O encontro com Paul McCartney não poderia ter sido mais inspirador. O músico experiente escutou todas as músicas que Ron compusera para o álbum e o aconselhou, dizendo o que precisava ser mudado e elogiando outras que gostara. Mas uma música o chamou a atenção, era a que Ron havia feito na noite anterior quando não conseguiu dormir. Paul simplesmente a adorou elogiou dizendo que era a melhor música que ouvira em muitos anos. Ron achava estar vivendo um sonho, pois seu ídolo estava o ajudando a montar seu álbum e o elogiando.

Desde então a sua vida parecia estar em perfeita sincronia. A turnê estava sendo incrível, os shows lotados, as criticas positivas aumentavam a cada show e além de tudo, estava se divertindo muito tendo seu pai, Harry e irmãos o acompanhando.

A viagem no ônibus não foi muito aceita no inicio, principalmente por Molly, mas o marido e os filhos conseguiram a convencer de que seria tranquilo e que ela não tinha motivos para se preocupar. Molly aceitou, mas lembrou que os filhos usaram os mesmos argumentos para a despedida de Harry em Las Vegas e Ron retornou para casa casado.

—Próxima parada, Grécia! –George falou animado.

—Depois do frio da Sérvia, finalmente um lugar quente! –Fred acomodou-se no ônibus sonhando com o próximo destino. –Praia, sol, mulheres de biquíni...

—Fico feliz que o meu trabalho está lhe proporcionando bons momentos, Fred. –Ron sentou-se ao lado de Fred.

—Você poderia estar aproveitando também, mas justo agora você resolveu se acertar com Hermione. –ele respondeu fazendo todos rirem e deixando Ron um pouco sem graça. –Eu aproveito por você, não se preocupe.

Ron não precisou dizer a ninguém que ele e Hermione estavam em um relacionamento. Seu jeito bobo apaixonado, como Harry o definiu, dizia por si só.

Quando Gui e Ron planejaram a turnê, Ron não via problemas ficar meses sem voltar para casa, mas agora tinha Hermione em casa lhe esperando, a cada dia longe a saudade que nem sabia existir aumentava. O casal se comunicava todos os dias, por mensagens, chamadas de vídeo e longas ligações não como acordar ao lado dela, mas ajudava a encurtar a distancia.

Com Ron viajando, Hermione colocou todo o seu foco na sua carreira. O filme que passou os últimos cinco meses gravando estava finalmente em fase de edição.  Porém não teria muito tempo para descansar, pois o maior desafio de sua carreira começaria em poucas semanas.

—Olá, estranha. –David cumprimentou a filha ao vê-la em casa. –O que devemos a honra da sua visita?

—Oi, pai! –Hermione o abraçou também sentiu falta dos pais. –Vocês têm planos para as férias de verão?

—Estamos aposentados, Hermione. Velhos aposentados não têm planos. –respondeu Jane brincando sobre a recém-aposentadoria, interessada na pergunta da filha. –E você, vai trabalhar?

—Mais ou menos. –ela contou seus planos animada. –Preciso ir para Nova York em duas semanas começar os ensaios para o musical então pensei que vocês poderiam me acompanhar, aceitam?

—Nós adoraríamos! –David aceitou junto com a esposa. –Enquanto você trabalha, sua mãe e eu podemos passar uns dias em Boston visitando velhos amigos, depois nos encontramos e passamos um tempo juntos.

—E se fossemos para o Havaí? –Jane sugeriu animada com a viagem em família. –Nós nunca conseguimos conhecer enquanto morávamos lá.

—Ótimo! –Hermione concordou feliz em ter a companhia dos pais. –Vou providenciar tudo, viajamos em duas semanas!

Hermione passou as duas semanas de folga na companhia dos pais e ajudando Ginny a comprar tudo que precisava para a chegada do bebê. Segundo Ginny era um dos papeis da madrinha atender a qualquer chamado sem reclamar.

—Eu andei pesquisando e não achei nada sobre a madrinha ter que andar carregando sacolas e sacolas. –Hermione comentou durante mais uma tarde de compras pelas ruas de Londres.

—Então você não procurou direito. –Ginny respondeu tentando não rir. –Ninguém mandou o seu marido arrastar o meu marido para uma viagem de homens pela Europa.

—Agora a culpa é minha? –ela riu do argumento pensando em lembrar Harry de agradecê-la por livrá-lo desta peregrinação entre lojas e mais lojas.

—Você está dizendo isso, mas eu sei que no fundo está amando. –Ginny mostrou uma roupa com vários cachorrinhos fofos. –Olha que fofo! Ou você preferiria estar em casa sentindo falta do meu irmão?

—Eu não estaria em casa chorando pelo seu irmão. –informou Hermione. –Eu sinto a falta dele, mas não é como se ele não fosse voltar nunca mais.

—Vocês são tão fofos! –Ginny falou com uma voz meiga demais fazendo Hermione rir alto demais e chamando a atenção das pessoas na loja. –Harry conta que Ron fica triste toda vez que vocês terminam de conversar.

—O que eu posso fazer? –Hermione não pode deixar de ficar feliz em saber que Ron também sentia sua falta tanto quanto ela sentia a dele. –Seu irmão me ama!

—E você o ama! –Ginny entregou mais uma sacola para Hermione carregar. –Até um cego conseguiria ver, não tente negar.

—E quem disse que eu vou negar? –Hermione saiu da loja sorrindo acompanhada de Ginny sem acreditar no que acabara de escutar.

—Hermione! –Ginny a alcançou curiosa por mais detalhes. –Você esqueceu de me contar algumas coisas!

Hermione precisava arrumar as malas, pois viajaria no dia seguinte e para lhe fazer companhia convidou Ginny para jantar e ajuda-la com as malas. Ginny estava com vontade de comer macarrão e Hermione prontamente atendeu o desejo da cunhada cozinhando uma quantidade generosa de macarrão com molho branco.

—Agora entendi porque Ron fala que está gordo! –Ginny estava se deliciando com o prato preparado por Hermione. –Está muito bom, Hermione!

—Obrigada. –Hermione precisava concordar, realmente estava delicioso. –Eu ainda não fiz esse prato para o Ron.

—Eu sou a sua cobaia? –perguntou Ginny fingindo estar assustada.

—Eu fiz para os meus pais semana passada e eles gostaram. –ela respondeu rindo da brincadeira. –Se seu irmão está se sentindo gordo deveria parar de comer besteiras.

Após Ginny devorar o jantar, elas foram para a maratona de filmes românticos que Harry e Ron odiavam assistir. O primeiro filme estava na metade quando o celular de Hermione tocou e ela logo atendeu ao ver o nome e a foto de Ron na tela.

—Oi! Como você está? —perguntou Ron com o tom de voz ainda acelerado.

­—Melhor agora que estou falando com você. –respondeu Hermione feliz por escutar a voz dele.

—Quem precisa assistir a um filme romântico quando o verdadeiro romance está acontecendo do seu lado? –Ginny se intrometeu na conversa do casal.

—Ginny está ai?

—Sim, eu estou e você está atrapalhando a maratona de filmes românticos! –ela falou perto do celular para que o irmão escutasse.

Hermione jogou uma almofada em Ginny e foi até a cozinha para que pudessem conversar melhor. Enquanto conversavam, Hermione escutou a voz de Ginny que deveria estar falando com Harry então não se preocupou em prolongar a conversa com Ron.

—O que fez hoje? —perguntou Ron.

—Sua irmã me arrastou para mais uma rodada de compras intermináveis. –respondeu Hermione o fazendo rir. –Harry terá que me agradecer, pois eu o livrei dessa parte. Ginny comprou tanta roupa que essa criança terá uma roupa por dia sem repetir até ter completado seis meses.

—Sem contar que minha mãe e avó estão fazendo várias roupinhas de lã. –Ron riu da animação da família com os preparativos da chegada do bebê. –Já arrumou suas coisas?

­—Comecei, mas ainda tenho algumas roupas para colocar nas malas.

—Quantas malas você está levando? —questionou ele curioso. –Você só vai ficar alguns dias ou pretende fugir sem me dizer nada?

—São semanas, Ron. –ela o corrigiu rindo da hipótese dele. –Você acha mesmo que eu iria fugir?

—Não sei, espero que não.

A conversa seguiu por mais algumas horas, o tempo passava rápido demais quando eles conversavam. Tinham tanta coisa para dizer um ao outro que o tempo nunca era suficiente.

—Boa viagem.—Ron se despediu. –Vou ficar ainda mais com saudades.

—Por quê? –Hermione indagou curiosa. –Ainda estaremos longe um do outro, a saudade é a mesma.

—Não, porque você estará ainda mais longe em outro continente. –respondeu ele como se fosse óbvio. –Achei que você fosse inteligente, Hermione.

—Tchau, Ronald! –ela se despediu tentando fingir estar brava, mas seu riso a contradizia. –Eu te amo.

—Também te amo.

O dia estava amanhecendo e Hermione já estava acordada, pronta para passar horas sentada na poltrona do avião. Para não deixar Bowie aos cuidados de algum estranho ou pedir para que algum irmão de Ron cuidasse do cachorro, Hermione resolveu leva-lo junto na viagem. Enquanto ela estaria em Nova York ensaiando, o cachorro ficaria em Boston com os pais, depois os quatro iriam para o Havaí.

Aceitar o papel principal em um musical da Broadway era com toda certeza o papel mais desafiador que Hermione faria na sua carreira até agora. No colégio e posteriormente na universidade, Hermione atuou em peças de teatro e musicais, mas nada se comparava a estrelar na Broadway o local mágico e lendário dos palcos. Ela faria com que tudo fosse perfeito. Cada fala, canto e detalhe seriam decorados e ensaiados para que o público assistisse e achasse nada menos que perfeito.

O musical teria a sua primeira apresentação em Agosto para a crítica e seria aberto ao público em Setembro com apresentações todos os finais de semana até o natal. Os ingressos foram todos vendidos em poucos dias, o teatro estaria lotado em todas as apresentações, mais um motivo para Hermione dar o máximo de si nos ensaios.

—Seja bem-vinda! –Jane recebeu a filha na casa em que estavam hospedados em Boston.

—É a mesma casa que morávamos? –Hermione reconheceu a casa que viveu na infância.

—Eu consegui aluga-la por algumas semanas. –David respondeu trazendo as malas da filha para dentro da casa. –Continua a mesma coisa, não é?

Boston ainda era a mesma para Hermione. Visitou a escola que estudou e onde descobriu seu talento para atuar, suas primeiras peças foram no pequeno palco com seus colegas do clube de teatro. Reencontrou os vizinhos que costumava brincar na rua, agora todos adultos, alguns casados e com filhos.

—Você não mudou nada, Hermione! –Alex a cumprimentou. –Está lembrando-se de mim?

—Claro! –ela o abraçou. Alex era seu melhor amigo, a família dele morava na casa ao lado. –Você também não mudou nada!

—Só não me tornei uma estrela do cinema. –ele brincou. –Meus pais falaram que você estava de passagem então vim te ver.

—Estava em Nova York ensaiando para um musical e agora vou passar uns dias de férias com meus pais no Havaí. –contou Hermione feliz em encontrar o amigo de infância. –E você, o que tem feito desde a última vez que nos vimos?

—Minha cor favorita não é mais verde. –respondeu Alex rindo. –Meu sonho de jogar no Patriots não se realizou, mas tudo bem, acho que sou um médico melhor do que seria um atleta.

—Doutor Cooper! –Hermione sorriu orgulhosa do amigo. –Parabéns, Alex!

—Eu vou entender se você tiver outro compromisso, mas quer sair jantar hoje à noite? –ele a convidou. –Assim colocamos anos de novidades a limpo.

—Eu aceito. –ela aceitou animada em continuar a conversa mais tarde.

Alex escolheu um restaurante tranquilo, poderiam passar a noite conversando acompanhados de boa comida e bebida. Era estranho estar jantando com Alex, pois na sua adolescência, Hermione foi completamente apaixonada por ele. Alex nunca a viu como sendo mais do que sua vizinha e melhor amiga, mas Hermione nutriu por anos um amor por ele, talvez fosse porque Alex era popular, estrela do time da escola e Hermione a tímida e estudiosa, típica história dos romances que Hermione adorava ler quando jovem.

—Você casou? –perguntou Hermione durante o jantar.

—Sim, mas nos separamos recentemente. –Alex respondeu tentando soar normal, mas não conseguiu esconder a tristeza em sua voz.

—Sinto muito, Alex. –Hermione apressou em se retratar colocando sua mão sobre a dele na mesa.

—Tudo bem, nós nos amávamos, mas talvez não o suficiente para fazer o casamento durar. –ele sorriu, mudando o clima triste que a noite havia tomado. –Mas soube que você casou, meus parabéns!

—Obrigada. –Hermione agradeceu por ele ter rapidamente contornado a situação. –Ron e eu nos casamos em Las Vegas, acredita?

—Não sou muito ligado em fofocas de celebridades, mas quando vi que era você não consegui acreditar. –Alex disse surpreso e Hermione riu, pois já estava acostumada ao espanto das pessoas ao contar sobre o seu casamento. –A Hermione que eu conhecia sonhava em casar na igreja como nos romances que você tanto lia.

—As pessoas mudam, Alex. –Hermione preferiu resumir a sua resposta, não precisava dizer os detalhes.

A noite foi divertida, conversaram sobre tudo e não deixaram de relembrar os tempos de criança. O tempo passou rápido demais e só perceberam quando o garçom avisou que o restaurante estava fechando.

—Eu adorei te reencontrar, Hermione. –Alex estacionou o carro em frente a casa dela.

—Eu também. –ela respondeu feliz pela noite que tivera com o amigo. –Vamos repetir? Talvez encontrar outros colegas da escola.

—Eu tenho contato com alguns. –ele ficou animado com a sugestão. –Me passa o seu telefone e eu te aviso, acredito que todos irão adorar te ver.

—Obrigada pelo jantar. –Hermione agradeceu depois de salvar o seu número no celular de Alex. –Boa noite.

—Boa noite. –Alex a abraçou e beijou seu rosto antes que Hermione saísse do carro. –Até mais!

Hermione chegou em casa e tirou o celular da bolsa. Foi quando percebeu as várias ligações e mensagens de Ron. Olhou para o relógio, era tarde demais para retornar, Ron deveria estar dormindo e não queria acorda-lo, amanhã falaria com ele.