Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 29
Presentes e Presenças


Notas iniciais do capítulo

Hellous, peoples. Então, estou meio muito perdida na vida (que ta con teseno?) Semana de provas vindo ai, estudos, cansaços e aqueles lindinhos bloqueios que duram uma semana mas te desanimam por umas três. Chega de desculpa e lero lero, espero que gostem :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/668946/chapter/29

  Quando fui para a aula, levando comigo as lembrancinhas que eu tinha comprado, fiquei lembrando a história do provador. E meu primeiro impulso seria contar para Nathaniel, mas ele andava meio...estranho. E ele não gostava de Dake, então a ideia não parecia muito boa. Então, os outros dois que sabiam do rolo de verão, Rosalya e Alexy, iam ouvir.

  Encontrei os dois folheando uma revista e gargalhando, sozinhos numa sala. Tirei as sacolinhas e estendi, dando bom dia. Alexy agarrou a dele quase de imediato, tirando a camiseta e lendo. E morrendo de rir.

  – Pena que aquela velha louca me esfolaria vivo se me visse com isso por aqui.

  – Rosa.

  – Garota, você tem bom gosto, só não usa. Olha aqui, Alexy. – O menino esticou o pescoço para espiar dentro da sacola antes de olhar para mim e erguer as sobrancelhas. Sorri, feliz que eles tinham gostado.

  – Decidiu ir ao shopping sem seus amigos?

  – Eu fui com vocês num outro, menor.

  – Ela foi no mais distante deles, costumava ser o único por aqui. Aquele outro é novo.

  – Eu sei. Bom, foi divertido.

  – Sozinha?

  – Encontrei uma amiga minha da outra cidade. E Dake.

  – Dake? O carinha da praia? – Rosalya quase mordeu a própria língua para continuar falando baixo. – E ai?

  – Essa amiga minha, Lety, até tentou algo, mas não deu. E depois que ela singelamente foi embora, a gente foi comprar seu presente, Rosa.

  – Levou ele para loja de lingerie? Não acredito.

  – Nem eu, ele não sacou que era para eu ir sozinha. – Chequei a porta antes de continuar. – E ele é doido.

  – Por que?

  – Ele invadiu o provador, quando eu estava experimentando uma.

  – O que? Sério?

  – É. Eu soquei ele depois do susto, mas tudo bem. Todos vivos.

  – Menina, você nem para deixar ele tirar uma casquinha?

  – Ele me beijou. E...ficou um pouco...

  – Sério?

  – Deu pra sentir quando meu joelho ficou entre as pernas dele.

  – Gente, que menino saliente. Em todos os sentidos.

  Ri do comentário de Alexy. Rosa agradeceu o presente e guardou na mochila. Ainda sorridente, fui atrás de Nathaniel. Ele estava no grêmio, de fones de ouvido e cabeça na lua. Tirei um dos fones, ouvindo a trap music que ele escutava. Todo mundo sempre imaginava que Nathaniel gostasse de música clássica, erudita, aquilo tudo. E ele até gostava. Só que o topo da lista era eletrônica. E quanto mais pesado e desconhecido, melhor.

  – Ah, oi.

  – Tudo bem?

  – Como sempre. Queria falar comigo?

  – Eu te trouxe algo. Espero que goste.

  Ele pegou o embrulhinho e abriu, estranhando. E sorriu, lendo o título. Bingo.

  – Tenho namorado algumas vitrines por isso aqui.

  – Feliz que gostou. Está mesmo tudo bem?

  – Vai saber logo. Preciso manter sigilo.

  – Hum, entendi. Se precisar...

  Ele piscou para mim, sorrindo sem muita convicção. Sorri de volta, deixando-o sozinho. Se eu ia saber logo, não precisava pressioná-lo. Encontrei Violette no banheiro e entreguei seu chaveiro, dizendo que achei a cara dela, mas pedi segredo. Ela sorriu, prendendo-o na mochila.

  – Castiel, Lys, oi. – Os dois estavam sentados no banco do pátio, encarando o céu. E adivinha quem parecia de mau humor? Suspirei, sentando entre os dois. – Lys.

  Ele pegou a embalagem, estranhando. E sorriu quando leu o saquinho plástico.

  – É uma tentativa de se livrar do meu bloco de notas?

  – Perdido, ao menos. Não que eu ligue.

  – Deus, me mata.

  – Tem um pra você também, menopausa. Toma.

  – Que isso?

  – Abre.

  Como sempre, com a cara de desgosto, ele rasgou o pacotinho e tirou o chaveiro. Vi ele me olhar, como se estivesse surpreso e agradecer, quase sem me deixar ouvir.

  – Sua garganta queima?

  – O que?

  – Quando você agradece, deve machucar.

  – Quer um abraço?

  – Você sabe como se faz isso?

  Na atitude mais inesperada do mundo, ele soprou meu rosto e voltou a prestar atenção no céu. Lysandre nos olhava sério. Não entendi muito bem o que era aquilo no olhar dele, mas logo não tinha nada além do sorriso calmo. Dei de ombros, achando melhor ficar quieta.

  O sinal iniciando as aulas tocou. Fiquei de pé e fui para a sala, vendo senhora Shermansky na porta. Ela carregava consigo uma papelada, distribuindo bom dia sem olhar os alunos. Fui me sentar perto dos gêmeos, esperando o aviso da diretora.

  – Todos aqui? Muito bem. Gostaria de parabenizá-los mais uma vez pelo evento que organizaram. O show juntou fundos suficientes para cobrir as despesas do próximo evento e apagar o prejuízo da corrida de orientação. Bom, vamos ao que interessa. Professor Faraize, por favor. O que vão receber é um formulário que deve ser assinado pelos seus pais, referente ao nosso evento. A peça de teatro.

  Peguei minha folha, desanimada. Até não seria ruim trabalhar na produção, escondida do mundo. Vi Nathaniel estudar a folha com um olhar nervoso. Entendi. Pais na escola. Eu via o quanto ele se matava para ser o melhor na escola, provavelmente por eles. Agora os dois estariam dentro do seu ambiente. Guardei minha folha, suspirando.

  A diretora explicou as datas limite para a entrega do formulário para professor Faraize, como se decidiria a peça em seguida e afins. E nos dispensou pouco depois, arrastando Faraize consigo. Aproveitei a chance e fui fazer o que eu fazia de melhor, andar pela escola.

  – Acha que vão fazer audições?

  – Claro que sim, Li. E vão ficar maravilhados com minha cena. Vou improvisar. Vão tentar?

  – Ora, você vai conseguir. Eu não quero nenhum papel. Li?

  – Acho que também não. Ambre ia nos ofuscar. Também não acha, Anna?

  – Liga mesmo pro que eu acho?

  – Também não vai tentar, Anna? Adoraria ser a principal e te ver perder a pose.

  – Sabe, eu nem estava pensando nisso, mas quem sabe não vamos contracenar? Fique ligada.

  Realmente não estava nos meus planos atuar na peça, mas se fosse para derrubar Ambre do pedestal, eu nem ligaria. Sai de perto delas, respirando fundo. A escola toda parecia animada com o projeto. Todo mundo menos ele. Depois de perguntar para todos, fui atrás dele no grêmio.

  – Quer falar?

  – Não sei. Pode ser que eles nem venham.

  – Nath...

  – Tudo bem, vai ser tranquilo. Desde que eu continue sendo um bom aluno, vai ficar tudo bem.

  – Ok. Se precisar...

  Sai do grêmio, suspirando. Deixei a escola, indo para casa. Como eu esperava, mais tarde, durante o jantar, minha mãe ficou super animada com a filha atriz. E eu nem sabia o que ia fazer ainda. Os dois assinaram o formulário e confirmaram presença. Guardei a folha e fui fazer meus deveres.

  A semana ia voando. Entreguei meu formulário para Faraize e fui para o ginásio, como ele me pedira. Boris estava lá, com aquela regata cavada terrível dele enfiada para dentro das calças de moletom. Esperamos todos os alunos, para começarmos a discussão.

  – Um de cada vez, acalmem-se. Quietos. Eu direi o nome das nossas finalistas, e vocês erguem as mãos. Chapeuzinho vermelho.

  Vi Castiel erguer a mão desinteressado, e coincidentemente Kentin também. Achei estranho os dois concordarem em algo. Kentin detestava Castiel. Ele não assumia, mas ainda sentia um medo considerável do bad boy rebelde. E Castiel não gostava de ninguém mesmo, ou quase isso.

  – Ok, A bela adormecida. – Nathaniel. Ah, eu devia imaginar. Ele amava histórias clássicas, principalmente as de princesa. E parecia a mais séria das opções, então era um voto previsível. – Alice no país das maravilhas.

  Ergui a mão. Armin e Lysandre também. Sorri. Bóris anunciou a última peça como a campeã e passou a distribuir um curto texto, escrito audições. Cyrano de Bergerac. Ri. Meu pai sempre comentava dessa história.

  – Vocês terão uma semana. Quem não estiver interessado em atuar pode simplesmente informar quando acabarmos aqui. Na próxima sexta feira, a partir de dez da manhã, começaremos os testes. Os resultados vão ser divulgados no fim do dia de vocês, por volta das três da tarde. Ensaiem, não vão poder ler.

  – Vai tentar?

  – Não mesmo. Alexy e eu já estamos até bolando os figurinos. Você?

  – Não sei. Ambre já está contando com o papel principal...

  – Vai mesmo fazer isso só por ela? Não vale a pena.

  – Hum, não. Meus pais também pareciam bem animados com a ideia.

  – Acho que não custa tentar.

  Concordei com Rosalya. E, podia parecer estranho, mas aquela era minha chance de brilhar. Não, não era um sonho de ser famosa. Era só a necessidade de provar para mim mesma que talvez eu não fosse feito a lua, e tivesse sim meu brilho próprio. Suspirei, guardando nosso script.

  O ginásio foi ficando vazio. O falatório sobre as falas era incalculável, inclusive entre minhas amigas. Kim ia tentar. Iris e Violette não pareciam tão certas, nem Melody. Eu tinha aceitado a tarefa de me provar estrela de brilho próprio. Peggy sorriu quando eu disse que ia tentar.

  A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa, pegar o texto e estudar. Não importava quanto eu repetia, sempre me achava mecânica e travada, sem a menor gesticulação ou presença de palco. E sabendo o quão bem Ambre mentia, ela servia muito bem de atriz. Suspirei, prendendo o cabelo de novo. Nunca ia dar certo.

  Olhei o retrato sobre a cômoda, o sorriso confiante de Viktor. Viktor. Não importava o que meu irmão decidia fazer, ele sempre conseguia. Piano? Praticamente autodidata. Desenho? Pareciam fotografias de tão realistas. Amizades? O irmão simpatia da família. Eu devia simplesmente aceitar que Viktor era a estrela, e sem ele eu era só uma lua nova. Sem brilho, esquecida no céu. Era ele quem iluminava a família inteira.

  Larguei o texto em cima da cama e fui para a escada de incêndio, com o celular. Eu era a sombra. Abracei os joelhos e fiquei escutando as músicas tristes da playlist.

  No dia seguinte, enquanto todos falavam de peça e audição, eu só queria sair de lá. Assim que o sinal tocou, eu fui caminhando na direção do cemitério. Celular sem chamar, fones no máximo, passos fora de rota. Empurrei o portão de ferro do cemitério e entrei, parando sobre a ponte.

  Do que adiantava falar aquilo tudo para Viktor? Ele não tinha como me ajudar. Acontecesse o que fosse, eu ainda seria apenas eu mesma. A Anna quieta, antissocial e apagada que todos viam. Sentei na beira da ponte, vendo a água correndo entre meus pés.

  O celular finalmente chamou, quase uma hora depois, mas não atendi. Eu não queria ninguém me vendo naquele estado patético. Nem Nathaniel. Tocou mais umas duas outras vezes, mas ignorei. Nem ele entenderia o que era ser desbancada pelo irmão morto.

  Ainda assim eu sabia que ele não ia desistir. Nathaniel ia estranhar que eu não estivesse atendendo. E ia ficar preocupado e ligar para os meus pais, e lá para casa. E sem saber onde eu estava, iam os três me procurar. Suspirei e atendi na quarta ligação.

  – Precisando de mim?

  – Onde você se meteu?

  – Sabe onde eu estou. Vai vir atrás de mim?

 – Se não quer que eu vá, não. Só não faz mais isso, fiquei doido de preocupação.

  – Desculpa. Não vou demorar a ir embora, pode ficar em paz.

  – Não quer falar disso?

  – Não, dessa vez não. Obrigada.

  – Ok, tome cuidado.

  Desliguei, suspirando. Olhei a água abaixo de mim mais uma vez. Correndo, como se esperava de um rio. Correndo, passando por cima de qualquer pedra ou desviando-se, para continuar seu trajeto. Talvez eu tivesse que aprender a dar a volta nas pedras que me paravam. Ai sim eu conseguiria correr uniforme e limpa. Sorri, mais calma. Talvez Viktor tivesse como me ajudar.

  Limpei a calça com as mãos e fui para casa, mais sorridente. Eu ia ensaiar aquela porcaria de texto e ia passar naquela audição. Se eu ia brilhar, que fosse pra deixar todo mundo chocado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

:x Comentem < 3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lá E De Volta Outra Vez" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.