Capítulo 1 – Fred...

Hermione PDV:

Me remexi pela milésima vez na cama solteiro enquanto Gina ressonava suavemente do meu lado esquerdo. Eu não conseguia dormir.

“Se você está acordada e se remexendo na cama a essa hora da madrugada, obviamente não consegue dormir.” – Algo em mim apontou e não pude negar.

Quem diria que a inteligente Hermione Granger discutia mentalmente consigo mesma.

Me revirei por mais alguns minutos antes de desistir, então bufei e saí do quarto, me trombando com alguém.

– Hermione? O que faz acordada? – Ouvi e olhei.

Fred.

– Fred. – Murmurei após minha conclusão.

Ele me encarou, sorrindo de canto parecendo bastante surpreso com minha identificação rápida.

– Como sabe que eu sou o Fred? – Arqueou uma sobrancelha.

Eu nunca contaria isso a ninguém, mas as vozes de Fred e George são levemente diferentes. George é tenor e Fred é barítono. O primeiro tinha a voz mais suave, e o segundo possuía um timbre grave, além de algumas diferenças pequenas na aparência dos dois, como uns poucos centímetros de altura.

“Mas não menos sexy, não é?”

– Então. – Ele me tirou da batalha interna.

– Só sei. – Dei ombros.

–Você aprendeu em menos tempo que a mamãe. Quer chocolate quente?

Franzi as sobrancelhas. Estava um pouco tarde para uma overdose de açúcar.

– Numa uma hora dessas? Ninguém se importa?

Ele negou com a cabeça.

– Eles também se levantam no meio da noite, nenhum de nós percebe. Sabe, nós Weasleys temos um sono pesado. – Riu. Quando hesitei, ele coçou a orelha. – Eu posso fazer um chá pra você se não quiser chocolate, pode te ajudar a dormir.

Ponderei de dei de ombros por fim.

– Claro.

Descemos para a cozinha e sentei-me à mesa enquanto ele seguia para o fogão e armários.

– Não quero me gabar, mas eu tenho meu chocolate quente é o melhor da casa. – Avisou. – todos dizem isso.

– Mesmo? – Ri.

Ele fingiu estar ofendido por alguns segundos com minha resposta.

– Mesmo, até a mamãe. Mesmo que ela não admita muitas vezes. – Sorriu, virando-se para mim.

Enquanto ele buscava pelas folhas de chá, observei como seu corpo se movia entre o ambiente tão conhecido sem fazer barulho, mesmo que ele fosse alto o bastante para ser desengonçado.

– Você faz isso muitas vezes? – Indaguei, por fim, rompendo o silêncio do cômodo.

– Isso o quê? – Pôs a chaleira numa das bocas do fogão.

– Acordar no meio da noite para fazer chocolate quente. – Expliquei.

Fred deu de ombros, afastando um pouco dos cabelos ruivos para trás da orelha, fazendo-me encarar seus dedos por alguns segundos.

– Na verdade, só porque você está aqui. – Riu, apontando a geladeira com um dos polegares. – Eu acordo no meio da noite e pego qualquer coisa pra comer. Preparada para Hogwarts?

Me remexi na cadeira e ele se aproximou com uma xícara de chá para mim e chocolate para si próprio, sentando-se relaxado à minha frente.

– Mal posso esperar. – Confessei, alcançando-a. – Você viu o que eles colocaram na lista?

Havíamos recebido a lista de materiais necessários poucos dias depois e todos estávamos curiosos com os pedidos.

– Traje a rigor. – Me olhou curioso, inclinando-se sem pensar em minha direção. – Ainda não entendi a razão. Será que vão fazer algo esse ano?

Dei de ombros e meneei com a cabeça,

– Quem sabe...

– Experimente. – Incentivou com os olhos brilhando de ansiedade. – Não é o meu chocolate quente, mas também sou bom com chás.

Peguei a caneca fumegante com as duas mãos e levei até a boca, bebendo um pouco. Estava ótimo.

Bem, não é como se chá fosse algo difícil de fazer.

Ergui minha xícara num brinde mudo e ele fez o mesmo.

– A quê estamos brindando? – Indagou por fim.

Dei de ombros e ele riu.

– Tenho uma sugestão. – Pensou um pouco. – Que tal a seus olhos?

Corei profundamente e ele sorriu, erguendo a caneca novamente.

– Pois bem. Aos seus belos olhos.

Pus o recipiente na mesa e o olhei.

– Já pensou em ter uma cafeteria depois de Hogwarts? – Sugeri, mudando o rumo do assunto. Eu havia notado como ele ficava animado na cozinha.

– Até que já, mas os logros são a minha paixão. – Gesticulou levemente. – Eu sinto que nasci pra isso. Fazer as pessoas rirem com coisas que você fez é gratificante.

Sorri com sua empolgação.

– Como escrever um livro?

Ele ponderou.

– É, só que sem as palavras e letras, só com momentos.

Ficamos jogando bobagens fora por mais de uma hora, quando acabamos adormecendo debruçados sobre a mesa sem nem mesmo percebemos.

Fred PDV:

Senti alguém me cutucar e levantei um pouco o rosto.

– O que quer, Rony? – Resmunguei.

– São 4h da manhã e vocês estão dormindo na mesa. – Meu irmão avisou e olhei para frente.

Hermione dormia como um anjo com os braços e a cabeça sobre a mesa. Eu nem mesmo havia notado que havíamos adormecido ali.

– Obrigado por me acordar. – Falei, contorcendo o corpo levemente com o desconforto e coçando um dos olhos.

– Quer que eu a acorde?

Neguei com a cabeça antes que ele o fizesse.

– Eu dou um jeito. – Me pus de pé.

Meu irmão deu de ombros e saiu para o quarto – com meio quilo de comida em cada braço – então olhei Hermione e fui até ela.

– Hermione. – Chamei baixinho e ela virou o rosto sem nem mesmo acordar.

Ri e a peguei no colo, seus braços – automaticamente. – passaram pelos meus ombros e ela suspirou com a cabeça em meu pescoço.

Subi as escadas e abri a porta de Gina com o pé, colocando-a sobre a cama suavemente e a cobrindo logo em seguida. Olhei Hermione, que se colocava em posição quase fetal. Seu rosto estava sereno. Me aproximei e beijei sua testa levemente e fiquei lhe encarando por um tempo então ouvi Gina se mexer e fui até ela, que tinha o cobertor quase no chão. Arrumei e mexi um pouco em seu cabelo.

– Papai? – Murmurou.

– Fred.

Tive tempo de vê-la me lançar um olhar sonolento do tipo “Você está doente?” e voltei para meu quarto, onde George roncava. Me sentei na cama e olhei a penumbra noturna.

– Quem é você e o que fez com Fred Weasley? – Murmurei para mim mesmo, então dormi.

Com o que eu sonhei? Com um estranho – porém perfeito – par de olhos de mel.

Continua...