem permissão por todo o rosto pálido da ruiva.

Como pudera ser tão estúpida? Como eles puderam ser tão irresponsáveis?

— Oh meu Deus! - sua voz lamentou.

Ela estava grávida.

Dois meses e meio, e ela nunca havia notado ao menos algum sintoma.

Claro que ela sabia que variava de mulher para mulher, mas ela sempre fora tão sensível, e não havia sentido absolutamente nada.

Deixou o teste cair de suas mãos, e se deitou em sua cama.

Algumas lágrimas ainda insistiam em cair, mas seu choro era mais baixo.

Achava que ficara ali por alguns longos minutos.

O que faria?

E Derek?

Claire não havia feito tanta coisa ainda, e ela teria que arcar com uma responsabilidade tão maior do que ela havia planejado.

— Ruiva? - a voz de Sarah do outro lado da porta era animada. - Qual é! Achei que você já tinha saído dessa. - ela riu.

Claro que ela queria ter filhos, mas ela se imaginava trabalhando em um consultório como psicóloga e com um marido.

A porta do quarto se abriu, e ouviu-se passos lentos.

Não desta forma. Tão de repente, tão… Sem querer.

Houve um arquejo surpreso.

Sarah sabia agora.

— Claire… - a morena deitou-se ao seu lado e abraçou sem jeito.

A ruiva começara a chorar novamente.

Talvez fossem os malditos hormônios de gravidez.

— O que eu vou fazer, Sarah?

— Nós vamos dar um jeito! - a confortou.

Ficaram um longo tempo assim, apenas abraçadas na cama da ruiva. Sem dizer nenhuma palavra.

E fora como se elas tivessem voltado a infância, dormiram juntas.

Quando Claire acordou, estava sozinha.

Ela sorriu. Sarah sempre acordara antes dela.

Olhou-se no espelho. Seus cabelos ruivos estavam bagunçados, seus olhos evidenciavam todo o choro do dia anterior.

Resolveu tomar um banho.

E pela primeira vez, ela tocou em sua barriga, ainda estava lisa. Mas, era possível sentir uma mínima elevação.

Claire sorriu.

— Eu vou cuidar de você. - falou terna.

Ela chorou novamente.

E desta vez, de emoção.

A água quente que caia do chuveiro era renovadora.

Finalmente, a ruiva pôde organizar todos os pensamentos confusos e desconexos que tivera ontem.

Ela seria a melhor mãe que poderia ser.

Não hesitaria, não fraquejaria.

Talvez, seu sonho em se tornar uma doutora em psicologia não estivesse mais tão perto quanto ela gostaria, mas algo muito maior estava mais próximo do que ela poderia imaginar.

Lutaria contra todos os pensamentos que a poderiam deixar triste.

Foi até a cozinha e encontrou um café da manhã variado na mesa.

— Nossa, ainda bem que eu vou ficar grávida por nove meses. - falou divertida.

Sarah quis fazer alguma piada, mas ficou extremamente feliz em ver a amiga aceitando sua gravidez.

— Vejo que alguém melhorou.

— A vida segue, não é? - falou enquanto se sentava. - Agora, devo seguir por mais uma. - sorriu.

A morena abraçou a ruiva com força.

— Nós vamos superar isso! - Sarah disse, e a mão da morena encontrou a barriga pequena da amiga. - Tão pequenininhos ainda!

Claire riu.

O café seguiu calmo e silencioso.

A falta de palavras entre elas não era desconfortável. A ruiva se sentira grata pelo apoio que a amiga havia dado a ela desde o momento em que descobrira, mas ela não poderia esperar atitude diferente vindo de Sarah, já que as duas eram melhores amigas há muito tempo.

A mente de Claire vagava pelo futuro, tentando descobrir o que fazer naquele momento, e ela ainda estava perdida nos seus próprios pensamentos.

— Decidiu o que vai fazer? - a morena perguntou.

— E-Eu preciso contar pro Derek, Sarah. - a ruiva gaguejou.

— Já tentou?

— Se ele ao menos me respondesse. - bufou.

A morena ficou em silêncio por algum tempo.

— Sabe o que você deveria fazer? - disse pensativa para Claire.

— Não… - falou relutante. De certa, a amiga viria com uma ideia fora do comum.

— Deveria ir atrás dele! - Sarah bateu a mão na mesa.

— O quê? - a ruiva engasgou com seu café, o rosto indignado se virou para a amiga.

— Ir atrás dele… Seja lá onde ele estiver.

— Você ficou maluca? - perguntou perplexa.

— Você realmente quer contar isso por telefone?

— Não, mas… - ela ponderou. - Ir até lá? - se perguntou.

— Sim! - falou a encorajando. - Você é uma mulher forte, não é?

— Sou.

— Vai ficar dependendo do Derek? Se ele te responder, ele assume a responsabilidade. Se não, você vai criar sozinha?

— Não. - falou enquanto ainda pensava.

Era uma ideia louca, mas Derek não a respondia há pelo menos uma semana.

Ela não esconderia isso dele, nem pensar.

— Eu nem ao menos sei onde ele mora! - Claire falou bufando.

— Mas a Cora sabe. - a morena disse firme.

— Vou largar tudo?

— Não é como se ser secretária fosse seu sonho.

— Ai meu Deus! - ela cobriu seu rosto com as mãos. - Por quê você me deu essa ideia?

— Porque é uma boa ideia. - deu os ombros.

Claire estava decidida.

Ela iria atrás de Derek.

“Eu estou ficando maluca”, pensou consigo mesma mais uma vez.

A mão da ruiva pairava em frente à porta do apartamento de Cora.

Como ela diria que a amiga seria… tia?

De repente, sua garganta se fechou e a vontade de voltar para sua cama ficou ainda maior.

Mas, a irmã de seu namorado abrira a porta antes mesmo que Claire fizesse algum movimento.

— Oh! Oi, ruiva! - a morena sorriu.

— Ei, Cora. - falou um pouco desconfortável.

— Está tudo bem? - perguntou preocupada.

Cora sentia algo diferente em Claire, mas não sabia o quê.

— Está… - falou hesitante. - Na verdade, eu preciso falar com você. Você estava de saída?

— Eu tenho tempo. - ela disse.

As duas garotas entraram no apartamento e sentaram-se no sofá.

— É problema com o Derek? - Cora perguntou.

— Mais ou menos… - ela mordeu os lábios. - Preciso que você me passe o endereço dele nos Estados Unidos. - falou de uma vez.

Cora franziu as sobrancelhas.

— Claro… Mas, por quê?

— Bem… - ela sorriu levemente. - Eu… Bem, eu estou grávida. - o tom saiu mais feliz do que ela imaginava.

A lobisomem ficou alguns segundos estática.

— Você está me dizendo que... Que...? - piscou os olhos inúmeras vezes.

— Sim!

— E eu vou ser tia, é isso? - ela perguntou com a voz falha.

— Pelo jeito. - Claire sorriu.

— Ai. Meu. Deus! - Cora falou alto.

A morena abraçou a amiga num ímpeto.

— Eu não acredito nisso, ruiva! - falou animada.

— Nem eu! - as duas se olharam.

“O Derek vai pirar!”, Cora pensou.

Claire segurava a alça de sua mala de viagem em uma mão, e em outra, ela carregava sua bolsa grande.

Ela suspirou alto.

O portão de embarque lhe dava enjoos.

Já fazia três dias desde que Claire havia definitivamente descoberto sua gravidez.

Sarah não teve muitas dificuldades em lhe arranjar um voo para a Califórnia e todas as informações para que a amiga chegasse até Beacon Hills.

— Se cuida, filha. - a mãe de Claire lhe disse num abraço. - Não hesite em me ligar que eu vou pra esse lugar na mesma hora.

— Obrigada, mãe. - a ruiva lhe devolveu o abraço apertado.

Claire havia passado os últimos dois dias na casa da mãe, que lhe apoiou incondicionalmente com a gravidez, e havia chorado de emoção quando descobriu que iria ser avó.

— Manda um abraço para o Derek. - ela piscou.

Ela se despediu das amigas do trabalho, Jesse e Dani.

— Vou sentir falta dos nossos almoços.

— Tome cuidado em Beacon Hills. - Cora lhe disse seriamente, mas carinhosa.

Sarah deixava cair algumas lágrimas.

— Agora estou um pouco arrependida de ter lhe dado essa ideia. - a morena falou.

— Para, Sarah! - Claire a abraçou emocionada.

— Volta logo! Já estou com saudade do meu afilhado. - ela riu.

— Eu volto. - sorriu.

Claire entrou no avião com o coração apertado.

Olhou para a vida que estava deixando para trás, chorou.

Mas, olhava para sua barriga coberta pelo tecido fino de sua roupa, essa era sua vida agora. E ela deveria olhar para frente.

E talvez, esse novo olhar, sua nova vida seria em Beacon Hills.