Sobre Príncipes e Princesas escrita por Hanna Martins


Capítulo 26
Sun


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado à Lice Keiko, esta linda que presenteou a fic com a recomendação que me deixou surtando aqui e acabando com as paz dos meus vizinhos! Obrigada, Lice!



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Os dedos correm rápido pelo piano em uma velocidade quase inacreditável. Sem fazer qualquer barulho, me aproximo dele.

— Uma nova composição? — pergunto, me sentando ao seu lado.

— Não, essa é velha...

Suas mãos são como uma extensão do piano.

— Obrigada...

Ele me olha.

— Obrigada por trazer minha família aqui.

— Eles já foram?

Assinto. Só deu para tomarmos o café da manhã juntos. Logo, meus pais e meu irmão tiveram que ir embora. Porém, eu realmente aprecie cada segundo que passei com minha família depois de meses sem os ver. Eles foram levados por Sebastian. Saíram literalmente pela porta dos fundos. Tive a impressão que eles até pareciam uns criminosos que precisavam se esconderem. Se bem que isso não é de todo falso, já que pelas leis da família real minha família precisa de permissão e blábláblá para poderem me visitar. E quebrar um dos protocolos da família real é “um crime inadmissível”, segundo Daphné. Que novidade?

— Eles pediram para te agradecer — falo, tocando em uma tecla do piano. — Sei que se alguém descobrir sobre isso, você estará bem encrencado...

— Encrencando? — ele sorri. — Definitivamente, eu seria um príncipe morto!

— Desculpa, você fez isso por mim... e ontem... bem, ontem eu estava um tanto... — não consigo encontrar a palavra exata — fora de mim. Eu não deveria ter te pedido algo assim...

Os estonteantes olhos verdes de Leon vão parar em mim.

— Eu fiz isso porque quis — responde, dando os ombros. — Eu poderia não ter feito, mas eu fiz.

— Se eles descobrirem...

Ele sorri.

— Não se preocupe com isso, já está feito.

— Mas...

— Ei!

Seus lábios se aproximam dos meus e me calam.

— Você não pode fazer isso para ganhar uma discussão!

— Mesmo? — um sorriso muito travesso surge em seus lábios. — E isso?

Seu braço passa por minha cintura e me traz para perto do seu corpo. Um sorriso muito malicioso e instigante paira em seus lábios. Por que ele precisa ser assim? Tão tentador...

— Não posso fazer isso? — sua voz é baixinha, provocante.

Mas, ele não é o único que está quebrando as regras. Eu também tenho quebrado algumas...

— Leon... — não sei como começar a falar sobre isso. — Eu...

— O quê?

Ele segura a minha mão e a desliza sobre as teclas do piano.

— Eu acho que... fiz algo que...

Eu não contei para Leon sobre o conto que publiquei. Ele foi publicado anteontem na revista “Jovens na Literatura”. Publiquei sob um pseudônimo, Sun. Eu nunca poderei revelar a verdade identidade de Sun. Nunca. Aliás, nem mesmo os editores sabem quem é Sun, nem mesmo se é homem ou mulher, o único que conhece a verdade é Adam. Somente ele e eu, e mais ninguém.

— Fez o quê? — roça os lábios em meu pescoço.

— Sabe, eu... — deveria ter contato isso a ele mais cedo.

Seus olhos me interrogam.

Alguém bate na porta.

— Entre — fala, mantendo a mão em minha cintura.

— Os assistentes de Sua Alteza estão aqui — fala, Patrick, o mordomo do palácio de verão. Ele é quem mais conhece este local. Também pudera, já faz mais de trinta anos que está encarregado em administrar o lugar.

— Obrigado, Patrick.

O velho Patrick faz uma pequena mesura e se retira. Não gosto de todas estas formalidades. Entretanto, os empregados do palácio recebem ordem restritas quanto as regras de etiqueta. Desafiá-las para eles poderia custar seus empregos. Por que tudo aqui é tão cheio de restrições e punições? Será que os palácios dos contos de fadas também são assim? Os contos de fadas jamais mostrariam este lado.

— Tenho que ir... — falo, me levantando.

— O que você queria me contar?

— Nada... depois, eu conto. Não é importante.

Ele me puxa e planta um beijo roubador de ar de pulmões alheios e desprevenidos. Um beijo que faz qualquer um perder o raciocínio.

— Te vejo depois — diz, me soltando.

— Leon!

Ele sorri como um garotinho travesso e me empurra pelos ombros até a porta.

— Não vá se atrasar! — fecha a porta, mas antes me dá uma piscadinha sacana. 

Os meus assistentes de produção, responsáveis por escolherem minhas roupas, fazerem minha maquiagem e meu cabelo, não perdem nenhum um segundo ao me verem, lá vão eles me jogando uma série de roupas, mexendo no meu cabelo, enchendo minha cara com um monte de creme, pós e não sei o que mais. No final, a figura de uma garota, que quase não reconheço, surge no espelho, pronta para cumprir seu papel de princesa herdeira.

O que temos para hoje? Assistir a uma competição de hipismo. Esse é o esporte mais apreciado da família real. E quando há competições assim, praticamente toda a família real comparece. Esse evento ainda tem um peso a mais. Será o primeiro, depois do falecimento de Francis e Guinevere, que a nação verá boa parte da família real reunida.

Como já era esperado, flashes e mais flashes são as estrelas do dia. Este é um evento real, um evento público, tenho que seguir cada regra de etiqueta. Um deslize e serei exposta a nação. E nem todos os olhos da nação me veem bem. Isso é tão cansativo. Não consigo relaxar em nenhum momento. Cumprimentar pessoas, sorrir, acenar, sorrir, cumprimentar pessoas...

 Finalmente, chegamos ao camarote destinado a família real, onde assistiremos as provas. Charlie conversa, ou melhor, atormenta um de seus guarda-costas. Princesa Charlotte, o terror dos guarda-costas.

Alguns membros da realeza estão presentes, eles fazem uma pequena reverência quando entramos. Entretanto, o que chama a atenção de todos mesmo é a súbita aparição da princesa Sylvia e de Will. Com passos elegantes, com o braço apoiado no de Will, ela entra, dominando todo o ambiente e as pessoas. Sua presença com certeza nunca irá passar despercebida.

Ela e Will se aproximam de nós. A princesa Sylvia exibe um sorriso exuberante, seus alvíssimos e perfeitos dentes se destacam.

Inclino levemente a cabeça, pois segundo as regras, ela, como irmã do rei, está acima do príncipe e da princesa herdeira. Regras, regras, regras para todo o lado.

— Como vão? — ela nos cumprimenta.

— Bem, obrigado — diz Leon.

A princesa Sylvia lança outro de seus sorrisos primorosos.

Repentinamente, a atenção de todos se volta para um único lugar e um silêncio cheio de cochichos de instala. Mia Coulter. A princesa pop da nação, ou ex-princesinha da nação. Depois de todos aqueles escândalos a envolvendo...

Quem é Mia Coulter? Para alguns, não saber quem é ela, é considerado um crime gravíssimo. Atriz, cantora e ídolo da nação. Apenas isso. As pessoas de nosso país poderiam ser classificadas em dois tipos: amam e idolatram Mia Coulter; a detestam e consideram que ela deveria se aposentar.

Ela começou sua carreira aos 13 anos, estrelando um filme de grande sucesso, aos 15 anos, sua música estava tocando no primeiro lugar em todas as rádios do país. Mia Coulter conquistou o país com seu modo de garota boazinha. No entanto, isso não durou muito tempo. Logo vieram os escândalos e a imagem de boa garota caiu. Alguns a consideram as atitudes de Mia como ousadas e irreverentes, já outros, a veem como uma garota que somente quer se promover.

Nunca esperava encontrar Mia Coulter em lugar como este. Nunca mesmo. Acho que este é outro daqueles sinais que indicam que o final de nosso amado planeta está próximo.

Ela caminha em nossa direção, ou melhor, desfila. Todos os olhares estão em cima dela. E ela tem claramente consciência disso e adora. Mia faz uma pequena reverência e depois segue em uma direção oposta.

— Mia Coulter? — fala Charlie, quase espantada, aproximando de nós. O que eu disse sobre o final dos tempos? Charlie incrédula é outro sinal.

A princesa Sylvia sorri e seus olhos vão parar em Leon. Ele retribui o olhar. Will sorri, um sorriso um tanto... diferente.

— Emma — Will olha para mim. — Gostaria de a apresentar a minha amiga...

Leon olha para ele. Seu olhar é indecifrável.

— Tenho certeza que meu primo não vai se importar se eu lhe roubar sua esposa por alguns minutos, não é? — seu tom é gentil e amável. Porém, há algo em seu tom de voz...

— Também quero que você me apresente! — fala Charlie.

— Claro, priminha! — sorri. — Vamos?

Olho para Leon, mas ele não retribui meu olhar. Seus olhos estão na princesa Sylvia.

Charlie pega em meu braço e praticamente me arrasta com ela, me levando para longe da princesa Sylvia e de Leon. Noto que os dois começam a conversar, porém não consigo escutar nada.

Mia Coulter conversa com dois rapazes quando nos aproximamos. Os rapazes flertam com ela e fazem piadinhas, arrancando risadinhas dela.  

— Mia — Will chama a sua atenção.

Os feiticeiros olhos negros de Mia deslizam em nossa direção.

— Ah! — ela sorri.

Ela e Will dariam um belo par. Os dois têm aquele ar de sensualidade que exalam a cada mínimo movimento.

— Gostariam de apresentam a você minha prima, Charlie e Emma, a princesa herdeira.

Mia faz uma graciosa reverência para mim e Charlie.

— É um prazer conhecê-las.

— Igualmente — fala Charlie, entusiasmada como se acabasse de ganhar um novo brinquedo. — Eu já ouvi todas as suas músicas!

— E gostou?

— Nada mau — Charlie lança um de seus sorrisos travessos.

Mia solta uma risadinha e as duas começam a conversar. Do lugar em que estou, não consigo localizar Leon e nem a princesa Sylvia.

— O que foi? — indaga Will, notando o meu olhar.

— Nada...

— A competição já vai começar — olha para seu relógio de pulso. — Vamos para lá — indica um canto. — É o melhor lugar para assistir à competição.

Caminhamos até um dos bancos.

— Não sabia que você conhecia Mia Coulter — falo, pegando um binóculo que um dos empregados do camarote me oferece.

— Eu e Mia nos conhecemos há algum tempo... — ele também pega um binóculo.

Mia Coulter? Ninguém pode duvidar dos dotes de sedução de certo príncipe.

— Olha só aquele cavalo — indica um belíssimo cavalo castanho. — Ele já ganhou...

Will começa a falar sobre a competição. Quando ele não está em seu modo “sou sexy demais me notem”, ele é uma companhia bem agradável.

Avisto Leon conversando com algumas pessoas. Ele parece bem entretido na conversa, pois nem nota meus olhares. Desisto de tentar chamar sua atenção. 

Passo a maior parte da competição na companhia de Will. Charlie também se junta a nós, quando Mia Coulter sai do camarote. Aliás, ela nem ficou por muito tempo.

Estou concentrada vendo as provas e não percebo a presença de Leon. Só dou por sua presença quando ele cochicha em meu ouvido:

— Precisamos ir...

Olho para ele, que apenas estende a mão para mim.

— Ok... — pego sua mão e me levanto.

Saímos discretamente do local. As pessoas estão ocupadas em acompanhar a competição.

— Algum problema?

— Nada. A rainha pediu para eu ir ao palácio.

— O que ela quer?

— Não deve ser nada — suspira. — A rainha... bem, você sabe... Vamos.

— Ela também me chamou?

— Não. Você não precisa ir.

— Ah — solto um suspiro. A rainha Felipa e toda a sua imponência sempre me causa um frio na barriga.

Leon me conduz até o carro. Porém, em vez de entrar no carro, ele opta por ir em outro.

— Não vou demorar — diz, se despedindo.

A família real e... suas maluquices. Acho que nunca vou entender completamente eles. Eles são tipo uma prova de cálculo avançado, ou melhor, super avançado. Uma prova de cálculo super avançado em uma segunda-feira. Uma segunda-feira pós-feriado.  De qualquer forma, estou satisfeita em não ir a este encontro com a rainha.

Pego meu celular. Várias chamadas perdidas. Adam. Um único pensamento passa por minha mente. O meu conto. Um frio na espinha. Eu tentei esquecer o fato de que ele foi publicado, já que estou bem ansiosa com tudo isso. Até mesmo criaram um e-mail para Sun para os leitores se comunicarem, caso queiram. Não entrei no e-mail. E se ninguém gostar? E se as pessoas lerem e mandarem mensagens afirmando que está horrível? As pessoas podem ser muito cruéis.

Tento relaxar. Ligo para Adam.

— Emma?

— Oi, Adam. Você me ligou...

— Estava tentando te localizar.

— É, este final de semana foi um pouco... agitado.

— Você já leu seus e-mails?

— Meus e-mails...

— Os e-mails de Sun quero dizer.

— Ainda não vi — omito a parte sobre as opiniões negativas.

— Então, você deve abrir seus e-mails urgentemente.

— Por quê? — meu coração dispara.

— Porque todos os leitores da revista querem saber quem é Sun. Eles ficaram simplesmente maravilhados com seu conto.

— ...

— Emma? Você está aí?

— ....

— Emma?

— O que... — mal consigo falar.

— E já queremos um conto novo para a próxima edição! — fala Adam muito entusiasmado.

Sabe quando você fica tão agitada que sai completamente fora do ar. Foi o que aconteceu comigo.

Com as mãos trêmulas, abro a caixa de e-mail e... isso é ilusão de ótica? Ela está completamente lotada de e-mails. Abro o primeiro e-mail:

Sun, sua escrita é incrível. Eu não apenas senti o que Bianca sentiu, eu era a própria Bianca enquanto eu lia o conto. Por favor, escreva mais. Mal posso esperar para ler mais textos seu.”

Vou abrindo um a um os e-mails. E até uma pequena lágrima escorre. Sorrio, choro com as palavras que recebo. Isso é surreal. Inacreditável.

Leon não demora a chegar. Estou tão agitada com que salto em seus braços quando o vejo.

— O que foi?

Sorrio e lhe puxo para um beijo.

— Hum... isso foi... — Leon tenta recuperar o fôlego — uma ótima recepção. O que aconteceu?

Estou tão feliz que não hesito em contar tudo para ele. Meus receios foram todos embora.

— Eu publiquei um conto.

Ele me olha. Seu olhar é indecifrável... recuo. Parece aquela cena em que um balão subitamente perde todo o seu ar.

— Eu publiquei sob um pseudônimo — falo, desta vez sem nenhuma empolgação.

— Você fez o quê? — diz completamente irritado.

Olho para ele. É a primeira vez que o vejo neste estado e isso é totalmente inesperado.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Emma fez sucesso com o conto. Mas, ela está infligindo uma certa regra da realeza... E ela contou para o Leon. A reação dele não foi das melhores... ai, ai, ai. E essa tal de Mia Coulter?