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Ele tem um sorriso que me parece

Trazer a tona recordações da infância

Onde tudo era fresco como o límpido céu azul ...

(Sweet Child O’Mine – Sheryl Crow)

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– Eu não quero morar aqui – pronunciei pelo que poderia ser a décima vez desde que chegamos a menos de uma hora na nova casa.

– Katniss, por favor, já conversamos sobre isso – minha mãe nem ao menos olhou para mim e continuou a organizar seus pratos de porcelana na estante da sala de jantar.

– Não gostei daqui, quero voltar para o Distrito 4 com o papai – aquelas palavras a fizeram deixar os pratos e olhar para mim suspirando em seguida.

– Filha seu pai e eu já conversamos sobre isso com você, você pode visitar o papai nas férias e ele vira ver você sempre que possível, mas você vai morar comigo aqui entende isso – ela parecia mais cansada do que o costume nos últimos dias – Tenho certeza que vai gostar daqui, de uma chance e você vai ver o quanto vai ser legal.

– Minhas amigas estão lá no Distrito 4 eu não conheço ninguém aqui - eu não tinha muitos amigos e ela sabia que o que mais me afetava nessa mudança era a falta do meu pai afinal eu era sua garotinha, sua princesa.

– Em breve você vai fazer amigos novos meu anjo – ela tentou sorrir embora não tenha conseguido inteiramente – Já sei o que acha de deixarmos para desempacotar as coisas mais tarde e irmos até a pracinha tomar um sorvete? – aquele truque era velho e eu conhecia bem.

– Pode ser - disse desanimada não queria sorvete o que eu queria mesmo era ir para casa para meu quarto junto do papai, mas sorvete era melhor do que tirar meus brinquedos das caixas.

Em alguns minutos estávamos tomando sorvete na pracinha próximo a casa nova, tudo era diferente aqui eu havia nascido no Distrito 4 em uma área próxima a uma das diversas praias do mesmo e agora ao invés de ver o mar a única coisa que via eram diversas árvores espalhadas por todo lugar, e por mais que estivéssemos no verão e o dia estivesse quente o sol estava encoberto pelas nuvens bem diferente do sol estonteante que fazia lá no 4.

– Olá – uma senhora se aproximou de nós sorrindo amigavelmente – Vocês se mudaram hoje para a rua de trás não é?– mamãe sorriu para ela

– Sim, mas como a senhora sabe? Quer dizer o Distrito é pequeno mais não imaginei que era tanto assim.

– Me desculpe se passei a impressão errada é que sou sua vizinha e vi quando chegaram, sou Mags Mellark prazer.

– Effie Eve... desculpa – ela se corrigiu - Effie Trinket e essa e minha filha Katniss

– Que nome lindo – ela sorriu para mim – Quantos anos você tem Katniss?

– Cinco – respondi me aproximando mais da minha mãe.

– Meu neto tem a sua idade, quem sabe vocês podem ser amigos – ela se virou para minha mãe – Ele mora comigo e meu marido – explicou – Ele esta vindo esqueceu o carrinho em casa e foi buscar com o avô – elas começaram a conversar e não prestei atenção em mais nada, não queria fazer amigos só queria ir embora era tão difícil entender.

– Mãe posso brincar nos brinquedos? – perguntei assim que terminei o sorvete e ela concordou e advertiu para que ficasse onde ela pudesse ver, a praça era simples alguns brinquedos e areia, subi na pequena casinha que dava acesso ao escorregador, mas ao invés de escorregar me sentei no chão e comecei a chorar a única coisa que queria era ir para casa, queria que tudo continuasse como era antes.

– Por que você esta chorando – olhei o menino parado na entrada da casinha, ele era um pouco mais baixo que eu e tinha o cabelo loiro encaracolado e olhos azuis por traz dos óculos de grau, ele estava segurando com um carrinho nas mãos.

– Não estou chorando – neguei limpando as lagrimas rapidamente.

– Estava sim, você se machucou? Brigaram com você? – ele se aproximou e se sentou ao meu lado, parecendo realmente preocupado.

– Não, só não quero estar aqui.

– No parquinho?

– Não na nova casa, quero voltar para minha casa antiga perto do meu pai e das minhas amigas.

– Aqui é legal você vai gostar eu gosto, não posso te ajudar a ficar mais perto do seu pai, mas posso ser seu amigo – ele sorriu e estendeu a mão – Amigos? – pensei por alguns minutos, minha mãe havia não dito que não voltaríamos para o Distrito 4, pelo menos não agora e ele parecia legal, algo nele passava confiança.

– Amigos – disse por fim e acabei sorrindo enquanto apertava a mão dele – Sou Katniss Everdeen.

– Peeta Mellark, você gosta de balanço?

– Gosto

– Aqui tem um que vai bem alto, vem – ele levantou e desceu pelo escorregador e eu o segui, aquele era só o inicio de uma amizade que duraria anos.

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– Um brinde aos noivos – as palavras de Finn me trouxeram de volta a realidade tão rapidamente que só tive tempo para erguer minha taça juntamente com as demais pessoas a minha volta, mesmo sem ter a menor vontade de brindar aquele momento.

Observei enquanto ele sorria para ela falando algo em seu ouvido, um segredo qualquer ou quem sabe uma bobagem e meu coração se apertou no mesmo instante, e sem me preocupar com o que Annie estava falando sai em direção ao elevador, eu precisava de ar urgentemente. O terraço estava vazio como era de se esperar, observei a vista a minha frente tentando esquecer os últimos meses, o barulho das ondas sempre me acamou exceto naquele momento.

Não sei quanto tempo fiquei perdida em pensamentos até ouvir passos atrás de mim, eu não precisava me virar para saber quem era. Ele parou ao meu lado, as mãos no bolso da calça social e olhou para a mesma direção que eu estava olhando.

– Não é educado a madrinha do noivo sumir sabia – ele falou serio, mas não bravo não respondi então ficamos em silencio por um tempo apenas olhando o céu estrelado – Tem muita gente lá em baixo, e eu não conheço nem um terço delas – ele comentou enquanto abria os botões do terno e se recostava na mureta na minha frente, observei os cabelos loiros que um dia foram cheios de cachinhos bagunçarem levemente com o vento.

– Duvido que tenha algum penetra na festa Peeta – comentei e ele sorriu, um sorriso tão conhecido que lembrava nitidamente o menino que conheci anos atrás ainda na infância, o mesmo que esteve presente durante quase toda minha vida e que a deixou melhor.

– Eu vou sentir muita falta disso tudo, quer dizer conversas vagas olhando as estrelas, falar com você com frequência, infantil não é? Afinal não temos mais dez anos – não era infantil embora não fossemos mais crianças eu não queria que ele fosse embora.

– Não vai – as palavras saíram tão rapidamente que não pensei no peso das mesmas.

– Katiniss ...- eu o amava e sabia disso, ele era meu melhor amigo, mas não era apenas isso.

– É egoísmo pedir para você ficar eu sei, mas eu não consigo imaginar meu dia sem você por perto, eu não consigo imaginar estar em um Distrito onde você não esteja – sem pensar direito me aproximei e selei meus lábios no dele, um beijo singelo lento e cheio de carinho que ele correspondeu de imediato me abraçando pela cintura, minhas mãos foram para sua nuca e em seguida para o seu cabelo enquanto nossas línguas mantinham uma sincronia perfeita, e naquele momento foi como se existisse apenas Peeta e eu no mundo, meu coração estava acelerado e talvez fosse minha imaginação, mas de alguma forma senti que o dele também estava. Então tão inesperadamente como quando correspondeu Peeta interrompeu o beijo.