Em uma noite de sábado o céu estava incrivelmente estrelado e Thalia Grace dirigia o seu carro na direção de uma boate, com os vidros abertos, sentindo o vento balançar seu cabelo curto e a vontade de acelerar cada vez mais a dominando naquelas ruas vazias.

Thalia tinha combinado de se encontrar com Annabeth e Percy lá, seus melhores amigos que por acaso estavam namorando o que a deixava em um sistema de vela constante, contudo a mulher sempre acabava achando alguém para se divertir.

A mulher estacionou a algumas quadras da boate que escolheram para aquela noite. Ela andava sem pressa, era uma noite realmente abafada no Canadá, mas noites assim usualmente vinham com fortes ventanias e nesse sábado não era diferente.

Thalia retirou alguns de seus fios escuros dos olhos, tentou desamassar a blusa e puxou o short jeans mais para baixo, checou o batom vermelho na tela do celular e ao perceber que estava tudo certo, entrou na boate.

A Grace não procurou por Annabeth nem por Percy, o lugar era enorme e a música que tocava era uma das suas preferidas, sem pensar duas vezes ela foi se enfiando no meio da multidão até chegar a um lugar com diversas mulheres dançando, decidiu que ficaria ali, então ela começou a dançar.

Thalia remexia os quadris, jogava o corpo para trás e balançava o cabelo recém-cortado, ela sempre os mantivera acima dos ombros, mas dessa vez decidira cortar na altura do queixo, bem repicado.

Ela estava completamente despreocupada, sabendo que a observavam, pegando bebidas algumas vezes, mas sempre voltando a dançar.

Foi pega de surpresa quando um homem desconhecido segurou seu pulso e tentou puxá-la para perto enquanto falava em uma voz arrastada:

— Oh gata, vem dançar no meu colo, vem.

Thalia torceu seu pulso para fora do aperto dele facilmente, pronta para se afastar quando ele tentou puxá-la novamente.

— Não foge não.

Ela virou de frente para ele se deparando com um homem muito bonito e visivelmente bêbado.

— Sai fora.

Ele riu.

— Vai se fazer de difícil?

Ela viu pelo canto dos olhos várias pessoas os observando e alguns parecendo até prestes a intervir, mas Thalia não precisava de ajuda. Quando ele fez menção de segurá-la novamente a mulher lançou o seu punho na direção do rosto dele com toda a sua força, ela o viu indo para trás com a mão no rosto e uma careta de dor, não o esperou se recuperar aproximou-se mais e projetou seu joelho na direção das suas partes baixas, ele se encolheu para frente e Thalia aproveitou para sair de perto, praticamente lutando para sair do mar de pessoas. Ela secou o suor da testa, suas pernas estavam pesadas e ela sabia que devia estar com uma cara assustada, dirigiu-se ao bar e sentou-se, pediu uma bebida e pode finalmente relaxar contra a banqueta. Estava prestes a pedir mais uma bebida quando alguém se sentou ao seu lado, Thalia abaixou a mão e olhou para o lado, curiosa.

Apesar de ele estar sentado, ela podia ver que era alto e forte, tinha a pele clara e o cabelo escuro era mais comprido do que o dela, uma barba rala e um rosto exótico.

— ‘Cê tá legal? — ele perguntou virando-se para ela.

— ‘Tô, por quê? — questionou confusa.

— Falam que esse tipo de experiência é traumática para mulheres e tudo mais. — ele falou dando de ombros.

— Acredite, essa experiência foi traumática para apenas um de nós e não foi para mim.

Ele pareceu divertido e olhou em direção a pista onde todos dançavam, vendo a roda de pessoas que estavam em volta do homem se dissipar, Thalia sorriu ao vê-lo constatar que ela estava certa.

— Então, qual o seu nome? — ela perguntou.

— Nico.

— Thalia. — ela se apresentou.

E ele sorriu pelo que pareceu a primeira vez na noite, mas não a última.

***

Thalia já beijara muitos homens antes, entretanto nenhum deles jamais a fez se sentir como Nico estava fazendo, talvez fosse porque ela não o conhecia e a ideia de beijar um desconhecido extremamente sexy fosse excitante para ela. Ele afastou a boca da dela, sem separar seus corpos.

— Me acompanha? — ele perguntou indicando a saída com a cabeça.

— Eu queria dançar mais um pouco. — ela falou olhando a pista de dança.

Ele riu.

— Apesar de que eu adoraria vê-la dançar novamente, não acha que já dançou o bastante pelo mês inteiro?

— Então você estava olhando. — ela acusou rindo.

Ele concordou.

— Principalmente depois de você ter dado uma surra naquele cara, — ele confessou — admito que quando fui falar com você fiquei com medo de ser o próximo.

Ela riu.

— Ainda pode ser.

Ele lhe lançou um sorriso sedutor e aproximou mais o rosto do dela.

— Eu sou bonito demais para você sequer pensar em me bater. — ele sussurrou enquanto passava a boca pelo pescoço dela.

— Iludido. — ela conseguiu falar fracamente.

Ele riu contra o seu pescoço e ela se arrepiou, ele a puxou pela cintura e perguntou:

— Vamos?

Thalia nem pensou ao concordar, normalmente não faria isso, mas Nico estava perto demais e ela não raciocinava, a jaqueta de couro dele estava jogada em uma cadeira e ela queria ter uma bela visão dos seus músculos escondidos por baixo da sua camiseta, então ela o seguiu, o vendo pegar a própria jaqueta. Ela observou o lugar, exatamente do mesmo jeito que estava quando chegou, talvez mais vazio e agora ela enxergava Percy e Annabeth se beijando em um canto. Deixou Nico guiá-la para fora da boate esquecendo-se que viera com o próprio carro.

— Uma moto. — ela constatou — Por que eu não me surpreendo?

Ele riu e piscou para ela enquanto colocava a jaqueta, virou-se e lhe ofereceu o outro capacete.

— Por que você trouxe dois capacetes? — ela perguntou desconfiada.

— Dei carona para a minha irmã.

Ela o encarou, desconfiada, entretanto pegou o objeto oferecido e o colocou na cabeça enquanto ele fazia o mesmo, Thalia subiu na moto logo depois dele, entrelaçando os braços em volta da barriga dele, estava ventando muito fora da boate, mas ela não parecia sentir.

Ele riu quando acelerou e ela se agarrou nele, assustada. Depois de um tempo se acostumou e quando estava começando a gostar ele parou a moto.

— O que aconteceu? — perguntou confusa.

— Chegamos. — ela o soltou e ele desceu da moto.

Ela o seguiu, vendo o retirar o capacete e repetindo o gesto, eles estavam dentro de uma garagem, ele a guiou com uma mão nas suas costas em direção ao elevador.

O apartamento dele não era muito grande, mas naquela noite ela não quis e nem teve a oportunidade de conhecer qualquer outro cômodo que não fosse o quarto dele. Apesar de que alguns dias depois ela conheceu o sofá da sala dele, semanas depois conheceu o chão de sua cozinha e depois de alguns meses a sacada e a parede do seu banheiro.

***

Thalia Grace sempre foi prática quando se tratava do amor, ela tinha diversos motivos para achar relacionamentos desnecessários e manter algumas relações puramente físicas com alguns colegas. Nico Di Angelo era o tipo de cara que gostava de relacionamentos sérios, não frequentava boates e só a conheceu em uma, pois tinha acabado de terminar com a sua namorada de seis anos e precisava extravasar um pouco. Thalia e Nico saíram por oito meses, ela conheceu os amigos dele e ela o apresentou aos seus, ela sempre se negava a conhecer os pais dele e nunca lhe falou sobre os seus.

Os dois sempre deixaram claro o que queriam e apesar de um ir contra o outro, uma hora alguém teria que ceder e Nico esperava que fosse Thalia, ele sabia que ela saia com menos frequência com seus “colegas”, sendo que só o fazia quando eles brigavam, o que o fazia evitar brigar com ela o máximo possível.

Contudo em uma noite eles estavam no apartamento dele, ambos deitados na cama de casal do Di Angelo, ele brincava com as mãos dela enquanto a observava e ela olhava para o teto parecendo perdida. Por fim ela disse:

— Eu não vou mudar por você, você sabe, não é?

Ela se virou para ele, Thalia não perguntou exatamente o que queria, mas ele entendeu a pergunta e estava bem com isso. Essa era Thalia, ela não aceitaria ter que dar satisfações a alguém, não suportava relacionamentos, como ela mesma dizia em alguns dias queria se agarrar a ele e não sair de perto e em outros ela só queria espaço, sair e se divertir e ele entendia.

— Eu sei disso. — ele aceitou.

Talvez algum dia ela estivesse pronta para assumir algo com ele, mas agora ela só queria viver – sem planos, sem nada – e Nico, bem, ele só queria estar ao lado dela.