A Última Carta - A Seleção escrita por AndreZa P S


Capítulo 23
4.1




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"E se não houvesse nenhuma luz

Nada errado, nada certo

E se não houvesse tempo

Nenhuma razão ou rima

E se você decidir

Que você não me quer ao seu lado?

Que você não me quer na sua vida?

E se eu entendi errado

E nenhum poema ou canção

Pudesse corrigir o que eu entendi errado

Ou te fazer sentir que eu pertenço a você?

E se você decidir

Que você não me quer ao seu lado?

Que você não me quer na sua vida?

Ohhh, está certo

Vamos respirar e pular pra próxima etapa

Ohhh, vamos tentar

Como você pode saber se nunca tentou?

Ohhh, está certo

Cada passo que você dá

Pode ser seu maior erro

Pode ceder ou pode quebrar

É o risco que você corre

E se você decidir

Que você não me quer na sua vida?

Que você não me quer ao seu lado?

Ohhh, está certo

Vamos respirar e pular pra próxima etapa

Ohhh, vamos tentar

Como você pode saber se nunca tentou?

Ohhh, está certo"

Coldplay - What If

Não sei quanto tempo permaneci ali, encolhida ao lado da porta do quarto de Maxon. Quando abri os olhos vi o rosto de Lucy preocupado, suas sobrancelhas finas franzidas enquanto ela espalmava uma das mãos na minha testa, provavelmente querendo saber se eu estava febril ou não.

–Senhorita, o que aconteceu? - Pergunta pra mim, mas minha garganta está seca demais e meus músculos doem. Dou de ombros, não queria falar sobre isso. Ela assente e então questiona: -Mas a senhorita está bem?

Solto um suspiro e deslizo as mãos pelo o meu rosto um pouco úmido. Olho para o corredor, as janelas deixavam passar uma luminosidade fraca e alaranjada. Já está amanhecendo, então.

–Eu estou bem. ­- Minto, já pondo o meu corpo para cima. Lucy não falou nada enquanto me ajudava a me levantar e me acompanhava até o meu quarto, e eu agradeci à ela por isso. Assim que entro no ambiente, parece que ele está mais frio que o normal. Me sento no meio da cama, as mãos enlançando os joelhos.

–Gostaria que eu lhe trouxesse algo? Um remédio...um chá? - Perguntou, sua voz aflita e ansiosa.

Balanço a cabeça em negativa.

–Não, obrigada. - Deslizo o meu corpo pelo o colchão, até estar deitada. - Você...você pode me dizer se...o Maxon, se ele dormiu em casa ou...se ele está no quarto dele? - Não fui capaz de esconder o quão minha voz está angustiada.

A expressão de Lucy me deixou a sugestão de que ela já havia encaixado as peças.

–Não sei, mas posso verificar para a senhorita, voltarei em minutos. - Murmurou, com dó. Odiava que sentissem dó de mim, mas tudo bem. Quando eu olhei minha aparência através do espelho, cheguei a conclusão de que eu também sinto pena de mim mesma.

–Obrigada. - Digo, a voz um pouco mais que um sussurro. Me encolho na cama e puxo os cobertores para cima do meu corpo assim que Lucy me deixa a sós. Maxon não pode fazer isso comigo, não pode simplesmente virar as costas e ir embora, me deixar sozinha e não me dar a chance de explicar tudo.

Não pode.

Minhas pálpebras estão tão pesadas que foi realmente um alivio quando Lucy voltou para me dizer que o Maxon não está no quarto dele, mas que também não sabe onde ele está. Tentei abrir um sorriso para ela, mas a julgar pela as suas feições e hestitação ao fechar a porta, conclui que era melhor ter ficado séria.

Segundos depois adormeci e não sonhei com nada.

A primeira coisa que fiz quando acordei foi tomar um banho. Um banho de banheira demorado, com muita espuma. Cerca de uma hora mais tarde vesti calça jeans justas, uma blusa de manga comprida azul marinho e um cachecol xadrez em volta de meu pescoço. Observei o meu rosto pelo o espelho, e constatei que seria obrigada a me maquiar hoje caso quisesse parecer normal, ou quase isso.

Terminada a maquiagem, desci as escadas até o primeiro andar, procurando por Silvia ou qualquer uma das empregadas para que pudessem me dar uma luz sobre o paradeiro de Maxon. Mas ninguém sabia.

Passei o restante da tarde na sala, sabendo que quase todos usavam a escada principal para ir aos andares de cima, e para isso teriam que passar por ali. Pego uma das revistas que ficam ao lado do sofá, em cima de uma mesinha de madeira rústica. Olhei para a capa e senti meu coração acelerar. Era sobre casamentos.

Vasculhei a pilha, procurando algo que não me fizesse pensar na possibilidade de Maxon ter desistido de mim sem antes me dar a chance de contar tudo a ele. Contar tudo. Engulo em seco.

Após alguns minutos, achei uma que falava sobre carros. Devia ser de Maxon. Suspiro e vou até a biblioteca, procurando algum livro que ajudasse a me acalmar. Quando estava em um atalho para voltar pra sala, vi Maxon se encaminhando em direção ao segundo andar, utilizando a escadaria leste, aos fundos da mansão.

–Maxon! - Gritei, já começando a mover minhas pernas em direção a ele, sentindo que eu poderia ter um ataque cardíaco a qualquer momento. Maxon se vira lentamente para mim, descendo os três degraus que já havia subido. Seus ombros estão tensos e sua mandíbula trincada. - Maxon... - falei novamente quando parei em sua frente. - Preciso conversar com você...é muito importante.

Procurei por seus olhos, que geralmente traziam uma certa inocência e jovialidade, mas que agora estão indiferentes. Sua expressão é indecifrável.

–America. - Ele pronunciou o meu nome com uma nota magoada que quase me fez agarrá-lo ali e beijá-lo, como se isso fosse capaz de explicar a ele tudo o que eu fiz. Como se isso fosse capaz de explicar o quanto estou apaixonada por ele. - Não quero conversar agora.

Deixo meus braços envolverem minha cintura e resisto ao impulso de fungar.

–Por quê? - Minha voz soou mais desesperada do que eu planejava. Não iria me humilhar, pelo o menos esse era o plano.

Maxon suspirou e massageou as têmporas por alguns segundos antes de me responder.

–Eu sempre confiei em você, America. Sempre. E então você espera eu sair, viajar, para sair as escondidas, e sabe-se lá por qual motivo. Quando questionada para onde ia, fica em silêncio. Lhe dei uma das coisas que raramente me dou ao risco de dar às pessoas, que é a minha lealdade e confiança, mas você não soube valorizar.

Fico queita por momento, absorvendo as palavras dele. Absorvendo seu rosto contorcido, magoado. Abro a boca para dizer algo, mas minha voz não saí. Desvio o olhar, simplesmente não posso fitar seus olhos enquanto conto tudo para ele.

–Vou te contar tudo, você vai me entender. Jamais de trairia, jamais. Eu juro. - Falei, incapaz de conter as lágrimas que agora escorriam pelo o meu rosto. Maxon suavizou um pouco o olhar, parecendo balançado com alguma coisa. Ele ergueu a mão, trazendo-a até o meu rosto e secou com o polegar uma gota que escorria lentamente pela a minha bochecha. Seu toque deixou minha pele formigando.

Esse simples gesto me deu uma esperança que talvez eu não merecesse.

–Vou te dar a chance de se explicar. - Murmurou, a voz vacilando por um momento. - Mas meu pai está me aguardando agora. É importante.

Pisco várias vezes e respiro fundo, dando um passo para trás. Uma parte minha se sentiu atordoada por ter que esperar ainda mais para contar a verdade para Maxon, mas a outra se sentiu alividada por poder protelar mais um pouco. Tentei abrir um sorriso.

–Tudo bem. - Falo, me controlando para não passar as mãos pelos os olhos e secar a umidade, e correr o risco de ficar parecendo um panda. Pelo menos na frente dele eu tinha que ficar o mínimo apresentável possível.

Ele também forçou um sorriso.

–Até logo. - Diz, já virando as costas e subindo alguns degraus.

–Maxon? - O chamo, e fiquei feliz em perceber que ele se virou imediatamente.

–Sim?

–Eu sou apaixonada por você, e só você. Você...consegue acreditar em mim?

Seu sorriso agora foi autêntico e verdadeiro, e uma alegria afundou-se no meu interior, que mesmo um tanto superfúla, era a única coisa da qual eu poderia me agarrar agora para manter a minha coragem.

–Acredito. - Murmurou, e os músculos do seu rosto e corpo relaxaram. Os meus também.

Fiquei ali, olhando suas costas subindo as escadas.

Não falei mais com Maxon durante aquela semana. Não foi porque eu me escondi no armário, sendo consumida pela a minha autopiedade e covardia. Foi porque ele, como sempre, teve que viajar.

Marlee está deitada ao meu lado na cama, e nossos olhos estão fixos no teto do meu quarto. Ela tentava me acalmar, e alguns dias atrás falou que tentaria sondar Carter para sabermos se Maxon lhe contou alguma coisa.

–Então, Meri, falei com o Carter ontem, quando ele me levou para jantar. - Começou ela enquanto enrolava uma mexa de seu cabelo louro no dedo indicador. Virei o rosto para o lado, fitando o seu rosto enquanto a curiosidade se apoderava de mim. Lee também virou-se para me encarar.

–O que ele disse? - Eu quis saber, sentindo meu coração acelerar.

Marlee estourou uma bolha de chiclete rosa e sorriu.

–Que Maxon foi procurá-lo naquele dia do muro.

Me apoiei no colchão com um dos cotovelos. Gesticulei, impaciente, com um das mãos para que ela continuasse.

–Tá, e aí?

–Carter disse que ele estava arrasado. Parece que o pai dele anda fazendo muita pressão para vocês se afastarem...que misturar amor com negócios irá fazer o contrato desandar. Maxon parece que ficou magoado, ele achou que você não amasse ele e que só estava mentindo para tirar algum proveito dele. Que se você precisava se esconder, é porque estava fazendo algo que não queria que ninguém soubesse.

Bufo alto e me jogo na cama novamente. Pego um dos travesseiros e o aperto no rosto para sufocar o grito que eu queria dar.

–Eu não menti, amo ele. - Falei, minha voz soando abafada por conta do tecido pressionado contra a minha boca.

Quando joguei o travesseiro contra a parede, vi Marlee assentindo com os lábios curvados para baixo.

–Eu sei, Meri. Todos sabem, inclusive Maxon. Você mesma disse que ele acredita em você, não é? - Ela perguntou, a voz tornando-se mais afável que o normal.

–Ele disse, Lee. Mas esse tempo sem poder falar com ele tá me matando...quero acabar com isso logo.

–Não tem como nada dar errado, é só ter paciência.

Ficamos em silêncio, mais uma vez olhando para o teto, durante vários minutos. Até que a voz de Lee indaga:

–E Aspen? Não mandou mais cartas?

Fecho os olhos.

–Espero que ele não mande mais. Tipo, eu sei que ele não tem nada a ver com o que aconteceu com o Maxon e comigo, mas não quero que aconteça nada que possa piorar a situação.

Na tarde de sexta-feira May e papai chegaram na mansão. Meu pai trazia apenas uma mala grande e negra, enquanto que May tinha consigo três malas e mais uma mochila que estava em suas costas. Assim que me viu, ela correu em minha direção e pulou em cima de mim. A abracei forte.

–Mayzinha, eu estava morrendo de saudade de você. - Falei, me sentindo bem de verdade pela a primeira vez desde que...bem, todo mundo sabe.

May está alguns centímetros mais alta. Seus cabelos ruivos foram cortados até a altura dos ombros e uma franja pendia em sua testa, tapando as sobrancelhas claras. Com aquele corte de cabelo novo, ela não parecia ter 17 anos. Parecia quase da minha idade, e apesar de ainda ficar óbvio que erámos irmãs, ela nunca esteve tão diferente de mim na vida.

–Amo você!- Berrou em meus ouvidos, e quando me afastei para lhe dar um beijo na testa, seu sorriso animado de sempre cintilava em seu rosto. Os olhos azuis brilhavam tanto que só faltava sair faíscas. - Quando você se casar eu vou vir morar com vocÊ! - Falou ela, ao dar uma volta completa em torno do próprio eixo com os braços abertos, admirando a mansão. - Isso é um castelo! - Disse maravilhada, olhando agora para mim com as duas mãos sobre a boca. May deu alguns pulinhos antes que meu pai a interrompesse, com aquela sua voz que soava como uma tempestade, apesar de que quase sempre suas palavras serem calmas e meigas.

–May Singer, se comporte. - Censurou ele e May olhou para mim e, discretamente, revirou os olhos. Eu quase ri.

Papai se aproximou de mim devagar, e cautelosamente colocou um braço ao meu redor, me puxando para um abraço hesitante. Quando percebeu que eu não o afastaria ou lhe bateria, ele me apertou mais contra si, e eu retribui. Retribui porque me cansei de estar brigada com ele.

–Também senti a sua falta, pai. - Sussurrei em seu ouvido, e em resposta seu abraço quase me sufocou.

Quando papai foi até o escritório do Lorde para conversarem, May e eu fomos até o quarto de Marlee que, como sempre, estava conectada ao seu Facebook. Quando minha irmã viu Lee, ela só faltou fazer a dança da chuva. Fiquei agradecida por isso. Ao menos não precisaria fingir estar animada o tempo todo, minha amiga faria bem o serviço de distraí-la.

Disse que iria tomar um banho para o jantar e que logo voltaria para vê-las e escapuli até o meu quarto. Quando fiquei tempo demais no chuveiro e me obriguei a ir encontrar a minha família - que vieram para a simulação do casamento no domingo e a festa que terá no parlamento amanhã - e os Schreave.

No sabádo pela a manhã, encontrei Mariana pelo o corredor do segundo andar. Não resisti e tive que pará-la para perguntar:

–Maxon já chegou? - Minhas mãos soavam tanto que parecia que eu tinha as enfiado dentro de um balde.

Ela quase sorriu, mas sua voz era contente:

–Sim, senhorita. Gostaria de mais alguma informação?

Balanço a cabeça.

–Não, não. Pode voltar para o que estava fazendo...obrigada, Mariana.

–Não há de quê. - E partiu, subindo o último lance de escadas até o terceiro andar.

Eu mal conseguia respirar. Seria agora. Contaria tudo, tudo, tudo para Maxon. Ele teria que me entender.

A gente se ama e isso é o mais importante, não é?


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