Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 78
Debate Interno


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, pessoal. Um capitulo para seguirmos esse enredo. Eu tenho quase certeza de que vou escrever em cima do UL também, mas até lá acho que vou criar outra fic (tipo uma segunda temporada ahha) Enfim, aproveitem!



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O jardim definitivamente era o melhor lugar para por as ideias em ordem, mas naquele dia o banco me incomodava. Eu encarava o céu azul, como os galhos das árvores do jardim se misturavam ao azul num cenário lindo. Foi por olhar para o alto que vi Lysandre se aproximando, olhando para mim tranquilo. Sorri.

— Ei, bonitão. – Abaixei o rosto finalmente, ainda sorrindo e com o peito estourando de amores com o sorriso que Lysandre abriu.

— Tudo bem por aqui? – Ele perguntou, deixando sua mochila e a minha no gramado ao lado do banco. Concordei, falando que o dia tinha esquentado com o passar das horas. Ele concordou. – Essa aula de educação sexual foi...surpreendente, no mínimo.

— Nem me diga. Foi um experiência horrível.

— Eu percebi que você parece bem preocupada com o assunto. Mais do que deveria, aliás.

— Oi? Não, é… – Eu comecei a sentir minha garganta secando e meu rosto começar a esquentar, então me interrompi. Ele sorriu, passando as costas dos dedos pelo meu rosto com delicadeza.

— Isso te deixa...angustiada?

— Acho que a experiência horrível foi mais pelos comentários idiotas voando pela sala. Não pelo tema propriamente. – Engoli em seco, desviando o olhar. Mesmo sem olhar para ele, sabia que ele tinha concordado com a cabeça. Então seus dedos deixaram meu rosto e se entrelaçaram com os meus.

— Está tudo bem, não estamos com pressa. – Era reconfortante ouvir aquilo dele, porque eu sabia que era verdade. Se eu quisesse esperar por um mês, ele esperaria. Se fosse 1 ano, tudo bem também. Se eu quisesse me casar antes, então ele sorriria concordando. Lysandre respeitaria meu tempo sem pestanejar, eu sabia disso. O que eu não sabia é se eu teria toda essa paciência.

Eu não sabia se eu tinha pressa ou não. Não sabia se eu estava sequer perto de estar pronta ou não. A aula de Delanay não tinha me ensinado quase nada que eu já não soubesse cientificamente falando, mas tinha me deixado com muitas dúvidas no aspecto psicológico. Eu sabia que se eu fizesse qualquer coisa sem ter plena certeza, hora ou outra me arrependeria. Só que todos aqueles comentários te fazem achar que você está sim numa corrida, e que tudo pode dar errado se você se atrasar.

— Terra para Anna? – Ouvi a voz de Lysandre me tirar do meu devaneio, só então reparando que ele tinha me abraçado. Só então relaxei, mas pouco.

— Desculpa. – Sorri, ficando de pé. – Preciso guardar minhas coisas antes de ir embora. Você vem?

— Acho que vou ficar mais um pouco. Te encontro lá fora. – Sorri, me inclinando para lhe dar um selinho e finalmente fugi. Eu sabia que estava fugindo dos meus medos e inseguranças, mas às vezes precisamos nos afastar para perceber a resposta. Ou pelo menos eu esperava que fosse ajudar.

Eu estava pronta para ir embora, quando vi Alexy. Ele veio falar comigo, sorridente. Questionei seu tempo a mais na escola, e ele me lembrou que ainda só podia usar a internet do colégio.

— Vou procurar as informações sobre a boate que eu vou com Evan hoje.

— Boate? Um programa entre irmãos para fortalecer laços, é? – Percebi a empolgação de Alexy, que concordava sorridente.

— Sim, o Kentin vai também, afinal ele é amigo do Evan. Bom, de toda forma vai ser ótimo rever o Evan.

— Sim, fico feliz por você. Bem, a gente se vê então. Bom fim de semana, Alexy.

— Você também. Tente não fazer nada com seu querido “Lys-fofo”, ou então me conte se fizer.

Lys-fofo? Só Rosalya chamava ele daquele jeito, o que era prova de que aqueles dois estavam passando muito tempo juntos, confabulando sobre meu namorado. Pior, sobre nós dois. Pisquei, Alexy ainda esperando resposta.

— Tchau, Al. Até segunda.

Finalmente deixei o pátio da escola, mais uma vez pondo meus pensamentos em ordem. Aliás, mais uma vez tentando pôr tudo em ordem. Porque até agora eu não tinha conseguido muito.

Digo, concordo que foi divertido ver Delanay completamente atrapalhada, pela primeira vez, com toda a situação. O que não foi nada divertido foi o julgamento em massa da turma inteira em cima de mim. Não de nós. De mim. Era como se eles achassem que eu tinha a obrigação de já ter feito qualquer coisa daquela natureza, mas se eu realmente tivesse feito me queimariam por ser uma bruxa pecaminosa ou coisa do tipo.

E então tinha a coisa em si. Era uma ideia assustadora. Por um lado, todas as vezes que eu sentia o toque dele, o beijo dele, era como se eu quisesse cair dentro dele e nunca mais sair. Só que sempre existia um frio na barriga que me afastava e me deixava apreensiva. Por sorte, ele simplesmente agia conforme a situação, evitando qualquer climão possível. Só que, pela nossa conversa mais cedo, o assunto claramente já tinha passado pela cabeça dele também.

— Será que ele já…?

— Olá, olá. Como vai você? – A voz potente falou logo atrás de mim, fazendo meu corpo travar depois de soltar um gritinho pelo susto. Evan esticou a mão, como se querendo conferir se eu estava bem.

— Evan, ei. Oi. Oh, Deus. Desculpa. – Falei, meio ofegante pelo susto, mas tentando regular a respiração. Ele deu um sorriso sem graça, recolhendo o braço.

— Imagina, eu quem te assustei. Você realmente parecia concentrada nos seus pensamentos. Atrapalhei?

— Não, imagina. É bom te ver de novo. O que te trouxe aqui?

— Ah, estou esperando Alexy e Armin. Você viu algum dos dois, por acaso?

— Na verdade, sim. Alexy tinha que pesquisar algo nos computadores da biblioteca, eles não devem demorar a sair.

— Legal. Eu fiquei de dar algumas das minhas coisas mais velhas para eles. O Alexy falou que adora tudo que é vintage, e o Armin ficou bem interessado quando eu falei das camisetas de super herói.

— Alguma coisa que sirva pra mim nessa sua grande doação? – Falei, sorrindo. Ele sorriu de volta, dando de ombros.

— Se você gostar de camisetas de super-heróis, pode ser que sim.

— Não exatamente, mas eu gosto de blusas masculinas para usar de pijama. Daquelas mais larguinhas nas quais a gente consegue se enrolar. Meio difícil arrumar alguma sendo deste tamanho, mas acontece às vezes.

— É, é verdade que é muito bonitinho quando vocês usam roupas de meninos. – Não entendi muito bem o olhar dele, mas na mesma hora sua expressão voltou ao normal e ele continuou. – Bem, eu fico feliz em compartilhar isso com os meninos. Encontrar aqueles dois...aliás, vocês me encontrarem foi tão surreal, sabe? Não sei se minha mente já digeriu tudo isso.

Dava para perceber o carinho, a emoção nos olhos dele enquanto ele falava dos gêmeos. Eu ficava feliz que os três pudessem ter aquela chance de se encontrarem e se conhecerem, como família que eram.

— Vou levar os dois a uma boate que eu gosto muito, a Moondance. Você conhece?

— Você acabou de falar grego comigo.

— Então, você vem com a gente na próxima, que tal? – Ele deu uma piscadinha, como se estivéssemos confabulando algo. Concordei, sorrindo. – Sabe, Anna, você foi uma peça chave no meu reencontro com meus irmãos e eu jamais poderei te agradecer o suficiente.

Enquanto eu negava com a cabeça minha suposta importância, senti um calor me prender pela cintura, quando Lysandre finalmente chegou. Ganhei um beijo na testa, enquanto Evan ganhou um olhar desconfiado. Mesmo assim, o sorriso doce que Evan tinha me dado antes continuava lá.

— Bem, Evan, esse é o Lysandre, meu namorado. Lys, este é o Evan, ele é o irmão mais velho dos gêmeos.

Os dois se cumprimentaram educadamente, mas eu não ousei encostar na mão de Lysandre que ainda me prendia. Eu sabia que ele só estava preocupado, vendo sua namorada conversando com um sujeito que até então lhe era estranho. Os gêmeos apareceram no portão e Evan se distanciou, acenando em despedida.

— Ele parece ser bem simpático. – Lysandre comentou, ao que eu concordei com a cabeça.

— Sim, mas eu não tive muita oportunidade para conhecê-lo ainda. Ele parece se dar bem com os gêmeos.

— Imagino que vamos ter mais chances de nos encontrar. Bem, ainda animada pro nosso encontro amanhã?

— É lógico. – Sorri, enquanto ele me puxava mais para si com o braço que ainda me cercava. Eu simplesmente me derretia inteira quando ele sorria daquele jeito pleno dele.

— Que bom. Eu preciso ir. Castiel está me esperando para ensaiarmos. Vejo você amanhã. – E com um beijo que eu esperava que nunca fosse acabar, ele se despediu e foi embora. Aproveitei e tomei meu rumo para meu próprio apartamento.

Eu queria chegar em casa, tomar um banho e esperar o jantar. Eu não esperava que encontraria Rosalya praticamente chegando no meu portão. Ela me viu e acenou, sorridente.

— Oi, Rosa. O que faz aqui?

— Oi. Eu passei na loja para dar boa noite pro Leigh e estava passando aqui justo quando você chegou. Ele estava justamente com a camisa que eu o dei no fim de semana.

— Ah, que ótimo. Ele gostou?

— Adorou. E eu o acho irresistível dentro dela. Não o suficiente para querer tirá-la.

— Muita informação, Rosa.

— Oh, você ainda está tímida, mesmo depois da nossa aula hoje?

— Bom, foi um dia interessante. Ainda estou em dúvida se meu momento preferido foi a falta de jeito da Delanay ou sua demonstração. – Cruzei os braços, retrucando a pontadinha dela. Claro que Rosalya riu da minha resposta.

— Obrigada pela atenção. Foi divertido, mas Delanay cumpriu seu serviço. O importante nos alcançou.

— É verdade, era a parte importante.

— Deixa eu te perguntar, você tem planos para o fim de semana? – Notei o sorrisinho no tom desinteressado dela, já imaginando qual era o plano.

— Vou sair com Lys amanhã de tarde, mas de resto estou livre. Por que?

— A gente podia dar uma das nossas voltinhas pelo shopping. A nova estação chegou e eu estou louca para comprar umas roupinhas para o verão.

— É, eu posso me dar ao luxo de uns mimos. E eu preciso comprar lingerie.

— Nossa, já estamos inspiradas depois da aula.

— Que? Claro que não. As alças dos meus sutiãs estão relaxando, é só isso. – Percebi que eu fiquei um pouco na defensiva, mas aquilo de ver conotação sexual em absolutamente tudo já estava me cansando.

— Bom, ficamos combinadas então. Te vejo amanhã, gatinha. – Ri e me despedi com um abraço, antes de finalmente conseguir entrar no meu apartamento e me livrar dos sapatos.

O cenário já era bem comum agora. Meu pai já estava começando a fazer o jantar, minha mãe encerrava seu trabalho antes de se juntar a ele e eu ia tomar água na cozinha, enquanto conversava com os dois.

— Chegou cedo hoje, meu bem.

— Ei, pai. Hum, o cheiro está ótimo. O que é?

— Vejo que estamos todos de bom humor hoje. – Minha mãe comentou antes que meu pai respondesse, ao que ele sorriu.

— Claro, vou passar mais uma noite com minhas duas super garotas. – Ri, enquanto ele mexia sua panela de novo. – Estou fazendo um simples carbonara.

Ele sorriu, sabendo que era meu macarrão favorito. Pedi licença para deixar minhas coisas no meu quarto, finalmente me sentindo leve depois desse dia tão tenso. Uma noite com meus pais era o tipo de programa que eu estava precisando.

Estávamos conversando tranquilamente, enquanto os talheres tilintavam contra os pratos. Meu pai comentava sobre sua viagem à Tailândia durante sua juventude, eu escutava atenta, pelo simples fato de nem sonhar que ele já tinha visitado o país.

— Eu nunca nem sonhei que você já tivesse visitado a Tailândia. – Comentei, pegando mais um pouco do macarrão.

— Tem muita coisa que você não sabe sobre nossa juventude, meu bem.

— E vamos deixar assim. – Minha mãe se apressou para completar, me fazendo rir. Ela decidiu trocar de assunto e me perguntou da escola. – E como vocês estão sobrevivendo a esse calor? As salas são bem arejadas, sim?

— É, mãe, as janelas deixam uma brisinha entrar.

Os dois aproveitaram a situação para começar a rir do meu uso do diminutivo e trazer à tona memórias da minha infância, como quando eu me apresentava e já dizia minha idade. Revirei os olhos, cansada de ser feita de chacota.

— Bem, até que hoje foi diferente. Tivemos educação sexual hoje. – Minha mãe parou de falar, enquanto meu pai engasgava com o ar que tinha entrado na sua garganta. – Foi interessante.

— Ah, é? O que aprendeu?

— Discutimos sobre doenças e anticoncepcionais. Ela até nos demonstrou como colocar uma camisinha masculina. – Era difícil falar aquilo sem rir, mas minha mãe me ajudava no meu joguinho, enquanto meu pai parecia a ponto de cavar um buraco no assoalho para esconder a cara.

— Bem informativo, deveras. E você, prefere qual método? – Ela perguntou, realmente curiosa agora. Meu pai realmente estava surtando.

— Lucia!

— Ora, você deveria agradecer a escola por fazer nosso serviço.

— Então era isso, o assunto misterioso que vocês queriam tratar comigo? – Sorri, finalmente acabando de comer. Ela concordou, insistindo na pergunta. — Bom, eu já tomo anticoncepcional para regular meu ciclo, mesmo que eu não confiaria nisso só. Eu só não acho que isso seja uma preocupação para mim nesse momento.

Eu juro que eu pude ver a cor voltar pro rosto do meu pai, que finalmente conseguia respirar de novo. Sorri, e minha mãe retribuiu, pegando minha mão.

— Fico feliz, meu bem. Saiba que se tiver qualquer dúvida, ou até medo, pode falar com a gente. Até se você quiser ir a um médico para se certificar antes de qualquer coisa. – Concordei, vendo meu pai pronto para explodir, mais uma vez. Sorri, finalmente o salvando e mudando de assunto.


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