Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 15
Sob As Estrelas


Notas iniciais do capítulo

Oi peoples :) Como vão vocês? Então, vim postar capítulo novo e agradecer de novo a quem está me acompanhando ;3 Bjs



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  Peguei minha roupa para a corrida e deixei minhas roupas no armário do colégio. Encontrei Lysandre no pátio e sorri para ele, fechando o zíper do agasalho. Ele acenou para mim, calmo. Só de olhar para ele eu ficava mais calma.

  A sra. Shermansky nos passou as recomendações básicas da excursão. Ficarmos juntos, perto dos professores, não andarmos sozinhos e só sair do ônibus com autorização. Depois disso nós entramos no veículo, eu fui direto para o fundo, junto com Lysandre.

  – Não quer ficar com as meninas? – Ele perguntou, se ajeitando no banco ao meu lado. Neguei, olhando os bancos com minhas amigas.

  – Eu achei melhor ficar com você, você é minha dupla.

  – Ah, então tudo bem. Não se sinta obrigada.

  – Você é preocupado assim normalmente? – Ri, colocando o fone de ouvido. Ele deu de ombros. Deixei um ouvido sem fone, para ouvir se ele falasse comigo. – Você também não precisa ficar comigo se não quiser.

  – Hum? Ah, não. Só estava...pensando.

  – Faz muito isso.

  – Você também. – Fui obrigada a concordar, sob aquele sorriso simples que ele tinha. Ri. – Eu costumo buscar inspiração para músicas novas. Tipo a que você ouviu.

  – Desculpa. – Eu sempre ia rir daquele dia no porão. – Eu só penso na vida mesmo.

  – Tipo?

  – Já teve alguma namorada?

  – Eu? Não.

  – Ah. E não era desviando da pergunta, era só curiosidade mesmo. – Ele riu. – Penso em tudo que eu já passei, que pode acontecer, que eu possa fazer.

  – Hum. Entendi. – Ele olhou pela janela e eu imitei a atitude. A floresta começara a ficar densa. – Acho que não vamos demorar.

  – Parece que não. – Concordei, trocando a música. Em menos de meia hora, paramos. Em fila, conseguimos descer do ônibus e esticar as pernas. Sra. Shermansky mandou esperarmos os outros alunos por perto.

  – Olha só. – Revirei os olhos com a aproximação do trio mais irritante do planeta. – A camiseta conseguiu te deixar mais baranga do que o normal.

  – Nossa, que engraçada. – Bati palma, sorrindo. Lysandre olhava sério para ela, quase irritado. Quase. – Acabou?

  – Precisa aceitar que essa roupa te deixou gorda. O zíper nem fechou direito. – Li riu, retocando seu batom. – Ficou bem melhor na gente.

  – Você quer a resposta legal ou a sem educação? Lembrete, as duas são um belo foda-se. – Cruzei os braços, sorrindo. As três saíram rindo, enquanto eu tentava disfarçar que estava sem graça.

  – Não te deixou nada gorda. – Lysandre comentou, quando elas já estavam longe. – Ficou muito bom, na verdade.

  – É, obrigada. Não sei bem se bom serve, mas valeu. – Abri o agasalho, cruzando os braços. Ele estranhou. – Realmente ficou apertando. Digo, não porque eu sou gorda, só porque...Nathaniel está com Castiel?

  – O que? Ah, parece que sim. Vem, vamos falar com eles.

  Os dois quase se matavam, conversando trocando aquelas boas e velhas alfinetadas. Nathaniel me olhou como se pensasse quem ele ia matar antes, Castiel ou eu.

  – Hey.

  – Eu confiei em você. – Ele reclamou, sorrindo sarcástico.

  – Foi mal, eu achei que você fosse com a Melody. Desculpa.

  – Na próxima vez, me pergunta antes.

  – Desculpa. Na próxima vou com você, prometo. – Abracei-o, esperando a raiva passar. Ele riu e encostou a cabeça na minha.

  – Argh, que nojo. – Castiel fingiu que ia vomitar. Desfiz o abraço com o loiro e me virei para ele.

  – Quer um abraço também, mal amado?

  – Ganho um beijinho? Pelo amor de Deus.

  – Cala a boca. Boa sorte, Nath.

  Ficamos esperando os tais alunos por uns dez minutos, mas enfim eles chegaram. E meu queixo foi lá no chão quando eu vi quem desceu do outro ônibus. E o de Nathaniel também. Ele bufou.

  Dake desceu do ônibus e, assim que me notou, piscou para mim. Sorri, sem graça. Lysandre esperou que eu explicasse como o conheci.

  – Conhece a peça?

  – Quase isso. Ai, Deus, ele vem para cá.

  – Anna, gata, oi. – Ele ignorou totalmente o sujeito de quase um metro e noventa ao meu lado. – Como passou o resto das férias?

  – Bem. Achei que fosse de volta para a Austrália.

  – Eu fui, mas fiquei com saudade. – Nossa, ridículo. – Quem é esse? O namorado?

  – Ah, não. Colega de classe.

  – Então continua soltinha na pista, é? – Lysandre nos olhou de um jeito que só parecia descrença. Fiquei sem graça e concordei com a cabeça. – Consigo te chamar para formar dupla?

  – Estou com ele. E fui eu quem chamei, seria feio largá-lo assim. – Ele riu, daquele jeito dele cheio de desdém. Respirei fundo, vendo-o ir falar com o tio. – Só ignora.

  – Obrigado por não me deixar.

  – Ah, tranquilo. Digamos que o Dake não ia me ajudar muito a sair da floresta. – Ri, disfarçando. Ele ficou confuso, olhando com os olhos diferentes para mim. – Pensa e você entende.

  – Entendi, só não entendi como você se dispôs a ficar perto dele nas suas férias.

  – Oh, eu...

  – Você conseguia alguém melhor, fácil. – Ele ficou de pé, amarrando as mangas do casaco ao redor da cintura. – Vem, a diretora vai falar.

  Sra. Shermansky agradeceu a todos pela possibilidade de realizar aquele evento, passou as regras do jogo e nos informou a hora em que iríamos embora. Entregando um mapa para cada dupla, ela nos dispensou para a primeira fase.

  Tínhamos que nos guiar pelo mapa até encontrarmos o nosso checkpoint, Faraize e seu carimbo. O dia começou a dar errado mais ou menos ai. Perguntei qual era a próxima virada para Lysandre e ele tossiu, nervoso.

  – O que foi? Só olha no mapa. – O olhar que ele me lançou explicou tudo. – Perdeu o mapa. Legal.

  – Perdão, eu devia ter te entregado.

  – Não, essas coisas são obra do destino. – Comentei, olhando a trilha. – Escolhe um lado.

  Ele escolheu direita. Fomos, depois de marcar o caminho com um galho. Escolhi a próxima, seguir reto. Caminho bloqueado. Voltamos e fomos para a esquerda e depois em frente. Avistamos a cabana onde Faraize esperava.

  – Oh, garotos, fiquei preocupado. Todos já tinham chegado, menos vocês.

  – Perdemos o mapa, detalhe mínimo. – Sorri, esperando ele carimbar nossas mãos. – E você perdeu o carimbo.

  – Não vão poder passar sem ele. – Ele entrou em desespero.

  – Calma. Olha, você tem caneta. Assina as nossas mãos e pronto. – Sugeri. Ele ponderou a alternativa, preocupado. – É tão oficial quanto. Não podemos ser penalizados, mais.

  – Ok. Toma, a lista de itens. E aqui, pronto. – Ele riscou seu nome com a caneta preta nas costas das mãos estendidas. A mão de Lysandre era bem maior que a minha. Bem.

  A próxima fase era feito uma caça ao tesouro. Tínhamos que conseguir tudo na lista, sem saber o que era. Algo feito pelo homem, algo que brilha, um inseto, uma pegada, um habitante da floresta e uma folha do tamanho de uma mão.

  – Quer dividir? – Sugeri, imaginando que assim conseguiríamos repôr o tempo perdido. Ele negou, alegando que se um de nós não conseguisse, o outro ajudaria. – Feito pelo homem.

  Olhamos ao redor, e nada. Só um canivete fincado num tronco de árvore. Primeiro. Algo que brilha. Eu tinha pensando em alguma flor, mas Lysandre arregaçou a manga e colocou a mão no riacho. Pepita de ouro. Bem, falsa, mas servia.

  – Próximo. Inseto.

  – O bom é que temos alguns. Colocamos no vidro? – Ele concordou.

  – Tem medo de barata?

  – Não gosto, mas não. Por que?

  – Abre o vidro, por favor. – Concordei, tirando a tampa do pote. Ele pegou uma folha de arbusto e passou num tronco de árvore. E jogou uma daquelas baratas cascudas dentro. Desesperada, fechei a tampa de novo. – Pronto.

  – Toma. – Passei o vidro para ele. – A pegada.

  – Não sei como poderíamos carregar uma pegada. Quero dizer...

  – Poderia ser tipo alguma marca, não? Sinal na natureza. – Kim passou na beira do riacho, correndo atrás de um esquilo. Violette parecia assustada, mas vi a folha que ela carregava. – Desenho. Podemos desenhar.

  – É, pode ser. – Eu peguei o papel e apoiei no tronco da árvore, a mesma da barata, e passei o lápis que tínhamos ganhado por cima. A marca era a mesma que o padrão da madeira. – Faltam duas agora.

  – Vamos precisar caçar bichinhos?

  – Acho que não. Vamos andar atrás da tal folha do tamanho de uma mão e vamos procurando o animal também.

  – Precisa ser bem grande. – Ele estendeu a mão aberta, me fazendo rir. Abri a minha e mostrei para ele. – Ou não.

  Minha mão realmente era pequena e fina, com os dedos compridos e unhas compridas também. Vantagem, numa situação feito aquela.

  Conseguimos os últimos itens. Por acaso, enquanto voltávamos da árvore grande onde conseguimos a folha, eu tropecei numa raiz. Ele me segurou, mas eu vi a toca logo abaixo. Era arriscado, mas eu enfiei o braço e puxei o coelho de plástico.

  – Quanta sorte, não? – Ele sorriu. – Vamos lá entregar isso tudo.

  Faraize até estranhou alguém conseguir achar tudo, mas simplesmente disse parabéns e nos enviou para a próxima fase. O caça-palavra. Tínhamos que achar letras numa área da floresta, vistoriada por um aluno mais velho.

  – Achei P. – Comentei. Ele levantou um I feito de emborrachado. Duas. Eram cinco. – Opa, achei A.

  – S. E um R logo ao lado. Cinco?

  – É, mas o que elas formam? – P,I,A,S,R. Ele pegou as duas que eu segurava e pensou.

  – Paris. – Era verdade. Sorri. Íamos vencer. Estávamos caminhando de volta ao aluno que receberia a resposta, quando vimos. A dupla de choque. Castiel sorriu ao nos ver, enquanto Nathaniel respondia.

  – Até a linha de chegada. – Castiel riu, caminnhando. Lysandre falou Paris de imediato e segurou meu braço, quando eu já começava a correr.

  – Não vai dar. Vem. – E me puxou para outra trilha, por dentro da mata.

  Erro número dois. A ideia foi absurda, mas na hora eu não vi problema. Só queria vencer Castiel. Só percebi a roubada quando começou a ficar frio e nada de acharmos a saída do meio daquele matagal.

  – Lysandre, para. – Minha boca estava seca, já tínhamos acabado com a água que tínhamos. Acabei me sentando num tronco caído e ele foi para o meu lado, suspirando. – Já caiu a noite. Droga.

  – Desculpa, eu fui imbecil. Eu só queria te ajudar. E ganhar. Droga.

  – Eu quis vir, a culpa não foi sua. – Suspirei. – A gente devia esperar, eles devem estar atrás de nós.

  – Concordo, mas precisamos de água. Nem que seja só um gole.

  – Acho que dá pra ver o que tem ao redor se eu subir ali. – Apontei a pedra imensa. – Bom, não custa tentar.

  – Eu subo.

  – Pode deixar. Você só espera para anotar bem o que eu disser. – Sorri, girando os ombros. Pulei na pedra e fui subindo, até chegar ao topo, me equilibrando nos dois pontos de apoio que eu tinha.

  – E então?

  – Mato, árvores, nenhum humano. Parece que tem um lago mais a frente, mas eu não sei. – Dobrei um pouco o joelho, tentando me inclinar um pouco para a frente e confirmar. – Olha, tem um veado ali e...ai.

  – Anna. – O pé mais a frente escorregou. E com parte do tronco inclinada, eu acabei caindo pelo outro lado da pedra. Protegi a cabeça e aceitei os roxos que eu conseguiria da experiência. – Ai, meu Deus, Anna.

  – Tudo bem. Ai. – Sentei, sentindo o tornozelo doendo. – Ok, talvez não muito.

  – Eu devia ter subido. – Ele murmurou, segurando minha perna. Grunhi, enquanto ele apertava de leve. O veado que eu vira se aproximou, mas continuou relativamente distante. Fiquei com frio ao vê-lo. Ele era lindo, majestoso, pacífico. O que me fez lembrar que eu estava no local errado. – Vem, eu te carrego.

  – Não precisa. – Tentei ficar de pé sozinha, mas o tornozelo só faltou soprar uma vuvuzela, de tanto que doeu. – Ai.

  – Mil desculpas. – Ele falou, me colocando de cavalinho em suas costas.

  – Eu sou pesada, não precisa disso.

  – Não é não, pare de reclamar. A culpa é minha, é o mínimo.

  Obedeci. Ele estava nervoso com a situação, ficar falando sem poder agir não ia tranquilizar ninguém. Pelo menos o que eu achei que era um lago era mesmo. Nós dois tomamos parecendo animais, jogados na grama.

  – Nossa. Devem ter suspendido a busca. Está tarde. – Ele comentou, secando as mãos na grama. Concordei, esticando a perna. – Sinto muito. Está bem?

  – Tanto quanto você.

  – Machucada. Pelo menos protegeu sua cabeça.

  – É, pelo menos. – Suspirei, olhando para a água. – Sabe, eu até não me importo de me perder assim. Digo, é assustador e tudo mais, claro, mas pelo menos não estou sozinha. Sei que vamos sair, é só...minha mãe vai surtar.

  – Bom, eu também surtaria se fosse minha filha. Principalmente com um marmanjo. – Ri dele, dando um empurrão leve em seu ombro.

  – Você não é marmanjo. Mais um motivo para eu não estar desesperada, sei que você nunca me faria mal. – Sorri, cansada. – É só que... ela tem muito medo.

  – Mais que um pai normal tem?

  – Bem mais. Digamos que, há alguns anos, ela ficou muito mal. E agora ela fica apavorada com a ideia de eu sair de perto dela por mais de oito horas.

  – Posso perguntar o que aconteceu?

  – Sabe como eu e Nathaniel somos super amigos? Acontece que tinha um terceiro, mais velho que nós. Viktor.

  – Já te ouvi falando dele com Nathaniel.

  – Ele era seis anos mais velho que eu. – O passado inteiro vinha à tona. – Andava para cima e para baixo com os dois pirralhos. A gente morava aqui na época. Ai um dia ele nos deixou. Nathaniel e eu.

  – Ele...

  – Acidente de carro. Dirigindo na chuva, um caminhoneiro perdeu o controle e bateu de frente com ele. Viktor morreu na hora.

  – Ela tem medo por que viu o amigo de vocês morrendo, é isso?

  – Não. É pior. – Respirei fundo, tentando não cair no choro descontrolado.

  – Quão pior?

  – Viktor, esse amigo nosso...ele era meu irmão. – Silêncio. Lysandre provavelmente não sabia o que dizer. – Foi por isso que nos mudamos. Eu entrei em desespero e minha mãe nem conseguia mais ficar dentro de casa. Fomos embora.

  – E por que voltaram?

  – Com o tempo a gente descobre que o passado não fica no lugar, e sim com a gente. Não adianta fugir. E eu quis voltar, ficar mais perto do túmulo dele.

  – Sinto muito.

  – Já me acostumei. – Dei de ombros, com pouca convicção. Não sei até que ponto era verdade. Sempre ia doer, mas era uma dor que dava para ignorar. Costume talvez não fosse a palavra certa, mas era a melhor que eu encontrei.

  – Fico grato, no entanto. – Estranhei o comentário e o vi dando aquele sorriso fraco para mim. – Por ter confiado em mim a ponto de me contar. Não parece algo que você conte muito.

  – Ah. É. Bom, eu geralmente espero alguém me perguntar quem é o cara das fotos, quem era Viktor. A maioria das meninas não perguntou nada.

  – Ah. – Ele coçou o queixo, sem ter mais o que dizer. Olhei meu tornozelo e suspirei. Ele me olhou, preocupado. – Doendo?

  – Está, mas eu aguento. O frio piora um pouco. O ruim mesmo é que amanhã vai estar parecendo um melão, de tão inchado.

  – Não vamos mais andar. Eles devem nos encontrar amanhã. – Lysandre tinha um poder de me tranquilizar que quase me deixava inquieta de novo. Sorri de volta, apertando o agasalho ao meu redor.

  – Vai ficar frio. Devia se agasalhar antes de dormir. – Comentei, colocando as mãos dentro das mangas. Ele desamarrou o casaco da cintura e ponderou um instante. – Não preciso, veste logo.

  – Disse que o frio piora.

  – Hipotermia é pior do que uma torção. Não discute e veste. – Ele riu de leve e vestiu, ficando de pé e me pegando no colo. – O que está fazendo?

  – Só me afastando um pouco da água. Vai fazer pouca diferença, mas já vai estar menos frio. – Lysandre me escorou contra uma árvore, entre as raízes tabulares, para logo em seguida se abrigar perto de mim. – Pode descansar. Te chamo quando amanhecer.

  – Precisa dormir também.

  – Não se preocupe, eu tenho sono leve. – Ele sorriu. Abracei meu próprio corpo e fechei os olhos, me ajeitando.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo :)



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