Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 13
Um Espinho na Mente


Notas iniciais do capítulo

Pessoas, leitores, amadinhos :3 A cada dia que passa o número de visualizações aumenta (obrigada >.< ), mas o de comentários ainda está travado no zero. Ajudem-me, me mandem uma palavrinha humilde de vossas opiniões :) Aliás, uma pergunta, mais para frente vocês gostariam de ver um capítulo escrito num ponto de vista diferente? Tipo, de um dos meninos? Boa leitura :3



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De volta ao meu quarto no apartamento na cidade, as férias já não passavam tão rapidamente. Eu estava passando boa parte dos meus dias mexendo no computador, digitando pequenas histórias que eu escrevera nas últimas páginas de caderno.

Rosalya até veio me ver um dia, mas ela ficou meia hora perdida na pintura na minha parede. Sorri. Aquele cenário ainda me afetava, eu podia imaginar a ela.

— Violette ficaria boba depois de ver isso. – Rosalya comentou, finalmente quebrando o encanto. Sorri, abaixando a tela do notebook. Ela se sentou na minha cama, ficando de frente para mim. – Enfim, eu não vim aqui para ver sua parede.

— Veio me contar como você passou suas férias? – Perguntei, colocando um pé sobre a cadeira onde eu estava. Ela olhou a porta encostada e sorriu para mim.

— É sobre o Leigh. Não pode falar com ninguém.

— Não vou, o que foi?

— Então, ele me levou para jantar um dia desses e tal, normal. – Dei de ombros. – Ai, a gente estava lá comendo e tal, conversando...

— Eu quero a parte interessante. – Resmunguei, vendo-a olhar na direção da porta de novo. – Ninguém vai entrar, fala logo.

— Bom, ele deu a entender algo...Quero ver se só eu achei isso.

— Fala.

— Bom, ele comentou que gostava muito de passar o tempo comigo e também que gostava muito do vestido que eu estava e tal. Só que ele estava falando sem olhar para mim. Direto.

— Até ai, Leigh parece bem normal.

— É que ele disse também que preferiria passar algumas noites em casa.

— E você entendeu...

— Que ele não gostava de sair comigo. E ele notou. Ai ele se corrigiu e disse que não queria estar sozinho, só em casa, só nós dois.

Comecei a rir. Ela me olhava séria, desesperada. E eu não conseguia controlar o riso.

— Está assim toda preocupada por isso?

— Você entendeu o que está nas entrelinhas, né?

— Rosa, sem ofensa, mas Leigh não é nenhum poço de atitude nem nada. Digo, ele faz umas surpresas bem legais e por ai vai. E aliás, até é possível ele te fazer uma surpresa...dessas, mas quais as chances dele falar assim?

— A chance de ele estar sondando se seria um bom tempo. – Ela cruzou os braços, pensativa. E eu fiz a pergunta que ela precisava ouvir.

— E é? – Silêncio. Fiquei esperando ela esboçar alguma resposta, mas o jeito que ela me olhou não deixava a menor dúvida. – Só relaxa.

— Quer saber, é isso. – Ela ficou de pé e parou de frente para minha janela. Esperei ela completar a sentença. – Da próxima vez, eu vou deixar e ver o que acontece.

— Boa, garota. – Sorri para ela. Viver o hoje sem pensar muito no amanhã, era o que eu tinha ensinado para ela.

— Quem é esse? – Ela pegou o porta retrato perto de mim, apertando os olhos. – Nathaniel era assim?

— É. E esse ao lado é Viktor.

— Ele é mais velho que vocês. – Concordei, esperando ela fazer a pergunta que sempre vinha. Ela não fez. Devolveu a moldura para seu lugar e começou outro assunto. Estranhei. – Que foi?

— Nada. Eu só achei que fosse perguntar quem era...

— Amigo seus, não? Ele devia ser tipo o chefe e vocês dois o seguiam. – Ela voltou a falar da pintura na parede. Nem vi as horas passando depois disso. Minha mãe bateu na porta e avisou que a mãe de Rosa estava lá embaixo. Dei um abraço nela e a acompanhei até a porta.

Depois da visita de Rosalya, eu voltei pro meu quarto e fiquei lá, pensando. Com o porta retrato na mão, eu ficava comparando a imagem de Viktor com a minha. O sorriso dele, os olhos um pouco mais claros que os meus, o nariz um pouco maior, o cabelo da mesma cor.

Deixei a foto no lugar e fui tomar banho, tentando me distrair. Pensar demais era procurar chifre em cabeça de cavalo. Eu não tinha com o que me preocupar e fim, simples assim.

Passaram-se mais alguns dias. Agora as férias já começava a se aproximar do fim. Eu só tinha mais dez dias de folga antes de voltar às aulas. Fomos almoçar com tia Ágatha num domingo. Ela se sentia sozinha nos fins de semana, então nos convidava quase sempre.

Eu achava bem divertido ficar escutando as histórias malucas dela, tipo do dia que um velho na rua começou a xingá-la por causa das asas e simplesmente tentou cortá-las. Tia Ágatha não matou esse sujeito, mas ficou com um ódio mortal. E eu só conseguia rir por causa do jeito que ela contava.

É, minhas férias foram muito boas. Eu gostava de passar um tempo com minha família, e o tempo na praia também foi ótimo. Acho que, pelo menos um mês, eu não fiquei triste um dia que fosse. E aquilo me deixava ainda mais feliz.

Na última noite das minhas férias, meu pai anunciou que a loja ia abrir na próxima semana. Ele ia fazer a inauguração de noite e esperava que eu fosse ajudá-lo. E eu fiquei tão empolgada que concordei e lhe dei um abraço.

— Ajudo no que precisar. – A loja era o esforço do meu pai se concretizando bem na nossa frente. E eu sabia quão feliz ele estava. Eu também estava. – Bom, eu vou dormir que amanhã é cedo.

— Boa noite. – Ele me deu um beijo e me deixou subir as escadas. Antes de fechar a porta do quarto, ouvi minha mãe suspirando e meu pai a reconfortando. – Ele está feliz, meu bem.

— Eu também. – Fechei a porta, calada. Arrumei minha mochila e fui dormir.

A escola estava agitada. Claro que os assuntos de férias tinham que ser postos em dia, mas a comoção não era por isso. Eram os dois novatos que deveriam chegar hoje.

— Sabe quem são? – Perguntei para Nathaniel, segurando uma pasta que ele me entregou. Ele negou com a cabeça, guardando o documento antes de responder direito.

— Eu não fico lendo a ficha dos outros assim. – Ele riu, antes de completar a resposta. – Eu nem ouvi disso, estava de férias também.

— Verdade. E por falar em férias, eu fiquei com marca de biquíni. Já tem quase um mês. – Afastei a manga da camiseta para mostrar o risco mais claro na pele.

— Não está aparecendo tanto assim. Minha irmã ficou um pouco pior. Ela estava parecendo um pimentão quando a gente voltou. – Eu ri, ajeitando a blusa. – E não parava de reclamar dos garotos.

— Reclamação negada. – Comentei, lembrando de Dake. Vi Nathaniel revirar os olhos e mudei de assunto. – Eu quero ver esses novatos.

— Já vai partir por ataque?

— Eu não sou assim e você sabe. E foi Dake quem chegou em mim. – Comentei, séria. – Só quero ver a cara deles, posso?

— Claro. – Ele sorriu, pegando a pasta na minha mão. – Vem, temos que ir para a aula.

Segui-o para fora do grêmio, esperando para ver se os dois rapazes novos chegavam. Não vi nada. Nada pelo restante das aulas. Aparentemente, eles tinham perdido o dia de aula.

A escola já estava mais vazia e eu, simplesmente por ter me distraído escrevendo no caderno, acabei ficando um pouco mais do que pretendia. Juntei meu material e fiquei de pé, mexendo no celular.

— Oi. – O menino esticou os braços e me segurou antes que eu trombasse nele. Os cabelos azuis eram um pouco chocantes, mas consegui não ficar encarando muito. – Pode me ajudar?

— Oh, desculpa. Posso, que foi?

— Preciso ver a diretora, mas eu não sei onde fica a sala dela.

— Final do corredor. Vem, eu te levo.

— Ah, tudo bem. – Ele me soltou, deixando que eu guiasse o caminho até a sala solicitada. – Obrigada. Seu nome seria?

— Anna. O seu?

— Alexy. Prazer. Acho que vou ser seu colega, talvez.

— Tomara. – Sorri para ele, recebendo um sorriso em retorno. Pedi licença e fui embora.

Ao que parecia, os dois novatos estavam um pouco atrasados. O outro garoto estava atravessando o pátio com um Playstation portátil em mãos. Olhei bem seu rosto, enxergando todas as semelhanças entre eles. Eram dois novatos porque era uma dupla de gêmeos.

— Hum, hey. Viu um rapaz por ai? Cabelo azul, mesma altura...

— Fim do corredor. – Abri a porta para ele, ouvindo-o agradecer em voz baixa. Pelo menos eram diferentes um do outro. Por sorte.

Fui para casa, cantarolando a música que tocava do meu celular. O dia parecia tão normal quanto poderia ser. Normal demais. Daqueles em que a gente levanta e nem entende porque acordou, mas ainda assim troca de roupa e vai para a rotina.

Olhei o céu azul, com algumas nuvens escondendo parte do sol. Sorri. Podia não ter nada de muito especial no dia, mas ainda assim só de estar de pé e sentindo o calor no meu rosto...fiquei feliz.

— Oh, oi, mãe. – Ela sorriu para mim, mexendo no computador sentada no sofá, com a televisão ligada em algum programa que ela nem devia estar assistindo. – Chegou cedo.

— Estou conseguindo fazer meu trabalho em casa, recentemente. E você, chegou cedo também.

— É, eu vim direto para casa. Sei lá, estou com preguiça hoje. – Ela riu e tirou a almofada ao seu lado, para me deixar sentar. Deixei a mochila do lado do sofá e me acomodei.

— Filha, eu estive pensando... – Eu devia ter imaginado. Lá vinha bomba. – Você completa dezesseis esse ano. Logo. E, você sabe...

— Só vai ao ponto.

— Eu estive em contato com uma das organizadoras do baile de debutantes desse ano. – Eu devia ter esperado aquele tipo de proposta. O sonho da minha mãe era me ver vestida feito uma princesa, numa festa de luxo. E foi meu sonho também, até certo tempo. Até os doze, por ai. – Só pense...suas amigas devem estar empolgadas, não?

— Algumas estão começando a falar disso, mas... – Resmunguei, tentando encontrar uma desculpa para não querer.

— O que tem de tão ruim? É uma festa linda, meu amor. – Ela quase implorava. Baguncei o cabelo, sem ver como negar com educação. – Só pense, o que pode ser tão ruim?

— Ter que encontrar um par, ficar indo naquelas reuniões para uma velha estranha me falar que eu preciso me comportar de um jeito, usar vestidos que provavelmente pinicam...

— Oh, não, você adora usar vestido, nem começa. – Ela me olhou, séria. Suspirei.

— Ok, eu vou pensar com carinho. – Dei um sorriso fraco para ela, só para não ter que ficar escutando tentativas chatas de convencimento.

Não funcionou muito. Ela continuava levantando o assunto em toda refeição que tínhamos juntas, comentava com meu pai, ficava falando sobre a tal organizadora.

E o assunto me seguiu para a escola. Com o passar dos dias, Nathaniel ficava ocupado no grêmio, eu ia almoçar com as meninas e nossa nova aquisição, Alexy.

Claro que, nos primeiros dias, eu observei os novatos como quase todo mundo. Armin, o de cabelo preto, estava sempre jogando por baixo das mesas na sala de aula. E Alexy, com o cabelo azul, acabara se aproximando de todas as meninas. A dúvida apareceu ai.

E eu tive minha confirmação quando Violette me disse que o achava muito bonito. Eu aproveitei a chance e, como quem não quer nada, fui sugerir para o menino de cabelo azul sair com Vi.

— Só nós dois? Por que a gente iria sem vocês? – Ele me respondeu, tirando os fones de ouvido. Olhei para ele, esperando ele concluir o óbvio por conta própria. – Oh, droga. Você realmente não notou?

— Que você é gay? Só estava checando. – Sorri para ele, vendo-o soltar o ar, aliviado.

— Eu achei que realmente queria que eu...

— Ah, isso ai eu não inventei não. Ela te acha gatinho mesmo. Eu já avisaria para ela. – Comentei, rindo da cara que ele fez. Pedindo licença, ele foi atrás de Violette. Foi mais ou menos depois disso que eu fiquei amiga dele.

Agora, depois de quase duas semanas, ele já era rostinho gravado na mesa, sentado perto de mim e de Rosa. Peggy voltara a falar com a gente, depois de muito tempo com raiva de Melody. Depois de convencê-la de que nossa mesa era a dos maiores babados, ela voltou.

— Então, vocês vão mesmo participar disso? – Perguntei, meio chocada. Rosalya concordou. Ela já tinha me xingado muito por não ter aceitado de primeira ir para o tal baile de debutantes. – Sério, todo mundo mesmo?

— Menos Kim, mas ela nunca foi vista de vestido. – Rosalya apontou para as outras na mesa. – Agora, Violette, Peggy, Melody, Iris, eu, até Ambre.

— Ah, já desanimei de novo.

— Olha, você vai de um jeito ou de outro. – Alexy entrou na conversa, sorridente. – Vai ser convidada de todo modo, então você pode só ir como dona, não convidada.

— Não compensa. E eu não quero ficar agindo feito uma boneca de cera no meio do salão.

O sinal tocou e eu fiquei de pé, na melhor oportunidade de fugir que eu teria. Depois disso, o assunto meio que morreu, para minha sorte. Eu ignorei todas as vezes que Rosalya tentou falar comigo nas aulas, sabendo que ela ia falar daquilo.

Quando a aula daquele dia terminou, eu não estava com a mínima vontade de ir para casa. Já estava sufocando com aquela história de aniversário. Então, em lugar de ir embora, eu fui para o lugar mais quieto do colégio, o porão.

Aquele lugar era um ótimo esconderijo. Ninguém nunca o considerava um bom lugar para nada. Escondida entre as caixas de papelão, eu coloquei meus fones e ouvido e tirei um caderno de dentro da mochila.

— Fala sério, acha mesmo? – Castiel entrou com um cigarro aceso entre os dedos, rindo alto. Lysandre o seguia, sério. Muito sério. No susto, me escondi mais ainda, quase sem respirar. – Bom, até que faz sentido.

— Só...acho que ela deve achar isso. Rosalya não acha, mas ela deve. – Ela quem? Achar o que? Minha curiosidade estava quase me fazendo explodir.

— Não acho, não. Você não tem muito jeito. Aposto que se perguntasse entre nós dois, ela diria que sou eu.

— Será? – Ele se sentou no último degrau da escada, esticando as pernas longas. – Bom, que seja. Presta atenção...

Sabe quando algo que já estava estranho fica ainda pior? E mais confuso? E te deixa chocado antes mesmo de saber o que aconteceu direito? Eu estava numa dessas situações. Lysandre, com aquela voz maravilhosa dele, começou a falar no tom sério umas frases meio...estranhas.

Em resumo, ele estava falando sobre colar o corpo do Castiel no dele e partir para a ação. Tentei manter a calma, mas o choque foi tanto que minha boca abriu sozinha.

Castiel e Lysandre...eram...? Não, espera, tinha que estar faltando alguma parte do enigma, porque não tinha a menor condição aqueles dois serem gays. Não tinha!

— E ai, o que acha? – Lysandre perguntou, todo feliz. Ai eu não aguentei. Quando eu percebi o que podia estar acontecendo, minha mão já tentava abafar o riso. – Ouviu isso?

— Ouvi. – Castiel ficou de pé, deixando a guitarra que ele tinha pegado de lado e caminhando na minha direção. – O que...Anna!

Eu estava caída no chão, gargalhando. Ele me olhou, com raiva por uns três segundos, até notar o que eu tinha entendido da conversa deles. E dar um sorriso debochado.

— Desculpa...eu... – Estava tentando me desculpar e ir embora, mas o riso não parava. Lysandre tinha vindo até onde eu estava também, sem saber se ficava incomodado ou não com minha presença. – Eu...estava aqui e...ouvi. Ai.

Meu rosto chegava a doer de rir por tanto tempo, mas eu não conseguia me controlar. Castiel me puxou pelos braços, me pondo de pé, tirando meu cabelo do rosto. Lysandre tentava entender o que ele estava fazendo.

— Achou que eu fosse viado, é? – Castiel me apoiou contra a parede, sério. Respirei fundo, tentando me controlar. O que ele estava fazendo? – Quer prova de que não sou?

— Não... – Murmurei, vendo-o se aproximar mais e mais. Lysandre ficou mais assustado que eu. Tirou Castiel de perto de mim e simplesmente pediu para eu não contar o que acontecera. Concordei, voltando a sorrir.

— Eu deveria ter me mostrado, só que eu assustei. Desculpa. É uma música, não é?

— Uhum. – Castiel voltou até a guitarra e começou a tocar algumas cordas. – Se puder dar licença.

— Nem começa. – Peguei minha mochila e o caderno, revirando os olhos. Castiel não conseguia ser simpático comigo nem que fosse só por cinco minutos. Lysandre tentou me defender, mas eu dispensei. – Pode deixar, vocês precisam de mais privacidade que eu.

Deixei o porão e fui embora, sem esperar para encontrar com alguma menina tentando me convencer a ir ao tal aniversário, baile, sei lá. Fui para a academia, querendo simplesmente dar um tempo antes de encarar minha mãe e suas tentativas repetitivas.


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Notas finais do capítulo

Até mais ver < 3



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