Natural Selection escrita por Paper Wings


Capítulo 5
Cap. 4: Thoughts


Notas iniciais do capítulo

Hey, cupcakes de Nutella! {Sério, isso? -.-'} Ok, ok, reformulando... Hey, walkers!!! Tudo bem com vocês?
Agradeço pelos comentários >.<, mas admito que fiquei muito triste que o número de comentários caiu pela metade, se não me engano. Eu gosto de saber da opinião de vocês, gente! Critique quando não está bom e eu juro que vou tentar melhorar nos próximos capítulos, só peço que não me deixem nessa terrível dúvida.
> Walkers do meu coração, mudei a idade da Kat e consequentemente a do Carl. De dezesseis foi para quinze. Eu fiquei com o pé atrás de modificar e prometo que não vai se repetir. Foi erro meu não pensar muito no futuro, então, peço desculpas desde já.
> Pessoal, escolhi uma atriz para representar a Kat, mas não se sintam forçados a imaginá-la dessa maneira, por favor. A diva da Khaleesi ficou sentindo falta de uma base física para nossa protagonista e, enfim, encontrei alguém que, sinceramente, ainda não vi nas capas e fics lindas aqui do Nyah. Espero que gostem da escolha e um obrigada especial a Khaleesi, gente!
> Ah, leiam as notas finais!!! Importante!!! ⬇⬇⬇
Boa leitura a todos.



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"Thoughts are creeping in with arms of silence

Time will make me drown here on my island

When pressure's rising like a wave of open scars

I am running into the fire"

Thoughts - Michael Schulte 

 

Eu não conseguira pregar o olho. A cada assovio do vento contra as árvores da mata; cada graveto estalando pelo peso de alguma coisa adentrando a escuridão; cada suspiro ou murmúrio... Tudo fazia um gelado percorrer minhas costas, trilhando todo o caminho traçado pela minha coluna em um instintivo intuito humano de continuar viva. Talvez não fosse apenas o medo de morrer ou de subitamente sentir um doloroso golpe que não me apagaria de imediato, levando-me a minutos de sofrimento e angústia. O frio já era cortante por si só.

Era difícil calcular ao certo em que estação estávamos se não olhássemos atentamente ao nosso redor. O que acontecia era o seguinte: com a pressão de ter que sobreviver de alguma maneira, às vezes esquecíamos de parar um instante, respirar fundo, colocar as coisa de volta aos eixos e absorver o que restava de belo no mundo arruinado pela destruição. As folhas, lembrei de quando ainda era o início da tarde, mostravam estarmos mais ou menos no verão, então, o que ocorrera para termos aquele gélido tempo? E o costumeiro abafado e o calor pegajoso de vinte e quatro horas por dia? Se não fosse a coloração bem forte de verde cobrindo os arredores, era provável que nem reconhecêssemos que parte do ano nos encontrávamos, a qual, no caso, era entre os meses de Junho a Agosto, se minhas apostas estivessem certas.

Controlei minha respiração, tentando deixá-la o mais fiel possível a uma pessoa exausta, que deveria estar cansada e com vontade de entrar em um coma temporário, tamanha fadiga esta. Eu a mantinha suave e ritmada, mas com longos intervalos antes de inspirar novamente o cheiro de terra e grama por baixo de meu corpo. Eu não sabia quem estava acordado comigo, vigiando-me. Se eu abrisse os olhos e, de relance, quem quer que fosse o indivíduo me visse, assuntos que poderiam ser tratados, apesar da minha presença, seriam evitados. E eu necessitava de muitas informações, cujos detalhes, quem sabe, garantiriam a minha segurança...

Foram horas de tortura. Por um lado, eu sentia muito bem o intenso desejo de relaxar, porém, a adrenalina correndo por minhas finas veias escancaravam o porquê de não conseguir dormir: tinha a sensação de estar sendo caçada. Estava ciente de um par — senão outros — de orbes desconfiadas dissecando-me lentamente, enquanto eu precisava atuar. Esta parte não era tão complicada, afinal, antes do apocalipse surgir destruindo tudo, estava prestes a conseguir meu diploma do curso de artes cênicas em uma das escolas de Arte mais graduadas de Chicago. Um teatrinho a mais ou a menos não era uma missão impossível... Exceto o fato de ter a impressão de estar sendo dilacerada por rostos famintos. Rostos humanos, rostos de estranhos, rostos da minha família...

Eu estava paranoica. Nem sabia como conseguira enfrentar anos sozinha sem enlouquecer, mas era óbvio que meu nível de pessimismo encontrava-se em um nível mais elevado que o normal. Talvez esta fosse minha taxa de loucura, com a "bela" cortesia do fim do mundo. Só de lembrar daquele dia, da dor não só do momento, como da interminável espera da morte, a qual me esperava no corredor a cada passo vacilante que dava em direção ao incerto, à mercê do destino... As ocasiões em que desfaleci naquela farmácia abandonada, tentando suturar o corte; o tecido cobrindo cada pedacinho da minha boca e alcançando minha garganta, pois tinha noção de que gritaria e atrairia errantes; a cicatriz...

Provavelmente, acima de tudo, a dor psicológica foi a que fez uma marca mais profunda, um corte que não cicatrizava, ao mesmo tempo em que era de onde tirava minhas forças para seguir em frente. Eram constantes minhas divagações sobre isso. De onde tirava tanta vontade de sobreviver? Por que não desistir? Por que não se deixar levar pela morte, a qual esperava, ansiosa, no corredor como sempre? Bom, por mais que minha cabeça dissesse "sim" à tentadora oferta de simplesmente tombar no meio daquela floresta de três anos atrás ou de desistir durante meu período de isolamento, meu coração rebatia com um forte e poderoso "não". Tamanho impacto este que vencia meus demônios, que se cravaram à minha pele, como calos de um velho minerador.

Fora uma longa noite de suor frio e de arrepios involuntários, mas não a pior da minha vida, tinha certeza disto. Havia passado por coisas bem ruins, as quais venciam de lavada qualquer temor meu naquela fazenda. Quando senti os primeiros raios do Sol, esperei uns segundos para espreguiçar-me, dando mais veracidade à minha atuação. Meus músculos estavam tão rijos de me obrigar a mexer o mínimo possível, que pensei que teria um acesso terrível de câimbra, além do corte suturado por Hershel latejar pelo movimento, e meu anseio por não estar cercada por tanta gente quase foi mascarado pela dúvida de se tudo não passara de um pesadelo.

Fitei as barracas: os sobreviventes acordando e se arrastando às suas tarefas diárias, surpresos por eu não ter tentado fugir ou machucar alguém. Não fora sonho nem nada... Eu realmente estava para enfrentar um dia ao redor de pessoas desconfiáveis.

Forcei-me a sentar de uma vez, ao mesmo tempo em que sentia minha visão nublar pelo esforço. Eu tateei minha cabeça, encontrando um galo na região em que levara uma coronhada. Doía consideravelmente, trazendo um latejar constante e chato, uma pontinha incômoda, a qual parecia dizer: "Não se esquecerá de mim tão cedo e farei questão de lembrá-la da minha existência sempre que se mexer.". Grunhi e esfreguei meu rosto para mandar o cansaço embora.

A uns poucos metros de mim, Glenn estava sentado em um banquinho portátil, daqueles usados em churrascos na praia, e portava uma espingarda. A arma estava apoiada no chão e inclinava-se até o cano descansar em seu ombro. Seu semblante era pensativo, encarava a grama aos seus pés e deixava o boné cobrir uma pequena parte de seu rosto. Aquele era o cara me vigiando à noite? Não que estivesse menosprezando sua capacidade para tal tarefa, pelo contrário, tinha certeza que era um ótimo sobrevivente, mas ele estava muito aéreo. Só de pensar nas chances de ter me esgueirado pelas sombras e procurado minhas armas... Não, seria estupidez. Ele não poderia ter sido o único a estar acordado.

Verifiquei minuciosamente tudo ao meu redor, absorvendo cada detalhe possível. Havia um trailer mais ao longe, algo que perdera totalmente quando analisara o local antes e era bem provável ser o mesmo referido por Rick na noite passada. Um homem de barba branca e chapéu de pescador estava sentado na parte superior do veiculo e não tirava os olhos dos arredores. Um binóculo estava pendurado em seu pescoço. Bom, onde ele se encontrava, era óbvio que possuía uma visualização de primeira. Imaginei quantas horas o senhor passava sentado naquele Sol, o qual já dava indícios que seria escaldante.

Suspirando e tentando aparentar calma e nem um pouco de suspeita, abri minha mochila, que estava amassada, e constatei que a tesoura de costura e as agulhas de crochê continuavam lá. Só assim pude relaxar um pouco os ombros, movimentando-os em círculos para amenizar o desconforto, e alcancei a garrafinha de água. Minha garganta estava seca e, ao molhar os lábios com a língua, senti a aspereza destes. O mínimo gole foi recebido com um som seco. Para não me sentir tentada a beber mais, guardei-a novamente.

— Dormiu bem?

Um arrepio percorreu meus braços e lentamente virei para trás, ainda sentada, dando de cara com Shane. Ele acabara de lavar o rosto, por isso, gotas pingavam em sua camiseta e parte de seu cabelo estava encharcada, além de ter uma expressão de humor negro, um sarcasmo que não estava disposta a aturar, não naquela hora de manhã. Afinal, ninguém merecia. Suas palavras indicavam ter nojo da minha presença, evidenciando que eu não deveria poder dormir com os outros. Se dependesse dele, tinha certeza que me amarraria em uma árvore e me deixaria lá para ser devorada, abandonada, assim como...

Passara menos de um dia e eu já não suportava mais a simples ideia de vê-lo a quilômetros de mim. Por algum motivo, eu estava prestes a estourar de irritação. Talvez por ter notado que era real. Eu realmente teria que colher fucking hortaliças e ainda arranjar um blefe para encontrar minhas armas. E ainda havia o fato de estar cercada de pessoas...

Bufei, imaginando se, na verdade, o xerife havia mesmo colocado-o como meu vigia e Glenn não tinha nada a ver com a história. Não, tirei isso de minha cabeça. Impossível. Minhas suspeitas de que o homem musculoso não tinha virado a noite comigo foram comprovadas ao sentir o coreano empunhando a espingarda, logo atrás de mim, receoso do que seria forçado a fazer.

— Isso não é da sua conta. — Sibilei, murmurando. —  Você não se toca? O mundo virou um inferno e você está ocupado enchendo a minha paciência! — Arquejei, retomando minha sã consciência, e controlei o ímpeto de avançar, pois sabia que estava ameaçando minha vida ao agir de tal forma. — Argh, só... — Arfei. — Só não é da sua conta.

Cuspi as palavras e já me encontrava em pé, agarrada à mochila, ao ter levantado de súbito pelo meu acesso explosivo. Minha visão nublou e senti uma dolorosa tontura, a qual me pegou desprevenida, porém, certa de que iria fingir não se sentir coagida, ergui o queixo e dei um passo à frente, em posição de confronto. Após falar naquele tom, não poderia me afastar, pelo contrário, tinha que mostrar coragem. Estreitei os olhos quando ele retorceu a boca, expressando desgosto pela minha presença no acampamento.

— Você... — Apontou o dedo indicador para mim. — Você acha que sabe de tudo por aqui, não é? — Abafou um riso. — Bom você não sabe, garota, então, por que você não se toca, hein? Por que você...

De repente, algo mudou em seu semblante e sua voz falhou. Ele encarava alguma coisa ou alguém, além de mim, que não lhe agradara. Uma ira, portanto, pior estava presente em sua postura: os braços retesaram; fez questão de respirar pesarosamente e não sustentou mais aquele pungente ar sarcástico, somente uma camada de seriedade. O conjunto dizia-me que a causa dessa brusca transformação não fora eu e, aos poucos, incerta de ter que desgrudar a atenção do meu maior perigo ali até então, descobri quem era o responsável por enfurecer Shane e rapidamente voltei a fitar o de pavio curto.

Rick estava postado entre Glenn e eu, com a mão sobre o coldre. Tinha um olhar analítico, contemplando as diversas possibilidades de resolver a confusão, se possível sem alguém saindo ferido. Era inegável que sua profissão precisara mesmo ter sido ligada à lei e à liderança, porque ela apenas encaixava-se perfeitamente ao seu perfil. Lembrei das noites em que pensava na área, a qual trabalharia quando crescesse. Arte era a única coisa que despontava em minha mente, confrontando o setor "dinheiro", uma das maiores preocupações de meus pais. "Como eu ganharia dinheiro com meros desenhos ou pinturas?", diziam eles. Tivemos tantas discussões referentes a esse assunto, mesmo eu tendo pouco mais e dez anos na época e, no final, de nada adiantou... A curto prazo, eu estava longe de precisar pensar em profissões com o estado decadente do país.

— Afaste-se dela, Shane. — Carregava uma falsa entonação apaziguadora. — A menina sabe bem a posição ela e não precisa ser lembrada, não é, Katrina?

Pisquei algumas vezes, espantando a raiva e a vontade de só dar as costas a tudo e a todos, e assenti lentamente sem tirar os olhos do companheiro irritadinho de Rick. Eu não sabia a razão de estar tão complicado ter o necessário jogo de cintura para não arranjar mais inimigos e conseguir concretizar meu plano. O que estava acontecendo comigo? Se eu continuasse agindo assim, nem o plano eu precisaria engolir, pois estaria morta antes do final do dia.

Shane aproximou-se a passos rápidos de nós e, quando estava a centímetros de mim, tanto é que pude sentir o cheiro forte de seu suor, parte de sua carranca se desfez e ele esboçou o usual sorriso meio psicopata novamente. Tinha um aspecto que me amedrontava mais do que eu gostaria e tive de forçar meus pés a permanecerem estancados, na mesma posição, diante da distância perigosa, a qual nos encontrávamos. Acho que ninguém sabia, na real, o que se passava em sua doentia mente, porém, algo me dizia que ele não era daquela maneira antes, afinal, por mais que o pai de Carl demonstrasse um sentimento longe de ser amistoso em relação ao cara, parecia ter um controle impressionante sob suas decisões, quase como se fossem amigos antigamente e de longa data, só para piorar o ambiente. Então, o que mudara? Será que levava às suspeitas de uma traição? Não, deveria ir além disso...

Quando eu não suportava mais segurar o ar em meus pulmões, tamanho meu receio de algo perigoso ocorrer, finalmente o homem problemático afastou-se. Ele caminhou em direção a Glenn e Rick, despertando meu interesse sobre até qual ponto o homem estava disposto a chegar. Sabia muito bem que, a partir de um certo momento, não havia mais volta: o mundo estragaria as pessoas por completo, transformando todos em monstros lutando pela própria sobrevivência, e alguém sairia ferido nessa história.

Ao passar perto o suficiente, Shane esbarrou no xerife de propósito, murmurou algo que não foi recebido muito bem, e saiu bufando, todo nervoso, só que, desta vez, mascarava sua ira no usual sorriso forçado. Rick limitou-se a encarar os próprios pés com o maxilar travado e a respiração pesada. Ao seu lado, o coreano abaixou a espingarda, voltando o olhar para trás de si e verificando se Shane realmente tinha ido embora e, ao constatar que sim, fitou o líder, o qual acenou com a cabeça para mim, em sinal de ''Siga-me.", e colocou a mão no ombro de Glenn, agradecendo silenciosamente, antes de seguirmos caminho. O último somente assentiu e foi deixado lá, enquanto eu ia ao encalço do xerife.

Nos afastamos alguns metros do acampamento improvisado e, durante o trajeto, fingi prestar atenção apenas no gramado, chutando as pedras que achava, esclarecendo mais uma vez como eu estava "feliz" por estar ali, naquele momento, naquele lugar. Ao longe, T-Dog conversava com uma mulher loira, a qual desconhecia o nome, e Daryl. Os três encaravam um papel gigantesco sobre o capô de um carro, um mapa. Então, entendi: possivelmente, eles sairiam para uma busca pela menina desaparecida e formavam rotas e possibilidades, ou era uma busca por suprimentos mesmo, não importava. O que importava era que levariam os melhores, se eu tivesse sorte — algo incomum —, inclusive Rick e Shane iriam. O pensamento clareou meu mau-humor e passei a considerar como colocaria meu plano em prática, o de procurar minhas armas. Ou não... Eles não correriam o risco de levar uma quantidade muito grande de pessoas boas com armas. Ficariam de olho em mim, sem contar com Carl, que seria obrigado a me seguir como um cachorrinho perdido. Não seria fácil.

— ... e você deveria ignorar Shane, e não alimentar a fogueira. — O homem endireitou o chapéu, sentindo o calor do Sol contra sua face. — Não posso protegê-la sempre, não estarei sempre lá, ou Glenn...

Transpareci o fato de não ter escutado a primeira parte da conversa, amaldiçoando-me. E se eu perdesse um detalhe? Um mísero detalhe, o qual me separava da morte certa ou da chance de continuar respirando? Xinguei-me mentalmente e apenas revirei os olhos, deixando claro que não precisava da proteção do xerife. Eu temia, sim, o cara de pavio curto, porém, precisava mostrar que conseguiria me cuidar sozinha, sem depender de ajuda dos que me fizeram refém. Eu tinha o dever de escolher a máscara da ignorância. Ignorar o potencial perigo, ignorar as consequências e viver o agora. Não demonstrar fraqueza. Fraqueza levava à morte...

Rick deu um riso anasalado, fitando-me minuciosamente após eu ter expressado puro desdém diante de sua chamada. Eu já olhava para a grama, impedindo contato visual. Contatos visuais normalmente geravam desconforto, o qual, por consequência, faziam os humanos falarem algo, qualquer estupidez ou bobagem, para quebrar o clima estranho. Não abriria a boca, tanto é que mordi minha língua, sentindo a dor para lembrar de que as minhas palavras poderiam ser usadas contra mim a qualquer momento. Era uma tática do xerife, transmitir segurança e até amizade e, enfim, conseguir informações. Estava em seu sangue, era sua natureza.

— Eu sei que está pensando que consegue cuidar de si mesma... — Franziu a testa. — ... e, sinceramente, não sei se isso é uma coisa boa ou ruim. Só sei de uma coisa: excesso de confiança pode resultar na sua morte.

Controlei a vontade de retrucar "Não é excesso de confiança, é justamente o oposto.", e permaneci fiel à decisão de não dizer absolutamente nada, a não ser que eu visse como uma vantagem futura, sobrevivência ou se fosse de extrema necessidade... Continuei, assim, a observar a paisagem: as pessoas já se reuniam, após se lavarem em algum lugar, para comer o café-da-manhã; Lori enviava-me um olhar um pouco menos psicopata que o dia anterior e, ao seu lado, Carl assistia, afastado de sua mãe, a minha conversa com seu pai atentamente, como se participasse desta, mesmo estando a uns dez metros de nós e não pudesse ouvi-la; a mulher loira, a qual participava da discussão com Daryl e T-Dog, berrou algo e saiu batendo os pés em direção ao círculo de barracas, deixando-me levemente curiosa, apesar de eu disfarçar muito bem; o caipira pegou uma latinha e entrou no trailer, voltando alguns minutos depois e elevando ainda mais o nível de minha curiosidade...

— Hoje em dia, só é possível sobreviver com a ajuda de outros. — Analisou minhas feições, as quais se retorceram em inimizade. — Sabe disso, não é?

Não respondi. Eu possuía três anos de isolamento provando que era, sim, possível sobreviver sem a ajuda de outros, e algo me dizia que Rick tomava isso em consideração. Quando ele falava daquela maneira, estranhamente sentia que ele pudesse estar tentando me convidar a fazer parte de seu grupo, mas a desconfiança falou mais alto. Era uma questão de tempo até verem que eu só mascarava minha real personalidade — a covarde, a fraca e a descartável — e não valia a pena ser salva. Eu já estava apodrecida pelo meu passado e nada seria capaz de me ajudar. E, se houvesse, eu não a aceitaria. Afinal, eu já deixara seres humanos serem mortos por outros da mesma espécie. Talvez eu tivesse mesmo matado indiretamente pessoas. Eu era desprezível, um monstro assustado, vivendo em uma peça de teatro.

Em minha cabeça, despontavam várias dúvidas. Uma, no caso, relacionada ao porquê do xerife perguntar se eu chegara a tirar a vida de pessoas, depois do inferno descer à terra, sendo que eu tinha a impressão de que ele se sentia tão despreparado para fazê-lo a sangue frio. Ao estar em sua companhia, eu ficava intimidada, pois o homem lembrava a faceta de detetive de meu pai, o qual sempre sabia quando eu fizera alguma besteira e eu tentava escondê-la. Por outro lado, ele era o que menos transparecia a vontade de me matar na surdina, então, uma parte anulava a outra. Tudo isso enquanto Hershel representava o lado paternal bonzinho... Esse pessoal estava me deixando mais louca que o normal.

— Por que você perguntou para mim se eu já matara pessoas, sendo que nem você chegou a esse ponto ainda? — Refleti, murmurando. — Você viu acontecer?

Rick não se surpreendeu mais uma vez por eu ter iniciado um assunto aleatório do nada, mas ficou pensativo sobre o que dizer.

— Eu não preciso matar alguém para saber que esse mundo nos leva à insanidade. — Pausou com uma veia saltando em sua testa. — Há alguns meses, eu estive no CDC, sabe o que é?

Ponderei por um instante e neguei.

— Um centro de reabilitação? — Indaguei, sincera. — Não, não sei... Deve ser algo importante.

— Centro de Controle e Prevenção de Doenças... — Falou rapidamente, preso em lembranças. — O único cara que vivia lá, enlouqueceu. Edwin Jenner... — Revelou o nome com repulsa. — Deu uma bela refeição a nós, deixou minha gente usar um chuveiro decente, nos acomodou, antes de nos prender lá para morrer, mesmo nós não querendo tal destino. — Seu tom de voz engrossou, revelando raiva por terem ameaçado a segurança de sua turma. — Alguns queriam, na verdade, mas a maioria não.

Engoli em seco, lembrando do papo que tivemos no dia anterior.

— Você disse que havia pessoas do seu grupo que desistiram da vida, simplesmente se soltaram...

Rick travou o maxilar e assentiu, completamente sério.

— É...

Algo ainda não estava certo. Sabia disso. Eu estava insaciada, precisava de respostas, de informações. Tentaria dissecar cada mente ali para prever quem poderia me causar algum mal. Óbvio que, no momento, minha desvantagem chegava a ser estúpida de tão grande, porém, estava decidida a mudar esse placar.

— Por que você conta essas coisas para mim? — Pigarreei. — Digo, eu sou a refém, a menina em território inimigo...

O homem encarou-me tão sério antes de quebrar o contato visual, que senti minha alma sendo testada em uma balança. Ele contemplava se poderia revelar o que estava prestes a falar, ou seja, era algo delicado e pessoal. Ajudaria na hora de criar um perfil para Rick Grimes. Perfis... Meu pai era policial e criava esses perfis para prender os criminosos, mas nunca havia dado muita importância a isso até minha família me abandonar. Se eu não estivesse tão cega pelo fato que era o meu sangue sendo o responsável por aquela crueldade, eu com certeza teria visto os detalhes com clareza e criado um perfil para meus pais. Estúpida... Fui tão estúpida.

— Eu era xerife do Departamento de Xerife de King County e eu fazia meu trabalho, sabe? — Assistiu-me dar chutes em pedrinhas ao meu redor. — Eu era bom no meu trabalho, tinha meus deveres e os cumpria, e sei dizer com todas as letras que não é uma ameaça para nós, pelo menos por enquanto.

Arqueei a sobrancelha.

— Por enquanto?

— Segredos nos corroem e são extremamente perigosos nesse mundo... — Arrumou o chapéu, encarando alguém ao longe que se aproximava: Carl. — Acabamos mortos.

Esbocei um sorriso seco.

— Acha que tenho segredos, Rick Grimes?

— Todos têm segredos. — Rebateu na hora.

Ergui o rosto para enxergar melhor sua expressão reclusa. Seu filho já estava a menos de cinco metros de nós e portava sua arma no coldre e duas latas de algum alimento qualquer em mãos. Ele tentava encobrir os passos largos que dava, guiado pela curiosidade em relação ao assunto que eu o homem tratávamos, mas em vão. Era tão evidente, apesar de seu olhar mostrar um pouco de raiva. Será que ele havia discutido com alguém? Com sua mãe, talvez? Afinal, a distância colocada entre ele e sua mãe parecia algo bem proposital.

— E quais seriam os seus, ó, xerife do Departamento de Xerife de King County? — Recebi nada mais, nada menos que seu silêncio. — Bom, ao que parece, não serei a única a acabar morta.

O garoto finalmente nos alcançou e estendeu a mão com uma lata de milho para mim e outra para Rick. Tomei um cuidado extremo para não tocar em seus dedos esguios quando ele passava-me o enlatado, algo que não passou despercebido por tanto o pai como o filho. Um desconforto diferente do que sentia em relação ao restante das pessoas surgia quando seus elétricos e jovens olhos azuis encaravam-me, embora os do xerife fossem iguais. Era uma contradição, a qual parecia idiota, porém, para mim era deveras impactante. Deveria ser vergonha pela humilhação que ambos passamos na noite anterior.

Não pude impedir fitar de soslaio o casarão atrás de nós e o mais velho seguiu meu raciocínio, encarando a construção com um semblante frustrado. Eu estava certa, então, sobre a razão de estarem tão desconfortáveis: eles não estavam acostumados em fazer as refeições juntos. E a decisão do fazendeiro era a considerada naquele grande lote de terra. Eu até poderia estar recebendo cortesias por não estar algemada ou morta, pensei nas palavras de Rick, mas ele e seu grupo passavam pela mesma situação. Somente uma cortesia, relacionada à menina desaparecida. É claro! Orgulhei-me em silêncio por achar ter conseguido compreender as nuances entre os grupos sobreviventes.

— Ontem foi uma exceção... — Explicou, percebendo que eu não falaria, mesmo morrendo de curiosidade, se eu estava ou não, correta. — Nós realmente pensamos que iríamos encontrar a garota e, no final, ficamos frustrados demais. Aí, Hershel permitiu um jantar na casa dele...

Assenti, indiferente, tentando esconder como eu queria mesmo sua explicação. Não gostei do xerife conseguir me ler daquela maneira e, ao que parecia, seu filho seguia pelo mesmo caminho. Os músculos do último se retesaram ao colocarmos a garota no meio da discussão, e recebi isso com cuidado. Talvez ela fosse sua fraqueza? Poderia, sei lá, usá-la para atingi-lo? Seria horrível cutucar uma ferida aberta, só que eu mal os conhecia... Se um já era ruim, imagine dois caras premeditando meus passos e pensamentos? Precisava ser mais cuidadosa, mais transparente... Seguir com o plano sob a companhia de Carl seria um desafio.

— Bom, acho que vocês dois têm coisas para fazer, certo? — Rick suspirou, arrastando-se para longe, sem antes colocar a mão sobre o ombro do filho, repassando segurança em uma frase mental "Você tem tudo sob controle?", respondida por um aceno do mais novo. — Vejo vocês depois.

O menino estava atento em mim, mas não pôde não olhar o pai se afastando em direção a Daryl. Então, os dois estavam saindo da fazenda provavelmente... Eu tinha que ajustar as coisas para isso se tornar uma vantagem para mim. Imediatamente, espaireci, pois a cada vez que sentia o par de orbes azuis sobre mim, eu imaginava estar tendo a mente lida e revirada. Era algo tolo, porém, com minha vida em jogo, não poderia permitir saberem de meus planos, mesmo todos já aguardando uma tentativa minha de escapar. Começar ajudando na colheita seria um belo jeito de indicar que não me aventuraria tão cedo a fugir, encobriria minhas decisões.

Segurei com mais força a latinha e procurei ao meu redor alguma pedra, ignorando a presença indagadora do jovem. Caminhei alguns minutos e achei uma do tamanho de meu punho fechado, satisfeita. Tentei limpá-la precariamente, movendo meus dedos finos e esfregando a terra, e agachei, sentando em minhas próprias pernas e posicionando o enlatado à frente. Eu estava um pouco coagida de fazer isso na frente de Carl, imaginando se me humilharia mais se não conseguisse abrir.

Espantei meus pensamentos. Já fizera várias vezes isso e tudo daria certo, falei para mim mesma. Desta vez só seria diferente, porque precisaria bater a pedra mais vezes e não só amassar o metal para torná-lo mais propenso a ser cortado pela lâmina de minha faca, a qual se encontrava escondida em algum lugar aos arredores. Não prolonguei muito minhas divagações: passei a socar a tampa metálica com força.

Depois de alguns minutos, consegui, enfim, abrir um buraco de três centímetros, mas algo me veio à mente. Como eu torceria as abas do furo para trás, aumentando a área para pegar o alimento, sem me cortar durante o processo? Pensei com meus botões pelo que pareceram horas até finalmente decidir pela sorte. Com muito cuidado, tentei dobrar o metal, só que, apesar da atenção duplicada, como era um espaço muito pequeno, um corte surgiu em meu dedo indicador e do meio, fazendo-me retirá-los do contato com a tampa.

Encarei o sangue começando a escorrer em filetes escarlate e praguejei aos sussurros. Carl bufou diante da cena fracassada e, de súbito, voltei o olhar a ele. Eu estava com um honesto olhar assassino estampado no rosto, o qual prolongou-se por mais um tempo, pois o garoto expressou mais ainda estar vigiando uma burra sem parâmetros.

— Além de não saber bater antes de entrar... — Estreitei os olhos, satisfeita por deixá-lo meio corado. — ... também é um mal-educado sem escrúpulos?

Seu rosto fechou de raiva e, antes que previsse, ele alcançou a latinha, bufando mais uma vez. Não tive tempo de reclamar, porque ele sacou uma faca em seu cinto e passou a cortar a tampa metálica e, sem dizer mais nada, entregou-a para mim.

Fiquei sem fala, mas meu lado orgulhoso não caiu. Continuei a fitá-lo, ácida e dizendo claramente um "Não fez nada mais que sua obrigação, grosso!", mesmo uma parte de mim querendo agradecer. Suprimi essa chata e fraca parte e analisei o conteúdo da lata, em dúvida. Não era possível terem colocado veneno, já que ela estava fechada antes, só que e se Carl conseguisse inserir alguma coisa suspeita sem que eu percebesse? Era uma possibilidade, mas eu estava de olho, a não ser que ele fosse algum tipo de mágico. Encarei o garoto carrancudo e, de imediato, dispensei essa perspectiva. Comecei a comer em silêncio, assim, contrariada e pensativa.

— Vamos. — Praticamente cuspiu as palavras, despertando-me. — Pediram que você ajude as mulheres na horta.

Sem esperar eu terminar de me alimentar, fui obrigada a segui-lo. Enquanto eu colocava o milho na boca e mastigava, estudei o filho do xerife. Ele continuava com a mão sobre o revólver e fazia bastante barulho ao andar, quase como se fizesse questão de pisar em galhos quebrados e nas folhas secas para dar uma repercussão maior a suas entradas triunfais, como na suíte principal. Minhas bochechas esquentaram e tirei isso da cabeça.

Ele andava com uma postura mais rígida do que a da noite anterior. Com certeza, houve uma briga. Já criava em minha mente o que acontecera: sua mãe tentando se esquivar de suas perguntas intrigantes e seu pai tentando apartar a discussão, mesmo sendo o mais afetado entre os três... Na verdade, acho que seria fácil derrubar Carl com um simples e inesperado golpe. Ele era mais alto que eu, mas era esguio, tornando mais fácil imobilizá-lo.

Atentei-me à faca pendendo em sua cintura, conforme o menino andava. Era tão tentadora... Uma dorzinha psicológica transmitia a saudade que eu tinha de ter minhas armas comigo. Era estranho não sentir a presença do machado batendo contra minha perna e a pressão costumeira do suporte em minha coxa, acompanhada pelas facas... Estava tão à deriva e tudo que eu tinha em minha defesa era minha inteligência e a capacidade de observar as pessoas até ter todas as informações necessárias para sobreviver, e meu treinamento em krav maga.

Mais cedo do que imaginava, chegamos ao espaço de agricultura. Uma cerquinha de arame rodeava o lugar, onde várias verduras e pés de tomate descansavam, totalmente alheios ao apocalipse. Lori estava lá, junto com uma mulher de cabelos grisalhos e curtinhos, e a moça de olhos verdes, a qual sentara perto de Glenn na noite anterior. Aproximei-me, incerta, e respirei fundo, travando o maxilar, preparada para mostrar que não iria fugir tão cedo. Era só eu me comportar e acabar com meu lado rebelde...

Carl afastou-se de sua mãe assim que a viu e postou-se um pouco atrás de mim. Senti sua presença e, por alguma razão, senti os pelos de minha nuca arrepiarem. A causa? Não sabia... Provavelmente, ainda era a vergonha dilatando e repercutindo em minhas ações. Afinal, não havia chances de ser qualquer outra coisa. Os olhos da mulher de cabelos acinzentados brilharam quando eu passei pela teia de arames. Estranho...

— Olá. — A de olhos verdes decidiu falar pelo desconfortável silêncio. — Katrina, não é?

Indiquei que sim.

— Sou Maggie. Soube que nos ajudará na colheita... — Esboçou um sorriso estranhamente sincero. — Venha, vou ensiná-la. Acho que nunca fez isso antes, estou certa?

Molhei os lábios e neguei, abrindo um sorriso de lado, um pouco forçado, porém, gentil. Lembrei de como ela me analisara na primeira vez em que nos encontramos: formava uma ideia sobre mim. Será que ela já se decidira? Não posso confiar nela, apesar de seu explícito esforço para me sentir mais à vontade. Decidi observá-la por mais um tempo antes de taxá-la como grande ameaça ou quase-nenhuma-ameaça.

— Não é muito a minha praia...

— E qual seria sua praia?

Não respondi, notando o caminho sinuoso em que estava entrando. Senti os curiosos olhares, os quais temiam que eu dissesse "Torturar criancinhas e matar nas horas vagas com a companhia de meus amigos da máfia.". Como eu não devia qualquer satisfação aos quatro, permaneci na minha, decidida a não me abrir para estranhos. Do que valiam meros nomes quando as pessoas com que você conviveu por doze anos e que pensava conhecê-los como um livro aberto simplesmente a surpreendem, abandonando-a para sobreviverem?

— Venha... — Sorriu, disfarçando seu incômodo por não receber uma resposta. — Temos cenouras e batatas para colher e alguns dos tomates já estão maduros também.

Senti meus coturnos na terra fofa e o aroma de adubo em minhas narinas. Torci o nariz levemente e, logo, retomei a compostura. Maggie abaixou-se e tocou em uma folhagem de um tom lindo de verde e tornou o rosto em minha direção, sorrindo simpaticamente.

— Que tal começarmos com as cenouras? — A mulher franziu a testa, pois somente dei de ombros. — Bom, primeiro cavoque a terra ao redor, torça um pouco o legume e puxe com força. Cavoque, torça e puxe. Simples, não?

Concordei, acompanhando seus passos com o olhar. Ela depositou o alimento laranja e sujo de terra em um cesto de palha, no canto. Ele já estava bem cheio. Analisei as mãos de Lori e da outra mulher, as quais estavam com vestígios de que começaram a colher as hortaliças bem antes que eu chegasse.

— Sua vez.

Pigarreei, atenta ao meu redor — aos detalhes — e agachei, fitando a longa fileira de folhas na terra como se elas fossem alienígenas. Abri e fechei a mão direita, preparando-me psicologicamente, até que ouvi alguém bufar. Não precisava virar para trás para saber que fora aquele garoto prepotente. Ignorei-o e segui as etapas ensinadas pela moça. Por fim, arranquei o legume de uma vez e coloquei-o na cesta.

— Viu? — A mulher de olhos verdes sorriu. — Você conseguiu!

Não dei ao trabalho de conter um sorriso de satisfação e, de relance, percebi vibrantes olhos azuis prestando atenção em mim. Eu quase havia me esquecido de sua presença, mas ele precisou duvidar da minha capacidade de colher uma porcaria de cenoura... E pensando nisso, eu queria muito comer algum legume fresco. Seria revigorante. Ou talvez fosse me deixar mais paranoica ainda, presa ao passado... Minha cabeça estava tão ferrada.

Consegui colher mais algumas cenouras e, em breve, poderia colher os tomates maduros. Mal notei quando a mãe do jovem saiu, só ao berrar por ele, lá no acampamento improvisado. Encarei o menino, arqueando a sobrancelha, pois ele não fez questão de responder ou de sair do lugar. Continuou de costas para a mulher. Revezei o olhar entre mãe e filho, absorvendo cada detalhe.

— Pode ir, Carl. — A moça de cabelos grisalhos falou, bondosa. — Já estamos acabando por aqui.

Ele enviou-me uma longa fitada e praguejou ao escutar Lori gritar novamente. O garoto virou, derrotado, e saiu dando passos duros e pesados. Assim que ele se afastou, um silêncio desconfortável instalou-se, já que Maggie estava parcialmente longe de nós duas. Tentei me ocupar com as tarefas, repassando em minha cabeça as etapas, mesmo tendo-as decorado muito bem, afinal, eram ridículas de tão simples: cavocar, torcer e puxar...

— Minha filha, Sophia, está lá fora... — Enxugou lágrimas que insistiam em cair e deu um leve sorriso de tristeza. — Ela está sozinha.

Molhei os lábios, incomodada, enquanto observava a mulher silenciosamente, esperando pelo que viria. Então ela era mãe da menina desaparecida...

— Quando Rick apareceu carregando você desacordada, ao longe, pensei ser a minha Sophia, mas quando chegaram mais perto... — Sua voz sumiu por um instante. — Isso não importa... Você disse que sobreviveu três anos sozinha, não é? — Sacudiu a cabeça. — Sua presença significa que ela pode estar viva lá fora, por isso, não posso desistir. Tenho que acender o fio de esperança novamente, por mais que eu queira... — Suspirou, pausando seu raciocínio. — Então, obrigada. Obrigada por abrir meus olhos e não fazer eu desistir.

Absorvi suas palavras, quieta e com muito cuidado. Estava envolvida em um terrível transe e meus olhos arderam por alguns segundos, porém, pisquei rapidamente, fitando o chão, para espantar as lágrimas de fraqueza. Fazia tempo demais que não chorava e não seria naquele momento que voltaria.

— Ah, e a propósito... — Ergueu a mão. — ... sou Carol.

Indecisa, apertei sua mão, devido à sua expressão de noites acordada chorando. Não queria ser grossa e não achava certo a mulher me ver como a luz no final do túnel. O que aconteceria se sua filha não tivesse tido a mesma sorte que eu? Quem seria a culpada por cegá-la da possibilidade de nunca mais ver Sophia? Ou de encontrá-la... Transformada? Não era meu dever ajudá-la a enxergar, entretanto... E eu não destruiria sua esperança, a qual pulsava forte por minha causa.

As circunstâncias foram tão diferentes. Ali, encarei a mulher, sem saber o que dizer e, mais ao longe, Lori. Elas amavam suas famílias, era evidente. O grupo de Rick tinha seus problemas, mas eram todos sobreviventes, os quais não abandonavam os fracos, pelo contrário, os ajudavam a encontrar suas forças. Quase me belisquei pela minha perigosa linha de pensamento. Se eu continuasse assim, cedo ou tarde, viraria a Katrina Wayland de anos atrás e isso representaria a minha destruição... 


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Notas finais do capítulo

O que acharam??? Peço que comentem, por favor, e não me deixem naquela dúvida horrível se eu caguei ou não no capítulo anterior. Tentei o meu melhor nesse capítulo de hoje e vou me esforçar cada vez mais, ok?
> Então, gente, como viram, escolhi a atriz Rowan Blanchard para representar a Kat, mas se sintam livres para imaginar sua própria Katrina Wayland, afinal, essa fic não faço só para meu bem-estar, faço principalmente para vocês, leitores. E, por alguma razão, passei um tempão tentando fazer a imagem ser reproduzida e não deu certo. Estou um trapo irritado agora. Peço que usem o link até eu resolver isso. Link: http://i328.photobucket.com/albums/l328/paper_wings/Natural%20Selection/1.%20Carl%20Grimes%20amp%20Katrina%20Wayland_zpsekfzrjmj.jpg
> Vou postar algumas vezes uma foto com Natural Selection Characters. Não há aviso nem nada... Vou colocar conforme a história cresce. Assim, podem ver os personagens na cabeça de vocês, ainda mais para aqueles que não assistem TWD.
> Essa fic passou a ser postada no Social Spirit, mas pode eventualmente ser excluída pelo número baixo ou inexistente {chorei agora} de leitores.
> SPOILER: Quem assiste a série percebeu que a Carol ainda está como aquela mulher, a qual começa a se mostrar mais forte e a superar seus objetivos. Estou muito ansiosa para escrever quando ela se torna aquela diva bad ass! XD
> Gente, nas notas iniciais, falei que troquei a idade da Kat. Deixa eu explicar... Acho que vocês merecem, né? Desculpa, pessoal, mas alguns sabem que eu estou atrasada na série e eu estou atualizando-a agora, nas férias. Aí, mesmo com a quantidade massiva de SPOILERS, não pensei muito sobre os personagens já evoluídos lá na frente, vivendo a S6 em diante. Então, diminuí um ano para eles não ficarem velhos demais, belezinha?
Estou aguardando seus comentários, no mínimo, tremendo de preocupação. Até.
Xxxxxx



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