Taiti Love escrita por Ellen Freitas


Capítulo 3
Capítulo Três


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas do meu coração!!! Como estão nessa linda terça feira?
"Ellen, já quarta."
Claro que não, aqui onde eu moro faltam exatamente 10 minutos para a quarta, então meu argumento ainda vale!!!
E já peço desculpas por não ter postado semana passada, como disse na outra fic, estava de cama e com um crescente vício em How I Met Your Mother!!!

Então, esse é o último capítulo da nossa singela fanfic, espero que gostem...
Até as notas finais. Bjs*



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Acordei lentamente abrindo os olhos apenas parcialmente para o incômodo da luz. Eu podia jurar que tinha desmaiado bêbada no chão com Peeta. Falar sobre o ex, arrotar como um caminhoneiro, beijar um gay, atacar Peeta, atraí-lo para meu quarto, quase transar com ele e cair de bêbada. Senhorita Kat Everdeen, você estava com tudo ontem!

Por falar no loiro, ele estava na cama comigo, provavelmente sendo o responsável por nos trazer para cá em algum momento da noite. Mas ao contrário da posição bonita que espera encontrar um casal depois de acordarem juntos a primeira noite, eu, Peeta, os lençóis e os travesseiros éramos uma verdadeira bagunça.

Minhas pernas passavam por cima das costas dele, que tinhas os pés pendidos para fora do colchão, ambos em uma estranha posição diagonal, meus dedos da mão esquerda tocando o carpete no chão.

Levantei devagar, saindo de cima dele com cuidado para não o acordar, sentei-me com as costas contra a cabeceira da cama e fiquei apreensiva quando ele apenas soltou um muxoxo e voltou o rosto em minha direção ainda dormindo.

A maldita versão de Adônis que agora compartilhava os lençóis comigo, estava no auge de sua beleza. Os cabelos caídos despreocupados na testa, a boca levemente aberta, o rosto amassado contra o travesseiro, sua respiração constante fazendo suas costas movimentarem-se discretamente. Eu, no entanto, devia estar parecendo uma das Bruxas de Blair, com meus cabelos que ontem secaram no vento da praia e o que sobrou do rímel e do lápis aumentando minhas já bem salientes olheiras do porre.

― Noni? ― A voz suave e sonolenta de Peeta me chamou, e eu não sabia dizer se ele estava acordado ou ainda dormindo.

― Hm? ― murmurei não resistindo o impulso de acarinhar seu cabelo precisando de corte, e tirar alguns fios de seu rosto.

― A gente vai transar agora? ― Não tinha nenhum tipo de teor sexual ou mesmo provocativo na frase, era apenas uma pergunta de um bobo que estava apenas com metade da mente na consciência.

― Não, Peeta.

― Então eu vou dormir mais um pouco.

Peeta arrastou-se em minha direção e deitou a cabeça em meu colo, abraçando e minhas pernas e soltando alguns gemidinhos como um gatinho aninhando-se. Ri com a imagem e deixei ele lá, buscando no criado mudo meu celular e o carregador, para finalmente ver as mensagens dos dias que ele ficou desligado, ignorado a dorzinha que martelava minha cabeça.

Haviam muitas mensagens de Johanna e Madge, falando sobre o agendamento do meu voo de volta para amanhã às oito da manhã, foi quando lembrei que ontem também teve uma ligação da minha amiga e diretora financeira falando sobre isso, e algo sobre evitar herdeiros e me matar.

Depois dos e-mails respondidos, resolvi que era a hora de retornar a ligação e ver se havia alguma informação mais importante além da minha volta. Coloquei um travesseiro sob a cabeça de Peeta e me esgueirei até o banheiro para poder falar mais livremente.

― Johanna?

Kat, sua cadela! ― ela atendeu animada.

― Você devia respeitar mais a pessoa que assina os seus gordíssimos contracheques! ― gracejei e ela murmurou um sonoro e malicioso “hm”.

Acordando de bom humor, hein? Finalmente!

― Ontem eu falei com você, não foi?

Já me arrependo de não ter ido com você, Kat. Te ver bêbada ia fazer meu ano.

― Você ligou ou não, criatura? Era somente sobre o retorno?

Espera um minuto, Madge precisa ouvir isso.

― Você fez minha secretária trabalhar no sábado?

Claro que sim, gata! Alguém tem que levar essa empresa pra frente, e se agora eu e você estamos ocupadas transando com estranhos, sobrou pra ela. Mad, é a Kat. Tá no viva voz agora.

― Oi, Mad.

Bom dia, chefinha, como está indo a viagem?

Sem enrolação, Madinha, agora que estamos as três aqui pode ir falando, Katniss. Como você acabou bêbada e com um cara te chamando de um nome que eu nunca ouvi falar na vida?

― O quê? Noni? ― arrisquei sem saber exatamente do que se tratava.

Acho que era esse.

― Esse surfista é doido. Mas liguei para saber sobre o que era a conversa de ontem. Mais algum assunto importante além da minha volta para casa?

Nada que precise se estressar agora ― Madge falou evasiva e arqueei uma sobrancelha.

― As duas estão me escondendo alguma coisa. Vocês disseram que iam me fazer ficar aqui por duas semanas, daí me ligam dizendo que tenho que voltar e agora vem com esse papinho e desviando o assunto? Podem ir falando.

Lembra que ainda tínhamos o Sr. Abernathy e o Sr. Snow na disputa pela fusão com a empresa?

― Sim ― confirmei para Madge a incentivando as continuar.

Ontem, por algum motivo misterioso, Haymitch desistiu. ― Johanna explicou. ― Olha, Kat, não confio naquele Snow, acho...

― Que ele trapaceou. ― Suspirei entendendo onde o pensamento delas estava indo, e passando a mão em minha testa num gesto preocupado. ― Mas não temos provas, Jo, não podemos fazer nada.

Mas sem competição, ele vai ganhar! Esqueceu que ele vai ter domínio de 40% das ações?

― Ainda tenho 50%.

Restando outros 10% de acionistas preguiçosos e altamente manipuláveis. Só estou prevendo muita briga entre vocês dois.

― Vou arrumar minhas malas ― falei rendida.

De jeito nenhum, chefinha.

Isso mesmo, pode deixar seu traseiro bem aí no Taiti, pelo menos por hoje.

Não vou deixar as duas lidarem com os problemas das minha empresa sozinhas, é minha responsabilidade!

Mas hoje é sábado, não tem quase ninguém aqui. Segunda feira resolvemos.

― Tem certeza, Madge?

Sim, ela tem e eu também. Não deixe isso abalar a puta que está nascendo em você, amiga. Aproveite o dia com seu surfista que os problemas ainda estarão aqui quando voltar.

― Ainda te demito, Johanna! ― Desliguei o telefone.

O espelho do banheiro me indicou o caos que eu pensava estar, não chegava nem na metade da realidade. Lavei o rosto tirando os resquícios borrados de maquiagem, prendi o ninho dos meus cabelos em um coque e escovei os dentes, logo em seguida tirando o short e me embolando em um roupão felpudo.

― Eu perdi minha camisa ontem. ― Peeta parecia ter acabado de acordar e estava recolhendo seus pertences jogados no chão.

― Eu perdi minha dignidade, então você tá bem. ― Ele riu e veio em minha direção.

― Bom dia, Noni. ― Seus braços me envolveram um abraço terno e aconchegante, enquanto seu nariz deslizava por meu pescoço, um gesto que ele sempre fazia e que eu já identificava como carinho.

― Qual o plano para hoje?

― Sei lá, desde que seja algo mais relax, para você não desmaiar de cansaço e me deixar na vontade.

― Você dormiu primeiro, criatura! ― acusei.

― Que tal uma trilha para as cachoeiras? Já que você não gosta tanto assim de mar... ― Ele mudou de assunto e ri internamente por ter vencido mais essa.

― Pode ser.

― Ótimo. ― Ele conferiu o horário em meu celular que deixei em cima da cama. ― Te busco daqui à meia hora.

Peeta beijou meus lábios antes de sair vestindo a camiseta e me deixar sozinha no quarto com um sorriso bobo nos lábios. Acorda, Kat, você vai embora amanhã e nunca mais vai vê-lo. Com Peeta você pode tudo, menos se apaixonar!

~

― Ainda tá muito longe? ― reclamei e deitei a cabeça em seu ombro.

― Você não deveria estar reclamando, já que eu sou a pessoa que está te carregando nas costas como um macaquinho! ― Senti seu corpo vibrar em uma risada.

― O problema são essas crianças que não param de chorar! ― Olhei de relance para trás para mais uma vez ver a senhora que tinha um bebê se uns oito meses no colo, uma menina sendo levada pela mão e o outras duas que estavam com a guia da nossa excursão. Afundei meu rosto nos cabelos que Peeta, suspirando frustrada. Impressionantemente, os cabelos dele tinham mais o cheiro de mar que sua pele.

― O marido dela adoeceu, seja mais compreensiva, Noni.

― A floresta tropical é a principal vegetação da ilha, e solo fértil mais a intensa atividade pesqueira fornece alimento de sobra para os mais 180 mil habitantes locais, mais os turistas. ― A mulher de voz firme ir explicando enquanto caminhávamos.

― Já chegamos? ― perguntei novamente depois de um tempo.

― Agora você parece muito o burrinho do Shrek.

― Palhaço ― acusei e me dobrei para morder de leve a sua orelha.

― Ah, assim dificulta pra mim, Kat. ― Soltei uma risadinha, me concentrando no caminho à frente.

Tudo era muito verde, vez ou outra eu via um pequeno ser pulando de um galho para outro. As borboletas coloridas passavam por nós e o canto distante dos pássaros completavam a incrível ambientação local.

― Chegamos. ― Peeta me desceu de suas costas depois de mais alguns minutos e mexeu os braços os flexionando e estalando o pescoço. Idiota, nem peso tanto assim!

Observei abasbacada com as mãos na cintura o local que estávamos. A água cristalina cobria as pedras que formavam uma parte mais profunda, e outras apenas de alguns centímetros, e duas enormes quedas d’água faziam um barulho estrondoso. Cada detalhe parecia ter sido posto ali por mãos divinas, e por mais cética que eu fosse, era impossível acreditar naquilo como resultado de erosão.

― Uau ― exclamei, com a falta de uma palavra melhor que descrevesse.

― Mesma reação que eu tenho quando vejo você. ― Peeta sussurrou em meu ouvido e passou na minha frente já tirando a mochila que tinham os pertences de ambos e a camisa. Pisquei duas vezes, sentindo os pelos da nuca arrepiarem. Para um cara que só queria entrar em minhas calças, ele se esforçava demais com palavras, e isso era estranho.

As pessoas já se dirigiam à água, logo depois da guia avisar que teríamos até o meio dia naquele pedaço de céu.

Coloquei o short e a blusa dentro da mochila e testei a água com a ponta do dedão, enquanto a criança loira, também conhecida como Peeta, já se divertida mergulhando e balançando os cabelos para espirrar água ao redor, com um sorriso lindo no rosto. Igual a um cachorrinho adestrado, comentei para mim mesma.

― Vamos, Noni, tá uma delícia!

― Tá fria. ― Franzi o nariz. Peeta apoiou as mãos espalmadas nas pedras e forçou seu peso para cima, me fazendo babar na definição de seus músculos.

― Nem tanto, olha. ― Quando ele me pegou no colo, comecei a gritar, já prevendo a mesma brincadeira estúpida de ontem, antes das aulas de surf.

― Me solta, imaturo, filho da mãe! Eu vou te bater!

― Olha a língua, ma chère, tem crianças aqui.

― Pois me solte! ― ordenei.

― Vai ser divertido. Se segura!

Sem saída, apertei os braços em torno de seus ombros, escondendo meu rosto no vão de seu pescoço e logo em seguida sentido a água gelada nos envolver por completo. Mas ao contrário da outra vez, que ele apenas me soltou, dessa vez seus braços ainda estavam firmes em torno da minha cintura nos levando para cima com um impulso nos pés.

Eu ainda estava me acostumando com o oxigênio fora da água quando seus lábios já atacaram os meus com força, não dando tempo para que eu desse a ordem ao cérebro que respirasse. Nossa pele semidesnuda por conta das roupas de banho já estava esquentando em contraste com a água ao redor.

― Eu disse que ia ser divertido ― Peeta sussurrou com prepotência junto aos meus lábios, me fazendo rir.

― Você é uma criança ― balancei minha cabeça e fiz minha melhor cara de crítica.

― Crianças não fazem isso, chère.

Peeta me agarrou novamente, beijando meu pescoço, enquanto segurei seus ombros, mandando que ele se controlasse na frente das muitas pessoas que também tomavam banho na água transparente.

Os minutos mais uma vez corriam rápidos, enquanto as brincadeiras não me cansavam. Eu nadava junto com ele, espirrava água, ou tentávamos coisas ridículas, como apostas de velocidade em nado ou tempo de apneia, beijos mais castos sendo trocados vez ou outra.

― Você é uma traidora! ― Peeta bateu revoltado na água quando ganhei pela terceira vez seguida a “corrida aquática”. ― Veio pra cima de mim com essa história de “odeio natureza, não sei surfar” só pra me passar a perna.

― Tem muitas coisas que você não sabe sobre mim, Peeta ― o provoquei fazendo uma dancinha da vitória.

― Isso porque você não me deixa te conhecer. ― Ele me puxou pelo braço para perto dele.

― Qual o propósito? ― Passei os dedos nas sardas de seus ombros, distraída com os desenhinhos disformes que se desenvolviam ali. ― Não acha que podemos aproveitar melhor o tempo fazendo outra coisa? ― Trouxe novamente sua boca para a minha, quando nosso beijo foi interrompido por um agudo grito infantil.

A atenção de praticamente todo mundo se voltou para o local onde a filha mais da mulher que vinha atrás de nós na trilha, chorava, apertando o próprio pé com as mãos. A senhora que estava perto de nós com os dois mais novos olhos para ela desesperada, a guia já chegando correndo para acudir a criança.

― O que foi?

― Ela cortou o pé, nada de grave, mas precisa de curativo.

― Meu Deus!

― Tem um kit de primeiros socorros no jipe aqui perto, vamos lá? ― A pobre mulher olhou ao redor e como eu e Peeta éramos os mais próximos, ela veio em nossa direção. Arregalei os olhos quando ele me estendeu o bebê.

― Pode cuidar dele por um minutinho? ― Prendi a respiração apavorada. Eu não era uma pessoa chegada a crianças, não sabia lidar. Se elas chorassem, o máximo que eu faria era chorar também. ― Deles. ― Estava pronta para negar quando vi seu olhar de desespero e preocupação. Mas também, quem manda ter a belíssima ideia de fazer uma trilha sozinha com quatro crianças?

― Pode deixar conosco. ― Peeta chegou ao meu lado, já pegando a outra pequeninha no colo e nadando para a beira para buscar a segunda maior, que chorava junto com a irmã.

O pequeno em meus braços fez bico e abriu o berreiro quando viu sua mãe se afastando também, seus bracinhos se estendendo e contorcendo os dedinhos chamando a mulher. Quase gritei socorro na hora, até Peeta pegar o pequeno dos meus braços, começar a acalentá-lo, e me entregar as duas menininhas com nariz vermelho de choro para que eu levasse até a borda.

Com o passar do tempo, eu já tinha feito cerca de duzentas promessas para que a mulher voltasse logo. Eu precisaria de pelos menos mais uns duzentos e quarenta e três anos antes de começar a planejar ter um bebê, pois se tinha uma coisa que eu péssima, era nisso de mãe.

E mais uma vez, eu encarava Peeta com inveja. Enquanto eu não conseguia fazer a garotinha do meio, de dois anos, calar a boca e comer meio sanduíche, o loiro lidava muito bem com um bebê no colo e uma criança em seus ombros. Apenas me recusei a lidar com o fato de que ele era bom em tudo que se propunha a fazer e peguei a menina no colo para me juntar aos outros três na água.

― Qual o seu segredo? ― Peeta desviou o olhar do enorme sorriso que o bebê lhe lançava para me encarar.

― Oh, Noni... Anos de prática levam à perfeição.

― Você tem filhos? ― questionei com os olhos arregalados.

― Você não estava falando de sexo? ― ele perguntou de volta, um sorriso safado no canto dos lábios. Sussurrei um “pervertido” para que apenas ele entendesse. ― O segredo, doce e descabelada Kat, é gostar do que faz. Gosto de crianças. ― Ergui as sobrancelhas e neguei com a cabeça, um claro gesto que não acreditava. ― O que foi?

― Esse discurso já te rendeu muitas calcinhas molhadas, não foi?

― Você só pensa naquilo, Noni!

― Ah, e você é o virgem daqui ― ironizei enquanto ele apenas ria.

Perto dele, até as crianças pareciam gostar mais de mim, e mais um tempinho me fez perceber que talvez não precisasse daquele tempo todo. Talvez apenas duzentos e quinze anos seriam necessários até meus primeiros filhos, se realmente decidisse tê-los.

A dona das crianças apareceu pouco depois agradecendo imensamente e com um carro já pronto para levar a ela e toda a sua trupe de volta ao hotel. Eu ainda estava acenando um adeus quando senti meu braço ser arrastado para dentro da cachoeira e minhas costas chocarem-se com a parede áspera.

― Finalmente. ― Foi a única palavra que Peeta sussurrou antes de alcançar meus lábios com seus, para logo em seguida se grudar ainda mais a mim, erguendo minhas pernas para que eu as encaixasse em volta de sua cintura, sem quebrar o beijo.

― Pensei que gostasse de crianças ― falei ofegante quando nos separamos, tirando uma mecha molhada da minha testa.

― Não quando elas são empata foda. ― Novamente arregalei meus olhos para ele. Peeta não está achando mesmo que nós... Senti seus dedos nos nós do meu biquíni. Oh, ele está achando.

― Calma, senhor surfista. ― Belisquei de leve sua mão, que me olhou contrariado. ― Aqui não é lugar, nem hora, sem contar as mais de vinte pessoas a menos de dez metros de nós!

― Qual é, Kat, tá escuro e estamos só nós dois aqui atrás. ― Peeta e riu e começou a beijar meu pescoço.

― Você acha que vai conseguir qualquer coisa com esses seus... ― Um gemido escapou de meus lábios. ― Seus... Movimentos delicios... Peeta! ― Ele se afastou me olhando com cara de inocente. Aquele homem ainda ia ser minha perdição!

Foi minha vez de atacar seus lábios. A esse ponto, meu botão foda-se já tinha quebrado e minhas atitudes estavam cada vez mais insanas. Se a Kat empresária me visse agora, com certeza eu ganharia uns bons tapas.

Hora de ir pessoal! ― A voz da guia através da água nos assustou.

― Que merda! ― Peeta praguejou deitando a cabeça em meu ombro.

― Salvos pelo gongo, isso sim! ― Desci de seu colo e peguei sua mão. ― Hora de irmos.

Almoçamos juntos naquele dia e depois Peeta me obrigou a mergulhar com ele, pois de acordo com o loiro, só não propôs isso antes porque não sabia que eu nadava tão bem.

Dei meu braço a torcer para o bom gosto dele na escolha de passeios nos primeiros cinco minutos. A vida submarina do Taiti era tão incrível (talvez até mais!) quanto na superfície. A diversidade de corais, os pequenos peixes coloridos em cardumes que passavam por nós, ou até mesmo as grandes tartarugas marinhas que nadavam do nosso lado. Era outro mundo, só que mais bonito e mais harmônico.

E não vamos nem comentar como o surfista parecia uma versão mais bronzeada do Aquaman, porque vai ser gato assim no meu quarto de hotel!

Me joguei na areia da praia com os braços abertos quando devolvemos os equipamentos, Peeta ao meu lado e o sol quase se pondo. Fechei os olhos e senti o vento acariciar meus cabelos, mas por algum motivo senti que a pessoa ao meu lado me analisava.

― Você está feliz. ― Não era uma pergunta, mas uma afirmação.

― Por que diz isso?

― Tem uma coisa nos seus lábios chamada sorriso. É lindo. ― Abri meus olhos e como previ, ele estava perto. Seus antebraços apoiados no chão erguia um pouco seu tronco para que ele me visse de cima.

― Tenho o melhor guia da ilha. ― Ambos os sorrisos se ampliaram, e acariciei seu rosto, que fechou os olhos e descansou levemente a cabeça em minha mão. ― E o mais manhoso também.

― Eu gosto de você, Noni. ― Peeta murmurou baixinho. Meu sorriso desmanchou-se e tirei a mão de seu rosto para sentar em um movimento rápido. ― O que foi? ― Ele sentou-se ao meu lado, surpreso com minha reação.

― Você não pode falar essas coisas pra mim!

― Por que não? Você é incrível, não deve ficar tão chocada por alguém gostar de você!

― Mas não você!

― Qual o problema comigo?

― Com você nada, o problema é que você não pertence ao meu mundo e nem eu ao seu. Somos muito diferentes, isso sem citar os milhares de quilômetros e o oceano que nos separa!

― Isso realmente não importa, podemos fazer dar certo.

― Não, Peeta, apenas pare! Pare de tentar me conquistar, pare de tentar fazer eu me apaixonar por você. Me deixei envolver apenas porque pensei que ficaríamos no simples, sem sobrenomes, sem estresse, mas se você já quer tornar essa coisa impossível um relacionamento...

― Eu não...

― Vou embora amanhã! ― O cortei dando a notícia que estava na ponta da língua desde que falei com Jo essa manhã.

― Mas já?

― Já. ― Contorci minhas mãos em meu colo encarando o tecido jeans do meu short. ― Eu sei que às vezes posso parecer meio idiota, sem sentimentos, mas...

― Shii. ― Peeta ergueu meu queixo delicadamente e juntou nossos lábios em um selinho casto. ― Vamos ficar no simples. ― O loiro deu mais um daqueles sorrisos matadores para mim colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

― Por que você não mora na minha cidade? ― murmurei.

― Tem praia?

― Não, ou então eu não moraria lá. Esqueceu que sou a Miss Anti-Paraíso? ― brinquei e ele riu.

― Você parece bem relaxada toda imundinha. ― Peeta me analisou de cima a baixo.

― Eu não estou... ― Antes que eu pudesse prever, ele encheu as duas mãos de areia e passou no meu rosto.

― Ops. ― Deu de ombros.

― Babaca idiota filho da puta! ― xinguei tirando o excesso da sujeira que estava no meu rosto e escorregou para meu corpo.

― Também te amo, Kat, mas ainda temos uma última parada hoje. Se você vai embora amanhã, precisa levar uma lembrança daqui. Vamos? ― Quando ele ficou em pé me estendeu a mão, cruzei os braços em um gesto birrento. ― Qual é, Noni, deixa de ser infantil.

― Ah, claro, eu sou a infantil! A criatura me joga no mar, na cachoeira, enche minha pele de areia e eu sou a infantil? ― Apenas encenei um acesso de raiva. Eu não iria perder minhas últimas horas nesse lugar maravilhoso brigando com um surfista.

― Foi mal, nunca mais te jogo areia ou qualquer outro elemento da natureza. Tá bom assim?

― Melhor. ― Aceitei sua mão e me ergui. Peeta passou o braço por meus ombros e começou a me guiar na direção de uma parte da ilha onde haviam muitas lojinhas locais. ― Onde vamos?

― Surpresa.

Foi realmente uma enorme surpresa quando paramos em frente a um estúdio de tatuagem. Neguei com a cabeça ficando parada no lugar.

― Eu não vou fazer uma tatuagem.

― Qual é, Noni, liberte-se!

― Querido, uma coisa é libertar-se, outra bem diferente é marcar minha vida e minha pele para sempre!

― Você pensa demais. ― Fui arrastada para dentro do pequeno ambiente e institivamente já comecei a procurar nas paredes pelo menos um certificado da vigilância sanitária ou qualquer coisa do tipo.

O local era apertado e tinha todas as paredes cobertas por desenhos, alguns comuns outros bem estranhos. Atrás de um pequeno balcão uma jovem moça polinésia que não tinha nenhuma tatuagem aparente olhou para nós dois com um sorriso no rosto antes de soltar um cumprimento na língua local. Peeta largou minha mão para se aproximar e começar a conversar com ela.

Sempre pensei que as pessoas que trabalhassem em locais como esse teriam seus corpos cobertos parecidos com algum tipo de quadrinho. Mas se nem a menina que trabalha aqui quis fazer alguma tatuagem, porque eu deveria?

― Por aqui.

Acompanhei Peeta até uma sala nos fundos, que ao contrário do que pensei, era bem limpa e iluminada. Tinha duas grandes macas inclinável, uma mesa e algumas cadeiras, tudo bem branco.

― Por que você quer que eu faça isso?

― Eu quero, mas isso é sobre você. Pensa que não te vi olhando as minhas? Você no fundo quer uma tatuagem, só precisa de alguém que te empurre penhasco abaixo. ― Quando o olhei em desespero, ele se corrigiu. ― Ok, talvez não tenha sido a melhor analogia, mas ainda mantenho meu ponto.

― Que é...

― Leve uma lembrança desses dias para sempre! Também vou fazer uma.

― Você é louco ― atestei ainda sem me convencer.

― Talvez... ― Peeta levantou o pulso em minha direção, mostrando a palavra que não consegui identificar o significado. ― Essa aqui eu fiz quando fui em Machu Picchu, significa tesouro na extinta língua inca. Essa aqui fiz no Brasil, passei um mês por lá com uma tribo indígena. ― Apontou para o coração verde e amarelo. ― Essa fiz na Índia. ― Ele falou quando eu olhava a pedra preciosa do seu braço.

― Me deixa adivinhar: Vegas? ― Mostrei as duas cartas de baralho na perna.

― Viu? Você está pegando o sentido das coisas! ― Ele soou animado já em busca de um dos catálogos.

― Não vou fazer uma tatuagem, Peeta. Não gosto de dor, não vejo o porquê de pedir pra senti-la.

― Tão dramática. ― O loiro rolou olhos enquanto passava as páginas. ― Achei uma perfeita! Que tal uma estrela?

― Estrela? ― reclamei antes mesmo de olhar o que ele tinha escolhido. ― Tem como ser mais clichê?

― Essa estrela.

Me encantei ao ver o desenho. Não era uma estrelinha qualquer que habitava no pulso ou na nuca de milhões de adolescentes ou adultos arrependidos do mundo, tratava-se de uma estrela do mar, belíssima, em seus tons de rosa, vermelho e laranja. Peeta, o biólogo marinho frustrado, começou a explicar as propriedades regeneradoras que os tais equinodermos tinham, mal sabendo ele que me ganhou quando mostrou o desenho.

― Não vai escolher uma pra você? ― perguntei depois de anunciar que faria a tal tatuagem no ombro, no mesmo lugar que ele tinha o leão, e receber um beijo bom demais que foi interrompido pelo tatuador que entrou na sala.

― Já sei o que fazer.

― O que vai ser?

― Outra ótima lembrança, uma surpresa.

Minutos depois eu já sentia as agulhadas que umedeceram levemente meus olhos. A sensação era de que alguém estava colorindo minha pele com uma caneta de ponta cortante, logo em seguida fazendo o mesmo movimento na mesma região.

Por minha visão periférica, Peeta fazia a dele perto das costelas e achei imensamente injusto quando a dele acabou muito antes da minha. O idiota me convence a fazer um negócio enorme enquanto ele deve ter feito no máximo um coqueirinho.

O trabalho do tatuador estendeu-se por horas e minha dor já estava dando lugar à minha impaciência. Peeta arrastou uma cadeira para sentar-se do meu lado, passando a maior parte do tempo distraído brincando com meus dedos, que pendiam para fora da maca. Ele me contou sobre suas viagens e me aconselhou a também sair como uma louca mochileira por aí. Até parece...

― Noni, tá ficando linda.

― Por que você não me deixa ver a sua? ―  reclamei olhando para o curativo no lado do seu corpo.

― Alguém aqui nunca entendeu o conceito de surpresa ― Peeta falou para o tatuador, que sorriu. ― Ainda temos a noite toda, ma chère. ― Corei brutalmente com a insinuação, escondendo o rosto nos meus cabelos.

Quando terminamos, a pessoa mais animada na sala obviamente era Peeta, tirando mil e uma fotos de vários ângulos diferentes e tive que confessar, o trabalho do tatuador era genial e detalhadíssimo. Podia ser impressão minha, mas estava até melhor que no papel. Enquanto eu recebia instruções de como proceder no tratamento da tatuagem, Peeta se afastou para a salinha de entrada.

Ao sair da sala branca, foi que percebi que lá fora já caía uma chuva torrencial. O surfista conversava com a nova melhor amiga dele que estava atrás do balcão e dava risinhos alternando o olhar entre ele o computador à sua frente.

― Pronta? ― Ele me estendeu a mão quando me viu parada no meio da saleta.

― Não temos que pagar, ou coisa assim?

― Já me acertei com a Janine. ― Apenas uma piscadela do loiro foi suficiente para que a menina corasse e parecesse que ia derreter ali mesmo. Uma das vantagens de ter o Apolo taitiano como acompanhante era essa: não pagar em certos lugares.

― Como vamos sair nessa tempestade, Peeta? Já está tarde. ― Caminhei até a porta para olhar o céu negro, iluminado ocasionalmente por relâmpagos.

― Correndo até o hotel, Noni ― ele disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

― Sério? ― questionei descrente.

― Podemos ir caminhando também.

― Babaca. ― Mais uma vez olhei para céu. Oh, Deus.

― Até mais pessoal.

No segundo seguinte já me senti ser arrastada para o meio do aguaceiro, e forcei minhas pernas a acompanharem o ritmo de Peeta. A criança em questão parecia achar tudo a maior diversão do dia, e vez ou outra quando ele olhava para trás, sua mão ainda presa à minha, eu via o maior sorriso e mais belo sorriso que achei ser possível presenciar. Eu ia sentir falta do maldito sorriso!

Não diminuímos o ritmo acelerado da corrida nem quando chegamos ao hotel e só não caí quando escorreguei no saguão, porque Peeta foi mais rápido e me sustentou pela cintura.

― Você faz eu me sentir uma idiota ― falei rindo e abrindo a porta.

― Às vezes ser idiota é bom. ― Ele passou os dedos em gestos rápidos nos cabelos tirando o excesso de água, enquanto eu torcia o meu. Espero mesmo que o hotel não cobre taxas extras por molhar todo o quarto.

― Droga, o curativo saiu ― atestei quando olhei por cima do meu ombro.

Peeta levantou a camisa encharcada que grudava em sua pele, também percebendo que sua mais nova tatuagem não estava mais coberta. E foi a primeira vez que a vi as quatro letras. Ao lado do coração brasileiro, em uma escrita cursiva estava “Noni”.

― Noni? ― Passei o indicador em cima das letras não acreditando que ele tinha feito aquilo. ― Você sabe que a possibilidade de se arrepender dessa é enorme, não sabe? Quando sua futura esposa perguntar sobre ela, o que pretende dizer?

― Que essa é a melhor lembrança que tenho daqui, oras. Qual é, Kat, só porque você vai embora amanhã, não quer dizer que eu queira esquecer esses dias.

― Você é tão louco ― comentei mordendo meu lábio inferior.

― Por você.

Foi somente o que ele sussurrou antes de me colocar contra a primeira parede e atacar meus lábios, nossas roupas logo voando para qualquer lugar no chão do quarto e nossas mãos em toda parte do corpo um do outro.

Aquela noite, foi com certeza a melhor da minha vida. Eu nunca tinha me sentido tão ligada a ninguém, e eu não estava falando do nosso tão maravilhoso contato pele com pele. Aquilo era estranho, era diferente.

A cada minuto, a cada carícia, cada sensação de extremo prazer que ele me proporcionou, eu cogitava a possibilidade de me mudar para o Taiti e trabalhar na banquinha de pranchas com ele. Eu até comeria peixe!

Mas horas depois, quando ele já dormia ao meu lado, eu sabia que esses planos doidos não eram possíveis. Por mais que agora eu já admitisse para mim mesma que queria Peeta na minha vida, nossos mundos eram totalmente diferentes, ele tinha sido apenas meu amor de verão, meu amor no Taiti.

Aliás, dizer que o loiro tinha sido apenas isso, era injusto.

Peeta tinha me ensinado muita coisa. Me ensinado que às vezes sorrir é o melhor remédio e o melhor argumento, que eu deveria usar o máximo de garra para lutar em tudo que me desse prazer, e acima de tudo, me ensinado que a vida podia sim ser simples, que o que nos fazia mais felizes nem sempre era algo caro e que demorasse anos para conseguir. Um dia na praia, um banho de cachoeira, uma saída com amigos, um beijo de alguém que se importasse com você. Isso sim fazia a vida valer à pena.

Quando acordei na manhã seguinte, ele havia sumido sem deixar nenhum rastro além do seu perfume de mar em meu travesseiro. Enquanto arrumava minhas malas e pegava o táxi para o aeroporto não pude deixar de pensar que se eu não tivesse visto ele interagir com outras pessoas, ou sentido sua pele tocar a minha tantas vezes, poderia jurar que Peeta tinha sido apenas um anjo que passou em minha vida para me ensinar um jeito melhor de vivê-la. E no fim das contas, eu havia aprendido.


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Notas finais do capítulo

Ah, ele se foi... Mas esse Peeta, hein? Ai, ai... ~suspiro~
Quero agradecer a todos que me acompanharam, comentaram e favoritaram...
Não, espera! Ainda temos o epílogo!!!
Nos despedimos na semana que vem, até lá... Bjs*



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