—"Ela não é a minha namorada". Grande mentira a sua -disse Hinata ao primo no caminho de casa.

—Não enche.

—Vamos lá, admita, ela beijou você na frente de quem quisesse ver.

—Não foi um beijo. Foi só um selinho.

—Se você tá com essa cara de abobalhado só por causa de um selinho, imagina só quando for um beijo de verdade.

—Eu não sei, tenho medo de levar a situação adiante e Tenten achar que quero um relacionamento sério.

—Mas você gosta dela, qual o problema de terem um relacionamento sério?

—Você se lembra da última vez que namorei?

—Você tinha treze anos e durou um mês só. 

—É, mas eu fiquei magoado. Ela me traiu na cara dura e ainda mais com um garoto mais velho! Humilhação pública, toda a escola ficou sabendo.

—Neji, não seja bobo de comparar a Tenten àquela desmiolada. Tenten nunca faria isso com você.

—Acho que tem razão, mas quero ir com calma.

—Tenha cuidado com essa calma, fiz isso com Naruto e fui direto para a zona de amizade -disse a garota abrindo a porta de casa e entrando com Neji.

—Oi crianças, como foi a aula? -indagou Hiashi.

—Ótima, papai.

—E você, Neji? -perguntou ao garoto, que nada respondeu.- Não quer falar? Tudo bem. Fiz seus biscoitos favoritos -disse entregando ao garoto um prato.

—Fez para mim também, pai?

—Não.

—Por que não?

—Porque não foi a sua vida que eu virei de cabeça para baixo.

—Por que os biscoitos? -indagou Neji.

—Não tenho segundas intenções. Somos uma família, você é legal e mais tarde eu vou te levar para cortar o cabelo.

—Sabia que não viria de graça. Você sabe a minha resposta à respeito disso.

—Vamos lá, Neji, dessa vez sem drama.

Quando se trata do meu cabelo ou pior, de uma tesoura perto dele, discussões irão acontecer. Todo mundo que me conhece sabe que eu odeio que mexam no meu cabelo, ainda mais no comprimento dele. Todos os anos o Hiashi enche a minha paciência com esse assunto. E daí se fazem mais de cinco anos que eu não corto o cabelo ou se metade dele é composto só por pontas? É o meu cabelo e eu não gosto de mexer nele!

—Não vou cortar.

—Por que toda vida é esse drama todo?

—Se você parasse de me importunar com esse assunto eu não irei fazer mais isso.

—Já fazem cinco anos que não corta, tá horrível.

OPA! Nunca ofenda os meus cabelos!

—E daí? É o meu cabelo, eu corto quando eu quiser.

—Se depender de você, não vai cortar nunca.

—Provavelmente sim, mas, de qualquer forma, é a minha decisão. E eu não confio em você depois daquilo.

—Você ainda lembra disso? Deixa de besteira, seu cabelo tá horrível, tem mais ponta do que próprio cabelo.

—Eu gosto assim e se está incomodado com isso, que morra! -disse Neji subindo as escadas para seu quarto.

Neji passou a tarde no quarto fazendo nada, não que não tivesse uma pilha de deveres de casa. Dormiu, dormiu, acordou e dormiu mais um pouco. Já eram perto das cinco da tarde quando finalmente se levantou da cama.

Estou ansioso para falar com Tenten. Gosto muito dela, mas não sei se um relacionamento sério é o que quero pra mim nesse momento. Amanhã falarei com ela. 

Neji desceu as escadas e deitou-se no sofá para assistir televisão. Perto de lá, Hinata estava sentada na mesa estudando e seu pai trabalhando.

—Não quer parar um pouco? Passou o dia lendo isso -disse Hiashi à filha.

—Não posso. Eu sou um desastre.

—Qual o problema?

—Passei a semana inteira estudando para essa prova e tirei um seis.

—Isso não quer dizer nada. Talvez você tenha uma dificuldade nessa matéria.

—Mas é a minha matéria favorita! Não sei o que fazer, talvez deva parar de estudar.

—Se estudando não conseguiu se sair bem, imagina se não estudar.

—Diga isso a Neji. Ele não estudou nada e tirou uma ótima nota.

—Ele deve ter estudado e não disse nada.

—Você tá estudando? Não tem nada melhor pra fazer não? -perguntou Neji entrando na cozinha e colocando um pacote de pipoca no micro-ondas.

—Neji, você estudou para a prova de química? -indagou Hinata.

—Eu? Nem sabia que tinha prova. Só lembrei na madrugada anterior, mas preferi dormir. Quando eu estava entrando na sala foi que descobri de que matéria seria.

—E quanto foi que você tirou? -perguntou Hinata.

—Dez -respondeu pegando a pipoca do micro-ondas e voltando à sala

—Viu só? -disse Hinata ao pai.

—Talvez ele esteja mentindo em relação à nota.

—Aqui -Hinata falou mostrando um papel amassado com o nome do primo, com nota dez.- Ele achou legal ficar brincando de basquete no intervalo e como não tinha bola, ele amassou a prova dele e ficou brincando.

—Bom, algumas pessoas tem mais facilidades que outras.

—Bem que eu queria saber como ele faz isso. Devia vê-lo na sala. Só conversa e dorme. E eu não diria que ele pesca de alguém porque a nota dele é sempre a maior da sala. E tenho certeza que ele não cola do livro porque é preguiçoso o suficiente para abrí-lo, ele o usa como bandeja.

—Cada um é de um jeito diferente. Talvez entre as brincadeiras e dormidas dele em sala de aula ele consiga absorver alguma coisa que o professor fala. Tem pessoas que ouvem uma vez e gravam a informação pra sempre.

—Bem que eu queria ser assim.

—Continue estudando que uma hora você consegue.

—É o que me resta -disse Hinata voltando-se para suas anotações.- Então, como vai a questão do Neji ser seu filho.

—O exame será daqui há poucos dias. O pior era dizer a ele que faria isso, agora é só levá-lo.

—O senhor não acha que ele vá de boa vontade, acha?

—Claro que não, mas na hora darei um jeito. Mas não diga a ele que será dentro de poucos dias, senão ele pode fugir.

—E quando vai contar a ele.

—Não sei, na hora que estiver indo. Sabe como ele é escandaloso. Se disser o dia exato fora de hora, ele vai dar um jeito de escapar. No dia, eu digo que vou levá-lo para comer um pizza ou algo assim e só quando eu parar em frente ao laboratório ele saberá.

—O senhor sabe que ele não se incomoda em fazer escândalo na frente dos outros. Pode ter um milhão de pacientes lá, se forçar ele a fazer o que não quer, vai ter confusão.

—Nem me fale, já me dá um desgosto em pensar nisso.

—Já pensou no caso de o exame dá positivo?

—Sinceramente, não. Não que eu não o queira como filho, ele é uma peste, mas me apeguei demais a ele. Mas saber com certeza que ele é meu filho, me trará culpa, pois confirmado isso, a minha traição com meu irmão ficará evidente.

—Entendo, mas eu adoraria ter Neji como irmão. Tudo bem que nós meio que já somos, mas seria oficial. Por que o senhor não tenta se aproximar mais dele? O teste dando positivo ou negativo, ele ainda estará bravo com você por ter namorado a mãe dele escondido.

—Acho que tem razão.

—Ele está tão concentrado na TV que não vai se importar com a presença do senhor.

—Você acha? Pois então eu vou lá.

—Papai!

—O quê?

—Fale sobre a Tenten. Eles estão naquele "chove e não molha". Dê alguns conselho a ele.

—Tudo bem, obrigado -disse Hiashi se levantando da mesa e caminhando em direção ao sofá.

Na sala, Neji estava deitado só até a metade do sofá, comendo pipoca, espalhando-a pelo chão, enquanto assistia à um filme.

—Oi -disse Hiashi tentando se sentar no sofá, mas foi impedido por Neji, que esticou as pernas, deixando o homem sem lugar.- Tudo bem, eu sento na cadeira. O que está fazendo? -indagou recebendo apenas um olhar do garoto.- Vi que está assistindo, só queria puxar conversa.

—Essa é a melhor parte do filme, vai começar a falar agora?

—É rápido. Sua prima... irmã... bom, a Hinata me disse que estava com problemas com uma garota.

—E daí?

—Me fale sobre ela. Eu a conheço?

—Sim, você a expulsou do aniversário da Hinata, junto com os outros. 

—Ah, sim. Era a loira?

—Não. A morena.

—E qual é o problema?

—Bom, ela parece querer algo sério e eu não sei se é disso que preciso.

—Se gosta dela, não custa nada tentar. 

—É, mas a última namorada que eu tive me faz pensar se quero namorar outra vez.

—Aquela garota? Neji, você tinha treze anos e pelo que me pareceu foi só um relacionamento passageiro.

—Não foi só um... espera aí, como você sabe disso?

—Como eu sei? Você acabou de me dizer.

—Não, não contei.

—A Hinata me disse.

—Por quê? 

—Já que você nunca me diz nada, eu pedi à ela para me contar o que você faz na escola.

—Então ela me espiona pra você?

—Não. Ela me presta um serviço de informações... mas a questão não é essa. Me diga o porquê que acha que não deve namorar essa menina.

—Me parece algo sério e isso não combina comigo.

—Mudar às vezes é bom. Como mudar o cabelo.

—Lá vem você de novo, já disse que não vou cortar.

—Tá, tá bom, não vim para falar disso. Continue.

—Não tem mais nada. Só não queria que ela se magoasse.

—No caso não é ela que vai magoar a si mesma, é você quem fará isso.

—Não está ajudando.

—Desculpe. Se vocês só conversaram até agora, então ela não vai se chatear com você se não quiser algo mais sério.

—Nós fizemos mais que isso.

—Mais o quê?

—Bom, nós já saímos juntos e já nos beijamos.

—Ohw, vocês se beijaram? Lembra quando me disse que ela não era a sua namorada.

—Sim.

—Pois é, você não pode mais dizer isso.

—O quê? Mas foi só um beijinho inocente e foi ela que me beijou!

—Mas você correspondeu?

—Meio que sim. Ah, eu não sei o que fazer. Talvez deva ir na casa da mãe dela agora e chamar Tenten para conversar.

—Sabe aonde ela mora?

—Sei, inclusive conheço a mãe dela.

—Conhece a mãe dela? Acho que seu problema não é mais namoro e sim casamento.

—O quê?

—Brincadeira.

—Não tem graça.

No dia seguinte, Neji dormiu até um pouco mais tarde, enquanto Hinata logo acordou para ir à escola mais cedo.

—Não acha que ainda está cedo? -indagou Hiashi à filha.

—Tenho que pegar uns livros na biblioteca. Avise ao Neji que já fui e lembre de chamá-lo também, do jeito que ele está dormindo não vai levantar por conta própria.

—Pode deixar.

—Vocês conversaram muito ontem.

—É, foi bom para nós dois. Ele esqueceu um pouco da raiva que está sentindo de mim e falou sobre a garota de quem ele gosta. Acho que estamos progredindo.

—Mesmo?

—Sim, durante a nossa conversa, ele me xingou apenas cinco vezes, bem melhor do que da última vez.

—Se o senhor acha.

Hinata saiu de casa e ao chegar no colégio, encontrou Tenten na biblioteca.

—Oi Tenten.

—Oi Hinata, tudo bem?

—Tudo. O que faz aqui tão cedo?

—Vim alugar uns livros.

—Vamos sentar lá fora e conversar, aqui não se pode nem respirar que a bibliotecária vem reclamar -disse saindo e sentando à uma mesa do lado de fora.- Cadê o Neji?

—Ainda dormindo. Papai vai tentar acordá-lo.

—Ele é uma graça.

—Você acha? Eu acho ele um saco, vive implicando comigo.

—É o jeito dele. Então, não pude perguntar isso à você antes, mas ele está melhor? Em relação ao seu pai ser o pai dele também?

—Ele está levando. Não conte a ele, por favor, mas papai irá levá-lo para fazer o teste em poucos dias.

—Mas seu pai já havia dito isso.

—É, mas não disse o dia exato. Se Neji souber, vai fugir.

—Por mim ele não saberá -disse Tenten sorridente.- Se der positivo, como você acha que ele vai ficar?

—Provavelmente arrasado. Ele gosta tanto do pai dele, mesmo que os dois tenham passado tão pouco tempo juntos.

—Entendo.

—E a situação só tende a piorar agora.

—Por quê? -indagou Tenten curiosa.

—Papai quer levar Neji para cortar o cabelo.

—E daí?

—Você não o conhece tão bem quanto eu pensei. Neji detesta que mexam em seu cabelo.

—Bem a cara dele fazer escândalo por pouca coisa.

—Para ele o cabelo é sagrado. Há mais de cinco anos ele não corta.

—Isso tudo?

—É sim. Além dele odiar fazer isso, ainda tem a história que ele ficou traumatizado com que o papai fez.

—E o que seu pai fez?

—Na última vez que o Neji cortou o cabelo, papai que levou ele. Claro que ele foi esperneando, mas foi porque meu pai disse que só seria um dedo. Quando chegou a vez dele, ele acabou adormecendo na cadeira. Papai notou, então disse para o barbeiro cortar mais, Neji estava dormindo mesmo, não ia nem perceber. 

—Ah, que maldade.

—Enfim, quando ele acordou e notou, ficou uma fera. Não comeu por dois dias seguidos e só comeu depois porque meu pai o forçou. Acho que essa é a única vez que eu me lembro dele com cabelo curto. Não que tivesse ficado muito curto, mas antes era na cintura e ficou nos ombros, então considero assim.

—Acha que seu pai vai conseguir dessa vez?

—Conseguir o quê? -perguntou Neji chegando de surpresa.

—Nada -disse Tenten despistando.- Achei que não viria mais.

—Bem que eu queria. Posso falar com você?

—Claro.

—Aqui não, vamos para um lugar mais calmo.

—Tá bom -disse Tenten levantando do banco e caminhando com Neji para longe de Hinata.