Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 39
Acertos


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas ♥



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Brigar com Nathaniel era como brigar comigo mesma. Não tinha nada meu que não me lembrasse dele, mas eu ia sobreviver. Ou assim eu esperava. Quando o caso já estava para completar duas semanas, aconteceu a pior das coisas.

─ Anna. Anna. Espero que esteja muito feliz agora. ─ Já comentei que minha paciência com Melody estava cada dia menor? É a mais pura verdade. Quando ela chegou batendo pé para mim e falando em voz alta, eu fiz de boba. ─ Anna.

─ O que foi, Melody? Que foi que eu fiz agora?

─ Ainda não o viu?

─ Quem é ele?

─ Não se faz de desentendida. Nathaniel.

─ Não estou me fazendo de desentendida, estou fazendo um favor que ele mesmo me pediu, que é esquecê-lo. Agora, para você estar nesse estado...Não aceitaram mais um acordo?

─ Anna, minha nossa. ─ Iris. Finalmente alguém que saberia explicar a situação. Ela estava ofegante quando parou de frente para mim e soltou a bomba. ─ Nathaniel brigou com o pai e...

─ Brigou? E ai?

─ Vai precisar ver, é terrível. ─ Também já comentei que nove anos de história não podem ser enterrados assim, sim? No mesmo instante meu sangue gelou e eu me levantei, passando pelas colegas de classe com os passos rápidos. Grêmio. Escancarei a porta e esperei ele se virar para mim. Cobri a boca com a mão que estava livre, enquanto a outra apertava mais ainda a maçaneta da porta.

─ Oh, minha nossa.

─ Achei que viria me ver.

─ Como ele consegue fazer isso? ─ Se ele ainda queria distância, não demonstrou quando eu soltei a porta e fui até ele, segurando seu rosto com cuidado. Eu nunca tinha visto um olho roxo de verdade, muito menos tão de perto. ─ Está péssimo.

─ É, eu sei. Não precisa chorar, no entanto.

─ Desculpa, é que... Isso é tudo culpa minha, meu Deus.

─ Agora entende, sim? Bom, um pouco tarde. Licença.

Não foi hostil, foi só envergonhado. Eu conhecia Nathaniel o suficiente para saber que ele era orgulhoso. Ele se envergonhava por ter errado comigo, mas no fundo ele não queria dar o braço a torcer. Deixei-o sozinho e fui lavar o rosto, respirando fundo. Na saída do banheiro, esbarrei nele.

─ Dá pra olhar antes?

─ Bom dia, Castiel.

─ Tudo bem?

─ Oh, oi Lys. Não viram Nathaniel ainda?

─ Graças a Deus, não. Chorando pelo idiota de novo?

─ Castiel, por favor.

─ É sério. Mais ainda.

─ O pai dele o serviu no jantar?

─ Não, só fez uma maquiagem especial de tinta preta no olho dele.

Castiel ficou sério. Esperei que fosse só o choque inicial e que logo em seguida ele estaria se dobrando de rir, mas a fase do susto não passou. Quanto a Lys, notei que ele apertou os lábios rapidamente antes de voltar ao semblante tranquilo. Cruzei os braços e suspirei.

─ Okay, eu vou ter uma conversa com aquele cara. ─ Castiel jogou a mochila para Lysandre e tirou a jaqueta, saindo pelo corredor. O primeiro sinal tocou.

─ Onde ele vai? O que Nathaniel menos precisa é de alguém enchendo o saco.

─ Por mais inacreditável que isso vá soar, acredito que Castiel vai tentar ajuda-lo.

─ Tem um coração lá dentro?

─ Em algum lugar, sim.

Como Lysandre conseguia me fazer rir até nos momentos mais críticos, não sei. Sei que aquilo me confortava muito, no entanto. Ele sorriu de leve e acenou para que fôssemos andando para a sala de aula. Segui, curiosa com o plano de Castiel.

Nathaniel sumiu depois do almoço, e quando eu perguntei para Castiel o que ele tinha sugerido, ele me pediu para esperar o resultado antes de tudo. Não melhorou nem um pouco minha curiosidade, e adivinhe só quem odiava ficar curiosa? Rosa teve que me comprar uma barrinha de chocolate para controlar meus nervos.

─ Então, não estão mais tão brigados?

─ Por parte dele, estamos. Eu conheço ele, Alexy. Enquanto as coisas não se acertarem, ele não vai assumir erro algum. Bom, espero que não demore muito.

─ Bom, vamos descobrir amanhã, provavelmente. ─ Rosalya comentou, com o olhar perdido numa mesa vazia da sala de aula. Fechei um pouco os olhos, deixando bem óbvio que eu estava suspeitando, muito. Ela riu e falou rapidamente. ─ Só deixe comigo, estou pensando em algo excelente.

─ Só vou te dar esse crédito porque me ajudou com o cabelo. Aliás, fizeram um ótimo trabalho. ─ Peguei a primeira mecha e a enrolei no dedo, pensativa. Para conseguirem arrumarem o meu estrago, Alexy sugeriu um daqueles cortes onde a parte de trás é mais curta e vai crescendo a medida que se aproxima do rosto. Rosa assumiu a tesoura e me deixou linda.

─ Bom mesmo, você me deu trabalho. E eu só quero deixar seu rosto seco por mais de cinco minutos.

─ Obrigada, linda.

Qualquer coisa que me desse esperança parecia algo bom para se prender. Sorri para ela, agradecida, e deixei a mesa do almoço um pouco antes. Eu tinha feito aquilo pelos últimos dias, na esperança de encontrar Nathaniel por acaso pelo corredor e conferir se algo tinha mudado, mas hoje ele não estava nem por perto.

Foram exatamente mais três dias quando eu estava sentada no pátio e Rosa se aproximou, muito cuidadosa para o normal. Franzi o cenho, já esperando o que ela diria.

─ Que bom que eu te encontrei antes de ir embora. Tem alguém querendo falar com você.

─ Tudo bem. ─ Ela acenou para alguém no fundo do pátio e me deixou sozinha. Eu devia saber que em algum momento isso aconteceria, mas confesso que minha estabilidade emocional não estava das melhores. E vê-lo daquele jeito não ajudou.

─ Ei.

─ Oi.

Ele teve que respirar fundo, encarando a caixa em suas mãos, pensativo. Cruzei os braços, incomodada com aquele silêncio. Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, ele falou.

─ Eu te devo um pedido de desculpa. Aliás, um de perdão. ─ Ele suspirou e deixou a caixa ao meu lado no banco antes de continuar. ─ Eu preciso ser muito idiota para te dizer aquilo tudo depois da maior demonstração de amizade que você poderia ter me dado. A verdade é que eu estava apavorado com o que aconteceria com elas. Comigo também.

─ Rosa te fez vir aqui, é?

─ Não. Bom, ela me deu a coragem que estava faltando. A verdade é que quando você realmente me devolveu tudo que eu já tinha te dado, eu fiquei ainda mais apavorado. Eu fiquei com medo de te perder. E eu nunca mais quero que essas coisas saiam de perto de você.

─ Nathaniel…

─ Só escuta, por favor. Independente do que acontecesse, eu deveria ter sido um pouco mais grato. Logo, eu entendo se você quiser continuar querendo me esquecer, como eu tinha te pedido. Vai doer, mas eu vou entender. Eu adoraria que considerasse me perdoar, no entanto. Fica muito vazio sem você por perto.

─ Idiota. ─ Eu dei um tapa no braço dele, ficando de pé num pulo direto com os braços em seu pescoço. Ele me abraçou de volta, rindo. Afastei-me um pouco e olhei para ele, tentando engolir o choro. ─ Sabe que faço tudo porque eu te amo, sim?

─ Eu também, garota. Prometo parar de ser esse retardado mental.

─ Eu estou feliz por me deixar por perto. Quando você me disse aquilo tudo doeu, porque foi como perder um irmão de novo.

─ Então esquece isso, por favor. Não precisa sofrer nada perto daquilo.

─ Bom, só para acabar o assunto… Conseguiram um acordo?

─ Ah, isso. ─ Ele me soltou e foi se sentar no banco. Tirei a caixa e deixei-a no chão para poder me sentar também. ─ Depois de muito custo, conseguimos. A ideia de Castiel foi realmente boa.

─ O que ele sugeriu?

─ Emancipação. Meus pais continuam me sustentando, mas agora eu não moro com eles. Meu pai alugou um apartamento perto da escola e vai pagar todas as contas. Não é como a casa, mas…

─ Tenho certeza de que se sente melhor no apartamento.

─ Eu consigo respirar de verdade.

─ Fico feliz por você.

─ É. E, agora, eu vou poder me livrar de algumas das regras.

─ Tipo não dormir de cueca box com sua amiga?

─ Se alguém te ouvir vai entender errado. Eu estava falando da regra contra animais. Achei que conseguir um bichinho espantaria a solidão.

─ Deixa eu adivinhar, um gato?

─ Você me conhece.

O sinal tocou. Ele pegou a caixa no chão e esperou eu ficar de pé. Quis pegar a caixa, mas ele simplesmente disse que me devia a cordialidade. Dei de ombros e deixei ele levar a caixa para mim até a sala de aula. Eu nunca imaginei que vê-lo sorrindo comigo me deixaria tão satisfeita.


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Notas finais do capítulo

Nathaniel ♥