Sobre Príncipes e Princesas escrita por Hanna Martins


Capítulo 24
Regras para uma princesa herdeira


Notas iniciais do capítulo

Olha só quem está de volta? Desculpem pelo sumiço (olhinhos do gato de botas), acabei enfrentando um bloqueio criativo daqueles. Mas, ele finalmente foi embora e aqui estou com um capítulo novo. Uma pequena amostra das regras que Emma terá que seguir! Se eu fosse ela, estaria perdida!



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1. Não se deve terminar a refeição antes ou depois do rei ou da rainha.

Vou passar a fome, fato. Aqueles dois nem parecem que comem.

2. Os cabelos devem estar presos em eventos oficiais.

Ouviram, lindos cabelos, que amam se soltar? Posso ser punida por causa de vocês se resolverem se rebelarem.

3. Não se pode utilizar bolsas em eventos públicos.

Porque estamos obviamente no século XVIII e temos súditos para fazer tudo por nós.

4. O choro em público é expressamente proibido.

Tenho que ter cuidado com cebolas.

5. A princesa herdeira não deve emitir publicamente posições políticas.

A princesa herdeira deve se comportar como uma boneca que não tem qualquer opinião.

6. Deve apenas assinar documentos oficiais.

Se encontrarem minha assinatura nos meus trabalhos da terceira série, estou ferrada.

7. Em compromissos públicos oficiais a princesa herdeira precisa andar dois passos atrás do príncipe herdeiro.

Porque claramente não tenho a capacidade de andar mais depressa do que o príncipe herdeiro.

8. Fazer comentários sobre a vida privada é proibido.

Ah, só porque eu queria revelar a cor da cueca do príncipe herdeiro. Isso é maldade.

9. O príncipe herdeiro deve autorizar viagens e saídas do palácio.

Ótimo, o príncipe herdeiro manda em todos os meus passos.

10. A princesa herdeira não poderá exercer qualquer profissão.

Prefiro nem comentar.

E estas são apenas algumas das regras que preciso seguir como princesa herdeira. Viva as regras!

Como um imã, a música do piano me chama. Entro com passos calados na sala de música. Fecho a porta atrás de mim e permaneço segurando a maçaneta. Encosto-me na porta e sou transportada para um mundo em que não há preocupações. As notas falam comigo, contam-me uma história, alegre, porém com um toque de melancolia que cresce se impondo cada vez mais forte, mais forte, até que não resta alegria apenas a melancolia.

Abro os olhos, a música terminou há algum tempo, mas ela ainda ecoa em mim. Leon me olha. Meus passos são determinados, seguros. Me jogo em cima de Leon e o beijo. Dou-lhe um beijo agressivo, sem nenhuma doçura. Beijo-o até esvaziar meus pulmões de ar. Mordo seu lábio inferior com força. Minhas mãos abrem apressadas os botões de sua camisa.

— Emma... — ele respira com sofreguidão. — Emma... por que você está me atacando assim?

Como resposta mordo o lóbulo de sua orelha.

— Não que eu esteja reclamando... Se quiser pode seguir... não vou me incomodar nenhum um pouquinho... Mas... Emma... o que aconteceu?

Paro de o beijar e olho para ele.

— Nada...

— Mesmo? — seus intensos olhos verdes me estudam.

Ele acaricia meu rosto delicadamente.

Saio de seu colo.

— Como foi a reunião com a rainha? — indaga, seus olhos analíticos me seguem.

— Foi... foi... — não consigo encontrar as palavras adequadas — esclarecedora.

Leon se levanta e aproxima-se de mim. Não diz nada, apenas me olha. Desvio meus olhos dele. Os olhos de Leon podem ler muitas coisas.

Sua mão pega a minha. Olho para ele, surpresa.

— Vamos...

— Aonde?

— Confie em mim — sorri. O seu sorriso não me faz ter dúvida alguma.

Sigo-o. Sua mão cálida e forte não deixa a minha. Ele me leva até a garagem do palácio de verão.

— Vamos dar um passeio — fala, pegando um capacete em um armário.

— Aonde estamos indo?

— Apenas vamos dar um passeio — responde tranquilamente, colocando o capacete em mim.

— E nossos guarda-costas?

— Eles não precisam saber — sussurra.

— Algo me diz que vamos estar encrencados.

Ele ri.

— Eu sou um príncipe rebelde ou se esqueceu disso, hein?

Olho para ele, tentando decifrar seus enigmas (como se isso fosse possível).

— Vamos, hoje quem está responsável por cuidar de nossa segurança é o Jordan, é fácil passar por ele... Vamos, vai ser bom dar um passeio noturno.

Olho para ele ainda receosa. Mas, faz tanto tempo que não ando sem ninguém no meu pé, que não posso recusar esta oferta, mesmo sabendo dos riscos. Além disso, por que eu estou com medo? Por que estou receosa? Liberdade não é o que mais desejo neste momento? As paredes do palácio são tão grandes e sufocantes.

Leon pega uma moto.

— Segure bem — diz ele para mim.

Seguro firmemente a sua cintura. Leon liga a moto e dá um jeito de escapulir do palácio sem que ninguém nos note. Pelo jeito, ele é bem entendido na arte da fuga.

O ar da noite é gelado. Seguro ainda mais forte em Leon. Olho para o céu. Limpo, repleto de estrelas. O impassível céu. Indiferente as nossas angústias, as nossas tristezas. Leon acelera a moto. A velocidade faz com que meus pensamentos fiquem perdidos pela estrada. Minha mente se esvazia. A moto apenas para depois de bastante tempo.

— Onde estamos? — pergunto, olhando para o imenso gramado em nossa volta.

— É um campo de golfe... — responde, desligando a moto. — É fácil entrar aqui...

— Propriedade da família real?

— Não — sorri. — É apenas um campo de golfe.

— Ah... — desço da moto.

Ando pela grama por um tempo. A única luz no local são as das estrelas e da lua. Desse jeito, chego a acreditar que não há nada além de nós. Sento-me na grama.

— Gosta daqui? — pergunta Leon, sentando-se ao meu lado.

— Gosto, é tranquilo e silencioso e...

— Estamos totalmente sozinhos, sem nenhum guarda-costas — completa.

— Isso também — abraço os meus joelhos e apoio minha cabeça neles.

Leon deita-se da grama e apoia sua cabeça nas mãos. Olho para o céu.

— O que vai ser de nós? — minha voz é praticamente um murmúrio.

— A realeza vai nos usar — responde em um tom calmo.

— Isso... eu sei — meu tom é quase desolador. — A nação inteira irá colocar os olhos sobre a princesa herdeira, assim como era com Guinevere — falo sem me voltar para ele. — Todos os meus passos serão julgados... e qualquer deslize que eu cometer... E há tantas e tantas regras... Argh! Vou enlouquecer. Como vou seguir todas estas regras? Estas regras pesam sobre mim tanto que até me impedem de respirar. Não poderei trabalhar. Não poderei fazer tantas coisas! Serei um... um... uma boneca controlada... Isso é...

— Sufocante — a mão de Leon pousa em meu ombro.

Volto-me para ele. Leon senta-se ao meu lado. Não consigo ver sua expressão direito.

— Você nunca poderá ter controle de sua própria vida — sua voz é quase sombria. — Todos nos julgam as pessoas mais felizes do mundo. Afinal, somos a família real. Somos príncipes e princesas. Somos iguais aos do conto de fadas. Mas, isso é uma grande mentira. Não somos felizes. Nossa vida não é nenhum um pouco parecida com as dos príncipes e princesas dos contos de fadas. Não há finais felizes em nossa vida.

— Tenho medo de sufocar — minha voz sai como um grande lamento.

— Eu também — sua voz é tão baixa que mal consigo distinguir o som que sai dos seus lábios.

Aperto ainda mais os joelhos contra meu peito.

— Emma, você realmente não deveria ter se metido nisso — diz sem olhar para mim, seu olhar é distante. — Me desculpe.

Tento decifrar sua expressão. Porém, nada consigo. Leon muitas vezes é um grande enigma.

— E agora? — pergunto mais para mim mesma do que para ele.

— E agora? — ele repete a pergunta, em seus lábios a pergunta ressoa totalmente perdida.

Desde a noite do nosso casamento, quando Leon me prometeu o divórcio, a única maneira de sair deste mundo, o qual eu nunca quis entrar, tenho vivido com esta vaga e pequena esperança de liberdade. Sei que ela nunca foi muito certa. Talvez, qualquer liberdade seja uma ilusão neste mundo. No entanto, era a única e pequenina esperança que eu tinha. E, precisamos viver com a esperança, mesmo que ela seja pequenina, mesmo que ela seja uma ilusão. É de nossa natureza termos esperanças. Se não tivermos esperanças, nossa vida se torna sufocante demais a tal ponto que respirar é impossível. Mas... agora, as coisas estão muito complicadas, complicadas demais. Não sei o que irá acontecer.

— Eu não sei — ele sussurra. — Eu realmente não sei.

Neste momento, ele parece tão perdido quanto eu. Somos dois seres perdidos.

Pouso minha cabeça em seu ombro. O silêncio é tão forte que consigo ouvir o barulho de nossas respirações. Olho para o céu e me perco na imensidão.

— Suponho que vamos apenas... — ele fala depois de um longo tempo — viver.

— É... — digo sem muita confiança.

— Emma — ele murmura meu nome. Olho para ele. — Eu não faço a mínima ideia de como isso irá terminar. Minha família não é igual ao de outras pessoas. Não. Eles são bem... diferentes. E eu... gostaria de ser mais forte... — sua voz é tão angustiante.

O silêncio novamente recai sobre nós.

— Hum... — ele me olha. — Sabe, há um ótimo método para esquecer de tudo...

Olho para ele, mais do que os lábios deles? Tenho minhas dúvidas.

Leon levanta-se e coloca as mãos em concha em torno da boca, enche os pulmões de ar e grita com todas as suas forças. Ele sorri como um garotinho travesso.

— Vem — estende a mão para mim. — Tente!

Pego a mão dele e me levanto. Também grito. Gritar libera toda a tensão. Meus músculos relaxam.

Ele sorri para mim e grita outra vez. Imito seu gesto.

Exercitar os nossos pulmões nos deixa exaustos. Caímos na grama, rindo. Me volto para Leon. Sua respiração é ofegante. Seus cabelos estão em completa desordem. Ele é tão belo. Sob a luz da lua sua pele adquire um brilho especial, quase irreal. Se não pudesse tocá-lo, sentir seu aroma, juraria que ele é uma criatura de outro mundo.

Ele volta-se para mim e me olha. Nossos olhos se encontram, se atraem. Nos aproximamos ainda mais, capturo seus lábios. Seus doces lábios. Os lábios dele me levam para um mundo em que não há mais preocupações. 

Suas mãos apertam minha cintura. Nossas pernas se entrelaçam. Nos perdemos um no outro. Os beijos são longos e profundos. Meu corpo está todo concentrado em seu toque.

— Você está gelada — ele interrompe o beijo e me segura contra seu peito, me aquecendo. — Temos que voltar para o palácio — diz, olhando para o relógio. — Ficamos muito tempo fora e... amanhã vai ser um longo dia...

Leon me ajuda a levantar. Ele envolve meu pescoço com seu cachecol. Sou envolvida por seus braços. Seus cálidos e fortes braços. Encosto minha cabeça em seu peito.

— Eu queria dizer que tudo vai ficar bem — murmura — mas...

Eu sei, ele não pode prometer isso.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? E das regras? Estas são apenas algumas das regras que Emma deve seguir. Não é à toa que a Emma está ao ponto de pirar. Qual será a regra que dará mais trabalho para a Emma cumprir?
Curiosidades: algumas destas regras são baseadas nas regras da realeza britânica. Ser da realeza não é fácil hehehehehe