Era noite de Natal, Shion já escutou bastante sobre tal coisa apesar de nunca ter tido contato por culpa de toda a manipulação que os que estavam no poder de No.6 faziam. Ele tinha uma noção da felicidade e como tal data era importante pelas expressões e o tom de voz do Nezumi ao contar as histórias dele neste dia. O garoto estava ansioso, porque ele, naquele momento, estaria participando de uma memória muito importante de Nezumi. Mas ele não era o único, Nezumi, desde que planejou, estava completamente animado para este dia. Eles passaram grande parte do dia andando por aí, só olhando as coisas, nada especial, mas agora Nezumi disse que queria fazer algo especial, uma tradição.

A noite estava ali, Nezumi entrou no recinto com uma caixa cheia de coisas. Shion, obviamente, logo correu em direção à porta, onde estava o garoto. Avistou uma árvore pequenina, podia ser igualada com o tamanho do braço de Shion. Junto estavam alguns enfeites, que por sinal estavam em melhor estado comparando com a árvore.

Nezumi sentou no chão e disse: “Vamos montar!”, Shion, no entanto estava perdido. Montariam o que? Para que?

Nezumi logo tirou a árvore da caixa e colocou em pé, na frente dele. Os enfeites continuaram na caixa, ao lado dele. Shion sentou do outro lado da árvore, de frente ao Nezumi.

O garoto começou a tirar as coisas da caixa e foi mostrando ao Shion como deveria ser, e como encaixar ali. Logo o menino aprendeu e os dois conseguiram montar a árvore juntos.

Após isso Shion cozinhou um bolo, e os dois foram comer, em frente à árvore.

“Onde você arrumou essas coisas? E para que elas servem?” Shion disse.

“Eu fiz uma breve caçada desde o dia que te contei sobre Natal.”

“E essas coisas? A mini árvore e esses enfeites?”

“Há um significado para cada coisa dessas, mas quer saber o mais legal, para mim? É com certeza das bolas vermelhas! Elas representam o sangue das pessoas que morreram na guerra!”

“Mas para que eles colocam isso em uma árvore? O Natal é sobre as pessoas que morreram?”

Nezumi fez uma cara de surpreso e logo em seguida não parava de rir.

“Você é muito bobo mesmo, não é? Eu inventei esse significado da bola vermelha, não é verdade. Eu esperava que você ficasse surpreso!”

“Então não tem significado algum?”

“Há sim um significado, a árvore é como se fosse a vida, sabe? E as coisas que você coloca nela, seriam as que você quer em sua vida. As bolas simbolizam frutos, fertilidade, e sentimentos. Cada bola é de uma cor, e cada cor representa algo ou um sentimento. Nós devíamos ter montado ela há um mês, mas como te contei faz pouco tempo, não foi possível. Mas ainda deve valer, né?”

“OH! Isso é sensacional, não é? Fico feliz de poder ter montado isso com você.”

“Você é definitivamente um bobo!”

Eles passaram grande parte da noite ali, conversando sobre enfeites, sobre significados enquanto comiam o bolo. Os sorrisos que eles possuíam naquele momento era algo insubstituível.

Depois de muita conversa e alegria, eles foram dormir. Shion não conseguia segurar a empolgação e simplesmente parar a conversa.

“Diga-me, Nezumi, você está feliz?”

“Que tipo de pergunta é essa?”

“É só que eu imaginei...”

“Durma, está tarde.”

“Eu estou feliz. Quando você me contou sobre este dia, eu fiquei muito empolgado! Eu realmente queria passá-lo com você e consegui. Estou feliz.”

Nezumi não poderia admitir, mas aquilo o fazia explodir por dentro. Fazia emoções inimagináveis transbordarem dentro de si, o fluxo era tão intenso que fazia parecer um lugar muito maior que qualquer outro.

Eles estavam deitados na mesma cama, como sempre, porém Nezumi estava de costas para Shion, após as palavras do garoto, Nezumi se virou de frente para ele. Encarando-o.

“O que foi? Está bravo?”

Nezumi não conseguia compreender o que aquele garoto tinha, e como ele conseguia atravessar barreiras, na verdade, ele voava por cima delas como se fossem somente formigas. Isso era algo que atormentava a cabeça de Nezumi todas as vezes que Shion insistia em fazê-lo transbordar deste jeito. Era difícil para Nezumi respondê-lo quando ele sabia que não o merecia, não era digno. Que a escuridão não pode dominar a luz, caso contrário a felicidade acaba.

“Venha” disse ele ao se levantar, e a caminho da sala onde estava a árvore.

“O que houve?”

“Vamos dançar” dizia isso logo direcionado suas mãos ao corpo do garoto.

E logo eles começaram a dançar, de sua maneira. Era a segunda dança deles, e Shion não conseguia não sorrir. Ele estava feliz demais para isso. O dia foi repleto de Nezumi, de Nezumi tocando-o, do sorriso de Nezumi. Era tudo que ele precisava, era tudo que queria.

Enquanto Shion não conseguia sentir nada além de felicidade, Nezumi estava em uma repleta discussão consigo mesmo sobre querer o Shion, mas não ser digno.

Apesar de tal divergência, eles dançavam como se fossem um só. Haviam se transformado em muito mais que Nezumi, muito mais que Shion. Transformaram-se na mais pura e forte essência da palavra amor.

Shion acordara. Estava perdido, pois não estava na cama de Nezumi, ou fora de No.6. Estava na casa de sua mãe. As emoções dele estavam entrando em guerra. “Foi tudo um sonho?” era o que explodia a cada segundo em seus pensamentos. Após tanta briga dentro de si mesmo, ele percebeu que havia sido somente um sonho. O que silenciou todo o barulho que suas emoções estavam fazendo, agora só havia uma enorme emoção dentro dele, tristeza.

Ele pensou em se animar após o café da manhã, porém ele percebera que era 25 de Dezembro. Então, aquele sentimento perduraria pelo dia todo. Ele decidiu engolir tal emoção e seguiu com seu dia. Após ajudar sua mãe, ele saiu para espairecer, então ele deu de cara com um evento estranho, era sobre cartas. Você escrevia e enviava para quem quisesse. Aquilo intrigou o garoto, a princípio ele hesitou mas acabou pegando um envelope e logo quando chegou em casa começou a escrever as coisas que estavam perturbando seu dia. No fim, ele soube que não poderia entregar para Nezumi, afinal não possuía endereço. Mas, ele guardou a carta para que um dia ele pudesse mostrá-la.