A Elite - A Seleção Semideusa - Segunda Temporada escrita por Liz Rider


Capítulo 32
Capítulo 32 - Apesar de tudo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/667481/chapter/32

P.O.V 32

 

Eu aceno para Marlee até o carro sumir de meu campo de visão.

Anne, Mary e Lucy — que eu nem tinha percebido que tinham saído da mansão — se aproximam quando finalmente abaixo a mão. Elas gentilmente procuram me conduzir para dentro, como se eu estivesse em estado catatônico... talvez eu meio que estivesse.

Por mais que meus pais ainda estejam aqui, eles irão embora em breve, e Mary, Lucy e Anne são legais, mas não entendem o que eu estou passando como Marlee entendia... as outras meninas? Bem, não preciso comentar.

Eu estou só.

É difícil de aceitar que estou só, mas saber que minha amiga está feliz ajuda. Poderia ser pior...

Antes de as meninas consigam me colocar para dentro da mansão, no entanto, Maxon e Asher aparecem, um ao lado do outro, com as mesmas expressões indiferentes e sem trocar uma palavra entre si, como dois diplomatas de países rivais.

— Gostei do visual, America. Nova moda outono-inverno? — Asher comenta, com um sorriso, mas o mesmo tom de ontem: cuidadoso, como se quisesse me fazer rir, mas tivesse com medo de me magoar, apenas um pouco mais descontraído.

Sorrio para ele, fazendo uma reverência e fingindo segurar as pontas de um vestido transparente.

— Muito elegante, concorda? Louis Vuitton. Gostou?

Ele ri.

— Primoroso.

Eu sorrio para ele e o observo, enquanto ele faz o mesmo. Ele parece não saber exatamente como reagir diante de mim. Deve estar em meu rosto. A partida de Marlee me abalou.

Diante de nosso silêncio, Maxon se precipita:

— Eu quis te contar, America, mas Marlee pediu para que fosse segredo.

Eu também o observo. Sua expressão é ainda mais cuidadosa do que a de Asher. Ele não sorri, apenas olha para mim, seus olhos quase suplicantes, como se eu pedisse para perdoá-lo por algo que não era sua culpa. Tenho até vontade de perguntar há quanto tempo isso estava resolvido, mas essa informação não mudaria nada.

Marlee, minha única companheira, amiga e aliada nessa selva jaula chique, se foi.

Tento parar de pensar nisso.

Poderia ser pior, eu repito para mim mesma, como uma tentativa de fazer com que meu cérebro empurre isso para uma latinha que seja jogada no Oceano do Esquecimento.

— Tudo bem, eu entendo. Não era um segredo seu para compartilhar.

Mais silêncio constrangedor se instala entre nós três. Sinto que ambos ainda têm algo a dizer, mas não o dizem; eu tampouco, tenho algo a acrescentar, então quando Anne gentilmente me guia para a porta, eu não posso deixar de acompanhá-la.

— Espere, America! — Ouço Asher chamar quando estamos subindo os primeiros degraus.

Eu paro e me volto para a porta. Asher me encara, esperando um sinal que diga que estou afim de conversar. Ele tem se provado adoravelmente paciente nesses últimos dias, o que foi realmente surpreendente, com a fama que o precedia. Anne, Mary e Lucy também param, sem saber exatamente o que fazer. Eu desço os poucos degraus até o hall e o espero, ao pé da escada.

Ele dá uma pequena corrida até nós. Observo Maxon, na porta, passando de maneira desconfiada para um dos corredores, provavelmente indo para seu escritório, não sem antes lançar um olhar para mim. Ele toca na orelha. Eu toco discretamente na minha.

— Você está bem? — Asher pergunta, parecendo genuinamente preocupado. Depois de ontem, talvez ele ache que minha saúde mental é frágil como um bibelô de cristaleira de tia.

— Estou... — Paro. Não quero mentir para Asher; não depois de ele ter bancado o psicólogo ontem comigo na festa. — Na verdade, não cem por cento, mas vou ficar. —

É a resposta mais sincera que consigo lhe dar agora. No entanto, a promessa de melhora parece suficiente para ele. Ele solta um longo suspiro aliviado, apesar de eu nem ter percebido que ele estava prendendo o ar.

— Com o que aconteceu com Apolo e sua mãe ontem e com a partida de Marlee... fiquei preocupado com você.

Gosto do fato de que ele escolhe “Apolo e sua mãe”, ao invés de “seus pais” e também gosto como ele se preocupa. Às vezes, acho que Asher consegue me entender melhor do que Maxon jamais poderia. Esse pensamento é rapidamente sufocado em minha cabeça.

— Não precisa se preocupar. Eu vou ficar bem. Sempre fico.

— Mesmo assim... Quero que você saiba que pode conversar comigo caso se sinta mal. Ou... — Ele olha para mim com um meio sorriso malicioso, como se escondesse um segredo. Faz um sinal para que eu me aproxime e sussurra: — Eu posso te passar o e-mail da minha terapeuta. Posso te assegurar que ela já está muito acostumada a lidar com problemas familiares.

Não consigo não rir. Asher tratava isso com tanta naturalidade que nem parecia que seu pai poderia o incinera-lo com um raio agora mesmo.

— Acho que vou ter que aceitar sua recomendação, então.

Ele sorri para mim, mas consigo detectar uma ponta de algo não bom se escondendo em seus olhos. Não consigo decifrar exatamente o que é, mas fico pensando nisso enquanto eu e as meninas vamos para o quarto.

A verdade é que tanto Maxon quanto Asher eram ótimos em guardar segredos, tanto os seus, quanto os dos outros. Eles eram deuses, afinal... isso devia ser alguma espécie de pré-requisito básico. Mas mesmo assim, eu não conseguia deixar de lado essa sensação de que havia algo importante que nenhum dos dois estava me contando. Algo sobre eles e, talvez, algo que me envolvesse.

Meu suspiro faz com que Anne se preocupe.

— Desculpa, senhorita. Eu gostaria de ter contado, mas a senhora entende que...

— Não era seu segredo, Anne. De nenhuma de vocês... eu entendo.

E eles dois não eram os únicos. Toda essa mansão era permeada de segredos. A promessa de ficar com Maxon — e até mesmo qualquer mísera e distante perspectiva de ficar com Asher — prometia essa vida: esses segredos, essas responsabilidades e também a necessidade de lidar pelo resto de uma vida imortal com deuses todo poderosos e temperamentais.

 

Apesar de minha vontade de ficar no quarto, meus pais iriam embora hoje e, mesmo com meu coração triste por sua partida, eu tinha que me despedir. Apesar de tudo o que minha mãe aprontara e da minha vontade de não olhar no rosto dela até o fim da Seleção, eu devo isso ao meu pai.

— Ah, querida, nós gostaríamos de ficar mais! — exclama minha mãe quando entro em seu quarto.

— Tenho certeza que sim... — murmuro, pensando nela e em Apolo.

Ela olha para mim, desconfiada. Ainda que eu duvide que ela tenha ouvido o que eu disse, tenho certeza que ela pode imaginar o conteúdo.

— Mas May e Gerad nos aguardam em casa e com certeza estão ansiosos para saber notícias da tia Sue — papai completa, referenciando a mentira que eles contaram para vir para cá... Até onde eu sabia, nós nem sequer tínhamos uma tia com esse nome, então eu rio de sua piada.

Eu vou até meu pai e o abraço, quase o derrubando na cama.

— Ai, pai, eu vou sentir tanto a sua falta e das suas piadas ruins!

Ele sorri, passando a mão em meu cabelo. Penso que ele quer dizer algo, mas não diz. Talvez não saiba o que responder àquilo. Se por um lado ficar significa estar longe dele, também significa que eu terei mais chances com Maxon e para entender meus sentimentos. Por mais que eu — e, imagino, ele também — quisesse voltar para casa, ambos sabíamos que não seria possível até eu entender o que acontecia dentro de mim e encerrar aquela Seleção de maneira apropriada.

Eu poderia não ser a Cinderela, mas certamente um dos lemas de minha casa era Ter coragem e ser gentil, com mais foco na coragem. E agora eu precisaria de coragem para entender o que sentia e enfrentar meus sentimentos, assim como ser gentil comigo mesma e com os envolvidos.

Por algum motivo, minha mente pisca o rosto de Christian, que é rapidamente esquecido quando mamãe volta a falar.

— Mas tenho certeza que toda essa saudade valerá a pena no final, não é, America?

Ao contrário de papai, mamãe parece querer que eu fique com um dos dois, independente de saber como eu me sinto.

— Nossa America vai fazer valer. Ela já está fazendo — diz meu pai, antes de me apertar e soltar, para ir checar sua mala. Ao fechar o zíper, seu rosto se ilumina e um sorriso surge, como se ele lembrasse de algo engraçado. — Gatinha, eu mencionei que o seu amigo Asher conversou comigo ontem no baile para que eu deixasse o alfaiate pessoal — ele frisa essa palavra, como se quisesse destacar o absurdo da situação — costurar uma fantasia de Kirk para mim? — A ideia parece diverti-lo.

— Oh, não — eu rindo, me deixando cair na cama e apertando um daqueles travesseiros perfeitamente brancos e fofos no meu rosto. Quando eu o tiro do rosto, há uma marca amarela rosada com o formato do meu rosto na superfície antes imaculada da fronha. — Eu meio que o desafiei, mas não achei que ele fosse realmente falar com o senhor sobre isso. — Sento na cama para observá-lo. — E o senhor aceitou?

Ele sorri com parcimônia e demora um segundo a mais para responder, como se quisesse gerar suspense.

— Aceitei — ele confessa, por fim, quase parecendo envergonhado.

Pulo da cama e depois nele.

— Não acredito, pai! Eu tinha certeza que o senhor não ia querer.

— O rapaz é bastante persuasivo. — Ele dá de ombros. — O alfaiate já veio aqui essa manhã e tirou as medidas. O próprio Asher garantiu que a fantasia seria entregue em menos de duas semanas.

— Surreal, né? — minha mãe completa, com um sorriso. Não sorrio de volta. Ainda não estou preparada para perdoá-la por ontem.

— Então já sabemos qual será a fantasia para o seu próximo Halloween.

Ele sorri.

A vida ao lado do meu pai é fácil. Ele é uma presença gentil que me lembra constantemente o quanto Nova York faz falta. Talvez seja até bom May não estar aqui... não sei se seria capaz de me despedir apropriadamente dela.

Mas, enfim, eles vão embora como tem que ir. Silvia não nos deixa ir até os portões com eles e assim que damos nosso abraço final — apesar da minha raiva, não posso de dar um abraço longo e apertado em mamãe, sentindo o cheiro de lar em seus cabelos —, ela vai nos conduzindo como gado até o almoço.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Elite - A Seleção Semideusa - Segunda Temporada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.