Taiti Love escrita por Ellen Freitas


Capítulo 1
Capítulo Um


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!!! Como estão nesse mês, ainda de férias?

Quem não gosta de um tempo livre, sem fazer nada, apenas contemplando lugares incríveis? Pois é, Katniss não.

Boa leitura dessa fic, que totalmente drama-free, leve, divertida e apaixonante. E agradecendo à Leeh, minha linda beta, que deu uma lida e uma opinião sobre a história.

Enjoy!! Até as notas finais... Bjs*



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― Claro que estou na praia, Johanna. Você e Madge me mandaram para o Taiti, onde mais eu estaria? ― falei ao viva voz, e me estiquei para alcançar minha cabeça com a ponta do dedão, os dois cotovelos apoiados no felpudo tapete bege.

Eu poderia apostar minha coleção caríssima de esmaltes da Dior que você está trancada no quarto, no máximo fazendo ioga. ― Me desequilibrei da posição, caindo de costas no chão. Johanna era impossível, vadia adivinhadora!

― Estou na praia ― repeti me sentando com as costas apoiadas na cama e tentando colocar mais convicção dessa vez, mas a bufada impaciente dela do outro lado da linha me mostrou que foi inútil.

Não ouço barulho do mar, Kat ― Madge atestou e suspirei rendida.

― Tá bem, não estou na praia! Confessei, já posso voltar para casa?

Você não está aí de castigo. ― A voz doce da minha amiga e secretária tentava me convencer. ― São férias, chefinha, todo mundo merece, até a poderosa e mais jovem CEO da cidade.

― Minha empresa está passando por um momento crucial, e vocês querem que eu fique aqui juntando conchinhas? ― falei revoltada.

Faz assim, Katniss. ― Franzi o nariz quando Johanna chamou meu nome completo, odiava ele. E a minha linda amiga, que por acaso também era minha diretora financeira, sabia desse detalhe e usava isso para me irritar. ― Me prove que conheceu e transou com um estranho e lindo polinésio, e Madge agendará seu voo de volta ainda hoje. É minha proposta.

― Por falar em proposta, sobre a fusão...

Ela está desviando...

Não desvie o assunto, sua vaca! ― Jo, a delicada, interrompeu a mim e Madge. ― Você tem dois problemas de estresse, queridinha. Um é porque trabalha demais e está fodendo a vida de todo mundo por aqui na empresa, por isso as férias. O segundo é falta de homem, mas isso também já estamos providenciando.

― Que droga, Jo, custa deixar minha vida pessoal ser apenas minha?

Eu deixei por um tempo, até ver você se afundar apenas no trabalho. Perdeu sua chance, agora é comigo e a Madinha. Já até temos um pretendente.

Meu primo, Kat, você vai amá-lo. ― Madge soou animada. ― Todo mundo ama, e por um milagre, ainda está solteiro. Ele é executivo também.

Olha que maravilha, vocês poderão ter tantas conversas de travesseiro sobre a bolsa de valores, combinar terninhos, não é perfeito? E eu tenho que te dizer, hein, o cara é um gostoso, faz aquela linda sexy de óculos. Se você não tivesse tão necessitada, eu mesmo pegaria. ― Quase pude ver o sorriso malicioso e sua língua passar pelos lábios, como sempre fazia quando se referia assim a algum ser do sexo masculino que ela queria ficar.

― Não quero encontro nenhum! E você já pode parar de falar por aí que estou necessitada, viu Johanna Mason?

Mas você não está? Até a Madge já se arrumou com meu vizinho, sabe aquele que você dispensou?

― Gale e eu não éramos compatíveis ― justifiquei.

Bonita, se você não quer o arquiteto, não quer o executivo, você tem me dar mais dicas! É medico, enfermeiro? Você gosta de um jaleco branco, é isso? Ou temos de voltar aos ternos dos advogados? ― Ouvi risadas das duas do outro lado da linha.

― Johanna, vá à merda! ― disparei, com minha paciência já esgotada.

Vou mesmo, querida. Vou enlouquecer hoje à noite com o delícia Thresh, do jurídico. E você, coloque um biquíni nessa sua bundinha malhada da aeróbica, e saia já desse quarto!

― E você... Você pare de gastar meu dinheiro em ligações internacionais! ― Ela riu do meu insulto nada ofensivo como os dela, e desligou logo depois do adeus de Madge.

Levantei me esticando dentro do pijama e resolvi caminhar até a janela, a abrindo pela primeira vez, apesar de já ser quase meio dia.

Eu poderia querer a cada minuto ir embora dali, mas não poderia negar que o lugar era lindo. Aliás, lindo não chegava nem perto de descrever a beleza daquela ilha. O azul indescritível das águas, nunca antes visto por mim naquele tom, que por vezes parecia misturar-se com o verde que tomava conta dos lugares mais rasos. A vegetação abundante e sempre viva por toda a parte, repleta de opções de trilhas ou esportes mais radicais.

As pessoas pareciam que estavam tendo seus melhores momentos enquanto praticavam alguma atividade na água, na maioria das vezes se desequilibrando das pranchas, sejam de surf, kitesurf ou windsurf. Além, claro, dos eternos aventureiros amorosos que parecia estar ali apenas para usar seu charme e pegar quantos conseguissem. Minha amiga Jo com certeza estaria nessa categoria. Franzi o nariz para um loiro com uma tatuagem nas costas que se agarrava na praia com uma menina que parecia ser local. Gente burra, fazendo burrice, apenas.

Os museus eram um caso à parte. No dia que cheguei visitei os três, para logo depois me confinar em meu quarto com ar condicionado e evitando todo aquele calor e aquela areia em meus pés, e vivendo à base de salgadinhos e biscoito da loja de conveniência do saguão.

Meu estômago protestou a falta de alimento e como o hotel não servia almoço, e os salgadinhos estavam no fim, resolvi tomar banho e descer para comer algo. Coloquei um maiô azul marinho, uma saída de banho estampada com ondas azuis claras, minha bolsa com carteira e celular, e finalmente saí com meus chinelos do quarto.

Parei no primeiro restaurante pedi o cardápio. Peixe, peixe e peixe. Eca!

“Não suporto peixe, Jo, você sabe.

Você come sushi, que é a mesmíssima coisa.”

Rolei olhos lembrando na primeira conversa/briga quando ela finalmente anunciou para onde tinha agendado minha passagem das férias não desejadas de duas semanas.

― Com licença, tem alguma coisa além de peixe por aqui? ― questionei ao garçom de roupas brancas que ainda esperava com um bloquinho na mão.

― Temos uma diversidade de frutos do mar, ostras, lagosta, camarão. Se você ainda quiser se aventurar, ainda temos as patinhas de caranguejo, que dão um pouquinho de trabalho, mas nosso chef prepara umas que são excepcionais!

― Caranguejos, tipo os animais que são jogados vivos numa panela de água fervendo? ― O sorriso dele desmanchou-se com minha careta de pena dos bichinhos e o jovem apenas assentiu. ― Acho que vou ficar só com uma salada então. ― Fechei o cardápio e lhe entreguei.

― Certo. ― Ele anotou o pedido.

― E não deixa nada de peixe encostar nela! ― Algumas pessoas ao redor ainda me olharam com estranheza, mas apenas voltei minha atenção ao celular. Melhor ser considerada antipática do que ficar fedendo após cada refeição.

Quando terminei de comer, decidi seguir o conselho de Johanna e andar um pouco pela praia e depois estender minha toalha na areia e pegar um sol. Vai que ela decide me deixar em paz se eu fizer pelo menos uma coisa que ela pediu.

“Que tal Colorado? Você sabe que gosto de esquiar!

E esconder esse corpão embaixo de duzentos casacos? Nem pensar, você vai é pro Taiti mesmo! E aproveita pra ver se pega uma corzinha, já que você tá parecendo um macarrão sem molho!”

Eu ainda te demito, Johanna Mason!

Coloquei meus óculos escuros e fechei os olhos sentindo o calor chato do contato entre os raios solares e minha pele. Eu ainda estava distraída pensando sobre as implicações da fusão com outra empresa e quanto isso renderia quando o calor chato sumiu. Abri os olhos e uma sombra havia sido feita sobre mim por um surfista e sua prancha. Que ótimo, era só o que me faltava!

― Com licença, você está fazendo sombra ― reclamei tirando os óculos, e ele ficou de frente comigo. A criatura eclipsava a luz solar e eu podia ver apenas o contorno de seu corpo alto e malhado e seus fios loiros balançando ao vento.

― Oh, desculpe. ― Fechei novamente os olhos quando ele moveu o corpo para o lado e a luz dourada do sol me cegou parcialmente.

― Sem problemas, já estou indo mesmo. ― Levantei-me calçando meus chinelos.

― Tão cedo... Sou Peeta. E você é... ― Me estendeu a mão.

Sem todo o incomodo da luz excessiva, pude olhar direito para ele. Seu sorriso branco era amplo e convidativo, e seus olhos tinham impressionantemente o mesmo tom das águas daquele lugar. A mandíbula quadrada e forte contrastava com as discretas e bronzeadas sardas em seu nariz e ombros. Pisquei duas vezes para sair da espécie de feitiço que o surfista tinha posto em mim.

― Kat ― falei simplesmente, abaixando para recolher meus pertences espalhados na areia e guardá-los na bolsa, antes que eu ficasse mais tempo e começasse a encarar seu peito nu. Ele recolheu a mão passando em sua bermuda estampada de temas marinhos. ― A gente se vê. ― Tentei parecer o mínimo educada antes de sair dali.

Depois de alguns passos, quando olhei para trás, foi que percebi que estava parada do lado do quiosque de aluguel de pranchas e provavelmente aquele cara devia trabalhar lá. Mas pior do que saber que o descamisado era só um mini comerciante local, foi ver a gigante tatuagem de um leão quando ele virou de costas para mim. Era o mesmo loiro de hoje mais cedo. Mas com aqueles olhos e aquele corpo, não me surpreende que ele já tenha dormido com metade da ilha, falando objetivamente, claro. Balancei a cabeça para afastar o pensamento.

E chega de praia por hoje!

~

Essa coisa de ter que sair de casa para comer estava ficando chata. Ainda cheguei a perguntar para algumas pessoas se o serviço de delivery de salada estava disponível na ilha, mas todos apenas riram como se eu tivesse falado algum absurdo.

O mesmo atendente de ontem tinha um sorriso no rosto, mas quando me viu, desmanchou sua expressão em algo entre nervoso e apreensivo.

― Bom dia, mademoiselle.

― Bom dia, você pode me trazer uma água? Daqui a pouco vou pedir.

― Certo. Devo sugerir o especial de hoje, a lagosta ao vinho branco. Ela vem servida com...

― Mais animais torturados... ― falei para mim mesma.

― Disse alguma coisa?

― Obrigada, mas só a água, por enquanto. ― Ele assentiu antes de sair.

Minutos depois, quando ele trouxe a água, pedi a mesma salada de ontem e fiquei observando o movimento fora das portas de vidro dali. Muita gente passeando de roupas de banho, outras já preparados para começar as trilhas nas partes da abundante floresta tropical. O mar quebrava em ondas próximas à praia e crianças construíam seus castelos e jogavam areia umas nas outras. Seria lindo, se eu também não odiasse areia.

Como o restaurante estava mais cheio hoje, a comida estava demorando mais para chegar, então em uma ida ao banheiro, meu chapéu panamá saiu voando da minha cabeça porta afora e eu, como a babaca que já estava sendo a dias, corri atrás dele.

O maldito objeto parecia ir girando feliz em direção ao mar, enquanto eu era a descabelada com o vestido do ombro caído atrás dele, até ser parado aos pés de um ser humano. Ele se abaixou e pegou o chapéu antes de mim.

― Obrigada. ― Me surpreendi ao encontrar o loiro da tatuagem de leão me olhando sorrindo.

― Quando você disse que a gente ainda ia se ver, achei que só estava me dispensando. Seu chapéu, Kat. ― Quando fui pegar o objeto que ele estendeu, o maldito escapou de nossas mãos e novamente continuou sua saga até encontrar o mar.

― Ah, não! ― choraminguei ao vê-lo submergindo.

― Eu pego para você. ― Peeta, o descamisado eterno, correu até a água e o pegou de dentro, balançando em contato com o sol para enxugar. ― Novinho em folha.

― Não, não está novinho em folha. Esse é um Borsalino, vindo diretamente da Itália e que provavelmente custa mais que aquela sua banquinha de pranchas! Eles nem são mais produzidos.

― Banquinha? Olha, sinto muito por seu chapéu, mas por aqui vendem uns bem parecidos. ― Dei minha olhada mortal na direção dele, que pareceu entender o recado e se calou.

― Vou voltar para meu almoço, obrigada por tentar pegá-lo, mesmo assim. ― Girei meus calcanhares para voltar ao local onde eu me deliciaria com minha maravilhosa salada, quando o senti segurar meu braço. Olhei com estranheza para o local do contato, então Peeta largou.

― Ei, se você estiver cansada de peixe, hoje a noite algumas pessoas costumam se reunir em torno da fogueira, conversar, beber, cantar. É logo ali, na Praia da Areia Negra, se quiser aparecer.

― Eu durmo cedo.

― Nas férias no Taiti, chère? ― Peeta falou com uma perfeita pronúncia francesa e com o cenho franzido, um sorriso de lado brincando em seus lábios, bem parecido com Johanna, o que me lembrou o tipo de pessoa que ele era.

― É, nas férias no Taiti ― repeti rude. ― Tenha um bom dia.

Ponderei a tarde toda se iria ou não na tal fogueira. Como era a noite, não teria o sol e o calor das manhãs, e isso era um pró. O vento e a areia ainda estariam, e isso era um contra. Eu veria Peeta, mas não sabia dizer se era bom ou ruim. O loiro era charmoso, muito bonito, mas parecia ter safadeza no mesmo grau em seu sangue. Com certeza, conquistar devia ser um esporte para ele.

Quer saber, foda-se!

Coloquei minha calça jeans por causa do cortante vento gelado e uma blusinha, e caminhei em direção ao local indicado, abraçando meu próprio corpo quando senti o frio em meus braços nus pela falta de mangas.

Um aglomerado de pessoas felizes se juntava em torno da enorme fogueira, eu reconhecia a maioria como turistas, mas alguns nativos também estavam por lá. Sentei em um tronco colocado no chão e comecei a premeditar um plano. Será que alguém ali aceitaria alguns dólares em troca de uma foto e um áudio dizendo que tinha dormido comigo?

― Ei, Noni. ― Peeta materializou-se ao meu lado, vestindo apenas bermuda e seu costumeiro sorriso, com um violão nas mãos.

― Você tem algum tipo de alergia a tecidos de camisas? ― Ele ampliou o sorriso e negou com a cabeça encarando o chão aos nossos pés, as chamas do fogo formando contrastes em seu rosto com a barba por fazer, o deixando ainda mais bonito.

― É verão, é praia, tá calor. ― Deu de ombros. ― Acho que errada está você por ter vindo de jeans pra cá. ― Rolei olhos.

― E o que diabos é Noni?

― Uma fruta, o Taiti é um dos maiores produtores do mundo. Altamente adaptável, não muito apreciada pela maioria, mas dizem que poderes de cura milagrosos. Eu gosto.

― E o que isso tem a ver comigo?

― Sei lá, sinto que tem.

Cedi à tentação de olhá-lo por um tempo. Seu peito e abdome pareciam ter sido esculpidos à mão, seus braços fortes seguravam o violão despreocupadamente, e pude notar que ele tinha algumas tatuagens além do gigante leão rugindo em posição de ataque, que começava em suas costas e se estendia até parte de seu ombro esquerdo. Quando meu olhar encontrou-se com o seu, senti que ele também me analisava, ao mesmo tempo que percebeu que eu o secava. Ele riu, mostrando as covinhas em suas bochechas.

― Peeta, vem cá! ― Uma menina, que me pareceu a mesma com quem ele se agarrava antes, o chamou, fazendo nossa atenção desviar-se para um grupo de pessoas. ― Canta pra gente.

― Vai lá, estão te chamando.

― Quer vir? Posso te ensinar umas canções locais.

― Não, pode ir. Estou me divertindo aqui com meu mashmallow. ― Acenei o galho com o doce que recebi assim que cheguei.

― Tem certeza?

― Vai, Peeta, sua amiga está ficando impaciente! ― O loiro olhou para mim, analisando minha expressão, depois para ela, então de volta para mim. Quando pensei que ele fosse dizer algo, ele apenas riu de lado e foi para o meio das pessoas que se acumularam ainda mais em volta quando ele começou a cantar. E pra completar, o filho da mãe ainda cantava bem!

~

Eu estava começando a me adaptar a essa coisa. Evitava o sol em horários mais quentes, consegui almoçar uma coisa com camarão e um creme que não estava de todo ruim, o que me deu mais energia que minha dieta de lagarta. Desisti de ter meus cabelos arrumados, então o vento já não me atrapalhava tanto pois sempre estava com meus óculos escuros evitando que ele enchesse meus olhos de areia. Para esse último item, não tinha jeito. Não consigo lidar com areia e ponto final!

― Oi, Noni. ― Quase saltei de susto quando Peeta jogou-se ao meu lado na areia e beijou meu rosto.

― Você assusta as pessoas por prazer?

― E você sempre cumprimenta os outros com perguntas? ― Ele rebateu. Como não respondi, ele continuou. ― Então, não vi que horas você foi embora ontem da fogueira.

― Eu disse que dormia cedo ― justifiquei.

― Achei que era apenas você me dispensando de novo.

― Acredite, queridinho, nem tudo nessa ilha é sobre você. ― Achei que ele fosse rir junto comigo, mas ele apenas ficou sério observando o mar.

Faltavam apenas alguns minutos para o pôr do sol e o céu já mostrava suas palhetas de cores, onde o azul clarinho misturava-se ao laranja e mais alguns tons pastéis e de rosa, o azul escuro da noite se aproximando tímido.

― Olha aquilo, Kat. ― Peeta me chamou depois de algum tempo. Estreitei meus olhos para o local que ele apontava e vi dois peixinhos nadando juntos quase no limite da água. ― Aposto que estão em um encontro. ― Peeta olhou para mim enquanto ria.

― Ou se perderam do cardume e estão voltando para casa.

― Prefiro a teoria do encontro. Eles saíram para se divertir e observar a vida humana, mas acabaram encontrando apenas nós dois aqui sentados. Que tal mostrarmos a eles um pouco de como nos relacionamos em terra seca? ― O descarado se inclinou em minha direção, mas o parei com a mão em seu peito quando ele já estava bem perto de me beijar.

― Você tem 0% de maturidade em seu sangue!

― E você tem 0% de romantismo, Noni! O que custa dar um pouco de diversão para os pobres peixinhos?

― Você é tão cara de pau, que seja a ser engraçado, Peeta. ― Voltei meu olhar para o mar, onde o “casal” de peixes já adentrava em busca de águas mais profundas, e quase não podiam ser mais vistos. ― E são caras como você que fazem garotas como eu terem 0% de romantismo. ― Mesmo sem o olhar, senti que ele me encarava.

― Tive uma ideia! Você e eu vamos sair essa noite. ― Peeta levantou-se de supetão.

― Não, não vamos ― afirmei categórica.

― Sim, nós vamos. Esteja pronta às nove, te espero no saguão. Se não descer, nos tranco seu quarto e você não vai querer isso. Ou talvez queira. ― Peeta piscou para mim já indo embora.

― Ei, espera! Você nem sabe onde eu estou hospedada!

Ouvi apenas sua risada quando ele girou no indicador o chaveiro que continha o número do meu quarto e o nome do hotel. E eu nem vi quando o ladrãozinho pegou aquilo da minha chave em minha bolsa!

~

Ajustei o decote em V do meu longo vestido branco pelo que pareceu ser a milésima vez. Aquele modelo era bonito, mas nem um pouco funcional. As alças finas demais subiam do busto e se enlaçavam nas costas nuas. Calcei as rasteiras e passei mais uma camada do meu batom vermelho-sangue, pegando meu celular, a chave e saindo do quarto.

O saguão, como sempre, estava apinhado gente. O movimento da noite taitiana só começava depois das dez, então era nesse horário que a maioria das pessoas estavam saindo de seus quartos para curtir com os amigos, com seus acompanhantes ou sozinhos.

Tentei repassar em minha mente o motivo de eu, Kat Everdeen, a garota certinha do colegial, prodígio na faculdade, empreendedora um pouco louca e apaixonada demais pelo que faz, estar embarcando nas loucuras de um surfista de uma ilha. Peeta era doido e eu estava sendo mais ainda em confiar nele.

Mas era só uma saída... Não era como se ele fosse me sequestrar, me esquartejar e jogar os pedaços no mar, certo? Johanna tinha razão, eu analisava demais. Mas até se ela estivesse aqui ia ter que concordar comigo que as chances estavam em cinquenta por cento para cada lado.

Avistei Peeta em pé em um dos balcões conversando com um grupo de dois casais que reconheci estarem na noite na fogueira. Para minha surpresa, ele usava camisa, apesar de ser uma polo bem apertada azul marinho. Seu visual finalizava com tênis e uma bermuda branca. Eles estavam distraídos rindo de alguma piadinha (provavelmente infame!) que o loiro tinha feito, então me aproximei devagar.

― Vamos? ― Me fiz notar depois de uma leve tossida.

Peeta pareceu virar-se para mim em câmera lenta, seu olhar encontrou rapidamente meus olhos, então desceu pelo meu corpo e depois subiu novamente. Ele abriu a boca para falar algo, mas depois fechou sem sair um som sequer, e ficou apenas me encarando, me fazendo corar. Cheguei a conferir se meu vestido ainda estava no lugar, porque ninguém mesmo tinha olhado para mim daquele jeito.

― Acorda, Peeta! ― Um dos caras, o loiro alto, balançou os ombros dele com vigor. ― Ou vão direto para o quarto. ― Os outros três riram, fazendo ele balançar a cabeça como se finalmente despertasse, então sorrir para mim.

― Kat... Esses são Glimmer e Marvel, e Clove é a coitada que tolera o palhaço chamado Cato. São uns amigos que fiz por aqui. ― Acenei um cumprimento com a cabeça e recebi a saudação de volta, já começando a nos dirigir à saída do hotel.

― Pensei que fossemos sair ― cochichei para Peeta quando ele se aproximou com sua mão na base da minha coluna, me guiando atrás dos outros.

― Querendo ficar sozinha comigo logo, Noni?

― Estou mais aliviada, na verdade. Elimina a possibilidade de serial killer. A menos que vocês sejam uma quadrilha!

― Você é hilária, ma chère. Mas não se preocupe, eles são apenas a carona.

― Guarda isso nos seus bolsos? ― pedi lhe entregando as chaves e o celular.

― Não trouxe batom reserva? ― Franzi as sobrancelhas não entendendo, enquanto ele pegava os objetos da minha mão e embolsava. ― Você vai querer retocar durante a noite, quando eu tirar ele todinho. ― Peeta sussurrou a última frase em meu ouvido, arrepiando todos os pelos do meu corpo. Tomei fôlego me recuperando.

― Em seus sonhos, chère ― rebati, também falando bem próximo dele. Criatura metida, acha mesmo que vou ceder tão fácil a esses charminhos que ele usa em todas?

― Ah, trouxe isso pra você. ― Me estendeu uma linda flor vermelha tropical, que eu ainda não tinha notado estar presa em seu bolso traseiro.

― Isso não é um encontro.

― Noni, você pode chamar isso como quiser. Só achei que combinaria com seus olhos cinzas. ― Olhei para ele um pouco impressionada. A maioria das pessoas confundia o cinza dos meus olhos com azul ou até verde.

Peeta mais uma vez chegou perto demais, colocando uma mecha do meu cabelo ondulado para trás da orelha e tentando arrumar a flor ali. Com meus olhos alinhados com sua boca, e a menos de cinco centímetros dela, a tentação de beijá-lo ali mesmo só aumentava, principalmente com aquele perfume que me dava a nítida impressão que o mar estava do meu lado, e, pela primeira vez, gostei disso. Quase podia ler seus pensamentos, com a certeza que ele tinha a mesma ideia em mente.

― Deixa que eu faço. ― Dei dois passos para trás, pegando a flor de suas mãos e eu mesma prendendo no cabelo.

― Ainda dá tempo de ir direto para o quarto! ― Fechei os olhos rindo constrangida do amigo dele.

― É melhor a gente ir, ou na próxima piada, Cato perde os dentes. ― Peeta passou o braço por meus ombros e caminhamos em direção ao veículo.

~

― Pula, Noni! ― Peeta, o lunático, saltou do carro enquanto Cato ainda estacionava.

― Tá maluco, criatura, não vou me jogar de um jipe em movimento!

― Se quer fazer, faça. ― Ele veio em minha direção e estendeu a mão para me ajudar a descer quando já estávamos parados.

Quando segurei a barra do meu vestido para não atrapalhar, ele usou o braço para envolver minha cintura e me trazer para baixo, o espaço praticamente nulo entre nossos corpos. Sua mão direita se posicionou em minha bochecha e então mais uma vez ele inclinou-se para me beijar.

― Calminha, jovem. ― Falei baixinho quando sua boca já estava quase na minha. ― Você não terá seu beijo essa noite, lide com isso. ― Apesar do sorriso que parecia prestes a escapar do canto de seus lábios, ele fez uma careta contrariada que me fez rir.

― Se não posso te beijar, vamos dançar então.

Aceitei o braço que o loiro me ofereceu e entramos no lugar gigante e bem iluminado, pessoas com enormes saias que pareciam ser havaianas dançando em um ritmo sincronizado em um palco, a música animada ecoando pelo local. As mesas não eram grandes e serviam para no máximo quatro pessoas, e estavam quase todas ocupadas. O bar enorme tinha quatro barmans girando coquetéis no ar e servindo pessoas, garçonetes e garçons desfilavam com suas roupas de praia com as bandejas cheias de bebidas e aperitivos.

― Sejam bem-vindos! ― Um polinésio simpático e bem bonitinho chegou até nós com uma bandeja. ― A primeira é por conta da casa.

― Obrigado, mas ela não... ― Não deixei Peeta terminar a frase e já virava a primeira dose de tequila, que fazia minha garganta queimar e meus olhos quase lacrimejarem. Aquilo era forte! ― Uau, olha só quem resolveu se divertir.

― Vou levar vocês dois até uma mesa. ― Quando seguíamos atrás do homem, lembrei de um detalhe importante.

― Peeta, esqueci meus cartões de crédito!

― Relaxe, Noni, hoje é por minha conta. ― E vai vender suas pranchinhas para pagar tudo? Abafei o pensamento pensando em algum modo de compensá-lo depois, talvez um patrocínio secreto para o quiosque.

― O que vão querer?

― Pra mim só uma água com gás, por favor.

― Desistiu de ser legal, Kat?

― Apenas desisti da bebida. Eu sei porque você quer me embebedar, espertinho. ― Eu era fraca demais para álcool e não ia dar a chance a Peeta de ver meu lado louca.

― Então também não vou beber. Pode trazer dois desses coquetéis, sem álcool. E umas iscas de peixe de tira gosto.

― Não como peixe.

― Esse você vai comer, é uma delícia. ― Fiz uma careta de nojo. ― Então, vai me contar como virou essa mulher linda, porém de mal com a vida e que odeia o paraíso?

― Todo mundo tem um foco, Peeta. O meu estava em conseguir me tornar uma empresária bem-sucedida antes dos trinta e ter meu nome marcado para sempre.

― E conseguiu? ― Sorri orgulhosa.

― Com vinte e quatro anos consegui meu primeiro milhão de dólares. Tenho vinte e sete agora, e tudo só cresce, as oportunidades de emprego, minha conta bancária. Estamos prestes a fazer uma fusão que renderá mais alguns milhões para minha empresa e para a que vencer a competição.

― Certo, entendi. Você conseguiu o que queria, mas e agora?

― Como assim? ― Beberiquei minha bebida que tinha acabado de chegar.

― Você disse que fez tudo na vida baseada em seu foco. Agora que foi alcançado, qual o plano? Fazer outro plano?

Eu nunca tinha parado para pensar sobre. Depois de batalhar para levantar do nada uma empresa, eu tinha chegado lá, e nos anos seguintes apenas segui dando o melhor de mim a cada dia, fazendo com que a Everdeen’s se tornasse uma das maiores empresas de publicidade da cidade. Eu não tinha mais planos depois disso, nunca fui daquele tipo que tem o objetivo de casar, ter duas crianças, um papagaio, um cachorro e uma tartaruga. Mas a pergunta de Peeta me fez gastar uns bons minutos meditando sobre algum novo objetivo de vida.

― É, parece que te dei um motivo para não dormir essa noite. E se eu não estou nos mesmos lençóis, não foi um motivo muito bom. ― Meu olhar subiu do copo com o drink cor de rosa entre minhas mãos para encontrar seus olhos azuis. ― Vamos dançar.

― Eu não quero! ― Não adiantou nem protestar, ele já saiu me puxando de cima do banquinho para o meio da pista, onde muitas pessoas já se mexiam ao ritmo latino que dominava o salão.

― Vamos, Kat, se solta!

Peeta gritava para mim que estava no meio de todo mundo, de braços cruzados, fazendo birra. Ele, ao contrário, parecia não ter articulações nos quadris, enquanto jogava os braços para o ar e rebolava como se fosse algum tipo de maldito dançarino profissional, atraindo a atenção de todos que estavam perto.

― Já falei que não quero ― mantive minha palavra, mas o ritmo já estava me obrigando a fazer pequenos movimentos com o corpo.

― Você acha que não quer, que não pode. Vou te mostrar que sim.

Peeta me puxou para ele, a sua mão que não estava presa à minha descendo por minha coluna até a base dela, onde acabava o decote traseiro do vestido. Sua pele queimava sobre a minha, quando ele curvou meu corpo para trás, o dele ainda sobre o meu, depois me trazendo de volta à posição ereta em um movimento rápido, me fazendo soltar uma respiração ofegante. Devia ser proibido alguém ser tão sexy.

― Vê? Você pode.

Ele ergueu meu braço e me girou três vezes, desmanchando minha cara emburrada em gargalhadas, para logo nos chocar com um pouco de violência, meus braços em torno de seu pescoço e os seus escorregando da minha cintura para o quadril. Vi um brilho em seu olhar escurecido quando, pela terceira vez aquela noite, ele aproximou a boca da minha, seu hálito já podendo ser sentido por estar tão perto.

Sorri travessa quando virei o rosto, seus lábios encostando em minha bochecha, para logo depois me soltar dele e com as mãos na saia longa do vestido, começar a realmente dançar o contagiante ritmo. Por minha visão periférica, vi como ele parecia frustrado, passando os dedos em seus cabelos, e usei isso para provocá-lo, rebolando de costas para ele. Peeta não sabia, mas no colégio eu fiz parte da equipe de dança pelos créditos extras. Meus talentos estavam adormecidos, mas eu ainda tinha algumas medalhas para lembrar me deles.

Não demorou muito para que Peeta se aproximasse novamente de mim, envolvendo seus braços em mim e me girando para ele. Meu corpo estava esquentando e suor já escorria por minha pele, o mesmo acontecendo com a dele.

― Você disse que não dançava.

― Eu disse que não queria, não que não dançava. ― O corrigi.

― Que seja, mas você está me enlouquecendo.

― Problema seu, dessa vez você perdeu, ma chère.

― Eu não perco, Noni. ― Seu nariz escorregou para meu pescoço, fazendo cócegas enquanto sentia o ventinho da respiração dele ali.

A música mudou uma, duas, três vezes, mas nada foi suficiente para nos fazer sair dali. Nesse ponto, eu já tinha ligado meu “botão foda-se” e dançava feito uma doida. Encontramos Cato e Clove, que jogaram piadinhas sobre “dança de fazer bebês usando roupas”, mas como foram ignorados, logo nos deixaram em paz para irem se pegar em algum canto.

― Sabe qual o problema de vocês homens? ― perguntei na nossa mesa quando nossos músculos finalmente cobraram uma pausa. ― Vocês têm todas as mulheres e alguns homens do lugar cobiçando seus corpos, mas sempre querem aquela que só dispensa vocês. Tão previsíveis. ― Ele riu.

― Aí já depende. Se a mulher for como você, vale a pena insistir.

― Novamente previsível. ― Provei uma das iscas de peixe que Peeta tinha pedido, e apesar que nunca admitiria na frente dele, aquilo era até bonzinho.

― Desejam pedir mais alguma coisa?

― Traz duas doses daquele negócio que você serviu pra gente na entrada. Eu e o surfista aqui precisamos mais daquilo. ― O atendente riu e olhou para Peeta, como se confirmasse o pedido.

― Pode trazer, mas para mim só uma água de coco. Alguém vai precisar cuidar dessa doidinha na volta para casa.

― Quem é o mais descolado agora? ― provoquei abandando o indicador na frente de seu rosto, quando o garçom saiu.

― Você devia sair mais. A música e a dança fazem maravilhas com seu humor.

― Se dependesse da minha amiga, seria balada todo dia. Mas tenho minhas responsabilidades.

― O bom é aqui você não tem nenhuma. Pode aproveitar.

― Isso mesmo. ― Agradeci ao jovem quando trouxe nossas bebidas, já virando o primeiro copo. ― Ei, vamos tirar uma foto? Tenho que provar para minhas amigas quando voltar para casa que saí do hotel e que você é real. Passa meu celular pra cá.

― Foi mal, descarregado. ― A tela nem chegou a dar seu brilho quando ele tirou do bolso.

― O seu?

― No meu quarto. ― Fiz uma careta descontente. ― Ah, não faz essa cara. Amanhã tiramos quantas fotos você quiser.

― Fazer o quê?

― Pronta pra voltar para lá? Ainda tenho muitas técnicas para roubar um beijo seu que ainda não usei.

― Safado! Só porque colocou uma camisa, tá se achando ― desdenhei.

― Sem mais bebidas pra você, mocinha. Já está falando demais. ― Peeta roubou o pequeno copo das minhas mãos na metade do caminho para minha boca e deixou na mesa, me levando de volta para a pista de dança.

Já era madrugada quando Clove veio nos chamar para ir embora. Peeta sinalizou um “já volto” quando paramos em frente ao meu hotel e ele desceu comigo para me acompanhar até a porta. Agarrei seu braço para me dar suporte, eu estava muito cansada e praticamente não me segurava em pé de sono. Depois que saímos de lá, e a taxa de adrenalina baixou do meu sangue, quase dormi no ombro dele no trajeto de volta.

― Eu sabia que, bem lá no fundo, você era divertida.

― Melhor parte da noite: quando o gerente chegou pra gente com aquela cara e disse que estávamos “constrangendo as pessoas com nossa dança”.

― Puritanos ― Peeta acusou e nós rimos.

― Amanhã tenho certeza que vou acordar e me envergonhar disso.

― Você aproveitou a noite, é o que importa. ― Ele me estendeu as chaves e meu celular quando chegamos na porta do meu quarto.

― Pena que você ficou sem seu beij...

Nem pude terminar a sentença ou agradecê-lo pela noite, pois Peeta já tinha os lábios sobre os meus, as mãos apertando minha cintura e pressionando meu corpo entre o dele e a porta, sua barba rala deixando marquinhas em meu rosto. Esqueçam dançar que nem doida, virar várias doses ou negociar nosso comportamento com o gerente. Aquele era sem dúvida o melhor momento da noite.

Arranhei sua nuca despenteando os fios de seus cabelos loiros quando aprofundamos o beijo, sua língua trabalhando em conjunto com a minha, como na pista de dança, mas dessa vez de um jeito mais privado e prazeroso. Uma de suas mãos já descia discretamente abaixo dos limites do decote nas costas do meu vestido, já chegando na barra da minha calcinha. Tudo nele era tentação e desafio.

Peeta puxou meu lábio inferior entre os dentes, finalizando o beijo. Ele passou a língua pelos próprios lábios e depois limpou as marcas de batom com o polegar encarando meus olhos recém-abertos em um gesto tão sensual que quase me fez agarrá-lo de novo ali mesmo e arrastá-lo porta adentro.

― Nunca perco, Noni.


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Notas finais do capítulo

Ai ai, Peeta...
Bom, espero que tenham gostado.
Se sim, deixem seus reviews, amo saber o que estão achando. Se acharem que a fic merece, favoritem e recomendem e mostrem para os amigos.
Terça que vem estou de volta.
Acompanhe também minhas outras fics, dando uma olhada no meu perfil. Juro de mindinho que são legais!!
Até... Bjs*