Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 51
Distração Artística


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas ♥ Depois de um certo tempo, consegui aparecer aqui. Tava toda agarrada em faculdade, mas passou ^~^ Enfim, aproveitem ♥



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    Lysandre se afastou devagar, trazendo minha mente de volta ao corredor da escola. Ele sorria, a mão ainda no meu queixo. Sorri para ele, abaixando um pouco o rosto, simplesmente para esconder minha falta de ar, causada pelo beijo demorado e pela euforia da conquista. Ai, tinha sido tão melhor do que eu tinha sonhado antes.

    – Já tinha um tempo que eu queria fazer isso. – Ele comentou, tirando a mão do meu queixo e subindo-a para meu cabelo, prendendo-o na minha orelha. Consegui olhar para cima e concordar, ainda sorridente.

    – Acredite, eu também. Talvez eu só não soubesse, mas eu queria muito. – Ele riu. Foi ai que eu reparei que, apesar da iniciativa e da maravilha de língua que ele tinha, Lysandre também estava nervoso. – Eu só tive medo de...bem, de ser rejeitada.

    – Eu já te disse antes. Ninguém é tão maravilhosa quanto você.

    – Você quer mesmo me matar, não é? – Sorri, tímida. Ele parecia satisfeito. Segurou meu rosto de novo e me deu outro beijo, mais rápido. O sinal do interfone tocou de novo, me assustando. – É mesmo, a gente tem que ir.

    Eu ia correr escadaria abaixo e chegaria voando dentro do ginásio, mas Lysandre segurou meu braço e impediu que eu saísse correndo destrambelhada como sempre. Olhei para ele, esperando.

    – Eu só quero...esclarecer nossa relação. Digo, eu entendo se você achar que precisamos de um tempo, ou...

    – Eu não me incomodo em pensar que somos um casal, só que...Eu não estou acostumada com meio mundo sabendo que eu estou com alguém e...

    – Quer que nos encontremos em segredo?

    – Bem, é. Eu não sei explicar, mas, pelo menos por agora, se não for te chatear.

    – Tudo bem, se vai te deixar confortável. – Sorri, grata. Era infantil, mas eu tinha que me certificar de que não ia surtar caso alguém decidisse tirar sarro da nossa cara. E não por mim. Eu sobrevivi a muita coisa. Bullying podia ser só mais um tropeço. Eu não queria é que Lysandre fosse pego nesse tiroteio.

    Ele finalmente desceu as escadas comigo e demos de cara com o sorriso malicioso no rosto do cabelo azul. Resmunguei, enquanto ele começou a rir.

    – Alexy, para. Fica quieto.

    – Desculpa, mas eu sou muito sortudo. Justo eu pra te flagrar bem no ataque da naja.

    – Não aconteceu nada.

    – Como não?

    – Alexy, cala a boca e me ouve. Eu só te conto porque você viu, mas é pra ficar quieto. – Lysandre soltou minha mão, sério. Alexy percebeu e tirou o sorriso do rosto, escutando. – Ninguém tem que ficar sabendo. Agora, circulando.

    Alexy foi antes e só depois eu e Lysandre chegamos ao ginásio, onde a diretora já tinha começado a falar. Ainda bem que tinham deixado a porta aberta, senão teriam nos visto juntos.

    Reparei o senhor negro perto da senhora, numa pose relaxada e uma garrafa d’água na mão, apenas escutando calado e com os olhos fixos nos alunos. Nathaniel me achou e esticou o braço, me puxando para seu lado. Lysandre foi para perto de Castiel, que ainda estava bem próximo de mim.

    – Eu gostaria então, de vos apresentar o mestre que nos guiará nesse novo evento, o professor Patrick. Ele é professor de artes plásticas e visuais na Austrália e um dos maiores artistas da atualidade. – Aplausos de todo lado, aos que ele dispensou com um gesto de mão.

    – A senhora está me dando mais crédito do que eu mereço. Prazer, crianças. Eu espero que eu possa trazer para suas vidas o amor pela arte que vive dentro de mim.

    A discussão foi sobre o evento de artes e em como teríamos bastante tempo com Patrick para discutir nossas ideias. Eu estava preocupada com outra coisa, no entanto. E parecia que ele também. Sorri, jogando o cabelo no rosto para voltar a me concentrar.

    Depois que nos dispensaram, a conversa encheu os corredores. Falei um pouco com as meninas sob o olhar assassino de Melody quando me viu com Nathaniel, rindo. Nem lembro qual tinha sido o assunto, mas ele reparou também e parou.

    – Bom, eu acho que vai ser interessante. – Violette comentou, Priya concordando com ela no mesmo minuto. Sorri. Parecia que Priya influenciava Violette de um ótimo jeito. Ela tinha menos medo de se expressar, mesmo que ainda fosse bastante tímida.

    – É, vamos esperar até sabermos com detalhe o que vai acontecer para criarmos as expectativas. – Cruzei os braços, ouvindo o sinal do fim de aula. – Ah, eu vou embora. Ando precisando ir dar uma treinada.

    – Querendo emagrecer, é?

    – Peggy, eu passei algum tempo em casa proibida de fazer tudo, desde o hospital. As gordurinhas não respeitam isso. – Ela riu e acenou em despedida, enquanto eu acenava em resposta e ia embora. Não vi mais Lysandre, o que foi uma pena.

    Passei na academia, Nathaniel me encontrou por lá algum tempo depois. Acabamos treinando juntos. Ele me deixou em casa e foi embora, enquanto eu subia para tomar meu merecido banho. Mandei uma mensagem para Lysandre antes de entrar no chuveiro, deixando o celular na cama.

    Passada a euforia do momento, eu estava começando a pensar direito. Alexy tinha prometido silêncio, mas Rosalya já deveria estar sabendo. Ela não tinha problema. Pensei em Nathaniel. Pela primeira vez ele não era o primeiro a saber algo sobre o que eu fizera. Desliguei o chuveiro e deixei de lado. Ninguém saber era ninguém saber e ponto.

    As mensagens de texto com Lysandre nunca me pareceram tão naturais quanto naquela tarde. Ficamos conversando até a hora de dormir, o único horário que eu aceitei largar o celular. No dia seguinte, deixei minha mochila na sala e fui atrás de Nathaniel. Eu queria agir da forma mais habitual possível.

    – Bom dia, querido.

    – Oi, linda. Que roupa é essa? – Ele riu, guardando uma pasta no arquivo. Dei de ombros. Eu tinha que concordar que não era meu visual mais bonito, mas eles tinham nos dito que começaríamos a mexer com as peças da exposição da escola, ou seja, bagunça. A camiseta com legging ia dar pro gasto.

    – Não enche vai, eu estou pronta para manchar toda.

    – É, entendi. Bom, eles vão explicar melhor em sala de aula, então vamos esperar para ver. – Ele acabou de guardar seus arquivos e foi comigo para a sala de aula, as mãos nos meus ombros.

    Rosalya me obrigou a me sentar com ela, Alexy na cadeira de trás. Nathaniel foi para perto de Armin. Parece que os dois estavam ficando bem próximos. Sinceramente, eu achava que faria bem para Nathaniel ter um grande amigo além de mim. A gente tinha dependido um do outro durante tempo demais.

    – Presta atenção, garota. – Rosalya me deu um tapa nas costas, fazendo eu girar meu corpo para frente de novo. – Anda, eu quero saber da história toda.

    – Que história?

    – Não se faz de sonsa. Lysandre, lógico. Numa noite está me dizendo que seu pai te deu um flagrante e foi tudo pro brejo, agora Alexy me diz que te pegou aos amassos no corredor.

    – Alexy, foi um beijo. Exagerado.

    – Amiga, você não viu por fora.

    – Fica quieto.

    – E você para de fugir do assunto. – Rosalya me deu um outro tapa. Suspirei. Por sorte o professor ainda não estava em sala, então o barulho abafava nossa conversa.

    – A gente se acertou, é isso. Que que tem?

    – Como foi o beijo? Detalhes, mulher, anda. – Alexy me empurrou, se esticando todo pra ficar entre nós. Rosalya ficou me encarando também, só na espera. Suspirei, afundando na cadeira.

    – Ele é maravilhoso. – Sorri, meus dois amigos começando a rir da minha carinha de tonta. – Sério Rosalya, se for de família eu entendo porque você ama o Leigh. Meu Deus.

    – Ih, garota, apaga esse fogo. O Leigh é perfeito em diversos aspectos.

    – As duas encerrem a competição de melhor irmão e deixa a Anna continuar.

    – Não tem nada além disso. A gente se beijou, melhor momento da minha vida, passou.

    – Só? Anna, você não me enrola. – Alexy ia me xingar, mas Faraize entrou na sala e calou todo mundo. Agradeci mentalmente meu querido professor.

    – Bom dia, meninos. Sentem-se, precisamos começar logo a nos organizar. A senhora Delanay vai ajudar com os preparativos também. Para essa primeira parte, eu preciso que vocês se decidam onde vão trabalhar. Teremos algumas oficinas, mas não teremos vagas para todos. Eu sinto informar que nem todos ficarão onde planejavam.

    – Com licença, Faraize. – Delanay finalmente chegou na sala, Faraize a recebeu com um gesto tímido. – Estava falando das oficinas, sim? Vocês poderão escolher entre fotografia, pintura, costura, escultura em madeira e vídeo. Escolham sabendo que podem cair em outro lugar.

    Alguns minutos de bagunça dentro da sala. Alexy e Rosalya queriam de todo jeito ficar na costura. Pensei por um minuto. Costurar com certeza não era minha habilidade. Pintura e escultura também não. Vídeo só se eu fosse fazer um roteiro. E fotografia...É, talvez fosse o menos pior. A maioria provavelmente procuraria a oficina de pintura mesmo.

    Anotei meu interesse no mesmo papel que Rosalya e Alexy. Delanay recolheu as folhas e foi conversar com Faraize. Todo mundo esperava ansioso. Por mim, desde que eu não tivesse que lidar com ninguém irritante, eu ia ficar bem.

    – Bom, tentamos dividir os grupos mais harmônicos. E tentamos atender à maioria. Você só pode trocar se algum amigo seu concordar. Obrigado. Bem, vamos começar.

    Ele começou por recitar o grupo de fotografia. E infelizmente meu nome não estava lá. Nathaniel fez um coraçãozinho para mim, tentando me consolar. Ri, agradecendo. Os grupos continuaram, e nada de escutar meu nome. Armin congelou quando Ambre ficou perto dele, de novo.

    Pelo menos eu também não fiquei com vídeo. Ou seja, cai dentro da escultura, junto com Lysandre. Pelo menos isso. Delanay acabou de anotar os grupos e pediu ajuda para organizarmos o ginásio. Na verdade tínhamos que levar o equipamento do ginásio para as salas onde trabalharíamos.

    Saímos em grupos. Peguei o caixote de tintas e pincéis no chão e levei para a sala de pintura. Peggy me seguia com o cavalete e Iris com o portfólio. Deixei-as lá arrumando o espaço e fui buscar mais equipamento. Achei Lysandre com uma câmera imensa nos braços e a cara preocupada.

    – Precisando de ajuda, Lys? Parece pesado.

    – Ah, o problema é que é o mais caro e eu não posso esbarrar em nada. Aceito a ajuda, só abrindo as portas para mim.

    – Tudo bem, para onde vamos?

    – Sala dos professores. Faraize mandou deixarmos lá até começarem a filmar mesmo. Medo de quebrarem.

    – Ah, tudo bem. Vem. – Fui andando na frente, aproveitando o corredor vazio para lançar uns olhares indiscretos para ele. Só acho que ele não viu direito. O rostinho dele parecia tão preocupado. Abri a porta da sala para ele e esperei ele passar para entrar em seguida.

    – Pronto. Aqui é bem quietinho, hein?

    – Uhum. Aliás, bom para me dizer o que está te afligindo.

    – Oi?

    – Você parecia estar bem feliz ontem, mas hoje...

    – Não é nada. É coisa minha. – Ele deu de ombros, voltando a ajeitar a câmera em cima da mesinha de centro.

    – Tudo bem, então. – Aproveitei a porta fechada e me abaixei perto dele, dando um beijo perto da sua orelha. Ele me olhou. – Ainda assim, se precisar de mim...

    – Eu sei que posso contar com você. – Ele sorriu, agradecido, pondo meu cabelo atrás da minha orelha. Acho que ele gostava de fazer aquilo. – A gente devia sair.

    – Vamos. – Deixamos a sala e voltamos ao ginásio. De lá eu acabei me perdendo dele de novo. Bóris estava à beira de um colapso nervoso, procurando a diretora, então me propus a ir busca-la. Saí andando pela escola atrás da senhora. Enquanto isso, os alunos se moviam feito formigas pelos corredores.

    Nas salas de aulas montaram as oficinas de costura e pintura. Na biblioteca a oficina de vídeo. A de fotografia teve que ficar no porão, o único lugar escuro o suficiente. Castiel, Kentin e Nathaniel tinham ficado responsáveis pela montagem. E a tensão era palpável.

    – Fica quieto, Castiel. Ei, Anna. – Nathaniel cortou a resposta ácida que viria assim que me viu.

    – Vocês viram a diretora?

    – Não.

    Dei no pé o mais rápido suficiente e fui embora. O que eu menos queria era ter que lidar com briga daqueles dois. Finalmente achei a diretora com Delanay, no jardim, a oficina de escultura. Ela aceitou ir ao encontro de Bóris e me deixou em paz. A professora pediu para eu reunir os alunos da minha turma numa sala. E mais uma vez eu assumira a missão de garota dos recados.

    Achei os gêmeos saindo do banheiro e simplesmente resmunguei a mensagem para eles. Alexy entendeu e saiu arrastando o irmão. Achei Rosalya e algumas das meninas no corredor e avisei também, procurando o resto dos meus colegas. Nathaniel apareceu no alto da escadaria.

    – Temos que ir para a sala de aula. – Ele comentou. Concordei.

    – Eu sei, estava avisando os meninos.

    – Ah, eu também. Todo mundo já deve estar lá. Vamos.

    Na sala de aula, Faraize confirmou os membros de cada oficina e nos agradeceu pela ajuda no evento. Ele então explicou que o tema dos nossos trabalhos seria explicado pelo senhor Savin e que estávamos liberados mais cedo. Agradecemos uns aos outros e tomamos o rumo de casa.

    Lá ia eu, com meus fones, cantarolando o que quer que estivesse tocando, quando me puxaram para perto de uma árvore do parque. Assustei, vendo Lysandre sorrindo. Sorri também, passado o susto.

    – Ei. O que foi?

    – Eu quis te ver. – Ele comentou. Lá estava aquele arzinho preocupado. Tive que me lembrar que ele já tinha me dito que não queria falar sobre.

    – Pois aqui estou eu.

    – Eu te vi vindo para casa e pensei que quase não nos vimos hoje.

    – É, eu fui atrás do Nath depois que cheguei na escola. Não quis dar na cara logo no primeiro dia.

    Ele concordou, se oferecendo para me deixar em casa. Ele fez menção de pegar minha mão, mas desistiu da ideia. Ainda assim, a companhia por si só me deixou bastante feliz. Nos despedimos no portão do parque e eu subi para meu apartamento.

    Logo no dia em que íamos começar a trabalhar, eu acordei atrasada. Minha mãe ainda queria me xingar pela minha escolha maravilhosa de figurino. A camiseta velha do meu pai e a calça jeans manchada iam dar para o gasto. Sai correndo enquanto ela gritava e fui para a escola.

    Eu tinha que encontrar Savin para aprender mais sobre o bendito tema, mas nem isso eu achava. As salas estavam vazias, ninguém pelos corredores. Vi Delanay passando pela porta do ginásio e a segui, dando sorte. Lá estava o professor, nos dando bom dia e agradecendo a confiança da diretora. E então, o tema.

    – Cada oficina vai tratar de um dos pecados capitais. Algumas das mães vieram nos ajudar também, obrigado senhoras. – Era a mãe dos gêmeos e da Kim. Sorri, enquanto as duas acenavam. Alexy estava todo orgulhoso da mãe.

    Fomos para nossas respectivas oficinas. Eu estava até tranquila, até Savin passar rapidamente pelo jardim, nos ensinando a trabalhar com os instrumentos e a madeira. Ia ser um total desastre.

    – Do que vamos tratar? – Kim perguntou, Delanay esperando para escrever num papel. Luxúria simplesmente estava fora de cogitação, ainda mais com Lysandre lá olhando na minha cara. Eu não estava pronta para aquele tipo de insinuação, obrigada. Gula me parecia difícil, assim como avareza e ira. Acabamos por ficar com preguiça.

    E mãos à obra. Kim e Lysandre pareceram se dar bem com tudo, mas eu e os outros estávamos meio perdidos. Eu ainda mais. Nem ideia eu tinha do que fazer. Suspirei. Preguiça. Eu era preguiçosa, ia conseguir pensar em algo.

    E até pensei. A ideia era só fazer uma figura humana deitada, o problema era a execução. A tesoura de madeira parecia agarrar em certas partes, independente do que eu fizesse. E meus nervos estavam vindo à tona.

    – Como estamos por aqui? – Era a mãe dos gêmeos. Sorri, tentando disfarçar que meu trabalho estava uma bela bosta.

    – Hum, progredindo.

    – Que bom. Pelo que Alexy fala, você é bem criativa. Imagino que esteja se dando bem. – Sorri, agradecendo em voz baixa. Por que ninguém tinha feito uma oficina de contos? Que saco.

    – É, dessa vez acho que é um pouco óbvio, mas vai funcionar.

    – Se quiser ajuda, o professor Savin está no ginásio. – Agradeci e esperei ela ir falar com mais alguém. Peguei meu toquinho de madeira, decepcionada.

    Fui ver o artista no fim das contas. Ele estava conversando Peggy, elogiando a ideia dela. Ela passou por mim com um sorriso satisfeito. Olhei meu toquinho de novo, ainda mais chateada.

    – Pois não? Anna, sim?

    – Ah, é senhor.

    – Patrick, por favor. Odeio formalidades entre artistas. No que te ajudo?

    – Eu sinceramente também não sei. Parece que eu definitivamente estou numa tragédia.

    Botei meu toquinho de madeira em cima da mesa dele e esperei que ele fosse rir da minha cara. Para minha surpresa, ele pegou a peça e avaliou com os olhos mais cuidadosos possíveis. Esperei o que ele ia dizer.

    – Só me parece que não está fluindo muito bem com as curvas. Isso não é problema. Mude.

    – Mudar para o que?

    – Você vai pensar em algo, Anna. Quando um artista quer passar uma mensagem, ele acha formas de se expressar apenas com o que tem. E se algo não funciona, ele improvisa.

    – Acha que isso tem salvação?

    – A arte tem várias faces, vertentes. É isso que a torna mundial.

    A ideia que me surgiu não me parecia excelente, mas ia funcionar. Agradeci a ajuda do meu professor e voltei ao jardim, um pouco menos deprimida. Infelizmente, a tesoura continuou sendo minha inimiga. Olhei ao redor. Todo mundo estava progredindo rápido. Inferno. Lysandre me viu e largou sua bancada, vindo até mim.

    – Tudo bem?

    – Não, eu quero morrer. E morrer de novo. E matar essa porcaria comigo.

    – Calma. Deixa eu ver, vai. – Ele me devolveu a tesoura, que eu tinha jogado do lado da madeira, e esperou para ver como eu ia me mover. Plateia não deixava nada melhor, mesmo que fosse Lys. Ele parou atrás de mim e endireitou minhas mãos num ângulo com a madeira. – Ela escorrega mais fácil assim.

    Ok, eu não devia começar a pensar bobagem só com aquilo. Eu quase pensei no filme do Ghost, mas Alexy tinha razão, eu era criativa. E minha imaginação fértil não estava me ajudando ali. Eu nunca ia entender como ele tinha aquele físico definido e firme, e menos ainda o cheiro delicioso.

    “Concentra, sua safada. Isso é hora de pensar nisso?”

    Durou por uns dois segundos. Ele foi me ajudar a fazer outra ponta e lá estava eu de novo, imaginando que ele estava subindo as palmas das mãos pelos meus braços. Não parece muito, mas acredite, era bem mais gráfico na minha cabeça. Acabei por dispensá-lo, antes que eu começasse a suar e a ficar vermelha. Ele me deixou e voltou a fazer o seu.

    Subi um pouco as mangas e voltei a cortar, agora bem mais jeitosa. E ainda com aquele calorzinho gerado pela minha cabeça.


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Notas finais do capítulo

Beijos no core, meus queridos :3