Desde que o conhecera nunca tinha visto o, não tão famoso herói, Careca de Capa daquele jeito. Ainda mais considerando que o motivo principal do estado desolado dele fosse algo simples: uma liquidação em um mercado supostamente perdida. Havia sido um dia preguiçoso de sol bastante comum, e como tal monstros colossais apareciam para tentar subjugar a humanidade e provocar o caos, Saitama e Genos se ocupavam deles. Embora boa parte da batalha fosse decidida por Saitama, resolvendo o problema com um único soco — sua marca registrada. As vezes, apesar das suas boas intenções, o homem de um só soco causava mais destruição com seu poder que os monstros — um desses infelizes incidentes fora com o meteoro, lhe rendendo uma péssima imagem entre as pessoas. Depois de finalizar outro vilão, a jovem mulher encarou o cenário com curiosidade, ainda não se acostumara a toda agitação de conviver com heróis, um tanto excêntricos por assim dizer. Genos aproximou-se de seu professor, a expressão de Saitama era ilegível, um misto de choque e indignação. Ela não pode evitar uma risada com a cena.

— Sensei, ainda temos tempo. O mercado está aberto — o ciborgue explicou mostrando um folheto. Prontamente Saitama levantou-se, cheio de determinação.

— Vamos logo! — gritou apressado, deixando para trás o corpo da criatura que ousou se interpôs em seu caminho.

Ambos assentiram.

Outra coisa interessante: o poderoso Saitama tinha uma preferência peculiar por liquidações. De certa maneira, era compreensível, o herói não possuía uma boa estrutura financeira. Em outras palavras, ele era pobre. Muito diferente dos que muitos pensam, a vida de herói não é tão glamourosa, não há ostentação de luxo e riquezas. Claro que isso mudou um pouco após ingressar na Associação de Heróis, sendo patrocinado por eles. As compras foram suficientes para o cardápio do jantar daquele dia. Os três seguiram de volta ao complexo de apartamentos onde o homem de um só soco residia.

— Você é careca! — tanto Genos quanto Tessa travaram no lugar, ambos tinham consciência que a menção daquela palavra era um tabu. Um termo proibido. Saitama tinha certo incomodo quando se tratava de assuntos capilares. O resultado de seu árduo treinamento de três anos havia sido a perda total de seus cabelos.

Saitama demonstrava tensão enquanto uma veia pulsava em sua testa.

Uma garotinha de aproximadamente sete anos com uniforme do primário, olhava-o com devoção palpável. Os olhos castanhos emitiam um brilho esperançoso e emocionado.

— Igual a mim — acrescentou com um sorriso e tirando o chapéu, revelando a falta de cabelos. Saitama pareceu realmente surpreso, sua usual expressão apática fora substituído pela empatia. O silêncio solene permaneceu poucos minutos até menina, empolgada, exclamar:

— Você é um herói! — as pequenas mãos apertaram o chapéu, a felicidade evidente em toda sua inocência infantil. — Um herói!

Saitama sorriu, um legítimo sorriso. Não um dos seus típicos sorrisos falsos de mera empolgação. O reflexo do seu coração diante da afirmação da garotinha. Um estranho e caloroso sentimento lhe dominou, algo que acreditou ter perdido há muito tempo. Sempre se perguntando que em troca de ganhar tamanho poder — habilidades insuperáveis —, se esquecera de tudo aquilo o que o tornava humano. Estava muito enganado. Eram raras as ocasiões que experimentara tamanha ternura, afeto e entendimento. Aquela criança lhe proporcionou uma das mais indescritíveis sensações.

Não deixou sua humanidade. Não esqueceu os sentimentos essenciais.

E naquele breve instante, ele nunca se sentiu tão humano.

E ela na sua ingenuidade o reconhecendo como um herói.

— Está errada garotinha — proferiu com doçura, ajoelhando-se para ficar na altura da menina. Ela demonstrou apreensão. — Eu sou apenas um patético homem desempregado que é herói por hobby.

Ela ficou muda, seus grandes olhos perderam o brilho e adquiriu um semblante melancólico.

— Isso por que... — surpreendendo a todos, Saitama pegou a menina nos braços com delicadeza. Agora seu sorriso emanava todo o carinho do momento. Ele a elevou bem alto, e assim pôde vê-la como deveria. — A verdadeira heroína aqui: é você!

A menina piscou inicialmente impressionada, depois ao entender as palavras dele, abriu novamente um largo sorriso.

Genos e Tessa também sorriram contagiados.