Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 61
Quebrando o gelo


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas, voltei ^~^ Espero que gostem desse ♥



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   Nossa visita ao cemitério não demorou muito mais. Pouco depois de Nathaniel desmoronar, ele deu um jeito de se recompor. Soltou o abraço e secou o rosto com as palmas das mãos, a cabeça baixa. Perguntei com o olhar se ele estava realmente melhor, ao que ele deu um sorriso fraco e arrumou meu cabelo. Sorri.

   – Obrigado. – Ele falou num sussurro, finalmente tirando a mão da minha cabeça e erguendo o rosto. A ponta de seu nariz ainda tinha a coloração avermelhada, mas não comentei. Até porque, duvido que eu estava em uma condição muito melhor. – Eu vou embora...

   – Tem certeza? – Questionei, ao que ele sorriu fraco e virou o rosto de leve, apontando a ponte.

   – Eu não quero te atrapalhar mais.

   – Nath...

   – Eu sei, algum dia, quando quiser, você me conta. Eu fico feliz por você.

   Sorri, vendo ele secar o rosto mais uma vez e respirar fundo. Deixei ele passar na minha frente e sair antes que eu me juntasse a Lysandre. Respirei fundo mais uma vez antes de parar ao seu lado, observando a água correndo por baixo da ponte. Como que por instinto, Lysandre passou o braço ao redor da minha cintura.

   – Eu não vou cair, sabe?

   – É melhor prevenir que remediar. – Ele comentou, ainda sério. Sorri, satisfeita em vê-lo preocupado daquela forma. – Seus pais já devem ter acordado.

   – Eles sabem aonde eu estou.

   – Ainda assim, eu imagino que seja melhor lhes fazer companhia.

   Concordei, deitando a cabeça em seu ombro. Ele apertou meu quadril de leve, deitando sua cabeça na minha. O dia estava longe de acabar, mas só de saber que eu não estava sozinha, aquilo com certeza tornaria tudo mais leve. Ele me segurou mais uns instantes, antes de se afastar e me puxar pela mão, delicadamente.

   – Oh, bom dia, meu bem. – Fechei a porta, escutando meu pai colocando sua xícara na mesa de centro. Tomar café na sala era sinal de mãe ainda dormindo. Sorri fraco.

   – Ei, pai. – Dei um beijo nele e me sentei ao seu lado. – Mamãe ainda está dormindo?

   – Sim, ela demorou a dormir ontem. Onde você estava?

   – Com Nathaniel. A gente foi...

   – Está conservada? – Demorei um minuto pra entender que ele estava falando da lápide. Concordei com a cabeça. Na verdade, tinha muito tempo que eu tinha parado de prestar atenção àquilo, mas num geral ela ainda estava inteira. – Que bom.

   – Pai. – Ele finalmente olhou para mim, os olhos normalmente aguçados hoje cobertos por uma névoa de cansaço. Tristeza. – Eu sei que não falo sempre, mas eu te amo. Muito.

   – Eu também te amo, filhota. É por isso que às vezes discordamos, mas sabe que só nos preocupamos. Até demais, de vez em quando.

   Momentos em família como aquele eram raros, ainda mais quando éramos só nós dois, mas nada naquela hora poderia ser mais certo. Não demorou para minha mãe acordar, e como esperado, ela estava péssima.

   Pelo dia, ela fez o máximo para se manter ocupada, mas lá pelas quatro da tarde todo o trabalho que ela tinha que fazer já estava pronto, e as horas se arrastavam. Confesso ter ficado preocupada quando a vi revirar o quarto cheio das coisas de Viktor, só para em seguida se trancar em seu ateliê.

   – Ela se trancou. – Comentei, cortando alguns vegetais para meu pai, sentada na mesa. Meu pai estava tão concentrado na panela que nem se deu ao trabalho de me xingar por estar deixando o tampo suado com minha bunda como ele normalmente faria.

   – Ela precisa de um tempo, meu bem. Você também gosta de ficar sozinha quando está tristonha. Corte mais fino.

   – Eu sei, mas eu não tranco a porta.

   – Ela deve estar fazendo algo que não quer mostrar. Amanhã vai estar tudo melhor.

   – É, eu espero que sim. Ela não tem nada cortante lá dentro, né?

   – Anna, sua mãe não faria uma coisa dessas, independente da situação. Ela te ama, meu bem.

   – Eu fico preocupada, pai. Desculpa.

   – Eu sei, meu bem, mas dê um tempo a ela, sim? Enquanto isso, continue cortando e me conte como foi a festa de ontem.

   – Foi normal, eu acho. A gente brincou de esconde-esconde, depois jantamos pizza...Conversamos por bastante tempo.

   – E algum dos meninos falou qualquer coisa da sua roupa?

   – Não, eu não estudo com um bando de trogloditas. E Nathaniel estava lá, ele não deixaria ninguém me desrespeitar.

   – Faz ele muito bem.

   – Enfim, depois a gente veio embora. Ele me deixou aqui e foi para casa.

   – Ele está melhor? Digo, depois de se mudar?

   Suspirei. Nathaniel ainda era bem resistente a reclamar de qualquer coisa, mas eu o conhecia bem. Limpei a faca com os dedos e peguei outro tomate antes de responder.

   – Só de não ser feito de saco de pancada ele já está melhor. Acho que ele se sente sozinho no apartamento, no entanto. Ele arrumou a Branca, mas eu percebi que ele tenta passar mais tempo com a Ambre.

   – E ela?

   – Pela primeira vez na vida eu tive dó dela. Descobrir aquele inferno dentro de casa, ou pelo menos parar de fingir que não sabia, não foi fácil para ela. Claro que ela me culpa, mas eu nem reclamo.

   Meu pai perguntou um pouco mais de mim e da minha vida na escola, enquanto ia preparando a janta. Claro que acabei omitindo um monte de coisa, o que de certa forma me fazia sentir mal, mas era mais forte que eu. A ideia de que meu pai poderia acabar interferindo no meu relacionamento ou qualquer coisa do tipo me apavorava.

   O dia finalmente acabou, minha mãe voltou para perto de nós e na manhã seguinte, ela voltou ao que quer que fosse. Pelo menos ela saia ocasionalmente para ir ao banheiro e comer algo.

   Logo, quando a segunda feira chegou, a nossa convivência já tinha voltado ao normal. Pelo menos em parte. Ainda tinha todo o mistério dela, mas agora ela saiu para o trabalho e me deixou na escola.

   Foi a primeira vez desde a sexta que eu voltei a sentir aquele pânico leve. Claramente a atitude de Lysandre na festa tinha deixado o clima esquisito na festa, e não fui só eu quem senti. Se alguém me questionasse algo, eu não ia saber lidar.

   Respirei fundo, ajeitando a mochila e entrando no corredor. Pelo movimento, o primeiro sinal devia ter acabado de tocar. Passei rapidamente no meu armário e peguei meu material antes de correr para a sala de História. Tive que me sentar com Lysandre, no fundo da sala, já que Melody tinha tomado o lugar do lado de Nath e Rosa já estava com Alexy. Eu fiquei meio hesitante por não saber se era uma decisão sensata, mas me faltou opção.

   – Oi. – Falei timidamente. Ele percebeu e continuou com a cabeça baixa, sorrindo para mim. Faraize entrou pouco depois e iniciou sua aula. Ou pelo menos tentou. Eu chegava a ter pena de como ele não tinha moral nenhuma com os alunos. A conversa paralela logo começou e eu aproveitei para falar com Lysandre. – Está tudo bem?

   – Comigo? Claro. – Ele voltou a olhar seu caderno. Suspirei. Na escola sequer parecia que ele tinha estado comigo no sábado.

   – Certeza? Parece que tem algo de errado hoje.

   – Você não tem culpa do meu estado de espírito. Eu só continuo incomodado.

   – Eu já te expliquei, mas se tiver algo que eu possa falar para apagar essa ideia definitivamente...

   – Eu acho que sou eu quem...

   – Deveria iniciar uma briga em plena aula de história? Lys, você nos viu juntos depois da festa. Brigar não é de seu feitio.

   – Talvez você pudesse se surpreender. – Ele comentou, agora menos tenso. Sorri.

   – E talvez isso me atraísse um pouco mais. – Sem perceber exatamente meu movimento, coloquei minha mão em sua nuca e sorri para ele. Quando seu olhar encontrou o meu, toda a tensão tinha se esvaído e eu tive a certeza de que nos entendíamos completamente. Eu não estava nem lembrando das outras pessoas, mas ele pegou meu pulso e pôs minha mão sobre a mesa, cobrindo-a com a sua.

   Era aquilo. Nossa relação secreta não era uma questão de medo nem nada. Era simplesmente nosso. Ninguém tinha nada a ver com aquilo, e vivíamos mais plenamente só nós dois.

   Quando a aula acabou, eu simplesmente precisava mais dele. Por sorte, nós dois tínhamos horário vago, logo a gente combinou de ir para algum lugar discreto.

   Deixei a sala e fui guardar meu material. Alguém esbarrou em mim com força, mas Lysandre me segurou antes que eu caísse. Peggy se virou para se desculpar, quando nos viu, ele ainda me apoiando.

   – A última vez que eu vi alguém distraído assim foi meu reflexo. – Lysandre soltou, quase sem pensar. Acabei rindo, apanhando meu caderno no chão. Ela concordou, ainda nos encarando.

   – É, me distraí mesmo, desculpa Anna.

   – Tranquilo. – Abri o armário, e ela continuava me olhando. Bati a porta e pedi licença, ainda notando o sorrisinho danado dela. – Até mais, Peggy.

   Ela acenou rapidamente e finalmente parou de nos vigiar. Avisei Lysandre que precisava passar no banheiro e ele aproveitou para ir guardar o próprio material. Claro que o banheiro tinha que estar ocupado pelo trio parada dura.

   – Eu o dispensei logo, ele não era bonito. – Li comentou, retocando o batom, como de costume. Charlotte acabou de ajeitar seu cabelo e completou a frase da amiga.

   – Já te disse, um 3 a gente aceita, um 2 você nem sonha.

   – Não precisamos de outra Bia.

   Tentei ao máximo ignorar a conversa idiota das três e simplesmente sair do banheiro assim que tivesse acabado. As três estavam tão focadas que nem me viram saindo. Deixei para lavar as mãos na pia do vestiário. Corri até lá e voltei correndo em seguida. Lysandre percebeu minha falta de fôlego.

   – Tudo bem?

   – Eu tive que deixar o banheiro e ir no lá de fora. Ambre e suas amigas estavam com alguma discussão inútil sobre notas e foras.

   – Ah, eu sei sobre isso. Ambre era muito interessada em Castiel, ela explicou que ele tinha a nota máxima de 5 baseado nos critérios delas.

   – Sério? Credo.

   A partir dai nossa busca pelo lugar discreto começou. A biblioteca normalmente vazia tinha uma Bia bem satisfeita lá dentro. Ela me viu e perguntou da festa, ao que eu simplesmente disse que a esperaria na próxima. Ela comentou que gostaria de nos mostrar o show também antes de sair. Lysandre me olhou, parecendo surpreso.

   – Ela parece bem mais sensata.

   – A presença de Ambre é tóxica. Fez bem pra ela se livrar da dita cuja.

   Ele concordou, segurando a porta para mim. A diretora parou para nos perguntar de Melody, mas como não a víamos desde a aula logo fomos deixados em paz. Não demorou para finalmente encontrarmos paz, subindo a escadaria para o segundo andar.

   – Parece que é o único lugar vazio.

   – É arriscado ficarmos aqui. Alguém poderia chegar.

   – Eu sei, mas...achei quer seria romântico voltarmos ao cenário do nosso primeiro beijo.     

   – Você é um amor, sabia?

   – Curioso que eu ia dizer a mesma coisa de você. – Aposto que alguém que nos visse naquele momento acharia que éramos um casal meloso, e talvez até fosse verdade, mas eu não me importava. Ele me puxou pela cintura para me beijar, dando dois passos e me prendeu contra a parede, ainda com os lábios no meu.

   Se aquilo não fez meu sangue ferver e eu querer agarrá-lo ali mesmo. Bom, convenhamos foi quase isso que eu fiz. Puxei-o pelo cabelo, fazendo-o apertar ainda mais meu quadril. Eu nem sei o que estava pensando, quando ouvi o engasgo seguido pelo chamado desesperado.

   – Jovens! Isso é uma escola. Contenham-se. – Cheguei a empurrar Lysandre, enquanto ele ajeitava seu casaco, quase tão sem graça quanto eu. Aliás, Faraize parecia ser o mais encabulado de nós todos.

   – Desculpe, senhor. Já vamos sair. – Lysandre comentou.

   – Eu recomendo saírem da escola antes de exercerem esse tipo de atividade. – Eu estava a ponto de cair na gargalhada, quando Lysandre se desculpou mais uma vez e me guiou escada a baixo.

   Acabei rindo, abafando o som com minha mão, mas ele não se incomodou. Apenas continuou me levando com ele para longe.    


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