Sekai no Sozokujin: Herdeiros de um mundo -revisão escrita por SabstoHoku, FrancieleUchihaHyuuga


Capítulo 29
Um jantar em família.


Notas iniciais do capítulo

PESSOAAAALLL
SEUS LINDOS, SENTIRAM NOSSA FALTA?
Desculpem a demora!!
O capítulo foi extremamente delicado e demorado pra escrever. Sério. Além disso, ele ficou enorme (e era pra ser maior, acreditem )
Gente, até me aperta o coração saber que já está acabando 3 (Muita bad agora) São só mais nove capítulos para o final dessa primeira temporada!! Ansiosos?
Muito obrigada por tudo até agora!!
Beijão pra vocês, espero que gostem!!!



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Poeira.

Era o que cobria tudo. O esconderijo já havia ido completamente ao chão, e nenhum sinal dos inimigos tinha sido encontrado.

Hitomi ainda estava lá, parada, encarando com mágoa e perplexidade o lugar em que estivera poucos minutos antes. O lugar onde vira os olhos dourados terem sua luz roubada. Onde um sonho tinha sido destruído, s uma promessa quebrada.

Ela ouviu Konohamaru e Moegi chamarem todos, mas não se moveu. Negou-se a entender todas as palavras que os adultos diziam. Viu seus amigos correrem até os senseis, formando um grupo de costas para ela, respondendo suas perguntas e tentando contar, com tantos detalhes quanto possível, o ocorrido. Também notou quando o Sarutobi virou-se e apontou para ela, e Hokuto deu alguma desculpa para seu estranho estado. Hokuto devia saber a verdade. De alguma forma, ela sempre sabia.

Foi nesse cenário, com poeira para todos os lados, seus colegas de costas e sua prima dando atenção aos resgatados, que ela sentiu-se finalmente ceder, batendo os joelhos dolorosamente terra. E gritar. Gritar de uma maneira que ela não achou que conseguiria. A dor tinha sido instantânea, fazendo-a agarrar sua cabeça com força, como se quisesse arranca-la. Era ainda pior do que no dia em que Yumi tentara tomar seus olhos; Agora, parecia que eles pulariam fora sozinhos. O dia fora tão confuso que esquecera-se de que estava usando seu Byakuringan a tempo até demais, e há muito já havia excedido o limite que achava ter. Porém, o uso prolongado agora estava cobrando seu preço, e aquela era a maior consequência. Logo após o grito, achou ter ouvido a voz de Hokuto dizendo à todos que cuidaria da amiga, e que não era preciso alarde ou preocupação. Hitomi agradeceu por isso, pois não queria que vissem o que vinha a seguir.

Sentiu algo se descontrolar dentro de si. A enorme e conhecida pressão que a atingiu na nuca lhe deu um perigoso aviso. Tentou murmurar um breve “não”, porém as dores que sentia em ambas as partes de seu corpo praticamente a incapacitaram disso. Sentiu aquilo espalhar-se pelo lado direito de seu pescoço, chegando até a bochecha. “MERDA!” Xingou mentalmente. Tentou contê-la, e conseguiu parcialmente. Suspirou, momentaneamente aliviada.

—Droga, Uchiha, será que sempre vou ter que ser sua enfermeira,’ttebane? -Ouviu a voz de Hokuto, apesar de ainda não conseguir olhar para ela. Pelo tom usado pela menina, aquilo não era uma provocação, e sim uma brincadeira. Quase podia visualizar o sorriso gentil da rosada, enquanto utilizava algum jutsu curativo e se esforçava para que conseguisse ajudar a amiga. Talvez ela tivesse respondido, caso conseguisse.

A sensação quente do jutsu curativo invadiu sua cabeça, confortando-a por hora e fazendo pouco a pouco sua dor diminuir. À medida que a dor ia desaparecendo, tomava de volta o controle desejado, fazendo aquilo desaparecer. Assim que teve forças para abrir os olhos, o fez, torcendo para que ninguém estivesse observando-a. Hokuto estava ajoelhada em sua frente, um pouco afastada, a mão direita cobrindo sua testa. Parecia concentrada no que fazia. Hitomi abriu a boca, prestes a falar, mas a amiga foi mais rápida:

—Eu vi. -Declarou, sem olhar para a outra. - Sei quem ele era. Eu sinto muito.

A mais velha concordou com um aceno de cabeça. Talvez realmente precisasse de um pouco de consolo.

Olhou para Toshiko, que ainda cuidava dos resgatados, agora na companhia de Boruto. Parecia fazer algumas perguntas, e carregava um sorriso doce nos lábios. Nesse instante, percebeu que estranhamente havia uma assustadora semelhança com o sorriso de Hokuto. Mais uma coincidência, claro. Hitomi estava cansada de coincidências. Logo cansou de observar a prima, e dirigiu seu olhar aos outros companheiros, que ainda estavam de costas, formando uma rodinha, absortos em uma discussão que provavelmente tratava da missão. Agora, porém, havia algo de diferente. Moegi encarava as garotas de esguelha, ou mais especificamente encarava Hitomi, a cabeça discretamente inclinada em sua direção. O olhar fixo expressava dusconfiança, e talvez um pouco de medo. A Uchiha arregalou os olhos e engoliu em seco. Não tinha maneiras de ter dúvidas.

Ela havia visto. Independente de reconhecê-lo ou não, Moegi agora sabia de seu maior segredo.

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Começaram a caminhar assim que Hitomi se recuperou o suficiente. Logo chegaram de volta à vila principal, onde se dirigiram ao prédio do Kazekage. Ao entrarem, uma surpresa: Naruto, Sasuke, Shikamaru e os jounins da Folha, conversando calmamente com um aparentemente deprimido Katsuo. Nenhum deles fez questão de explicar aos ninjas mais jovens o motivo de estarem ali, mas todos pareceram felizes ao ver que a missão tinha sido um “sucesso”. E,quando Konohamaru tentou relatar tudo, Naruto apenas lhe disse que tratariam do assunto quando chegassem à Folha. E assim fez.

Katsuo se encarregou dos ex-desaparecidos, e até mesmo convidou todos a irem, junto com ele, leva-los até suas famílias e levar todas aquas pessoas de volta às suas respectivas casas. Por um pedido (mesmo que mal explicado) de Hitomi e argumentos de Hokuto sobre a privacidade doa reencontros, ninguém de Konoha foi. Hitomi agradeceu mentalmemte por aquilo. Não sabia se suportaria ver, naquele momento, os rostos dos familiares daqueles que tinham sido encontrados já mortos. E muito menos o rostinho choroso de Takara, ao perceber que o irmão nunca mais voltaria para casa.

Partiram no início da manhã seguinte, sem questionamentos, dando um breve adeus ao Kazekage e à vila do Algodão. Ninguém conversou muito durante a viagem de volta, não houveram brincadeiras e nem mensagens encorajadoras. Todos pareciam exaustos. Todos estavam insatisfeitos. Todos tinham seus motivos, fossem eles sinceros ou não.

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2 semanas depois.

As semanas passaram extremamente devagar, cada segundo equivalente a uma hora. Os dias pareciam cinzentos,como se a cor estivesse aos poucos sendo roubada do mundo. Hokuto passava a maior parte do tempo em meio à treinos com Boruto e Sasuke, e, quando não estava com eles, aperfeiçoava suas habilidades médicas com Sakura. Os gêmeos pareciam estar se esforçando ao máximo, porém se distanciavam cada vez mais. Não era mais possível ver o sorriso arteiro e determinado de Boruto, e embora Hokuto ainda desse seu sorriso gentil à todos, ele não parecia mais tão espontâneo. Hitomi fora vista poucas vezes, e aparentemente  treinava com Toshiko quando podia, e com Hinata na maior parte das vezes.

Mais nenhuma missão fora dada para nenhum deles, a não ser Konohamaru, que passava a maior parte dos dias fora da vila, cumprindo uma missão atrás de outra. Moegi mal fora vista, e não se sabia o porquê. Naruto usava cada vez com mais freqüência a desculpa de que estava atolado em trabalho e raramente saia de seu escritório. Era monótono demais, sem graça demais. Todos pareciam cheios demais. 

Pensando que aquilo poderia animar todos e fazê-los descansar ao menos um pouco, Sakura e Hinata logo colocaram uma ideia em pauta: Nada melhor que um jantar, reunindo toda família, para que pudessem restabelecer a calmaria e trazer de volta os sorrisos de seus filhos. Não queriam tornar aquele um ambiente estranho. Queriam suas famílias de volta. No fundo, todos eles queriam. 

— Porque temos que fazer isso? - Reclamou Boruto, torcendo o nariz para a entrada do mercadinho á sua frente. 

— A mamãe quer levar alguma coisa para o jantar. - Respondeu a rosada, calmamente. O citado jantar seria realizado na casa dos Uchihas, por insistência de Hinata. A mulher era gentil, porém fiel aos seus conceitos, e decidira desde o início que Sakura não deveria se preocupar com nada, nem mesmo com o preparo da comida. A médica, claro, não deixou que todo o trabalho ficasse por conta da amiga, mas concordou com a decisão do local. 

— Mas porque nós temos que fazer as compras,’ttebane?

—Porque ela quer que fiquemos longe do treino hoje, mas também não quer que fiquemos parados em casa. -Murmurou a menina. -Acho que ela está preocupada, Bolt.

O loiro não falou mais nada, apenas andou para dentro do mercado, com a irmã em seu encalço. Tudo a partir dali foi feito num silêncio desconfortável, os dois pares de olhos azuis se focavam apenas momentaneamente nos produtos e depois voltavam a se dirigir ao chão. Raramente olhavam um para o outro, ou para as pessoas em volta. Não era claro o sentimento que envolvia aqueles dois, mas era algo peculiar. Os afastava e os unia ao mesmo tempo.  

As compras acabaram rápido, e eles logo estavam em casa. Sakura abriu um sorriso ao vê-los, pegando com rapidez as sacolas nas mãos dos filhos.

—Podemos subir,’ttebane? -Questionou Boruto, após ter entregado todas as sacolas para a mãe. Hokuto levantou o olhar para ele, observando a expressão amena do irmão.

—Não. -Respondeu a mulher com uma voz controladamente paciente. Não era um repreensão e muito menos uma ordem. Soava mais como um pedido: “Por favor, fiquem”. Boruto abriu a boca, prestes a dar alguma resposta, mas Hokuto segurou a mão do irmão com força, deixando-o surpreso.

—Tudo bem. -Comentou a menina. Sakura se virou, surpresa. Talvez já estivesse esperando protestos do filho. Fitou as mãos juntas dos gêmeos com seus olhos esmeraldas e sorriu.

—Podem ir para a sala se quiserem. Assistam algo na televisão, joguem alguma coisa, fiquem de papo furado. Só… Não se isolem de novo, pode ser? -Disse, olhando para os filhos.

Os gêmeos assentiram, virando-se e indo rumo à sala.

Hokuto não soltou a mão do irmão até que chegassem até o sofá, e Boruto também não parecia fazer questão de desvencilhar-se do aperto reconfortante da irmã. O gesto foi desfeito apenas quando Boruto, por costume, decidiu sentar-se em sua poltrona favorita, localizada no canto da sala. O silêncio reinou entre os irmãos, sufocando-os por dentro, ambos com medo de estragar a “paz” criada. Nenhum dos dois pegou o controle da TV, e muito menos ligou o video-game citado pela mãe. Era possível ouvir apenas o som da faca usada por Sakura cortando alguns legumes e os dedos de Hokuto batendo no mesmo velho ritmo no braço do sofá.

— Ei, Hokuto... O que você acha desse jantar,’ttebane? -O menino finalmente se pronunciou, suspirando de alívio logo em seguida. A atmosfera silenciosa que se formava já estava prestes a deixa-lo louco. 

— Parece ser legal. Não vejo Hitomi direito desde aquela missão - Mesmo com os olhos agora fixoa no irmão, Hokuto não parou de bater os dedos, e o barulho ainda podia ser ouvido, quase ecoando pelo local. A verdade era que, por dentro, a menina não sentia vontade alguma de ir ao tal jantar, e o pressentimento estranho que sentia reforçava essa negação. Mas iria, de qualquer maneira. Não gostaria de decepcionar a mãe ou a tia, e muito menos Hitomi e Boruto. 

— O quê ela diz? - Questionou o loiro, com um traço de curiosidade. 

— Que está ocupada treinando,’ttebane. -Respondeu, simples. Boruto emitiu um breve “Hm” de desinteresse, e Hokuto olhou para ele. Que diabos estava acontecendo? Boruto sempre tinha interesse em coisas relacionadas à Hitomi.

—Não está preocupado? -Questionou a menina.

—Com o quê? Ela está treinando. -Respondeu, vagamente. - Nós também estávamos.

—É exatamente isso. -Murmurou a menina. Boruto lançou um olhar indecifrável para a irmã, porém continuou quieto.- Nós também estávamos.

O silêncio novamente tomou conta do lugar. Hokuto parecia cada vez mais inquieta. A tensão se acumulava sob os ombros dos dois, mas nenhum deles agia.

Logo, Sakura apareceu na sala, carregando alguns potes, provavelmente contendo comida. Olhou curiosamente para os filhos em silêncio e suspirou.

—Podemos ir? -Perguntou.

—Sim… -Responderam os dois em uníssono.

—O papai…? -Hokuto começou, mas perdeu a fala quando a mãe balançou negativamente a cabeça.

—Está ocupado com o trabalho. Não vai conseguir sair à tempo.

—Que novidade,dattebane. -Boruto comentou, irônico. Sakura lançou ao filho um olhar de aviso, e o menino voltou a calar-se.

—Vamos. -Chamou a médica, e os gêmeos se levantaram.

Saíram de casa normalmente e caminharam em silêncio até certo ponto; Hokuto estava em seus próprios pensamento quando foi despertada pela voz dá mãe.

— Como está indo o treinamento de vocês? - Perguntou a rosada mais velha, tentando puxar assunto. Estava mais que claro que, além da simples curiosidade, queria acabar de alguma maneira com o silêncio angustiante da família.

—Bem… -Respondeu Hokuto.

—É, tipo isso. -Boruto completou. Sakura respirou fundo, contou mentalmente até 15 e seu eu interior soltou um breve “Shannaro!!” irritado. Não começaria a gritar e muito menos cobrar os filhos no meio da rua, não apenas por exposição pública, mas por aquele dia ter como objetivo ser feliz. Uma bronca apenas pioraria as coisas.

—Não precisam ser tão negativos.-Comentou.- Me contem sobre o que estão aprendendo. Sobre o que Sasuke-kun diz para vocês.

—Ele diz que estou indo bem, que ser uma boa espadachim e que tenho sorte de não ter puxado o Usuratonkachi do meu pai. Mas que sou tão teimosa quanto ele e tão irritante quanto você,’ttebane. -Respondeu Hokuto primeiro, baixando a voz na última parte, o que fez Sakura dar uma leve risada.

—Que ótimo, filha. Ainda quero te ver lutando como espadachim. -Respondeu, com uma voz alegre. -E você, Bolt?

—Tio Sasuke me diz que sou ainda mais estúpido que o meu pai. -Murmurou o menino à contragosto. Sakura riu alto, chamando a atenção dos que estavam em volta. -O que tem de engraçado, dattebane?

—Ele gosta de vocês. -Disse simplesmente, ajeitando os potes que carregava nos braços. -Ele gosta muito de vocês.

Os gêmeos mantiveram-se calados, confusos. O silêncio começara a parecer um pouco menos desconcertante. Sakura ria baixinho vez ou outra, vendo a confusão se alastrar nas cabecinhas dos filhos e repassando as frases relatadas à ela mentalmente. Demoraria algum tempo para que pudessem entender que, apesar de parecerem coisas tão sérias, eram apenas brincadeiras, uma forma de demonstrar afeto. Agora, aquelas haviam se tornado só maneiras de Sasuke manter suas lembranças da época do antigo time 7 frescas na memória. Via em Hokuto e em Boruto novas versões dos companheiros que deixara tão precocemente, que demorara a recuperar, e não queria desgarrar-se disso. Seus olhos pareciam prestes a marejar com o pensamento, ao revisitar aquele tempo que hoje se tornara tão distante. Deu um sorriso de canto, um pouco triste, talvez também um pouco distante.

Sasuke ainda tinha formas diferentes de se expressar.

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Sakura tocou a campainha da residência dos Uchihas, e que logo foi atendida por Hinata.

— Que bom que vieram. -A mulher deu um sorriso doce, com os olhos perolados brilhando. -Sakura, não precisava trazer nada. 

— Mas eu queria trazer algo. - Respondeu a rosada mais velha. -A ideia também é minha. Eu tenho que cooperar de alguma forma, não é? -As duas deram risada, como as boas amigas que haviam se tornado.

— Podem entrar.

Hinata deu espaço para que eles entrassem, passando pela sala e se dirigindo de volta à cozinha, com Sakura acompanhando-a. Hokuto observou a casa dos Uchihas. Nada havia mudado desde que estivera ali pela última vez.

— A Himi está no quarto, se quiserem vê-la. -Comentou a matriarca da família Uchiha. Os gêmeos sorriram para a mulher em concordância (era possível não sorrir para Hinata? A mãe de Hitomi tinha uma aparência e personalidade tão doces que Hokuto achava que não). Boruto sentou-se no sofá, tomando cuidado para não parecer tão desleixado quanto era em casa; Hokuto balançou a cabeça negativamente diante da atitude do irmão e soltou um suspiro meio misturado com uma risada. A menina não se sentou, pelo contrário: continuou de pé, passando os olhos por cada detalhe da casa, e depois fazendo questão de fixá-los no alto da escada que dava para o segundo andar, onde localizavam-se os quartos e o escritório (quase inutilizado) de Sasuke.  

—Quer ir até lá comigo? -Perguntou. Boruto não verbalizou uma resposta, apenas balançou a cabeça negativamente e se ajeitou no sofá. A garota suspirou, sentindo-se um pouco decepcionada, porém não insistiu e subiu as escadas sozinha.

A rosada começou a observar cada passo que dava enquanto subia as escadas. Fotos cobriam a parede ao seu lado, e seu olhar explorou-as calmamente enquanto andava. Percebeu que todas elas eram de Hinata e Hitomi, ou apenas de Hinata. Apenas uma apresentava Sasuke, a cara séria destoando do clima festivo do lugar onde a fotografia fora tirada. Ele usava um kimono preto, e parecia levemente nervoso, como se não quisesse posar para a foto. Hokuto sorriu para a foto. Era raro ver Sasuke com outra expressão a não ser a eternamente calma que apresentava.

Chegou ao segundo andar e  caminhou até o quarto da amiga. O quarto de Hitomi era o penúltimo do corredor (a casa tinha três, embora um raramente fosse aberto e nunca fora conhecido por Hokuto). A porta estava entreaberta, e tinha uma pequena placa de madeira com os kanjis do nome da Uchiha gravados em uma bonita caligrafia, e Hokuto poderia apostar que tal placa fora encomendada por Hinata antes mesmo do nascimento da filha. Pela abertura, era possível avistar Hitomi sentada no chão, lendo um mangá que a rosada não soube identificar,usando fones de ouvido e com Yuni deitado à seus pés.

—Toc toc. -Brincou a Uzumaki, dando um sorriso, enquanto entrava no cômodo. Hitomi não pareceu perceber a presença da amiga, não tendo qualquer reação com a entrada dela. Tinha os olhos negros concentrados, fixos no mangá. Hokuto soltou um suspiro e dirigiu-se até à frente da mais velha, sentando-se alguns centímetros longe de Yuni. O cachorro virou a cabeça e encarou a menina, como se perguntasse “Quando foi que você chegou aqui?”.

—Avise ela, Yuni. -Hokuto disse para o cão, quase como se estivesse falando com uma criança. -Fala pra ela que eu ‘tô aqui,‘ttebane.

O cachorro levantou as orelhas, atento, e olhou para a dona. Levantou-se e andou até o lado da Uchiha, emitindo um latido estridente.

—O que foi, Yu? -Murmurou a garota, tirando os olhos do mangá para dirigi-los ao animal ao seu lado. Ele latiu novamente, dessa vez virando-se novamente e correndo até Hokuto, pulando no colo da rosada. Hitomi seguiu o cachorro com os olhos e, quando deu por si, encarava Hokuto.

—Oi, ‘ttebane. -A Uzumaki cumprimentou, na esperança de que a outra ouvisse. Hitomi tirou os fones e deixou-os de lado, juntamente com o mangá. As duas se encararam durante um momento.

—Não vai dizer nada? -Questionou a Uchiha.

—Eu já disse. Oi, ‘ttebane.

—Eu não ouvi.

—Estava com fones.

—Ah… -A menina lançou um olhar para o aparelho à seu lado. -Então tá. Oi.

—Tudo bem?

—Acho que não, e você?

—Talvez.

—Bolt?

—Está na sala.

— Fazendo?

— Não Sei, ‘ttebane.

— Vamos ficar nisso até quando?

— Até uma de nós parar. - Yuni saiu do colo de Hokuto e voltou a se deitar aos pés da dona.

— O que achou dessa ideia do jantar? - Perguntou Hitomi, enquanto desligava a música que ainda tocava nos fones

—Acho que minha mãe a tia Hinata não estão felizes. Acho que nós estamos errando em algum lugar, assim como nossos pais. Acho que elas querem nos ver sorrir. 

—Está difícil sorrir. 

—Eu sei.  

—Toda vez que eu fecho os olhos... 

—...eu vejo o rosto de Kousei e seus olhos sem vida. Vejo ele correndo até o inimigo como se tivesse toda a coragem do mundo. Vejo ele caindo no chão e uma poça de sangue se espalhar em sua volta. -Termina Hokuto. -Eu sei. Você não é a única.

— Ainda, não acredito que eu não consegui salvá-lo. - a rosada viu que a Uchiha desviou o olhar para o computador do quarto.

— Não tinha como nenhum de nós salvar ele.

— Eu sei…

—Quer descer? 

—Acho que temos que descer. Minha mãe já deve estar esperando. 

—Caso ela precise, tem o Bolt pra ajudar na cozinha, ‘ttebane..

—NÃO! SANTO RIKUDOU, NÃO QUERO A CASA INCENDIADA! -Grita Hitomi, e as duas riem. 

—Himi... Você acha que tudo vai voltar a ser como antes?

— Acho que não. - a morena levanta da cama e começa a andar até a porta com Yuni atrás. - Acho que sempre vamos lembrar.

Hokuto acompanha a amiga até a porta e param no corredor.

— Ah, o que tem naquele quarto, ‘ttebane? - A rosada aponta para o quarto dos fundos.

—Ah... É...Nada demais. Só um quarto vazio. -A Uchiha declara, e Hokuto levanta uma sobrancelha, em dúvida. 

—Aham... 

—Quem sabe um dia eu te fale. -Hitomi ri, e Hokuto a acompanha. Era bom ter momentos como aquele; Havia muito tempo que eles não existiam mais.

As duas descem em silêncio, apenas seus passos e as patinhas de Yuni fazendo a escada dar baixos rangidos. Ao chegarem no andar de baixo, a primeira coisa que notaram foi a posição de Boruto no sofá. Ele estava debruçado, fitando o chão, e as mãos juntas estavam debaixo de sua perna esquerda, como se estivesse segurando-a. Hokuto sabia que, muito mais que entediado, o irmão estava desconfortável por estar ali. Ele lançou um olhar para as meninas, que não parecia querer dizer nada, e voltou a encarar piso de madeira.

—Dá pra você sentar direito? -Questionou Hitomi, mais em tom de ordem que de pergunta. Boruto não protestou; apenas endireitou a postura e continuou calado. Levantou os olhos azuis para Hitomi e a encarou.

—Crianças! -Hinata chamou, aparecendo na porta da cozinha. Encostou-se no batente e observou a filha e os sobrinhos. - A comida está pronta. Já podemos jantar. -Olhou-os de cima à baixo, como se estivesse fazendo algum tipo de análise. -Está tudo bem?

— Sim, mãe, está. - A morena foi a primeira a andar em direção à cozinha, seguida de Hokuto e, por último, Boruto. Ao entrarem, se depararam com Sakura colocando as panelas e caçarolas com comida na mesa. - Oi, Tia Sakura.

— Oi, Hitomi.- Respondeu a médica, dando um sorriso gentil para a sobrinha.Hitomi sentou-se à direita, enquanto que Hokuto se sentou à frente da Uchiha. Boruto sentou-se ao lado da irmã, com cara de poucos amigos.

—Onde está o tio Sasuke? -Hokuto olhou para Hinata com curiosidade.

—Está no escritório, resolvendo algumas coisas. -Comentou, lançando um olhar para Sakura. Hokuto foi além da expressão serena da madrinha e fitou com cautela os olhos perolados. Seja lá o que Hinata estivesse escondendo, Sakura compartilhava desse segredo. -Ele já deve vir.

—Tio Sasuke no escritório,’ttebane? -Boruto remexeu-se no lugar, parecendo curioso.

Hinata pareceu não ter ouvido a pergunta do menino, e, se ouviu, ignorou-a. Virou-se para pegar uma jarra de suco na geladeira, mantendo-se calada, e colocou-a na mesa.

—Então deixa que eu chamo ele! -Hitomi exclamou, levantando-se num pulo.

—Não precisa. Ele logo vem. Não vai se incomodar se começarmos a comer sem ele.-A Uchiha mais velha engoliu em seco, e forçou-se a dar um sorriso tranquilo à filha. Hitomi pareceu insatisfeita.

—Tenho certeza que o meu pai vai gostar se eu chamar ele. Ele vai querer comer com a gente. -Respondeu, e antes que alguém pudesse dizer um argumento contrariando-a, correu para fora da cozinha. Foi possível ouvir seus passos subindo acelerados a escada, rumo ao segundo andar.

Tio Sasuke sem dúvidas não está só resolvendo negócios no escritório.” pensou Hokuto, estranhando a atitude de Hinata. Sabia que a madrinha nunca recusaria a presença do marido, independentemente da situação.

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—Pai? -Hitomi bateu na porta e aguardou uma resposta. No entanto, apenas silêncio. -Pai? -Chamou novamente.

—Já estou indo, Hitomi. -A voz grave de Sasuke finalmente surgiu, parecendo irritada. Hitomi aguardou alguns instantes, até perceber que o “estou indo” dito pelo pai significava mais um “vá embora". A garota bufou, frustrada.

—Que isso, você pode terminar o serviço depois do jantar. Vai, são só uns vinte minutos.

Novamemte, não teve resposta. Ouviu alguns murmúrios, os quais não pôde identificar, e a sala voltou a ficar em um total silêncio.

Ótimo. Ele está me ignorando.”

—Pai! Fala sério. Até a tia Sakura, a Hoku e o Bolt estão aqui. Por favor. -Nada, mais uma vez. Cansada e irritada com o comportamento do pai, a menina decidiu que não iria mais esperar. Girou a maçaneta e abriu a porta, parando com os braços cruzados na entrada.

Não precisou de muito para saber a razão do comportamento estranho de seus pais.

—T-tio Naruto? -Perguntou, pasma, vendo o Hokage virar-se para encara-la com aqueles olhos azuis, que tanto lembravam os de Boruto. Naruto parecia preocupado, e as inúmeras olheiras que carregava denunciavam o quanto estava exausto. Forçou um pequeno sorriso para Hitomi, enquanto Sasuke encarava a filha em reprovação.

— Pensei que tivesse entendido que era para ficar lá fora. - Disse o Uchiha mais velho em um tom seco.

— Mas você disse que ia jantar com a gente. - A morena bateu o pé, irritada. Não sabia se estava com mais raiva do pai ou do Hokage. 

— Eu disse que ia pensar. - Respondeu Sasuke, virando-se para olhar para Naruto. -O que vamos fazer?

—Acho melhor descermos.

—Quando ele chegou? -Questionou Hitomi, apontando para o Hokage.

—Isso não é da sua conta, Hitomi.

—A quanto tempo ele está aqui?

—Eu já disse. Isso não é da sua conta. -Repetiu, ainda mais sério. Hitomi lutou contra a vontade de se encolher diante da voz do pai.

—Mas eu…

— Mas nada. Chega. - Mesmo sem gritar, o tom duro de Sasuke assustou a filha, que manteve-se calada. Apenas abaixou a cabeça e concordou.

— Não precisava falar assim. - Naruto argumentou, e Hitomi provavelmente teria agradecido o padrinho, caso também não estivesse sentido raiva dele. - Vamos logo para esse jantar.

Sasuke bufou, aparentemente irritado. Hitomi estranhava a atitude do pai, mas tinha perdido completamente a coragem de perguntar sobre tal comportamento.

—Tá… -A menina virou-se para ir embora em silêncio, porém, enquanto andava, podia ouvir passos atrás de si e alguns cochichos, e não precisou de muito para concluir que os homens estavam seguindo-a. Não sabia se suspirava de alívio ou roía as unhas de nervosismo. Tinha certeza de que não era para o Hokage estar ali agora, e que seus amigos ficariam uma fera quando descobrissem.

Boruto…

Seu melhor amigo iria pirar, sem dúvidas. Naruto sempre dizia estar no trabalho. O que fazia ali, naquele horário, sem que sequer ela, que morava naquela casa, soubesse?  E qual assunto tão estritamente importante exigira que Naruto abandonasse seu escritório para falar tão urgentemente com Sasuke?

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—O que ele está fazendo aqui?! -Boruto questionou assim que Hiromi chegou junto com Naruto e Sasuke, levantando-se de súbito, a cadeira onde anteriormente estava sentado por pouco não caindo no chão. -Mãe, o que ele está fazendo aqui?

—Eu estava discutindo negócios, Boruto. -Respondeu Naruto, antes mesmo que Sakura pudesse dizer algo.

—Mamãe tinha dito que você não viria por que estava no escritório! -Protestou o menino.

—Eu estava no escritório. Precisei resolver algo urgente com Sasuke.

—E porquê ele não foi lá, assim como nós temos que ir quando queremos saber de você?!

—Era urgente.

—NÓS TAMBÉM SOMOS!

—BORUTO! -Sakura, que estava parada ao lado do balcão, bateu com a mão fechada no móvel, fazendo-o estalar e rachar com a força do golpe. Até mesmo a parte frontal de uma das gavetas chegou a ir ao chão. - SEU PAI ESTAVA TRABALHANDO. PONTO FINAL. -A mulher suspirou, exasperada. O olhar de Hokuto estava paralisado na mãe, assim como o de todos os outros. A médica desviou seu olhar para Hinata, que parecia surpresa. -Me desculpe, Hina. -Olhou para o armário, parecendo envergonhada, e voltou a olhar para a amiga.- Prometo dar um novo à você.

Hinata fez um sinal de concordância, e Sakura voltou-se para os outros.

—Sentem-se. Todos vocês. -Todos seguiram a ordem, até mesmo Sasuke. Sakura podia ser alguém bem ameaçadora quando necessário. Logo, ela e Hinata também se sentaram, e um jantar silencioso e incômodo começou. Hokuto sentia-se sendo esmagada pela tensão que se instalara, e seu prato de *gyudon encontrava-se praticamente intocado.

—Então… -Naruto começou, numa tentativa de melhorar a situação. -Como anda o treinamento de vocês?

Hokuto suspirou, frustrada. “Droga, pai…”

—O treinamento? Vai bem. -Boruto respondeu de supetão, com os olhos focados em seu prato. -Mas você deve saber disso, e de toda a parte “técnica” da coisa, já que pega informações com o tio Sasuke ao invés de nos ver treinar. Ou nos treinar. -Boruto… -Sakura encarou o filho, e o menino se calou.

—E com você, Hokuto?

—Hã? -A menina encarou o pai, confusa por um instante. Havia quanto tempo que não recebia uma pergunta daquelas? -Ah… Vai bem…

—Sasuke? -O hokage olhou para o amigo, como que para confirmar sobre o que os filhos tinham dito.

—Uhum. -Corcordou o Uchiha, ocupado demais com seus hashis para poder dar uma resposta complexa.

—Fiquei sabendo que é uma ótima espachim, filha. -Hokuto corou e agradeceu com a cabeça. -E que vocês dois aprenderam justsu de invocação. Qual é sua invocação, Bolt?

—Isso importa? -Mais um olhar da mãe. Hokuto podia ver que os dois Uzumakis começavam a perder a paciência. -Um sapo… -Murmurou a contragosto. Naruto abriu um pequeno sorriso com a notícia.

—Como ele chama?

—Gamahoshi… -Disse a resposta num tom fraco e quase inaudível.

—Hoku?

A garota hesitou por alguns instantes, fingindo bebericar um pouco de seu suco. Sasuke olhou de esguelha para a aluna, como se perguntasse E…?”. Hokuto havia sido treinada para que soubesse que essa era a maneira mais sútil do padrinho lhe perguntar se estava tudo bem. Endireitou sua postura e olhou para o pai.

—Uma raposa.

O prato de porcelana fez um barulho estridente ao ter sua lateral atingida pelos hashis de Sakura, que subitamente caíram de sua mão. Hinata encarava com curiosidade a sobrinha e Sasuke apenas continuava a agir com naturalidade. Naruto engasgou-se com o suco, surpreso com a notícia. Uma risadinha foi ouvida, provavelmente de Hitomi, mas que logo foi parada após um olhar acusatório de Hinata. Bem, não era todo dia que via o Hokage numa situação daquelas.

—Bem...Diferente. -Disse, ainda um pouco surpreso, e logo após começou a rir. -Realmente diferente! -O loiro sorriu abertamente. -E qual o nome dela?

—Pensei que tio Sasuke já tinha contado… -Murmurou Boruto novamente, e teve um olhar mortal de sua irmã como resposta.

—Sayu -Respondeu a menina, ignorando a interrupção.

—Como ela é?

—Ela tem o pelo vermelho-alaranjado e…

—Acho que você deveria pedir para nós invocamos… Ah, é… Você não tem tempo não é? Sempre ocupado com a vila que nem quer ver a invocação dos seus filhos. -Interrompeu Boruto. - É sorte nossa você estar jantando com a gente.

O sorriso de Naruto se desfez, e Hokuto prendeu o ar. Viu a mãe apertar os hashis que acabara de pegar de volta com força, voltando a olhar para o filho.

—DÁ PARA COMERMOS COMO PESSOAS NORMAIS?! -Sakura gritou, já cansada de toda aquela situação. Não queria mais saber das indiretas de Boruto, do silêncio de Hokuto ou até mesmo da ausência de Naruto. Queria sua família de volta, aquela convivência que há tanto se perdera.

Pessoas normais? -Boruto parecia pasmo, sua expressão e seu olhar mostrando uma clara raiva e desprezo por aquelas palavras. Ele se levantou, atônito, e bateu na mesa com as palmas das mãos, apoiando-se nela. Hokuto se afastou involuntariamente do irmão, a cadeira fazendo barulho ao ser arrastada. Conseguia ver, conseguia sentir. Boruto explodira. Estava louco. -Normais? E DESDE QUANDO NÓS SOMOS NORMAIS? DESDE QUANDO TODA FAMÍLIA É COMO A NOSSA? DESDE QUANDO OS PAIS IGNORAREM SEUS FILHOS É NORMAL? DESDE QUANDO TANTOS SEGREDOS E MENTIRAS SÃO ENCARADOS COMO COISAS “NORMAIS”? PORQUE, AH, É CLARO QUE SIM, TUDO O QUE TODOS JÁ FIZERAM AQUI É NORMAL. É SÓ MAIS UM ERRINHO PASSAGEIRO, NÃO É? VOCÊS QUEREM QUE EU FALE TUDO O QUE SEI? TODAS AS COISAS NORMAIS QUE JÁ ACONTECERAM? QUEREM? EU POSSO LISTAR TUDO. QUEREM QUE EU FALE O QUE ELE FEZ? -Ele apontou para Sasuke, que pareceu surpreso por um instante, e então seus dedos voaram do Uchiha para apontar para Hinata. -O QUE ELA JÁ PRESENCIOU?  O QUE ELA REALMENTE SENTE, O QUE ELE É, OU O QUE ELA CONSEGUE FAZER? -Desse vez, ele tinha Sakura, Naruto e Hokuto como alvos. Sakura parecia em choque, e Naruto confuso demais para fazer algo.

—BOLT! -Hokuto gritou, levantando-se também. -CALA ESSA BOCA, IDIOTA!

—E QUEM É VOCÊ PRA FALAR ALGUMA COISA? -Estreitou seus olhos azuis-céu para a irmã, encarando-a. O olhar cheio de mágoa e raiva trouxe a Hokuto uma certeza que ela nunca achara que teria. -PORQUE VOCÊ NÃO VEM E DIZ PRA ELES? HEIN? POR QUE VOCÊ TAMBÉM É UMA MENTIROSA, E NOSSA VIDA TODA É UMA ENORME MENTIRA!  

—VOCÊ FICOU MALUCO OU É SIMPLESMENTE BURRO? -O rosto da menina já estava vermelho de tanto gritar, assim como o de Boruto. Hokuto respirou rapidamente, uma, duas, três vezes, num intervalo de tempo tão curto quanto o pavio de seu irmão. -PELO AMOR DE DEUS, PARA! ISSO ESTÁ TE CONSUMINDO!

—AH, É? E COMO VOCÊ SABE? GRITA, FALA PRA TODO MUNDO AQUI! TENHA CORAGEM UMA VEZ NA VIDA E CONTE SEU SEGREDO IDIOTA PRA QUEM QUISER OUVIR! -Diante do silêncio da irmã, ele pareceu ficar ainda mais irritado. -MAS VOCÊ NÃO CONSEGUE, NÃO É? PORQUE VOCÊ É FRACA E SEMPRE FOI! E SE QUISER SABER, SEMPRE VAI SER!

Hokuto parecia paralisada. As lágrimas amontoaram-se em seus olhos e simplesmente caíram, sem que houvesse sequer um sinal de relutância. Boruto parara de gritar, e respirava com dificuldade, o rosto escarlate. A raiva parecia esvair-se dele, e começava a aparentar estar até mesmo arrependido, voltando aos poucos a si. Hokuto já tinha as bochechas e o pescoço úmidos, e suas lágrimas agora chegavam até a gola de sua camiseta. E durante um longo minuto, ninguém teve reação.

—Você é um idiota. -Hokuto finalmente falou, mesmo que ainda estivesse abalada. Encarava o irmão extremamente incrédula, tentando absorver aquele momento. -VOCÊ É UM IDIOTA. É UM BABACA IDIOTA, BORUTO! -A intensidade do choro aumentou, e ela logo estava soluçando, quase caindo de joelhos no chão. Sasuke, Sakura e Naruto levantaram-se ao mesmo tempo, parecendo prontos para impedir qualquer conflito entre os irmãos. Naruto caminhou até o filho, agarrando-o com firmeza pelo braço. Boruto tentou se soltar do aperto do pai, porém Naruto pressionou o braço do menino com ainda mais força, lançando um olhar extremamente irritado à ele.

—Vamos embora, Boruto. -Ordenou. Boruto fez uma careta, teimando em soltar-se.

—Eu…

—Você nada.Você não tem que fazer mais nada. Vamos embora. -Antes que o menino pudesse ter qualquer reação, o Hokage carregou um Boruto desprotegido e aos tropeços porta afora. Sakura foi até a filha e colocou as mãos em seu ombro.

—Se você quiser, nós…

—Eu só não quero voltar para casa. -Respondeu a menina, ainda extremamente nervosa. -Não agora.

—Você pode passar a noite aqui, se quiser. -Sugeriu Hinata, levantando-se.-Não nos incomodaríamos.

—Sim. -Hitomi concordou. Tinha a cabeça baixa e era a única que permanecia sentada. -Pode ficar no meu quarto.

Hokuto concordou com a cabeça, e não demorou muito para que subisse as escadas e sumisse no andar de cima. Foi possível ouvir a pancada de uma porta batendo; provavelmente a do quarto de Hitomi. Sakura ficou na casa por mais alguns minutos, provavelmente se desculpando com Hinata e Sasuke. Hitomi subiu algum tempo depois e encostou-se do lado de fora da porta do próprio quarto.

—Hokuto?

—Hm? -Hokuto questionou prontamente, uma vez que também encontrava-se encostada na porta, porém do lado contrário da amiga.

—Você poderia ter…

—Ele tem razão, Hitomi. -Disse, sentindo mais algumas lágrimas descendo por suas bochechas. -Apenas se equivocou. Estava nervoso.  E você sabe que estou certa.

—Não vivemos uma vida de mentiras.

—Não. Vivemos uma de meias verdades e vários segredos.

Silêncio. Hitomi abaixou a cabeça e encarou o chão.

—Você está bem?

Hokuto suspirou, parecendo cansada.

—Se me responder que sim, eu corto sua garganta.

—Então não vou responder.

—Porque você faz isso?

—Porque eu sou fraca. -Comentou.

—Você não é.

—Eu teria contado pra você, se não fosse. Teria contado para eles. -Sua voz estava embargada. -Boruto… Ele pode ter falado de uma forma horrível, mas… Ele apenas não aguentou. Uma hora as pessoas explodem. Não importa o quanto eu tentei.

—O que você tentou?

Hokuto se levantou e encarou a porta. Fo lado de fora, Hitomi viu a porta ser aberta lentamente. Quando o rosto da melhor amiga ficou visível, pôde perceber que ela sorria gentilmente da maneira que conseguia. Porém, apesar do sorriso, era possível notar uma profunda dor em seu olhar.

—Podemos conversar? 


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Notas finais do capítulo

Aeee o/
Quem aqui também ficou com vontade de matar Boruto e Naruto? Normal, nós também ficamos...
Como vocês acham que vai ficar a vida do nosso trio agora? Expectativas? Chutes? E aí?
Obrigadaaa por ler! Comentem, vamos responder todo mundo!!
Beijão ♥



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