Tempo & Sonho escrita por Clarisse Hugh


Capítulo 1
Tempo & Sonho


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Que vocês tenham um Natal incrível e um Ano-Novo cheio de realizações!



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Tic-Tac, Tic-Tac

Os egípcios constroem as pirâmides de Gizé, a oliveira vence a fonte e o nome da cidade é Athenas.

Tic-Tac, Tic-Tac

Há guerra e os soldados estão prestes a se enfrentar, o mundo está dividido em dois.

Tic-Tac, Tic-Tac

Cronos é uma ameaça e Percy tem que escolher sabiamente, Gaia quer despertar...

Acordo ofegante com o som do meu despertador, que clama por atenção na pequena mesinha ao lado da cama. Ele só não soa mais desesperado que as batidas descompassadas de meu acelerado coração. Ao menos o relógio posso controlar. Desligo-o e agradeço silenciosamente mais uma vez por ter acordado. Terminar aquele pesadelo, revivendo toda a história da humanidade ao longo da minha existência, é um processo tortuoso demais para se enfrentar, mesmo para uma deusa.

Olhar para o lado da cama e constatar que, sem surpresas, continua vazia, é como levar um soco da solidão.

Após um longo suspiro, resolvi que já era mais do que tempo de levantar-me e tentar sacudir para longe essa angústia que ameaçava me afogar.

O sussurrar do vento, somado com a garoa que replicava nas janelas, era a canção que acompanhava minha tristeza matutina.

Pude constatar que a cadeira de madeira escura ao lado da porta realmente estava tão gelada quanto aparentava. Tão fria quanto o colar de metal que pendia em meu pescoço ou o anel em meu dedo da mão esquerda. Tudo congelava, estático, naquela manhã de inverno.

Girei o conteúdo da xícara de porcelana branca para a esquerda e então para a direita, observando a tonalidade terrosa do chá, antes de sorver o primeiro gole da bebida aquecida. A fumaça que exalava dessa infusão de ervas perdia-se no ambiente e tudo que fiz foi observar, calada, seu caminho de arabescos no ar.

Perdi-me entre as linhas de um romance qualquer enquanto esperava passar o dia, mas quando notei as luzes dos lampiões iniciarem sua vigília noturna, soube que era hora de sair. Independente do humor, uma deusa tem compromissos.

Vesti um vestido simples de algodão, tingido de uma nuance de azul tão suave que quase podia passar-se por branco. Isto, somado a meus cabelos louros e minha pele clara, refletia no espelho uma versão pálida, quase apagada, de mim mesma.

Saí noite afora, caminhando sem pressa, em direção ao grande salão. As árvores, salpicadas com o primeiro sopro de gelo significativo da estação, eram minha única companhia. O brilho tremulante das velas minuciosamente enfileiradas dava movimento e vida ao meu trajeto. Um pequeno sorriso conseguiu apoderar-se de meus lábios ao notar que o cenário que protagonizava minha tristeza era o mesmo que me conduzia à alegria de tantos amigos e familiares olimpianos.

Por falar em alegria, ele não gostaria de me ver assim, tão tristonha. Ah! Mas se ao menos pudesse tê-lo aqui...

Já era mais que na hora de findar com minha auto piedade. O Natal é tempo onde as pessoas se emocionam mais facilmente, mas não posso ser influenciada por isso e deixar que meu estado de espírito estrague a comemoração dos outros. Papai se esforçara tanto para que tudo transcorresse da melhor maneira possível, não seria justo com ele. Resoluta, encontrei forças para exibir um singelo – mas duradouro – sorriso e adentrei o salão para participar das festividades.

Comemos, brindamos, e agora lá estava eu, sentada num dos bancos de pedra dos jardins. Um lugar calmo e mais afastado, onde podia observar meus irmãos sorrindo, trocando presentes e abraços. Zeus e Hera, contemplativos, ao lado da árvore; Apolo conseguindo o milagre de levar Ártemis às gargalhadas enquanto Ares e Afrodite dançam abraçados no canto.

Tinha acabado de ser acometida por um arrepio de frio e ponderava as possibilidades de voltar para o calor da lareira sem ser notada, quando senti um toque quente em minha mão que estava pousada no assento ao meu lado.

Fui incapaz de conter a enxurrada de sentimentos que me tomaram nesse átimo de segundos nos quais minha visão encontrou aquelas estonteantes orbes verdes.

- Poseidon?! – mal pude conter a exclamação e súbita alegria em minha voz.

Fiquei de pé, mas antes que dissesse qualquer coisa, ele fez um gesto de quem iria explicar-se, então calei-me para ouvi-lo.

- Eu sei que tinha assuntos urgentes para resolver em Atlântida durante estas últimas semana. Sei que conversamos e você disse que não havia problema em passarmos o Natal longe um do outro se isso fosse para o bem do meu povo. Mas Atena, eu não pude... Ficar lá, tratando de política com Delfin, sabendo que você estava aqui... – sua voz sumia gradativamente e seu aperto em minha mão foi mais forte.

Não resisti e envolvi-o em um abraço cheio de saudade.

- Ah, meu amor, precisava tanto de você...

Seus olhos, tão marejados quanto os meus, reluziram com o brilho de troça costumeiro quando me perguntou:

- Todo o resto pode esperar, não pode, minha deusa da sabedoria? Se você disser que sim, não há como contestar.

Meu riso perdeu-se nos contornos de seu torso, perdeu-se no calor daquele abraço que eu não estava disposta a romper. Tudo que fiz foi assentir suavemente enquanto ele depositava um beijo em meus cabelos.

Soltei-o, por fim, só para poder deslizar minhas mãos até seu rosto e beijá-lo, maravilhada. Uma vez, e então outra e ainda mais outra depois. O esplendor de seu sorriso, capaz de enlevar-me mesmo depois de tudo já vivido ao seu lado, arrebatou-me uma vez mais.

- Natal é mesmo a nossa época, não é, corujinha?

Eu só podia concordar. O pingente de estrela brilhante repousando sobre meu coração era a prova concreta para afirmar essa doce indagação.

O relógio bateu, então, as doze badaladas da meia-noite.

Tic-Tac

Constatei, por fim, que passam-se os dias, passam-se os anos, e estar acordada ainda é a melhor maneira de sonhar.


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Notas finais do capítulo

Irremediavelmente apaixonada por Poseidon e Atena? Sim.
Vou cansar de escrever fanfics sobre eles algum dia? Provavelmente não.
Mil beijos, meus amores.



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