Desde aquele dia, tudo parecera perder a cor. O brilho se esvaiu dos arredores, inclusive daqueles enormes olhos azuis que sempre foram tão vívidos.

Ela finalmente decidiu o caminho que seguiria dali em diante. A luta entre seus sentimentos teve fim. A raiva e o ódio venceram da gentileza e da bondade. As emoções reprimidas enfim se libertaram e não havia mais como selá-las outra vez. Lin arrancou as correntes que a prenderam por tanto tempo. Ela não queria mais ser a marionete de ninguém, e não importava seu destino como reencarnação de Agnecia. Poderia cuidar do mundo como bem entendia. Sem regras e amarras, as trevas tomaram seu coração e sua vida.

Afastada de seus amigos da caçada, gélida como a noite e cruel como os demônios, era impossível ver qualquer traço da menina gentil que um dia Lin foi. Os lábios reluzentes que antes sempre esboçavam sorrisos, pareciam ter enegrecido com o resto de seu corpo. A pele dourada, tão vívida, não passava de uma máscara para esconder o monstro que crescera por baixo dela.

Embora as feições fossem as mesmas, a alma parecia ser de outra pessoa. Aquela não era mais Lin. Todos podiam sentir isso, apenas de se encontrar em sua presença. Até mesmo ele.

A princípio, o caçador comemorara. A sacerdotisa não dirigia mais a palavra a ninguém, a não ser que fosse necessário. Ajudava os companheiros sem contestar, ou fazer comentários bestas sobre as tarefas. Nem reclamar, reclamava mais. E o melhor de tudo: parecia ter esquecido de sua existência.

Não existia mais Lupus e Lin no mesmo mundo, a menos que os outros Chasers os forçassem a trabalhar juntos. Por muito tempo, ele comemorou. Aproveitou cada segundo de sua liberdade desde então. Estranhamente, até ficou mais aberto ao grupo, sabendo que nenhum deles o encheria o saco sobre ajudar a curar as dores do passado. Estava tudo tão perfeito.

Porém... Sentia falta de algo. Tudo agora parecia estar calmo até demais. Nem as bagunças de Sieghart e Dio, nem a gritaria de Amy pareciam suprir a falta de baderna.

Haros teimoso era Lupus. Demorou a perceber que faltava aquele pontinho de luz que embora fosse um incômodo, o procurava sempre. O pontinho de luz que queria ser capaz de iluminar um pouco a vida sanguinária do caçador. O pontinho sempre soube que nunca conseguiria iluminar aquela vida por inteiro. Era tão insignificante diante daquela escuridão. Mesmo assim, não desistia e sempre ia atrás de Lupus, nem que fosse para irritar sua visão.

O pontinho de luz desistiu e enfim apagou-se, misturando-se com a escuridão que estava lá apenas por estar.

O loiro tardou em perceber que aquele pontinho de luz o fazia se sentir um pouco melhor. Agora ele apagou-se e há escuridão demais para encontrá-lo novamente.

Lupus perdera Lin. Perdera aquela garota irritante que sempre fazia questão de ver seu sorriso. Ele não percebera que apesar de irritar-se, sentia-se amado e querido.

Fora o caçador o motivo dessa decisão ardilosa? Fora ele a razão de toda a luz da sacerdotisa se esvair? A culpa lhe corta o corpo, e algo que ele poderia chamar de alma.

Ele nunca mais teria aquela menina desastrada lhe procurando, pelo motivo mais ridículo que fosse. Nunca mais a teria fazendo de tudo para ver seus lábios curvarem-se.

Não havia mais Lin.

Não havia mais luz.