Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 23
Isso é o Inferno?


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas < 3 Cheguei, já trazendo os capítulo com as treta e as miséria hauhauhua Enfim, boa leitura :3



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No dia seguinte, eu acordei no maior custo para ir para a escola. Estava tão mal que tive que lavar o rosto umas duas vezes para conseguir despertar. Fora minha cabeça que estava doendo e a maldita sensação de ser estrangulada. Só de pensar meu estômago embrulhava. Até desci para a cozinha, mas não consegui comer nada.

  Só pelo começo da rotina eu deveria saber que estava tudo para dar merda. Vesti uma roupa até arrumadinha, com um decote considerável. A intenção era realmente desviar os olhares para o busto. Assim minha cara de zumbi passava disfarçada. Fui para a sala de aula, deixei minha mochila lá e fui ao banheiro.

  A primeira surpresa veio quando voltei para a sala. Algumas das meninas estavam lá, sentadas perto do meu lugar. A garota do dia anterior, Debrah, estava sentada sobre a mesa, falando sorridente. Debrah. Era familiar. Iris e Melody me viram, acenando para mim.

  – Bom dia, Anna.

  – Hey, gente. Debrah.

  – Ela voltou para o colégio, acredita? Digo, você não cheogu a conhecê-la, mas temos Debrah de volta. – A empolgação na voz de Melody chegou a me assustar. Debrah voltou. Não tinha como ela voltar para mim. Eu não a conhecia. Não dali pelo menos.

  – Debrah, eu tenho a impressão de te conhecer.

  – Claro, ora. Ela é a cantora daquele grupo, Stars From Nightmare.

  – Não sou tão famosa assim, Mel.

  – Não, eu...Digo, pode ser também.

  – A escola divulgava um pouco da trabalho dela, por ser alguém que saiu daqui e cresceu sabe?

  – Entendi, Iris. Pode ser só isso mesmo, coincidência. Eu vou atrás do Nathaniel.

  Sair dali. Era só isso que eu queria. Vocalista o caramba, não era isso. Não era nem reconhecimento que eu tive. Foi mau presságio mesmo. E só percebi quando a notei me estudando e mexendo no cabelo. Empurrei a porta do grêmio, mas não encontrei o representante. Suspirei.

  Acabei ficando no pátio enquanto o sinal iniciando as aulas não tocava. De fones de ouvido, fiquei estudando os alunos. Lysandre acenou, Rosalya chegou afobada, os gêmeos brigavam entre si. Castiel. Se ele já não parecia feliz antes, agora estava menos ainda. Tinha algo de errado.

  Voltei para a sala quando vi o professor entrando para sua aula. Eu conseguia ouvir por todos os cantos as pequenas conversas, todas sobre o mesmo assunto. Debrah. A menina estava sentada numa das carteiras da frente, sem anotar nada, mas com os olhos pregados no professor. Ainda assim, eu não conseguia acreditar que ela estivesse prestando atenção.

  Rosalya notou meu desconforto, principalmente quando reparou na camiseta que eu usava. Simplesmente comentei que tivera pesadelos e não dormi direito. Não queria ficar chorando pitangas de uma questão que nem existia ainda.

  E logo na hora do almoço, eu inventei uma desculpa e disse que não poderia ir com as garotas. Alexy veio atrás de mim, com aquele are interrogatório dele. E eu não conseguia mentir para aqueles olhos singelos.

  – Então, não gostou dela?

  – Não é não gostar, é estar receosa. Tem algo errado com ela.

  – É, ela é a novata-não-novata. Anna, é normal que as pessoas estejam felizes com a volta de uma antiga amiga. Normal.

  – Alexy, não é isso. Eu achei que a conhecia, até trocar a sensação por essa hesitação.

  – Eu ainda acho que você está estranhando não estarem falando de alguma piada sua, ou algo assim.

  – Não sou tão egocêntrica. Eu sei que não é isso.

  – Tudo bem, vamos fazer assim. Vamos ouvir alguma música dela e ver se vale mesmo toda essa propaganda. Tranquilo. Vem, o sinal perto da biblioteca é mais forte.

  Conectados no wifi da escola, com os fones de Alexy entre nós, encontrei a música mais famosa da tal banda e apertei o play. A cara de Alexy denunciou o que nós dois sentimos. Decepção. A voz dela não era ruim, só era...comum.

  – Ok, estou esperando a voz dos deuses até agora. É isso mesmo?

  – As músicas não são ruins...

  – Nem boas. Dá para ouvir, na falta de outro.

  – Quer saber, eu não quero nem saber. Eu vou voltar para a aula e deixar essa garota para lá.

  – Isso, vamos. As pessoas vão continuar sendo suas amigas de todo jeito.

  Respirei fundo e fui pegar meu material no armário. Alexy disse que ia ao banheiro e me deixou sozinha. Sozinha de tudo, no corredor vazio, sem ninguém. Foi o pior momento do dia. Piorou quando ela entrou.

  – Anna, oi.

  – Debrah, oi.

  O jeito que ela me olhava não era nem um pouco divertido. Estava me deixando nos nervos. E ela tinha notado, pelo sorriso que ela deu. Se aproximando, ela segurou a portinha do armário aberto e ficou esperando eu falar algo.

  – Eu imagino que tenha conseguido falar com Castiel.

  – Uhum. Eu esperava que ele fosse mais decidido, mas acho que me enganei. Ainda assim, eu posso esperar um pouco. Só preciso descobrir o que está prendendo ele.

  – Posso ajudar, Debrah?

  – Oh, não. Sabe, eu preciso dele para tocar comigo no meu próximo trabalho. Castiel toca muito bem.

  – Eu sei. Lysandre e ele são uma bela dupla.

  – Oh, Lysandre ainda está por aqui?

  – Sim. O que quer comigo?

  – Eu? Bom, eu tive uma leve impressão de que você parece...assustada comigo.

  – Receosa, eu diria.

  – Não precisa se preocupar. Contanto que não me atrapalhe, eu só vou levar meu gatinho e deixar tudo como está.

  – Mais algo? Alguma explicação para essa sensação de que eu te conheço?

  – Ora, você não lembra de mim direito? Que horror.

  – Eu deveria?

  – Eu já fui à sua antiga escola, a do outro estado. Com a promoção para ir ao show que minha banda ia abrir, lembrou?

  – Eu me lembro. Pediram para escrevermos textos sobre o dia mais feliz da sua vida até então, para desempatar os ganhadores.

  – É, esse mesmo. O que eu “corrigi.”

  – Não leu nada daquilo, leu?

  – Eu tenho mais o que fazer. Mas desde então acho que você ficou com essa má impressão sobre mim.

  – Não, a má impressão veio quando você estava se esfregando com o garoto no corredor.

  – Você é engraçada. Vamos fazer um acordo? Eu te tiro do escuro, você sai do meu caminho, pode ser?

  – O que te faz achar que eu te atrapalharia?

  – Pode ser ou não?

  – Ok, pode começar.

  – Tudo bem. Caso você não tenha associado, alguns meses antes daquela promoção horrorosa, eu estudava aqui. E Castiel costumava ser meu guitarrista. Nada de anormal. Meu gatinho e eu éramos um belo casal. E ele estava ainda mais bonito com o cabelo natural.

  – Eram um casal?

  – Sim, feito o dos filmes. Um casal unido e feliz. Coisa que eu acho que você não vai saber o que é tão cedo. Enfim, tínhamos uma banda juntos. Eu cantava as músicas e ele normalmente escrevia. Trabalho em equipe. E nada poderia ser melhor do que o convite que recebemos de um empresário, sujeito sério.

  – Eu não vejo onde é que tudo desanda.

  – Logo a seguir. A questão toda é, Castiel era legal e tudo mais, mas algumas pessoas nasceram para brilharem sozinhas, sabe? Sou uma dessas. E uma carreira solo me serviria muito melhor. O plano era fácil. Eu ia dizer a Castiel que o empresário não o quis, quando na verdade ia pedir ao empresário com um jeitinho prático para só me aceitar. E, estava tudo perfeito, quando o imbecil do loiro apareceu.

  – Nathaniel?

  – Notou que ele também não gosta de mim, é? Ele mesmo. Castiel e ele não eram inimigos ainda. Ainda. Nathaniel me escutou, e o senso de bom rapaz não conseguiu deixá-lo ir. E eu tinha que salvar minha pele, afinal, Castiel ia perceber que Nathaniel não teria motivos para falar com ele se não fosse isso.

  – Nath ia te entregar?

  – Intrometido, não é? Eu não tive outra opção, senão correr atrás dele e tentar convencê-lo. E ele é um idiota. Quando eu disse para ele manter a conversa ao telefone em segredo, ele simplesmente respondeu que não me devia nada. Só me atacou com aquele olhar cortante e xingamentos. Eu ia tentar. Tentar até conseguir. Não foi bem o que eu planejara, mas funcionou.

  – O que você fez?

  – Boba, eu tentei dar em cima dele. Acho que você notou que eu uso as roupas um pouco mais...bem, que mostram mais. Inclinei, joguei cabelo, coloquei a mão dele na minha cintura...Eu acho que ele é gay.

  Ergui uma sobrancelha, sem saber se eu o defendia ou se ria. Ela deu uma risadinha fraca, piscando lentamente e voltando a falar naquela voz feliz dela. Parecia que ela me contava uma piada, não o relato de como ela se provou uma vagabunda de marca maior.

  – Castiel entrou no grêmio bem nessa hora. Eu até pensei em me explicar, mas o retardado deduziu tudo sozinho. Ele quis partir para cima do representante. É daí que me lembro de Lysandre. Foi ele quem segurou Castiel. Sorte de Nathaniel, diga-se de passagem, meu gatinho ia desfigurar o rosto dele.

  – Ok, chegamos ao ponto da história em que você já agia feito uma piranha e que dois meninos se odeiam desde então. E daí?

  – E daí, que depois disso, eu consegui voltar com meu plano. Castiel não acreditaria mais em Nathaniel. Tadinho, o gatinho ficou arrasado quando o empresário ligou e disse que não precisaria dele. Eu até fiz aquele jogo de “eu não vou sem você.” Acho que ele notou que eu ia sim quando terminamos.

  – Em resumo, você arruinou o que poderia ser a maior oportunidade da vida dele para poder se sobressair?

  – O holofote é meu. Aprende isso logo e não vamos ter problemas. Agora, o meu guitarrista decidiu me abandonar. O miserável saiu sem aviso prévio e vamos começar uma turnê logo. Entende onde vou chegar?

  – Castiel é o step.

  – Exatamente. Útil, não é mesmo?

  – Você é uma vadia.

  – Eu chamo de esperta. Agora seu dever é sair do caminho, sim? Ele está meio confuso, mas vai aceitar. Não deve demorar. Oh, e antes que pense qualquer coisa, ninguém vai acreditar em você se tentar dizer isso daqui.

  Não respondi. Fechei o armário e fui para a aula, respirando fundo. Em que buraco eu tinha me metido? Estava concentrada na tabela periódica, quando Castiel entrou atrasado e veio para o único lugar vago, bem do meu lado.

  Olhando-o de lado, eu notei o quanto ele estivera perturbado com a proposta de Debrah. Ela o magoara antes, o deixara para trás por um sonho egoísta. Continuava sendo uma grande oportunidade profissionalmente. E eu tinha que ficar fora do caminho. Droga de situação.

  O resto do dia passou relativamente rápido. Eu tentava dividir minha atenção entre as aulas e Debrah me contando seu passado. Que merda. Eu estava tão distraída que quase tropecei nele na escadaria. As pernas compridas de Lysandre estavam no meu caminho, quase me derrubando. Apoiei no corrimão para não cair, deixando um livro cair.

  – Desculpa, eu não te vi.

  – Eu que agarrei na sua perna. Estragou sua bota?

  – Não, é resistente.

  – Hey, tudo bem? – Peguei de suas mãos o livro que deixei cair antes e me sentei ao seu lado.

  – Uhum, só...Castiel me falou da proposta dela.

  – Debrah.

  – É. Eu sei que ele quer crescer, mas... esquece isso.

  – Não quer que ele vá, não é?

  – É. Quem vai ficar sozinho dessa vez sou eu. E, ela já o machucou antes. Estou sendo egoísta.

  – Na verdade, não. Ele é seu amigo, eu não sei como, mas é. – Ele riu, olhando para o corredor já vazio. – Eu acho que ele não vai. Castiel é orgulhoso.

  – Eu não sei. Quero que ele escolha o que for melhor para ele.

  – É, eu também. – Eu queria dizer. Dizer que ela era pior do que parecia e que ele tinha que impedir Castiel de ir. Ainda assim, ficava me lembrando do aviso dela. Ninguém vai acreditar. – E não é egoísta querer isso.

  – Não tenho muitos amigos para ficar deixando eles irem embora assim.

  – Ele não está te largando aqui. E não está tão sozinho assim. Oi.

  – Obrigado. Eu deveria ir. Te vejo amanhã.

  – Tchau.

  Ele pegou sua mochila e deixou a escadaria, indo embora mais feliz. Ou, pelo menos, um pouco menos desesperado. Suspirei. Quer saber? Quero mais que Debrah se foda. Fiquei de pé e deixei a escola, pensando no dia seguinte. Eu ia mudar o que tinha que ser mudado.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam? Eu lembro que passei bastante raiva com essa criatura, mas até ai, quem não? Até o próximo :)



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