Sobre Príncipes e Princesas escrita por Hanna Martins


Capítulo 32
Peão


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pelo atraso! Mas, aqui está o capítulo da semana e vem com mais algumas revelações rsrsrsrs.
Ah, e boa sorte para todos os que vão fazer ENEM nesse final de semana. Fiquem bem, relaxem, que tudo vai dar certo!



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Me apoio na parede, minhas forças se foram completamente. Há um enorme vazio em mim. Como se meu corpo e minha alma estivessem separados. Por um instante tudo está envolto por uma névoa.  

Adam me traiu.  

Fui usada por ele.  

Meu segredo foi revelado.  

— Emma? — O toque da mão de Leon em meu ombro me traz para a realidade. — Você está bem? — pergunta, preocupado.  

— Eu... — Seus olhos verdes me fitam. Há preocupação neles. E também amor. São eles que me dão força e trazem minha consciência de volta. — Foi Adam, não foi? — a voz sai fraca.  

— Provavelmente. — Leon assente e me envolve nos braços.  

— Foi ele que me entregou a bebida... eu evitei pensar nisso, não querendo acreditar que fosse verdade, mas... foi ele que me dopou. Não há como outra pessoa ter me dopado. — Saio de seus braços, agora agitada por um turbilhão de pensamentos.  

— Você sabe de alguma coisa, não é? — ele questiona Will com uma voz que não admite negativas.   

Seu primo encolhe os ombros, tentando parecer despreocupado, e nos olha. 

— Sobre o quê? — pergunta Will.  

Leon o encara.  

— Bem, eu disse que não fui eu que dopei Emma. E não foi mesmo! Posso ser um credito às vezes, mas dopar alguém não é algo que eu faria, muito menos com a Emma. Porque acredite você ou não, gosto de Emma — sua voz agora é tranquila, não tem nada da exaltação de alguns minutos antes, quando ele e Leon estavam ao ponto de saírem aos socos.  

Will passa as mãos pelos cabelos desalinhados, arrumando-os.  

— Você está escondendo algo, Will — afirma Leon, observando-o. — Você sabe de alguma coisa... 

— O que, primo? — fala calmamente.  

— Esse jornalista não fez isso sozinho. Há alguém por traz dele.  

— Muito perspicaz da sua parte, primo. — Will sorri.  

— Princesa Sylvia, não é? — indaga Leon.  

— Minha mãe? — Ele finge indignação. — Por que sempre acusam minha mãe de tudo o que acontece à realeza?  

— William! 

Will me olha por um breve segundo. 

— Ok, talvez eu possa saber de uma coisa ou duas... 

Leon franze o cenho e espera que ele prossiga sem desviar os olhos do primo um só instante. 

— Primeiro, eu não sei nada sobre essa história de jornalista aí.  

— Vai continuar negando? — Leon cruza os braços.   

— Volto a afirmar, eu não sei nada sobre essa história de jornalista. Mas... posso deduzir quem fez isso. — Ele nos encara, silenciosamente.  

— Quem? — pergunto, não suportando mais o silêncio sugestivo do príncipe. 

— Mia Coulter — fala simplesmente.  

— Ela? — não há tanta surpresa na voz de Leon.  

— É.  

Leon fica em silêncio por alguns instantes.  

— Mas, ela não fez isso sozinha... Há alguém mais, não é? — fala subitamente.  

— Ah, primo, por que você tinha que ser tão desconfiado?... — Suspira. —  Só vou falar isso por Emma. — Seus olhos castanhos voltam-se para mim. — Lyane gosta de você. Muito. E eu nunca achei lá muito justo você ser jogada no meio desse caos. Ninguém merece isso. Muito menos alguém como você, uma boa pessoa... — As palavras dele me parecem sinceras. — Sei que Mia Coulter tornou-se a nova melhor amiga da minha mãe. É apenas tudo o que sei. Juro. — Levanta a mão em sinal de juramento.  

Will nos olha por uma última vez e depois se vai, como se nada tivesse acontecido. 

— Então foram as duas? — falo em voz alta sem perceber.  

— Mia Coulter provavelmente é a executora dos planos e a princesa Sylvia... deve ser quem os arquiteta... na verdade, se a conheço bem, é ela quem sussurra nos ouvidos alheios, fazendo-os acreditar que foram eles os responsáveis por tudo, quando na verdade ela é a grande estrategista por trás de tudo. Ela utiliza as pessoas como peões.  

Um peão. Talvez seja isso o que realmente sou. Um mero peão. Penso, enquanto observo as estrelas do céu através do vidro da janela do carro.  

Leon dirige silenciosamente. Cada um está preso em seus próprios problemas e pensamentos.  

Adam expor meu maior segredo ao mundo. Não consigo processar essa informação corretamente. Também nem sei quais são os meus sentimentos. Raiva, tristeza, decepção, tudo paira sobre mim e me envolve nesse grande turbilhão.  

— Emma...  

Volto-me para Leon, sua expressão está consternada.  

— O que... — não termino de formular minha pergunta, já que avisto o motivo da preocupação. Um carro nos segue.  

— Paparazzi. Só faltava essa! — Ele suspira, mais cansado do que irritado.  

— E o que vamos fazer? 

— Nada... Só podemos tentar despistá-los. — Pisa no acelerador.  

Porém, os paparazzi são predadores com experiência, para eles é fácil nos seguir. Leon examina o carro pelo retrovisor e continua a acelerar.  

Conseguimos nos livrar dos paparazzi após várias tentativas.  

São quase três horas da manhã, quando chegamos ao palácio.  

Uma rápida olhada no celular basta para constatar que os paparazzi são demasiadamente eficientes. Por todas as redes sociais há uma enxurrada de fotos de mim e de Leon saindo daquela festa. Pronto. Aqui está a cereja do bolo. 

A princesa herdeira escreve sob um pseudônimo contos muito “autobiográficos” (foi o adjetivo escolhido por Adam para qualificar minha escrita). Em parte, ele tem razão. Admito que há muitas coisas que realmente são baseadas em mim, nos meus pensamentos, sentimentos e vivência. Afinal, um autor, por mais que não queira, deixa em seus escritos uma parte sua. E a parte que eu deixei é extremamente intima... Obviamente, as histórias que eu criei são apenas ficções, mas os sentimentos, pensamentos... são reais de mais.  

Depois da nação conhecer o segredo da princesa herdeira, ela é flagrada saindo de uma festa, um atestado de que ela realmente não se importa com nada. Ah, e ainda tem aquela vez que saiu carregada de uma recepção pelo primo de seu marido. Temos aqui assunto para fofocas para uns seis meses garantidíssimo. Emma Jones está salvando a indústria de fofoca do país.  

— Emma, você sabe que teremos um longo dia pela frente — diz  Leon, me abraçando.  

— Sei — lamento, escondendo o rosto em seu peito.  

Assim, em seus braços, sentindo seu calor, por um breve instante me permito ter a pálida fantasia de que tudo vai ficar bem.  

— A rainha irá aparecer aqui em breve ou nos convocará. Ainda não sei porque ela ainda não fez isso...  

Ele coloca a palma da mão sobre minha bochecha e me olhar ternamente.  

— Você está bem? Depois de ler aquelas coisas... 

— Eu... só estou chateada com tudo o que aconteceu... e atordoada demais para pensar direito... nas consequências.  

— Não fique pensando nas consequências, isso só irá te deixar mais preocupada.  

— Estamos metidos em um belo problema, não estamos? 

— Estamos.  

Volto a esconder o rosto em seu peito.  

— Estou sem forças — confesso. — E cansada — minha voz sai fraca. — Poderia dormir por uns mil anos.  

Leon deposita um beijo em minha testa, passo os braços por seu pescoço e ele me pega em nos braços, me carregando até o quarto.  

— Tente descansar um pouco — diz, me colocando na cama.  

Assinto como uma garotinha assustada.  

Ele retira meus sapatos e minhas meias, depois deita-se ao meu lado. Volto-me para ele, escondendo-me entre seus braços. Fecho os olhos.  

No entanto, não consigo dormir, alterno entre momentos de vigília e breves cochilos. Sei que Leon se encontra no mesmo estado. Porém, optamos por não interromper as falhas tentativas do outro de obter um pouco de descanso.  

São seis horas da manhã, quando finalmente nos damos por vencido e resolvemos desistir do sono.  

Tomamos um banho, nos arrumamos. E... esperamos. Pelo que exatamente? Não sei. Mas, não há mais nada a fazer nesse momento, que não seja esperar.  

— Emma! — irrompe uma Charlie, empunhando o celular, no quarto.  

— Você ainda está aqui?! — Leon a olha, interrogativo.  

— Eu não acredito que você é uma escritora! — diz, ignorando o irmão. — Eu fui dormir e de repente acordo com isso! — Aponta para a tela do celular. — Isso é simplesmente o dia mais empolgante da minha vida! 

A princesa caçula tem uma perspectiva muito singular sobre as coisas.  

— Com licença — diz o mordomo do palácio de verão, entrando no quarto com uma pequena reverência.  

— Sim? — pergunta Leon. 

— Sua Majestade, a rainha Felipa, está aqui para vê-los. 

Eu e Leon nos entreolhamos.  

— A princesa Charlotte também deve se apresentar.  

— Merda — murmura Charlie.  

Nos três vamos até a sala em que a rainha nos espera.  

A rainha nos recebe com um simples aceno de cabeça. Seus olhos estão duros e fadigados.  

— Charlotte, você deve voltar para o palácio imediatamente — sentencia com a voz inflexível de quem não admite réplicas. — Seu motorista a espera.  

Charlie assente com um olhar resignado e se vai. Até mesmo ela se curva diante do poder da rainha.   

Ela indica o assento em sua frente para nós.  

— E agora? — Os cortantes olhos verdes caem sobre nós. — Preciso saber de mais alguma coisa? — sua voz soa enfadada. — Para ficar preparada.  

Ver a rainha irritada é algo medonho.  

Observo com o canto dos olhos Leon. Ele permanece com sua máscara de tranquilidade, imperturbável. 

— Vocês fazem ideia da crise em que fomos colocados? Uma princesa herdeira que escreve sobre o lado nada glamoroso da família real!   

— Aquilo é apenas ficção — me vejo, surpreendente, rebatendo a acusação. Devo ter perdido o juízo devido ao cansaço e falta de sono.  

—  Ficção? — Sinto o frio de seus olhos penetrar em minha pele. — Uma bela resposta. Mas, não é isso que todos irão achar. Ficção? Por causa desse seu deslize — ressalta a palavra com ironia — vamos ter que tomar muitas medidas.  

— A culpa não é de Emma — intervém Leon. 

Os olhos da rainha agora se fixação nele.   

— A senhora sabe de quem é a culpa, não é mesmo? — as palavras saem calmas, calculadas de sua boca. — Não é Emma a quem deve estar culpando. Se quiser culpar alguém, culpe a Mia Coulter ou a princesa Sylvia, mas não culpe Emma. 

A mão de Leon alcança a minha e a aperta com força. 

Os olhos da rainha recaem sobre mim, acusadores, julgadores, cortantes. Sou culpada e não há nada que possa convencê-la do contrário. Sinto-me diminuindo sobre seu olhar até ficar tão pequena quanto uma molécula.  

— Medidas serão tomadas — insiste, inflexível. — A princesa Charlotte e os guarda-costas que estavam em serviço nesta noite serão responsabilizados por suas ações. Sebastian será transferido.  

Não. Tudo o que menos quero é que outras pessoas sofram por minhas ações. Um nó se forma em minha garganta, não consigo emitir um único som.    

— Vocês não irão sair do palácio até segundas ordens.  

— A senhora sabe que isso é injusto — protesta Leon.  

— Não se trata de justiça — rebate. — Trata-se de salvar o que nos resta.  

Ele levanta-se, me levando consigo.  

— Se era apenas isso, peço permissão para me retirar, Sua Majestade — diz, fazendo esforço para não se descontrolar.  

Ela acena com a mão e estamos dispensados.  

Leon caminha em minha frente com minha mão presa na sua, seus passos são rápidos e nervosos. Não trocamos nenhuma palavra até chegarmos em meu quarto. 

— Ela... Argh! — ele reprime um palavrão, irritado.  

Me aproximo e abraço suas costas, deixando que minha cabeça descanse nelas. Estou cansada. Cansada demais. Sinto seus músculos relaxarem. 

— Emma, me desculpe, eu não pude fazer nada.  

— Você está do meu lado — respondo.  

Leon volta-se para mim e me abraça. Um abraço apertado, quase sufocante.   

— Eu só piorei a situação.  

— Não diga isso, Leon. Você sabe que não é verdade.  

Calados, perdidos em nossos pensamentos, ficamos assim por um longo minuto.  

As coisas só pioram com o passar do dia. A sensação de culpa me persegue. O olhar da rainha sobre mim me acompanha como um feitiço. E isso só aumenta quando avisto Sebastian, sentado em um banco do jardim, embaixo de um dos caramanchões. Os ombros curvados dele, a cabeça inclinada sobre o peito... Eu o envolvi nisso.  

— Posso me sentar aqui? — indago, me aproximando dele.  

Ele assente com um simples gesto de cabeça.  

— Eles me transferiram — a voz é calma, mas tem uma pintada de frustação.  

— Por minha causa, não é? Se não tivéssemos desobedecidos as ordens e saído do palácio... — Olho para meus pés sem coragem de olhar para ele.  

— Não. Não é sua culpa. Eu fiz isso porque quis. Eu optei por desobedecer as leis... E eu tenho mesmo desobedecido algumas ordens... — sua voz adquire um certo tom animado. — Eu só não queria... 

Olho para ele. 

— Não queria o quê? 

— Bem... — ele hesita. — Conheço a realeza muito bem, desde que me entendo por gente, na realidade. Fui criado praticamente no palácio... E sei que esse lugar pode... sufocar as pessoas... Estar dentro da realeza não é uma tarefa fácil. 

— É — concordo. — Tenho aprendido sobre isso nos últimos tempos. E tenho que agradecer a você por tornar essa jornada menos pesada.  

Seus olhos voltassem para mim, um tanto surpresos.  

— Você não foi apenas meu guarda-costas, você foi meu amigo — sorrio. — Um precioso amigo que encontrei nesse lugar espinhoso.  

Sebastian sorri. 

— Minhas colegas da faculdade, com certeza, vão sentir a sua falta. 

Ele ri, mostrando suas adoráveis covinhas.  

— E Charlie... ela vai sentir muito a sua falta. 

— Charlotte... — Ele solta um pequenino suspiro, quase imperceptível. — Ela vai arranjar logo outro para arrastar para suas aventuras... 

— Acho que não.  

Sebastian desvia o olhar.  

— Você vai ser transferido para onde? 

— Ainda não sei... provavelmente, vou ser afastado por um tempo... E tenho que voltar a Academia Real de Guarda-costas Masculinos para refazer o curso de guarda-costas... 

— Você sempre será meu guarda-costas favorito! — falo, me levantando.   

Ele sorri.  

— Obrigada — digo, enquanto me afasto.  

Conviver com consequências dos meus atos é uma tarefa extremamente difícil. Principalmente, quando todos parecem me culpar. E tudo parece piorar nos dias seguintes. 

Se eu não tivesse escrito aquelas coisas... se eu não tivesse me atrevido a escrever... Se eu não tivesse me deixado levar por Adam... 


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Olha só, Adam não era o único responsável por tudo o que aconteceu... E agora o que vai acontecer? A rainha aparecerá com outro dos seus planos mirabolantes?



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