''Who's to say
Love is war
With so much confusion bout what you're fighting for.''

—Misdirection, Sanders Bohlke

Era sempre daquele jeito.

Alguns beijos trocados, sexo casual, carícias em vão. Apenas isso. E depois, ele partia.

Nico di Angelo nunca se contentou apenas com isso, mas o que o filho de Hades podia fazer? Percy Jackson tinha uma namorada, deveres no acampamento e uma reputação a zelar. Sempre foi perfeito, desde o minuto em que o mais novo o conhecera. E, como se não bastasse, ainda havia o fator Annabeth Chase, mais conhecida como a namorada de Percy. Nico já nem tinha mais disposição pra se comparar à filha de Atena que tinha tudo que um garoto queria. E ainda tinha de sobra.

E o que Nico tinha?

Baixo, esquelético, com olheiras em excesso e ainda conseguia causar medo em todo o Acampamento Meio-Sangue. Mal-humorado, rancoroso, cheio de defeitos. Imperfeito, desde o início. Ele nunca seria tão simpático, bonito e corajoso quanto Annabeth, nem sequer tentava. A derrota era certa.

Mas, de nada adiantava continuar se comparando ou praguejando. Nico tinha plena consciência do que sentia, mesmo lutando amargamente com tudo aquilo que levava preso em seu peito.

Tudo havia começado com uma quedinha, acompanhada da inocência que só uma criança de 10 anos podia ter. Percy havia salvado ele e Bianca, era como aquele herói de contos de fadas que, no final, sempre acabava sendo idolatrado. E foi exatamente o que Nico fez, o idolatrou. Até Bianca morrer, e Percy não ter feito nada para impedir esse fato. De herói, o filho de Poseidon havia passado para vilão. Mas nada como anos se passando, inúmeras batalhas lado a lado e um pitada de amadurecimento da parte do filho de Hades. Logo, aquele sentimento ruim havia ido embora.

Bem, a maior parte.

Anos mais tarde, Nico di Angelo se encontrava mais uma vez completamente apaixonado por Percy Jackson. Mas ele não queria e muito menos iria admitir isso para si mesmo. Nem para ninguém.

Entretanto, quando encontrou-se com o Cupido e para o seu azar, Jason Grace descobriu sua paixonite. A ultima pessoa que Nico queria que soubesse agora tinha a plena consciência dos sentimentos que ele nutria por Percy.

A reação de Jason diante daquele fato foi inesperada, isso o moreno tinha que admitir. Uma parte dele até gostou dos conselhos do loiro e de como ele falou que Nico deveria se declarar pra Percy, porque, no fundo, era isso que o garoto gostaria de fazer.

Então, indo contra toda sua ideologia anti-amor e medo de rejeição, o filho de Hades finalmente se declarou para a cria de Poseidon em súbito ato de coragem mal pensada. Falou tudo aquilo que há muito tempo guardava só para si, tudo que estava entalado na garganta, no peito e no coração. E inventou de algum lugar que já havia superado ele.

"-Você é bonito, mas não faz meu tipo."

Dava pra acreditar naquela mentira? Provavelmente não, mas Nico agarrou-se àquela frase tornando-a um porto seguro. Às vezes, não conseguia acreditar que realmente fez aquilo: havia dado um fora em Percy Jackson, era isso mesmo?

Desde então, o mundo se tornou infinitamente mais leve. Sem o peso daquele segredo o esmagando, Nico poderia finalmente viver em paz consigo mesmo, quase numa normalidade inesperada após tantos anos vivendo preso ao passado. O filho de Hades passou a perceber nitidamente o mundo a sua volta, sorrir mais, até estava saindo com Will Solace e gostando do mesmo.

Deuses, existe algum jeito daquilo ficar melhor?

Porém, mesmo quando você está no topo do mundo, a vida vem e te fode. E no caso do di Angelo foi literalmente. Percy havia procurado o menor algumas semanas depois da declaração inesperada, o que resultou em uma longa e esclarecedora conversa, beijos roubados e alguns amassos inocentes.
Depois daquele dia tão prazeroso, ambos decidiram marcar outro encontro, apenas alguns dias depois do primeiro. E se encontraram, e repetiram aquilo muitas outras vezes.

Até que foi ficando mais sério.

Ao menos era isso que Nico achava. Mas, lá no fundo, bem no fundo, ele sabia que sempre continuaria sendo apenas mais um na vida do filho de Poseidon, usado e abusado. O pior de tudo, é que ele sabia que deixaria. Nico sempre se submeteria à Percy Jackson, quantas vezes fosse preciso.

O de olhos verdes sempre teria o mais novo em suas mãos, totalmente à disposição. E após o último gemido, o último beijo trocado, Jackson sempre iria embora sem deixar pistas. Voltaria para as mãos de sua namorada perfeita, em seu chalé perfeito, tendo a reputação perfeita e sendo novamente o exemplo que todos os campistas tinham para si.

Incrivelmente hipócrita.

Ambos já haviam discutido diversas vezes sobre isso, brigas impulsivas e perigosas, que quase sempre acabavam com alguém do acampamento batendo na porta do chalé 13 para ver se estava tudo bem.

Não estava! Era o que Nico queria gritar, mas sabia que não podia. Uma das regras de ambos era nunca, em hipótese alguma falar pra alguém sobre o que eles tinham.

As brigas eram resolvidas alguns dias -ou horas- depois, com um dos dois pedindo desculpas e logo começando a reconciliação da maneira mais carnal possível. Porque essa era palavra chave do relacionamento deles: carnal. Puramente desejo.

Ou ao menos era, pra Percy.

Aquilo já era esperado pra Nico, a única coisa que ele podia fazer era acostumar-se. Acostumar-se com a ideia que nunca passariam de sexo e que não importasse o quanto amasse Percy, nada mudaria. Acostumar-se com Annabeth e seu amado como o casal mais querido daquele lugar, acostumar-se a ver Percy com alguém que não fosse ele, a ser apenas uma fuga, a trair seu quase-namorado, Will, com o filho do deus do mar quase toda semana.

Nico sabia que não iria suportar por muito mais tempo todo aquele caos dentro e fora de si. Nunca passariam daquilo. No fim das contas, aquele aperto nunca sumiria, nem da garganta, nem do peito e muito menos do coração. O de olhos verdes nunca o chamaria para sair, nunca viria com um pedido de namoro, um beijo em público, nunca chegaria em sua porta com um buquê de flores e uma declaração na ponta da língua.

Nico di Angelo já estava começando a aceitar que teria que seguir em frente e, mesmo devastado com aquela perspectiva, teria que aceitar que caso sumisse do dia pra noite, o mais velho não viria mais atrás dele.

Afinal, Percy Jackson nunca foi um bom amante.