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Quando olho em seus olhos

É como observar o céu à noite

Ou um belo nascer do sol

Há tanto que eles carregam

E assim como as velhas estrelas

Eu vejo que você chegou tão longe

Para estar bem onde você está ...

... Não vou desistir de nós

Mesmo que os céus fiquem furiosos ...

(I Won't Give Up - Jason Mraz) 

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            Olhei o céu pela janela aberta e pude ver o quanto a noite estava estrelada, o início da primavera deixava as noites cada vez mais bonitas. Voltei minha atenção para o loiro sentado na escrivaninha do outro lado do quarto e senti uma certa apreensão ao vê-lo tão concentrado olhando as duas cartas na sua frente.

            - Peeta. – chamei e o vi erguer os olhos em minha direção – Precisamos mandar a resposta até amanhã. – odiava pressioná-lo, mas não tínhamos mais tanto tempo para ficar pensando na situação.

            - O Distrito 11 tem um excelente curso de Direito, a universidade de lá é enorme e também tem um dos cursos de Matemática mais completo de Panem, ele é quase tão bom quanto o da Capital.

            - Eu sei, mas a universidade do Distrito 4 tem um programa de estágio diferenciado e um bom curso na área que escolheu. - eu queria muito voltar para o Distrito onde nasci e embora tenha me escrito para outras universidades onde fui aceita era para lá que queria ir, mas tinha que admitir que queria muito que meu melhor amigo fosse comigo – Além do mais meus pais estudaram lá e eu queria muito ir pra lá, sabe o quanto adoro aquele lugar e eu sei que você gosta de lá também.

            - Mas é o nosso futuro e o Distrito 11 fica muito mais perto de casa.

            - Por favor Peeta, vamos para o Distrito 4. – durante os últimos anos evitamos falar muito sobre nosso futuro universitário, porém com o início do último ano e todas as cartas de inscrições que tínhamos que mandar para as universidades, acabamos entrando em um acordo de mandar para as mesmas universidades e três delas aceitaram ambos, acabamos descartando o Distrito 8, porém meu amigo gostava muito do prestígio que a universidade do 11 tinha e confesso que estava com medo dele optar por ela.

            Ele suspirou e veio em minha direção deitando ao meu lado na cama dele olhando o céu pela janela por um tempo, eu sabia o quanto aquela era uma decisão importante. Sabia que não poderia forçá-lo a ir comigo, sabia que estava sendo muito egoísta da minha parte não ceder ou até mesmo cogitar o lugar que ele tanto apreciava e em partes evitando pensar de forma egoísta eu acreditava que se afastar dali faria bem a ele, Peeta não era o mesmo desde a morte do vovô.

            - É realmente importante para você ir para lá não é?

            - É, eu me sinto em casa lá e faz tempo que queria muito voltar, pelo menos por um tempo. – meus olhos se encontraram com os dele, aquele azul conhecido e não era preciso conhecê-lo tão bem como eu para saber que ele estava preste a tomar uma decisão importante.

            - Não quero morar perto da praia. Gosto do mar, mas não tanto assim.

            - Eu não acredito. – me joguei em cima dele o abraçando forte – Vamos para o Distrito 4. – beijei seu rosto diversas vezes enquanto ele sorria de leve – Serão os melhores anos de nossas vidas, você vai ver. 

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            O salão do hotel Mockingjay estava realmente magnifico, tudo com muito glamour e elegância. E, embora não fizesse muito o estilo do noivo que, sem dúvida, escolheria algo mais simples tenho que admitir que Glimmer fez um ótimo trabalho na decoração do local para o jantar de ensaio de casamento.

— Que bom que vocês chegaram. – Peeta sorriu ao nos receber juntamente com Mags e Glimmer.

— Você está lindo, meu querido. – minha mãe o abraçou com carinho e devo admitir que ele estava perfeito usando um terno azul marinho com uma camisa branca e a gravata que tínhamos escolhido a alguns dias – Nem acredito que amanhã você vai casar. - não ficaria surpresa se minha mãe começasse a chorar ali mesmo - Você também Glimmer, está fantástica. - a loira sorriu simpática.

— Obrigada por vir de tão longe, Peeta a considera muito, sei que vocês são como parte da família para ele. – desviei o olhar e mantive minha atenção nos vários rostos desconhecidos no salão.

Por mais que o jantar de ensaio fosse uma ocasião para poucas pessoas, normalmente os amigos mais íntimos do casal eu sabia que muitos ali nunca tinham passado mais do que alguns minutos com os dois. Era muita gente para o que deveria ser um momento íntimo e descontraído, mas como muitos convidados vieram de outros Distritos para a ocasião e estavam hospedados no hotel eles decidiram fazer algo para mais pessoas do que o esperado.

— Fico feliz que tenha conseguido vir Ludwig. – vi quando Peeta apertou a mão do meu acompanhante e sorriu ligeiramente. Eu havia apresentado Cato aos meus amigos quando ele esteve no Distrito duas semanas atrás e como soube do casamento acabei chamando o mesmo para ser meu acompanhante, embora não esperasse que realmente conseguisse vir.

Após mais alguns minutos seguimos para a mesa onde estavam sentadas as madrinhas da noiva e os padrinhos do Peeta com seus acompanhantes, enquanto minha mãe foi direcionada a mesa onde Mags ficaria juntamente com os pais da loira e os noivos. Peeta havia pedido especialmente para que ela ficasse na mesa dele. E, eu me sentei ao lado da Annie.

Não demorou para o jantar ser servido e logo os brindes começaram. Como era de costume os demais padrinhos e madrinhas começaram seus discursos cheio de brincadeiras referentes aos noivos. E quando minha vez chegou me levantei com cautela e observei as várias mesas por um momento antes de olhar para o loiro com atenção.

— Embora normalmente o noivo tenha um padrinho eu tive a grande honra de ser escolhida pelo noivo para esse grande feito. – comecei meu discurso – Eu conheço o Peeta há mais tempo do que posso me lembrar, somos amigos quase que a vida inteira e embora vocês estejam esperando aquele momento onde eu deveria contar algumas coisas constrangedoras sobre o noivo, não posso fazer isso. Peeta Mellark é sem sombra de dúvida ... – eu queria dizer que ele era o amor da minha vida, mas limitei-me ao que todos queriam ouvir – O meu melhor amigo e, não existe nada no mundo que me faça revelar seus segredos e casos de infância. E hoje eu só posso desejar que ele e Glimmer sejam imensamente felizes e que amanhã seja o início de uma vida cheia de felicidade aos dois.

Vi quando ele sorriu em minha direção e voltei minha atenção ao loiro ao meu lado, se fosse sincera eu queria sair dali o mais rápido possível. Finn se levantou e iniciou um discurso que aparentemente era bem divertido já que muitos riam incluindo os noivos, mas acabei não prestando atenção em uma única palavra. As palavras do meu pai martelavam na minha mente quando vi o celular do meu acompanhante vibrar e ele saiu discretamente para atender.

— Um brinde aos noivos. – as palavras de Finn me trouxeram de volta à realidade tão rapidamente que só tive tempo para erguer minha taça juntamente com as demais pessoas a minha volta, mesmo sem ter a menor vontade de brindar aquele momento.

Observei enquanto ele sorria para ela falando algo em seu ouvido - um segredo qualquer ou quem sabe uma bobagem - e meu coração se apertou no mesmo instante, e sem me preocupar com o que Annie estava falando saí em direção ao elevador. Eu precisava de ar urgentemente.

O terraço estava vazio como era de se esperar, observei a vista à minha frente tentando esquecer os últimos meses, o barulho das ondas sempre me acalmou, exceto naquele momento.

Não sei quanto tempo fiquei perdida em pensamentos até ouvir passos atrás de mim, não precisava me virar para saber quem era. Ele parou ao meu lado, as mãos no bolso da calça social e olhou para a mesma direção que eu estava olhando.

— Não é educado a madrinha do noivo sumir, sabia? – ele falou sério, mas não bravo, não respondi, então ficamos em silêncio por um tempo apenas olhando o céu estrelado – Tem muita gente lá em baixo e eu não conheço nem um terço delas. – ele comentou enquanto abria os botões do terno e se recostava na mureta à minha frente. Observei os cabelos loiros que um dia foram cheios de cachinhos, bagunçarem levemente com o vento.

— Duvido que tenha algum penetra na festa Peeta. – comentei e ele sorriu, um sorriso tão conhecido que lembrava nitidamente o menino que conheci anos atrás ainda na infância, o mesmo que esteve presente durante quase toda minha vida e que a deixou melhor.

— Eu vou sentir muita falta disso tudo, quer dizer, conversas vagas olhando as estrelas. Falar com você com frequência. Infantil, não é? Afinal não temos mais dez anos. – não era infantil embora não fossemos mais crianças, eu não queria que ele fosse embora.

— Não vai. – as palavras saíram tão rapidamente que não pensei no peso das mesmas.

— Katniss... - eu o amava e sabia disso, ele era meu melhor amigo, mas não era apenas isso.

— É egoísmo pedir para você ficar eu sei, mas não consigo imaginar meu dia sem você por perto. Eu não consigo imaginar estar em um Distrito onde não esteja também. – sem pensar direito me aproximei e selei meus lábios no dele, um beijo singelo lento e cheio de carinho que ele correspondeu de imediato me abraçando pela cintura. Minhas mãos foram para sua nuca e em seguida para o seu cabelo enquanto nossas línguas mantinham uma sincronia perfeita, e naquele momento foi como se existisse apenas Peeta e eu no mundo. Meu coração estava acelerado e talvez fosse minha imaginação, mas de alguma forma senti que o dele também estava.  Então tão inesperadamente como quando correspondeu Peeta interrompeu o beijo.

— Katniss não podemos fazer isso. – e lá estava a honestidade que tanto admirava nele – Eu não posso fazer isso, somos amigos, você é minha melhor amiga e eu me caso amanhã.

— Não case. – parecia tão simples embora eu soubesse que não era, já que em menos de 24 horas todas as pessoas que estavam no andar de baixo, na festa de ensaio estariam reunidos para a cerimonia de casamento dele com Glimmer.

— Você não pode fazer isso comigo. – ele parecia transtornado – Você não tem o direito de fazer isso.

— Peeta me escuta...

— Não, eu vou me casar amanhã. Vou me mudar em breve e por mais que doe ficar longe de você, por pior que seja, não te ter por perto, eu tenho que seguir com minha vida Katniss. Não posso viver minha vida sempre segundo as suas decisões. Não posso fazer isso para sempre. – ele apoiou as duas mãos na mureta e respirou fundo - Você não pode me beijar e pedir para eu não me casar só porque não quer que seu melhor amigo vá embora. – eu queria que ele soubesse o quanto o amava. Queria que soubesse que não era um amor de amiga, era um amor de mulher. Ele era o homem que eu pensei nunca encontrar e no fundo esteve ao meu lado o tempo todo.

— Eu sei que te peguei de surpresa, talvez eu não tivesse o direito de beijar você. Talvez você só tenha correspondido por surpresa. Ainda sim, eu nunca quis perder você e demorei demais para notar o que sentia – estava prestes a chorar, mas ainda sim continuei – Você é meu alicerce, a melhor coisa que me aconteceu até hoje foi você falar comigo naquele escorregador há mais de vinte anos. Não tem ideia do que significa para mim e quanto difícil é dizer isso, não por não conseguir dizer ou por ter dúvidas e sim, por medo de perder você, mas preciso dizer... – respirei fundo antes de continuar – Eu amo você, não como um amigo e acho que no fundo sabe e eu gostaria muito que se você me amar assim como eu te amo, por favor, me diz.

Observei as mãos dele pressionarem mais forte à mureta e o vi menear a cabeça algumas vezes antes de olhar para mim. Eu adoraria saber exatamente o que ele estava pensando naquele momento ainda sim, não consegui decifrar o que seu rosto tão familiar estava demostrando.

— Existe uma mulher incrível naquele salão. – a voz dele falhou ligeiramente – Mulher essa que eu pedi para se casar comigo e não é certo ... Eu não ... Você é minha melhor amiga, não sei o que seria minha vida sem você, então, por favor, entenda ... – ele não conseguia formar uma frase completa e no fundo eu sabia que ele não iria desistir da Glimmer, não na véspera do casamento.

— Eu sei... – interrompi - É melhor eu ir embora. – ele concordou com a cabeça e segui em direção ao elevador, parando alguns passos depois e me virando novamente pra ele – Peeta, só para saber, você não é só meu melhor amigo, tão pouco é algo passageiro. Você é minha pessoa. – não esperei por nenhuma resposta e segui meu caminho entrando no elevador e apertando o andar da garagem tentando ao máximo segurar as lágrimas. O elevador parou no andar da festa e pude ver meu acompanhante na porta.

— Você está bem? – ele entrou no elevador e tocou meu ombro com delicadeza.

— Vamos embora, por favor. – não me importei em não me despedir de ninguém, de deixar minha bolsa, ou no que iriam pensar. Eu só queria sair dali. Como se soubesse que não estava pronta para explicações Cato não fez perguntas e apenas dirigiu em direção a minha casa.

— É ele, não é? – ele perguntou assim que parou o carro em frente ao meu prédio – Você ama o Peeta.

— Você é uma pessoa incrível Cato. Eu gostaria muito de ter conhecido você antes, mas agora não tenho condições de levar isso adiante, tão pouco quero te magoar. – ele pegou minha mão com carinho e me olhou nos olhos.

— Acho que eu teria que, ter te conhecido há mais de vinte anos para tentar alguma chance de ter seu coração. – ele sorriu – Eu vi como vocês se portão um perto do outro. Ele segue você com o olhar e você procura por ele sem nem perceber.

— Eu demorei tempo demais para ver o que parece que todos viam.

— Nunca é tarde, ao menos que você queira que seja. – ele se aproximou e beijou meu rosto com carinho – Eu espero que você seja muito feliz Katniss.

— Você também.

Quando entrei no meu apartamento aquela noite poucas coisas pareciam mais distantes do que a minha felicidade. Me joguei na minha cama e enfim deixei as lágrimas caírem até que o sono me vencesse.

Minha mãe me conhecia bem o suficiente e não comentou nada sobre a minha partida súbita do jantar de ensaio, ela apenas levou uma xicara de chá pela manhã e ficou por algum tempo apenas fazendo carinho nos meus cabelos.

— O que acha de passarmos um dia de mãe e filha? Podemos caminhar na praia ou ir a um spa.

            - Temos um casamento para ir mãe.

            - Katniss...

            - Ele esteve ao meu lado em tudo, e prometi que sempre estaria ao lado dele, e eu sei o quanto você o considera. Ele é quase um filho para você e poucas pessoas importantes para ele vão estar lá hoje, mãe.

            - Mas você é minha filha e sempre vai vir em primeiro lugar.

            - Eu sei, vai encontrar a Mags e avisa que eu vou direto para cerimonia. – Peeta havia reservado um quarto para que eu me trocasse no hotel ao lado do que ele estaria com os demais padrinhos.

            - Tem certeza?

            - Tenho. – tentei sorrir – Eu sou a madrinha do noivo afinal.

            Depois de um tempo considerável embaixo do chuveiro, um penteado simples e um pouco de maquiagem eu estava pronta para vestir minha melhor máscara, ou pelo menos foi o que pensei ao parar meu carro em frente ao Mockingjay.

            - Srta. Everdeen. – uma das organizadoras me reconheceu e veio me receber antes mesmo que eu entregasse meu carro ao manobrista – Estava procurando pela senhorita, estávamos te esperando para começar a seção de fotos na suíte do noivo, os demais padrinhos já estão lá e sua suíte ainda está vaga se precisar de alguma coisa.

            - Obrigada. – parada na porta do hotel onde o amor da minha vida estava prestes a se casar com outra me vi sem conseguir me mover.

            - Senhorita. – olhei o manobrista que esperava pela chave e naquele momento soube que não conseguiria fazer isso, não conseguiria ver tão de perto ele se casar com outra.

            - Me desculpa... – entrei novamente no carro e saí sem rumo pelas ruas tão conhecidas do Distrito.